Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Revista de Estudos Saramaguianos #2 - Julho de 2015

Sinopse de apresentação da revista
Via Página do Facebook, aqui  
em https://www.facebook.com/saramaguianos?fref=ts

(Capa da edição)


"Os dois volumes da edição n.2 (português e espanhol) já estão on-line. Há dois destaques sobre este número: um, é a marca de celebração dos 20 anos do romance “Ensaio sobre a cegueira” (publicado em novembro de 1995) e outro os acontecimentos protagonizados pela Fundação José Saramago sobre a redação de um documento a ser entregue às Nações Unidas e que foi defendido publicamente pelo escritor desde sempre, marcadamente durante a recepção do Prêmio Nobel de Literatura em 1998: uma Carta de Deveres Humanos. Esses dois acontecimentos estão marcados na edição de forma diversa: o primeiro com um ensaio de Maria Alzira Seixo, um conjunto de fotografias de Marcelo Buainain realizadas em Alfama em fevereiro de 1996 numa sessão cujo ponto de partida foi justamente o drama do livro agora lembrado e excertos dos “Cadernos de Lanzarote” em que Saramago comenta sobre o processo de escrita do “Ensaio”; o segundo, um texto do próprio Saramago (de 1993) “Heresia, um direito humano” (para os leitores de língua portuguesa é um texto inédito, visto que, até onde alcançamos pesquisar, não aparece em nenhum dos títulos já publicados e o encontramos numa versão em língua espanhola editada em 16 de fevereiro de 1994 do jornal El País da qual escrevemos a tradução em língua portuguesa. A relação deste texto com os acontecimentos na Cidade do México (lugar onde foi realizado o evento de início para elaboração da Carta dos Deveres Humanos) é que no ano em que o texto sobre a necessidade da heresia foi publicado, Saramago enunciou-a como um direito inerente aos Direitos Humanos; tema sobre o qual recorreu várias vezes em outras de suas intervenções, como quando publicou “Caim”, em 2009. E atenção para os textos de Gisela Maria de Lima Braga Penha, Júlia Cristina Figueiredo, Saulo Gomes Thimóteo, Eula Carvalho Pinheiro, Maria do Socorro Velos, Maria Angela Pavan, Miguel Koleff, Diego J. González e Pedro Fernandes de Oliveira Neto. Os dois volumes podem ser descarregados diretamente (por texto ou por arquivo completo) em: http://www.estudossaramaguianos.com/"


quarta-feira, 29 de julho de 2015

"Sofía Gandarias" post no Livro/Blog "O Caderno" ... Auschwitz e deus...

http://caderno.josesaramago.org/41158.html

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"Sofía Gandarias"

"À pergunta angustiada, ainda que carregada de uma retórica fácil, que o papa lançou em Auschwitz para surpresa e escândalo do mundo crente: “Onde estava Deus?”, vem esta grande exposição de Sofía Gandarias responder com simplicidade: “Deus não está aqui”. É evidente que Deus não leu Kafka e, pelos vistos, Ratzinger também não. Não leram nem sequer Primo Levi, que está mais perto do nosso tempo e nunca se serviu de alegorias para descrever o horror. Se se me permite a ousadia, eu aconselharia ao papa que visitasse, com tempo e olhos de ver, esta exposição de Sofía, que escutasse com atenção as explicações que lhe fossem dadas por uma pintora que, sabendo muito da arte que cultiva, muito sabe também do mundo e da vida que nele temos feito, os que crêem e os que não crêem, os que esperam e os que desesperam, e os outros, os que fizeram Auschwitz e os que perguntam onde estava Deus. Melhor seria que nos perguntássemos onde estamos nós, que doença incurável é esta que não nos deixa inventar uma vida diferente, com deuses, se quiserem, mas sem nenhuma obrigação de crer neles. A única e autêntica liberdade do ser humano é a do espírito, de um espírito não contaminado por crenças irracionais e por superstições talvez poéticas em algum caso, mas que deformam a percepção da realidade e deveriam ofender a razão mais elementar. Acompanho o trabalho de Sofía Gandarias desde há anos. Assombra-me a sua capacidade de trabalho, a força da sua vocação, a mestria com que transfere para a tela as visões do seu mundo interior, a relação quase orgânica que mantém com a cor e o desenho. Sofía Gandarias é, toda ela, memória. Memória de si mesma, como qualquer, em primeiro lugar, mas também memória do que viveu e do que aprendeu, memória de tudo o que interiorizou como algo próprio, memória de Kafka, de Primo Levi, de Roa Bastos, de Borges, de Rilke, de Brecht, de Hanna Arendt, de quantos, para tudo dizer numa palavra, se debruçaram do poço da alma humana e sentiram a vertigem.Nota: Texto para a exposição “Kafka, o visionário”, de Sofía Gandarias, que poderá visitar-se na Haus am Kleistpark de Berlim a partir do dia 28 deste mês. (14 de Maio de 2009)"

domingo, 26 de julho de 2015

"Silvia Lemus entrevista José Saramago" para o programa "Tratos y Retratos" do Canal 22 (México - Maio de 2003)

"Tratos Y Retratos é um programa organizado pela jornalista Silvia Lemus, reúne um grupo excepcional de artistas, escritores, pensadores, cineastas de renome universal, como Umberto Eco, Sebastião Salgado e José Saramago. O programa é uma produção do Canal 22, do México.

José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura 1998, é um dos escritores mais conhecidos e apreciado no mundo inteiro. Na Espanha, após a primeira publicação de O Ano da Morte de Ricardo Reis, em 1985, sua obra literária merece a melhor recepção dos leitores e críticos. Além deste volume, outros grandes títulos são Manual de Pintura e Caligrafia, quase um objeto, História do cerco de Lisboa, A Jangada de Pedra, Memorial do Convento, O Evangelho Segundo Jesus, todos os nomes, levantou, Ensaio sobre Ensaio sobre a Cegueira, A Caverna, o homem duplicado, Ensaio sobre a clareza, a morte intermitentemente, Poesia Completa e Cadernos de Lanzarote I e II. Alfaguara publicou também Viagem livro em Portugal e no conto O Conto da Ilha Desconhecida.

Entrevista realizada em maio de 2003, Saramago critica a atual democracia, em que há o aumento das diferenças sociais e desrespeito aos direitos humanos. Faz uma interessante observação da invasão do Iraque, em que os interesses não se limitam apenas ao petróleo."







"A Compreensão segundo José Saramago" extraído do documentário "Janela da Alma" de João Jardim e Walter Carvalho

Pode ser visualizado aqui, via YouTube,

Ensaio audiovisual sobre fotos de Sebastião Salgado e narrativa de José Saramago.
Áudio original extraído do documentário "Janela da Alma" de João Jardim e Walter Carvalho (Brasil, 2001).

"Eu não quero dizer que cada um é conforme nasce -- não vou a esse ponto. Mas, talvez devêssemos ponderar por que algumas pessoas resistem ao comportamento digamos universal -- o modo de comportasse mais geral -- e outras não? Por que algumas pessoas mantêm uma atitude crítica em relação às coisas? Por que algumas pessoas acham que não é por fato das coisas serem novas ou modernas que elas são necessariamente boas? Isto não é defender o antigo... é simplesmente considerar que não tem nenhuma razão para acreditar que no momento em que estou a viver é o momento em que todas as coisas que se estão a fazer -- as de agora e as que vão ter efeitos no futuro -- são as únicas e as melhores que poderiam estar a ser feitas e a ser pensadas, imaginadas e aplicadas. Não tenho qualquer razão para isso, pelo contrário, tenho muitas razões que me dizem que nos tomamos por um caminho errado." 

Por JOSÉ SARAMAGO

"José Saramago - Homenaje a las Madres de Plaza de Mayo"


"José Saramago - Homenaje a las Madres de Plaza de Mayo"
Madres Coraje, Homenaje a las Madres de Plaza de Mayo 
Realizado por Emilio Cartoy Diaz para Tea Imagen y Radio Tea.

"Los hombres han inventado un Dios que nos da unos ratos malísimos" Entrevista de Francesc Valls para o "El País" (24/10/1994)

"Los hombres han inventado un Dios que nos da unos ratos malísimos"
"El País" por Frances Valls, Barcelona - 24/10/1994

A entrevista pode ser consultada e lida, aqui
em http://elpais.com/diario/1994/10/24/cultura/782953204_850215.html

(Fotografia via "El País")

Comunista preocupado por Dios y las guerras santas; revolucionario para quien la revolución siempre es asesinada; demócrata que ve la democracia muerta cuando el voto entra en la urna. Este nadador contra corriente es el escritor José Saramago (Azinhaga, Portugal, 1922), quien esta semana ha presentado su libro Casi un objeto (Alfaguara).

La carcoma era vengadora. El justiciero y antifascista anóbido, con sus galerías, hizo caer a Oliveira Salazar, el dictador portugués, de su silla. Quien relata esa historia es un amigo de carcomas y topos. José Saramago abre túneles bajo superficies aparentemente sólidas y duras con su palabra. El libro de relatos Casi un objeto, que acaba de publicar Alfaguara, es un ejemplo. (El libro fue presentado ayer en Crisol por el crítico Miguel García Posada. Hoy, en la Casa de América, Ángeles Caso entrevistará en público a Saramago y Charo López leerá alguno de sus relatos).

Pregunta. ¿Se cayó Salazar de su silla?

Respuesta. Es un hecho histórico que se sentó en una silla, se rompió la pata y dio consigo en el suelo. El relato La silla es la descripción de una lucha contra el dictador, contra el fascismo. Salazar se cae porque la carcoma, a lo largo de los años, se ha comido la madera.

P. Pero ahora que la carcoma ha triunfado, ¿se siente defraudado por la forma en que ha evolucionado la revolución de los claveles en Portugal?

R. Todas las revoluciones, más tarde o más temprano, acaban en su contrario. Ocurrió con la francesa, que dio paso al emperador. Luego con la Revolución de Octubre de 1917. El destino de las revoluciones es convertirse en su opuesto.

P. Acaba de publicarse su libro In nomine Dei, libreto de la ópera Divara, agua y sangre. Es la historia de dos anabaptistas que dirigieron una experiencia colectivista en Münster. Acabó en dictadura. ¿Ha sucedido lo mismo en los países del llamado socialismo real?

R. Las revoluciones acaban siempre traicionadas por una razón sencilla: por la renuncia de los ciudadanos a participar. En el caso de Münster se entró en una situación en que la propiedad no existía; era un caso de una pureza total que muy pronto se acabó. Eso también ocurre en el funcionamiento normal de las democracias. La enfermedad mortal de las democracias es la renuncia del ciudadano a participar. Los primeros responsables somos nosotros al delegar el poder en otra persona que, a partir de ese momento, pasa a controlarlo y a usarlo.

P. ¿Qué alternativa hay?

R. La alternativa no es más que la participación del ciudadano todos los días.

P. Eso tiene difícil articulación en un sistema político.

R. En un sistema como el actual, sí. Cuando el ciudadano vota expresa de forma suprema su conciencia. Pero ese momento coincide con su renuncia a intervenir. La paradoja es que justo cuando el voto entra en la urna él renuncia a participar. Hay que buscar sistemas distintos para el ejercicio de la ciudadanía. No podemos decir que los políticos tienen la culpa. Nosotros somos los principales responsables.

P. La mayoría, no obstante, opina que la democracia parlamentaria es el menos, malo de los sistemas conocidos.

R. Sí, pero ésa es una manera muy hábil de impedir que se busque algo mejor. Eso lleva a la gente a hacer la operación mental que consiste en transformar lo menos malo en mejor. Al decir el menos malo estamos diciendo el mejor. Y uno se lo cree y no busca más. Hay que buscar una democracia que lo sea. El mundo además está regido por un poder no democrático, el financiero. Elegimos al alcalde, al presidente. Pero el otro poder es el que auténticamente gobierna el mundo. Aníbal Cavaco Silva [primer ministro portugués] o Felipe González se encuentran por ahí, salen en la prensa o en la televisión. Pero hay un poder del que no se habla nunca en los medios y es el poder financiero, y ésos son los que gobiernan. Felipe González y Cavaco Silva no gobiernan. Bueno, sí... Yo en mi casa también lo hago. El poder real está en otro sitio.

P. Usted sigue siendo militante del Partido Comunista de Portugal.

R. Sí.

P. Y uno de los militantes comunistas mis preocupados por Dios o, mejor, por las repercursiones de la existencia de Dios en la tierra.

R. Los problemas de Dios no me preocupan. Me preocupan los problemas de los hombres que se inventaron un Dios que no hace más que darnos ratos malísimos. Quizás Dios exista (yo no lo creo), pero no tiene sentido que nos matemos en nombre de Dios.

P. Los problemas religiosos le persiguen. El Evangelio según Jesucristo le comportó problemas en Portugal (el Gobierno vetó que concurriera a un premio europeo porque podía herir la sensibilidad religiosa del pueblo portugués).

R. Me fui a vivir a Lanzarote. Y estoy contento; de una cosa mala a veces surge una cosa buena. Pero eso no significa que haya roto con Portugal. Ahora me voy a Lisboa, lo que pasa es que no quiero nada con el Gobierno.

P. Las maletas del viajero relata una tragedia a causa de una frontera.¿Son o no un problema las fronteras?

R. No tengo ninguna prevención contra el nacionalismo. Es necesario revisar el concepto de nacionalismo. Hace 50 años, con los nacionalismos de tipo fascista, un pueblo pretendía dominar a otro. Ahora la cosa es distinta y tiene más que ver con el instinto de supervivencia en tiempos de globalización, económica, cultural, lingüística. Hay que revisar la idea de los nacionalismos para rescatarlos de la derecha.

24 de octubre de 1994

"Charla de José #Saramago dentro del ciclo Encuentros en la Caja" en el Espacio Cultural de la Obra Social de CajaCanarias (3/8/2007)

(Pode ser visualizado aqui, via YouTube, em https://www.youtube.com/watch?v=ikP7NJwcRUI

"Charla de José Saramago dentro del ciclo Encuentros en la Caja, 
celebrado el 3 de Agosto de 2007 en el Espacio Cultural de la Obra Social de CajaCanarias"

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Publicado no Livro/Blog "O Caderno" intitulado "O amanhã e o milénio"

Quando no final de Junho deste ano, a conferência mundial "Prospectivas del Mundo - México 2015", debatia num "El encuentro de pensadores para crear la carta de las obligaciones del ser humano", sob o signo e inspiração do testemunho de José Saramago, cujas palavras são repetidas e repercutidas pelos defensores de uma sociedade global mais justa, harmoniosa e equilibrada, ficou este registo que se recupera:

"Pensemos que ninguno de los derechos humanos podría subsistir sin la simetría de los deberes que les corresponden... Tomemos entonces, nosotros, ciudadanos comunes, la palabra, con la misma vehemencia con que reivindicamos los derechos, reivindiquemos también el deber de nuestros deberes. Tal vez así el mundo pueda ser un poco mejor."

Este texto "O amanhã e o milénio", é em poucas linhas, a demonstração da necessidade de se reorientar as linhas basilares da condição e evolução do homem neste milénio.

Pode ser consultado e lido, aqui
em http://caderno.josesaramago.org/32478.html


"O amanhã e o milénio"
Há dias li um artigo de Nicolas Ridoux, autor de Menos é mais. Introdução à filosofia do decrescimento, e recordei que já há uns bons anos, nas vésperas da entrada do milénio em que já estamos instalados, participei num encontro em Oviedo onde a alguns escritores se solicitava que traçássemos objectivos para o milénio. A mim pareceu-me que falar do milénio era demasiado ambicioso, por isso propus-me falar apenas do dia seguinte. Recordo que fiz propostas concretas e que uma delas era a agora enunciada por Ridoux no seu Menos é mais. Procurei no disco duro de computador e decidi-me a recuperar parte do que escrevi então e que hoje me parece ter ainda mais actualidade que nessa altura. Quanto às visões do futuro, creio que seria preferível que começássemos por preocupar-nos com o dia de amanhã, quando se supõe que ainda estaremos quase todos vivos. Na verdade, se no remoto ano de 999, em qualquer parte da Europa, os poucos sábios e os muitos teólogos que então existiam se tivessem deitado a adivinhar sobre como seria o mundo daí a mil anos, estou que errariam em tudo. Contudo, algo penso eu em que mais ou menos acertariam: que não haveria qualquer diferença fundamental entre o confuso ser humano de hoje, que não sabe e não quer perguntar aonde o levam, e a amedrontada gente que, naqueles dias, acreditava estar próximo o fim do mundo. Em comparação, já será de prever um número muito maior de diferenças de todo o tipo entre as pessoas que hoje somos e aquelas que nos sucederão, não daqui a mil anos, mas a cem. Por outras palavras: talvez nós tenhamos ainda muito que ver com os que viveram há um milénio, mais do que com esses outros que daqui a um século habitarão o planeta... É agora que o mundo se acaba, está no ocaso o que há mil anos apenas alvorecia.
Ora, enquanto se acaba e não se acaba o mundo, enquanto se põe e não se põe o sol, por que não nos dedicaremos a pensar um pouco no dia de amanhã, esse tal em que quase todos nós ainda estaremos felizmente vivos? Em vez de umas quantas propostas arrojadamente gratuitas sobre e para uso do terceiro milénio, que logo ele, mais do que provavelmente, se encarregará de reduzir a cisco, por que não nos decidimos a pôr de pé umas quantas ideias simples e uns quantos projectos ao alcance de qualquer compreensão? Estes, por exemplo, no caso de não se arranjar coisa melhor: a) Desenvolver desde a retaguarda, isto é, fazer aproximar das primeiras linhas de bem-estar as crescentes massas de população deixadas atrás pelos modelos de desenvolvimento em uso; b) Suscitar um sentido novo dos deveres humanos, tornando-o correlativo do exercício pleno dos seus direitos; c) Viver como sobreviventes, porque os bens, as riquezas e os produtos do planeta não são inesgotáveis; d) Resolver a contradição entre a afirmação de que estamos cada vez mais perto uns dos outros e a evidência de que nos encontramos cada vez mais isolados; e) Reduzir a diferença, que aumenta em cada dia, entre os que sabem muito e os que sabem pouco

Creio que é das respostas que dermos a questões como estas que dependerá o nosso amanhã e o nosso depois de amanhã. Que dependerá o próximo século. E o milénio todo.

A propósito, regressemos à Filosofia.
(25 de Março de 2009)

quinta-feira, 23 de julho de 2015

"Aproximações técnicas e diálogos críticos" de José Saramago, com Miguel Koleff e Socorro Veloso (25/08) UNC Córdoba Argentina

E por todo o mundo, o legado de ‪#‎saramago‬ está vivo e activo.
Pelo punho de Miguel Koleff e convite endereçado à minha mui amiga Prof.ª Socorro Veloso, a Facultad de Lenguas UNC de Córdoba Argentina, e inserida na "Cátefra Libre José Saramago" lança a conferência que se anuncia.
Desejo a todos muitos e bons momentos saramaguianos.
Por todo o mundo... e por Portugal???




Charla: "Aproximações técnicas e diálogos críticos" de José Saramago. 
Martes 25 de agosto, de 18 a 20 hs.
Entrada Libre y Gratuita - Idioma Portugués

Morada
Av. Valparaíso s/n - Ciudad Universitaria, 5000

Breve descrição
Sitio oficial de la Facultad de Lenguas - Universidad Nacional de Córdoba - Argentina

http://www.fl.unc.edu.ar
Valparaíso s/n, 
Ciudad Universitaria, Córdoba, Argentina 
Tel.: +54 (0351) 434-3214 /15 /16 /17 /18



terça-feira, 21 de julho de 2015

"Blimunda" Revista Digital - Edição #38 - Julho 2015 (para descarregar de forma gratuita)

(Capa da edição #38 - Julho de 2015)

Pode ser consultada e lida, aqui
em http://blimunda.josesaramago.org/2015/07/21/blimunda-38-julho-de-2015/#more-255


Sinopse da edição
"A edição de julho da Blimunda dá destaque ao congresso sobre direitos/deveres humanos realizado na Cidade do México. Além de uma crónica sobre o encontro – que partiu de uma ideia de José Saramago – e dos discursos de Pilar del Río e do reitor da Universidade Autónoma do México (co-organizadora do congresso), a Blimunda publica um texto de Anabela Mota Ribeiro. A jornalista portuguesa andou pela capital do país, percorreu ruas e praças, recuperou histórias e encontrou Saramago em cada canto, concluindo que “José é mexicano”.

A banda desenhada também merece espaço neste número 38 da publicação. O brasileiro Marcelo D’Salete conversou com Sara Figueiredo Costa sobre o seu processo de criação e as principais características do seu trabalho.

Na secção dedicada ao cinema, o conceito de exploitation aplicado à produção cinematográfica portuguesa é analisado na primeira parte de um texto de autoria de João Monteiro.

Nesta edição de julho, a Blimunda publica a entrevista realizada por Andreia Brites à canadiana Sandra Lee Beckett. Criadora do termo crossover, a escritora falou sobre a ruptura das etiquetas literárias e de como um livro pode ser uma ponte que liga adultos e crianças.

Boas leituras. Até agosto.
E Gracias, México!"

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Trigo Limpo Teatro Acert, leva o nosso "Salomão" à Figueira da Foz, com a encenação de "A Viagem do Elefante"


A VIAGEM DO ELEFANTE | TRIGO LIMPO teatro ACERT

Sáb, 1 ago'15 às 22:00h · Esplanada Silva Guimarães · Figueira da Foz

Mais informação através http://acert.pt/aviagemdoelefante/


(Pode ser visualizado no YouTube, em  https://www.youtube.com/watch?v=yTRap35P9hQ)

"A Viagem do Elefante" - Uma produção Trigo Limpo teatro ACERT,
 em coprodução musical com Flor de Jara, e com a parceria da Fundação José Saramago. 
Imagens recolhidas em São Pedro do Sul a 20-09-2014.


A Fundação José Saramago assinala a abertura da embaixada de Cuba nos EUA, com o texto "Guantánamo" de 5/11/2008

Via Fundação José Saramago, através da página oficial no Facebook, aqui

"No dia em que se restabelecem oficialmente as relações entre Cuba e os Estados Unidos, recordamos um texto de José Saramago publicado no seu blogue, O Caderno de Saramago, a 5 de novembro de 2008"

(O hastear da bandeira de Cuba, na sua embaixada - EUA)

A recordação do post, de 5 de Novembro de 2008, também publicado no livro "O Caderno", pode ser consultado e lido na integra, aqui em http://caderno.josesaramago.org/9928.html

"Guantánamo"
"No momento em que escrevo estas linhas os colégios eleitorais ainda vão continuar abertos durante mais algumas horas. Só pela madrugada dentro surgirão as primeiras projecções sobre quem será o próximo presidente dos Estados Unidos. No caso altamente indesejável de que viesse a triunfar o general McCain, o que estou a escrever pareceria obra de alguém cujas ideias sobre o mundo em que vive pecassem por um total irrealismo, por um desconhecimento absoluto das malhas com que se tecem os factos políticos e os diversos objectivos estratégicos do planeta. Nunca o general McCain, sendo, ainda por cima, como a propaganda não se cansa de lhe chamar e que um miserável paisano como eu nunca se atreveria a negar, um herói da guerra contra o Vietnam, nunca ele ousaria deitar abaixo o campo de concentração e tortura instalado na base militar de Guntánamo e desmontar a própria base até ao último parafuso, deixando o espaço que ocupa entregue a quem é o seu legítimo dono, o povo cubano. Porque, quer se queira, quer não, se é certo que nem sempre o hábito faz o monge, a farda, essa, faz sempre o general. Deitar abaixo, desmontar? Quem é o ingénuo que teve semelhante ideia?

E, contudo, é disso precisamente que se trata. Há poucos minutos uma estação de rádio portuguesa quis saber qual seria a primeira medida de governo que eu proporia a Barack Obama no caso de ele ser, como tantos andamos a sonhar desde há um ano e meio, o novo presidente dos Estados Unidos. Fui rápido na resposta: desmontar a base militar de Guantánamo, mandar regressar os marines, deitar abaixo a vergonha que aquele campo de concentração (e de tortura, não esqueçamos) representa, virar a página e pedir desculpa a Cuba. E, de caminho, acabar com o bloqueio, esse garrote com o qual, inutilmente, se pretendeu vergar a vontade do povo cubano. Pode suceder, e oxalá que assim seja, que o resultado final desta eleição venha a investir a população norte-americana de uma nova dignidade e de um novo respeito, mas eu permito-me recordar aos falsos distraídos que lições da mais autêntica das dignidades, das quais Washington poderia ter aprendido, as andou a dar quotidianamente o povo cubano em quase cinquenta anos de patriótica resistência.

Que não se pode fazer tudo, assim de uma assentada? Sim, talvez não se possa, mas, por favor, senhor presidente, faça ao menos alguma coisa. Ao contrário do que acaso lhe tenham dito nos corredores do senado, aquela ilha é mais que um desenho no mapa. Espero, senhor presidente, que algum dia queira ir a Cuba para conhecer quem lá vive. Finalmente. Garanto-lhe que ninguém lhe fará mal."
em "O Caderno"
Caminho, páginas 103 a 105, (8 de Novembro de 2008)


Revista Blimunda #26 - Mês de Julho 2014 - Recordação das edição do ano passado

Neste mês de Junho, recordamos o #26 da Revista Blimunda 
Pode ser descarregada gratuitamente, aqui
em http://blimunda.josesaramago.org/2014/07/23/blimunda-26-julho-de-2014/

(Capa da edição do mês de Julho do ano passado, #26)

Sinopse
"Neste mês de julho cumprem-se cem anos do início da Primeira Guerra Mundial, tema que a Blimunda # 26 recupera com nove meditações sobre a guerra, de autoria de José Saramago, acompanhados por ilustrações de Filipe Abranches, e com a reprodução de dez cartazes que mostram diferentes formas de abordagem gráfica ao conflito que marcou o panorama social e político mundial.

Participante de luxo desta edição da revista, o sociólogo espanhol Juan José Tamayo assina uma reflexão sobre o livro de sua autoria, Cincuenta intelectuales para una conciencia crítica. Ricardo Viel entrevista a poeta Matilde Campilho, revelação da poesia lusófona e autora do recentemente publicado Jóquei. Da Colômbia chega-nos um retrato da Carreta Literária, projeto de promoção de leitura fruto da insistência e do sonho de um vendedor de Cartagena de Índias. Na secção Infantil e Juvenil Andreia Brites relata os bastidores da Ilustratour, encontro dedicado à ilustração realizado em Valladolid que na sua sétima edição se afirma como um dos mais importantes pontos de encontro entre ilustradores e editores no país vizinho. Espaço, ainda, para a primeira parte de um artigo de João Monteiro dedicado à relação entre a Literatura Negra e o Cinema Negro, partindo da Antologia do Conto Fantástico Português, publicado na década de 1960.

Na Saramaguiana, a Blimunda publica um ensaio de Wagner Martins Madeira sobre o humor em A Viagem do Elefante, de José Saramago, ilustrado pelas imagens da peça de teatro com o mesmo nome que o Trigo Limpo Teatro ACERT leva pelo segundo ano consecutivo a mais de 14 localidades do interior de Portugal.

E como estamos no verão, Sara Figueiredo Costa explora As Praias de Portugal – Guia do banhista e do viajante, de Ramalho Ortigão, agora reeditado pela Quetzal, livro que justifica a ideia (incompreensível) de que há leituras adequadas para as férias de verão, para quem as têm, e para a praia."

domingo, 19 de julho de 2015

José Saramago "Esta es mi tierra" - Vídeo reflexão sobre os lugares a que pertencemos - TVE2

Azinhaga - Lisboa - Lanzarote

Pode ser visualizado aqui, via YouTube, 

“Habitamos físicamente un espacio, pero sentimentalmente vivimos en una memoria”. Esta es una de las tantas reflexiones que escuchamos del “viajero” –como aparece referido José Saramago en este programa– mientras recorre y presenta al espectador tres lugares que fueron significativos en su vida: Azinhaga (el pueblo donde nació), Lisboa (la ciudad en la que, nos dice, nunca llegaría a ser un extraño) y Lanzarote (donde fijó su última residencia). Como es costumbre en la serie “Esta es mi tierra”, el viaje al que asiste el espectador es también un viaje literario. En este caso son leídos fragmentos de las obras: “Viaje a Portugal”, “El año de la muerte de Ricardo Reis” y “Cuadernos de Lanzarote”.

Voz de Fernando Hernández

Uma análise da fase Estátua da obra de José Saramago, segundo o estudo da académica Eula Pinheiro

(A estátua e a pedra, imagem cénica da obra de Eula Pinheiro)

"José Saramago: Tudo, Provavelmente são Ficções; mas a Literatura é Vida"
Musa Editora, 2012

(...) é como se eu me tivesse dedicado a descrever uma estátua? O que é uma estátua? a estátua é a superfície da pedra, a estátua é só a superfície da pedra, é o resultado daquilo que foi retirado da pedra, a estátua é o que ficou depois do trabalho que retirou pedra à pedra, toda a escultura é isso, é a superfície da pedra e é o resultado dum trabalho que retirou pedra da pedra. (...)
Em "A Estátua e a Pedra" de José Saramago, aqui mencionado na obra de Eula Pinheiro

Segundo a autora, esta obra é uma análise à fase da estátua, literáriamente aqui compreendida no tempo entre a publicação do Manual de Pintura e Caligrafia, ponto de partida, e a "História do Cerco de Lisboa", onde "toda a verdade é ficção".

Prefácio da Presidenta Pilar del Río, onde descreve que "Eula Carvalho Pinheiro, que escreveu um livro indispensável para os que amam a obra de Saramago, ou seja, ao autor que construiu a realidade à base de ficções que nos fortalecem e dignificam." 

"José Saramago: Tudo, Provavelmente são Ficções; mas a Literatura é Vida", é um titulo de força e de vida, denso e concreto, que abarca muita informação para nos auxiliar na leitura e interpretação de um homem, activista e humanista.
Estruturado em 3 partes principais, somos brindados com imagens e detalhes habitualmente não inseridos nestas obras de estudo, e que neste caso introduzem o conceito de "Vida" do autor e das pessoas. É a imagem de um pedaço do manuscrito que deu origem ao "Memorial do Convento", o desenho da mão de José Saramago, feita pelo próprio e que foi objecto de leilão, fotos, locais, roteiros e momentos.



4º Aniversário da Fundação José Saramago - Leitura por Eula Pinheiro
No dia da comemoração do 4º aniversário da Fundação José Saramago,
 com uma leitura pública do livro "Palavras para José Saramago",
 que recolhe os textos publicados por todo o mundo
 nos dias que se seguiram à morte de José Saramago.

  


Projecto #unchainmee - Pela ABOLIÇÃO de animais nos circos - Saramago e a parceria da Fundação José Saramago

Já pararam para pensar....
Que os animais utilizados para diversão das plateias, SÃO TORTURADOS?
Que os animais são mantidos em absolutas condições de ENCARCERAMENTO em JAULAS?
Que os animais são sujeitos a condições de TORTURA durante os "TREINOS"?
Que as doenças e danos fisicos que condicionem a sua rentabilidade da utilização, leva ao SEU ABANDONO, MORTE e não raras vezes como ALIMENTAÇÃO para outros animais?

Projecto #unchainmee - Pela ABOLIÇÃO de animais nos circos


Actor João Lagarto lê o texto "Susi"


"Susi"
"Pudesse eu, e fecharia todos os zoológicos do mundo. Pudesse eu, e proibiria a utilização de animais nos espectáculos de circo. Não devo ser o único a pensar assim, mas arrisco o protesto, a indignação, a ira da maioria a quem encanta ver animais atrás de grades ou em espaços onde mal podem mover-se como lhes pede a sua natureza. Isto no que toca aos zoológicos. Mais deprimentes do que esses parques, só os espectáculos de circo que conseguem a proeza de tornar ridículos os patéticos cães vestidos de saias, as focas a bater palmas com as barbatanas, os cavalos empenachados, os macacos de bicicleta, os leões saltando arcos, as mulas treinadas para perseguir figurantes vestidos de preto, os elefantes mal equilibrados em esferas de metal móveis. Que é divertido, as crianças adoram, dizem os pais, os quais, para completa educação dos seus rebentos, deveriam levá-los também às sessões de treino (ou de tortura?) suportadas até à agonia pelos pobres animais, vítimas inermes da crueldade humana. Os pais também dizem que as visitas ao zoológico são altamente instrutivas. Talvez o tivessem sido no passado, e ainda assim duvido, mas hoje, graças aos inúmeros documentários sobre a vida animal que as televisões passam a toda a hora, se é educação que se pretende, ela aí está à espera."

(Foi por esta elefanta que Saramago interveio, seu nome Susi) 

"Perguntar-se-á a que propósito vem isto, e eu respondo já. No zoológico de Barcelona há uma elefanta solitária que está morrendo de pena e das enfermidades, principalmente infecções intestinais, que mais cedo ou mais tarde atacam os animais privados de liberdade. A pena que sofre, não é difícil imaginar, é consequência da recente morte de uma outra elefanta que com a Susi (este é o nome que puseram à triste abandonada) partilhava num mais do que reduzido espaço. O chão que ela pisa é de cimento, o pior para as sensíveis patas deste animais que talvez ainda tenham na memória a macieza do solo das savanas africanas. Eu sei que o mundo tem problemas mais graves que estar agora a preocupar-se com o bem-estar de uma elefanta, mas a boa reputação de que goza Barcelona comporta obrigações, e esta, ainda que possa parecer um exagero meu, é uma delas. Cuidar de Susi, dar-lhe um fim de vida mais digno que ver-se acantonada num espaço reduzidíssimo e ter de pisar esse chão do inferno que para ela é o cimento. A quem devo apelar? À direcção do zoológico? À Câmara? À Generalitat?
P. S.: Deixo aqui uma fotografia. Tal como em Barcelona há grupos – obrigado - que têm pena de Susi, na Austrália também um ser humano se compadeceu de um marsupial vitimado pelos últimos incêndios. A fotografia não pode ser mais emocionante."

(Assistência ao Koala)

Post publicado em 19 de Fevereiro de 2009, 
Blog "Caderno" e livro "O Caderno", Caminho, páginas 198 e 199

A Fundação José Saramago associou-se a este projecto, no apoio institucional e de divulgação da iniciativa, bem como na cedência das instalações para a apresentação dos vídeos de apoio e denuncia da causa. 
Poderá pensar-se que pode ser um assunto desconexo com os princípios desta instituição, virada no seu âmago para a vida e divulgação da obra de José Saramago entre outros desenvolvimentos baseados no aspecto literário, mas cumpre desde a sua instituição e formação alicerçada no espírito do autor e sua intervenção cívica em outros aspectos sociais. 
Na "Declaração de Princípios" (ver http://www.josesaramago.org/declaracao-de-principios/), e pelo punho de Saramago é idealizado que "A direcção dos grandes valores, sim, mas também a direcção das pequenas e comuns acções que deles decorrem no quotidiano e que lhes darão a melhor validez das experiências adquiridas e das aprendizagens que não cessam. O paradoxo da existência humana está em morrer-se em cada dia um pouco mais, mas que esse dia é, também, uma herança de vida legada ao futuro, que o futuro, longo ou breve seja ele, deverá assumir e fazer frutificar.", onde reforça explicitamente outras preocupação sobre as causas da defesa do meio ambiente, e aqui nesta alínea, esta luta é o espelho da sua intervenção junto de tribos ameaçadas pelos grandes interesses económicos das multinacionais que os "governos" residentes dão secular apoio, ou na defesa pontual de um animal, como foi o texto sobre a elefanta Susi, dois exemplos entre mil. Recordando a alínea c) da "Declaração de Princípios", fica vincado o pragmatismo e desconfiança de que o tempo de intervir é cada vez mais urgente. 
"c) Que à Fundação José Saramago mereçam atenção particular os problemas do meio ambiente e do aquecimento global do planeta, os quais atingiram níveis de tal gravidade que já ameaçam escapar às intervenções correctivas que começam a esboçar-se no mundo"

O QUE É ESTE PROJECTO?

(Imagem do projecto #unchainmee)

Informação e vídeos em http://www.unchainmee.com/
“Cada Animal Preso no Circo tem uma Cara” é o início de uma campanha internacional de ajuda ao resgate de todos os Animais domésticos e selvagens que trabalham ainda em Circos por todo o mundo.

Por todo o mundo há cada vez mais países a abolir o uso de Animais no Circo, devido ao importante e eficaz trabalho de Associações de defesa de direitos dos Animais.

Muitas organizações dedicam-se também ao resgate, reabilitação física e psicológica e transferência destes Animais para santuários onde possam viver uma vida sem encarceramento nem exploração.

Para apoiar este trabalho um grupo de cidadãos da área das artes e espectáculo juntou-se para criar 12 filmes que mostram a vida de escravidão que todos os animais, sejam eles domésticos ou selvagens, continuam a viver no Circo. Além da questão moral de fundo -- não temos o direito de explorar e manter ninguém em cativeiro para nossa diversão.

Em Portugal, participam neste projecto as muito conceituadas actrizes e actores: RITA BLANCO, ADRIANO LUZ, MARIA JOÃO LUÍS, JOÃO LAGARTO, CARLA BOLITO, FILIPE DUARTE, ANA BRANDÃO, RUBEN ALVES, MITÓ MENDES, MARCELLO URGEGHE, MANUELA COUTO E DIOGO AMARAL.

Sobre #unchainmee 

#unchainmee é um grupo informal de cidadãos a nível nacional e internacional, que se juntou para esta primeira campanha que defende a abolição de animais de qualquer espécie em Circos.

Sendo todos os membros de #unchainmee admiradores do circo enquanto arte e espectáculo com humanos, consideram inaceitável que animais de tantas espécies continuem a ser encarcerados e forçados a actuar.

No seio desta iniciativa nasceu uma produção internacional da autoria da realizadora Teresa Ramos que arranca agora em Portugal com 12 filmes que relatam histórias verdadeiras de animais que viveram no circo e foram resgatados. À semelhança da primeira fase portuguesa, estas histórias serão relatadas também noutros países e representadas por prestigiados actores dos mesmos.

Sobre Regulamentação versus Resgate e Libertação

A lei portuguesa, por exemplo, esquece a defesa e libertação dos animais ainda presos no circo, apenas proíbe a sua reprodução (e apenas de espécies selvagens) permitindo ainda a sua exploração.

Mas mesmo esta lei não é cumprida, visto que, na altura do Natal, continua a ser comum ver os circos apresentarem leões e tigres bebés, para oportunidades fotográficas com espectadores, quando isso é ilegal.

Uma observação do comportamento dos animais que se encontram encarcerados nos circos permite concluir que os sintomas de confinamento, como os movimentos repetitivos, as estereotipias, a coprofragia e tantos outros que estão muito bem documentados por médicos veterinários e biólogos especializados em etologia, demonstram bem a vida de escravidão a que são forçados os animais quando são mantidos nos circos.

Uma das histórias relatadas, a da Elefanta Shirley, mostra que, se os próprios zoos mais avançados do mundo começam a reconhecer, aberta e honestamente, que não conseguem oferecer aos seus animais a qualidade de vida e o espaço suficiente para lhes darem existência decente, então não há como conceber que os circos – ambulantes por natureza e com sistemas de jaulas como únicos alojamentos para os animais – possam manter os animais em boas condições.

Por Fim 

#unchainmee salienta também que este é um problema que afecta igualmente animais de espécies selvagens e de espécies domésticas (estas muito esquecidas ao olhos da lei e do público no mundo inteiro), como de resto se demonstra através das histórias que os filmes contam. A conclusão que se apresenta é de que todos os animais – e não apenas de espécies selvagens – que se encontram nos circos devem ser resgatados e colocados em santuários onde possam recuperar e preservar a sua integridade. O público deve ser incentivado a escolher apenas circos onde não haja Animais."

(Vídeo promocional da campanha)







terça-feira, 14 de julho de 2015

"Europa Sim, Europa Não" Publicado originalmente no Jornal de Letras, Artes & Ideias (10/01/1989)

2015, o ano onde a Europa, continente, mas também símbolo de unidade política e monetária, centro de discussão das artes e culturas, terra de guerras entre povos e suas conquistas territoriais, vive de novo o paradigma de desconhecer o caminha para onde se dirige.
Da Grécia, berço das nações; dos países do sul, dos países do norte, das "Alemanhas" reunificadas que surgem como poder inquestionável pelos demais, das guerras a leste, o cemitério de refugiados no Mediterrâneo, os Balcãs, as ilhas Britânicas, a Península Ibérica, o espectro do radicalismo religioso... tanta Europa para tão pouco Europa.
Em 1989, um homem, "um humanista por acaso escritor" pensava estas questões. Agora se confirmam.
Leia-se o texto, e sentimos que foi hoje escrito.
Rui Santos
      


Mencionado na obra de Ana Paula Arnaut, "José Saramago" - Edições 70 (2008)

Capítulo 2 - Textos Doutrinários
"Europa", páginas 77 a 80

Publicado originalmente no Jornal de Letras, Artes & Ideias,
10 de Janeiro de 1989, página 32

(Capa da obra de Ana Paula Arnaut 
que republica o texto sobre a ideia de "Europa")


"Europa Sim, Europa Não"
"Algumas vezes este romancista, preso nas malhas da ficção que ia tecendo, chegou a imaginar-se transportado na delirante jangada de pedra em que transformara a Península Ibérica, flutuando sobre o mar atlântico, a caminho do Sul e da Utopia. A peculiaridade da alegoria era transparente: embora prolongando algumas semelhanças com o mais comum dos emigrantes que parte para outras terras a buscar a vida, prevalecia, neste caso, uma definitiva e substancial diferença, a de viajarem também comigo, na migração inaudita, o meu próprio país, todo ele, e, sem que aos espanhóis tivesse pedido a devida licença, portanto sem autorização nem procuração, a Espanha. Ora, embalado nestas minhas imaginações, notava eu que não tinha parte nelas qualquer sentimento de pesar, de tristeza, de aflição mais ou menos pânica, ou, para tudo dizer na inevitável [palavra] portuguesa, saudade. Compreender-se-á já porquê. É certo que, pelos vistos irremediavelmente, me ia afastando da Europa, mas os tecidos vitais da barca imensa que me levava continuavam a alimentar as raízes da minha identidade própria e da minha pertença colectiva: logo, não encontrava causa para chorar um bem perdido, se realmente podia ser assim designado o que antes ganho não fora, mesmo tendo tão pouco de bem. 
Para não cairmos nos braços da banalidade e da redundância não nos fatiguemos a repetir aqui o longuíssimo catá-logo das maravilhas europeias, desde os gregos e latinos até aos felizes dias de hoje. Por de mais sabemos que a Europa é madre ubérrima de culturas, farol inapagável da civilização, lugar onde haveria de instituir-se o modelo humano que, seguramente, mais próximo estará do projecto que Deus tinha em mente quando colocou no paraíso o mais antigo exemplar da espécie. Pelo menos é desta idealizada maneira que os europeus costumam ver-se ao espelho de si mesmos, e essa é a resposta servil que a si mesmo invariavelmente dão: «Sou eu o que de mais belo, de mais inteligente e de mais culto a Terra produziu até agora.» Dito o que seria a altura de começar a redigir a decerto não menos longa acta dos desastres e horrores europeus, que acabaria por levar-nos à deprimente conclusão de que a famosa batalha celeste, afinal, foi ganha por Lúcifer e que o único habitante do paraíso teria sido a ser-pente, encarnação tangível do mal e seu emblema gráfico, que não precisou de macho, ou de fêmea, se macho era, para proliferar em número e em qualidade. Não faremos pois a acta, como não fizemos o catálogo. Antes cobriremos piedosamente o espelho para que não venha a ser pronunciada sequer a primeira palavra da resposta. 
E agora basta de escatologias e ficções. De um ponto de vista ético abstracto, a Europa não tem mais culpas no cartório da História que qualquer outra região do mundo onde, hoje e ontem, por todos os meios, se tenham disputado o poder e a hegemonia. Mas a ética, exercendo-se, como no-lo está dizendo o senso comum, sobre o concreto social, é porventura a menos abstracta de todas as coisas e, ainda que variável no tempo e no espaço, permanece como uma presença calada e rigorosa que, com o seu olhar fixo, nos pede contas todos os dias. Suponho que estamos vivendo o tempo em que a Europa terá de apresentar a juízo o balanço da sua gestão, se não quer prolongar, com o requinte de processos que os modernos meios de comunicação de massa permitem, o seu pecado ou vício maior, que é a existência de duas Europas, a central e a periférica, mais o consequente lastro histórico da injustiça, discriminações e ressentimentos. Já não falo das guerras, das invasões, dos genocídios, das eliminações selectivas, falo sim da ofensa grosseira que é, para além dessa espécie de deformação congénita denominada eurocentrismo, aquele outro comportamento aberrante que consiste em ser a Europa eurocêntrica em relação a si mesma. Para os Estados europeus ricos e, segundo opinião narcísica em que se comprazem, culturalmente superiores, o resto da Europa é algo vago e difuso, um pouco exótico, um pouco pitoresco, merecedor, quando muito, da atenção da antropologia e da arqueologia, mas onde, apesar de tudo, contando com as adequadas colaborações locais, ainda se podem fazer alguns bons negócios. 
Ora, não haverá no futuro uma nova Europa se esta não se instituir formalmente como entidade moral, e também não haverá se não for abolido, mais do que os egoísmos nacionais, que tantas vezes não passam de meros reflexos defensivos, o preconceito da prevalência ou da subordinação das culturas. Tenho obviamente presente a importância dos factores económimicos, militares e políticos na formação das estratégias continentais e seu enquadramento nas geoestratégias globais, mas, sendo por fortuna ou desfortuna homem de literatura, é meu dever imediato lembrar que as hegemonias culturais de hoje resultam, fundamentalmente, de um processo duplo e cumulativo de evidenciação do próprio e de ocultação do alheio que teve artes de impor-se como inelutável, quase sempre, pela resignação, quando não pela cumplicidade das próprias vítimas. Nenhum país, por mais rico e poderoso que seja, deveria poder arrogar-se uma voz mais alta. E, já que de cultura esta-mos falando, também nenhum país ou grupo de países, tratado ou pacto, deveria propor-se como mentor ou guia dos restantes. As culturas, comece a Europa por entendê-lo, e entendido tente ficar de uma vez para sempre, não são melhores nem piores, não são mais ricas nem mais pobres, são, simplesmente e felizmente, culturas. Aí, valem-se umas às outras, e é só pela diferença, assumida e aprofundada, que se acharão justificadas. Não há, e esperamos que não venha a haver uma cultura una e universal. A Terra, sim, é única, mas o homem não. Cada cultura é em si mesma um universo comunicante: o espaço que as separa umas das outras é o mesmo espaço que as liga, como o mar aqui na Terra, separa e liga os continentes. Esse romance [A Jangada de Pedra] em que afasto a Península Ibérica da Europa, não precisaria dizê-lo, é o efeito último de um ressentimento histórico. Provavelmente só um português poderia ter escrito este livro. Mas o seu autor declara que estaria pronto a fazer do mar a errante jangada, depois de alguma coisa ter aprendido nesta navegação, se a Europa, reconhecendo-se incompleta sem a Península Ibérica, fizesse pública confissão dos erros cometidos, injustiças e desprezos. Porque, enfim, se de mim se espera que ame a Europa como à minha própria mãe, o mínimo que lhe posso exigir é que a ame a todos os seus filhos por igual e, sobretudo que por igual os respeite a todos." 
José Saramago
"Europa sim, Europa não", in Jornal de Letras, Artes & Ideias
10 de Janeiro de 1989, página 32 

sábado, 11 de julho de 2015

Juan Cruz do "El País" entrevistou José Saramago "Saramago vuelve a la niñez" (20/08/2006)

"No podía dar una visión idílica de tiempos que de idílicos no tenían nada", explica el escritor portugués, de 83 años, a propósito de su infancia. Acaba de terminar de escribir 'Las pequeñas memorias'.

A entrevista pode ser lida e consultada, aqui,

"Saramago vuelve a la niñez" de Juan Cruz (20 de Agosto de 2006)

(José Saramago / Associated Press)

José Saramago tiene 83 años y acaba de volver a la niñez, escribiendo Las pequeñas memorias, que terminó esta misma semana (el 15 de agosto) en su casa de Lanzarote. Hablamos con el premio Nobel portugués en la biblioteca que acaba de estrenar. "Pude haber pensado que un día tendría el Nobel, pero jamás se me pasó por la cabeza que tendría una biblioteca como ésta. Claro, es obra de Pilar". Pilar es Pilar del Río, su mujer, su traductora; ya trabaja en la traducción de Las pequeñas memorias. La biblioteca está completamente informatizada, y está conectada a la Universidad de Granada y a otras instituciones docentes y literarias del mundo. Ya Saramago ha publicado más de 40 libros; el último fue Intermitencias de la muerte (Alfaguara). Las pequeñas memorias se publicará el 16 de noviembre en su editorial portuguesa Caminho, coincidiendo con el cumpleaños del escritor, y se presentará ese mismo día en Azinhaga, su pueblo natal; en España, el libro aparecerá en Alfaguara, como toda su obra.

Pregunta. ¿Qué se siente al acabar un libro?
Respuesta. Emoción. A veces, lágrimas. Ocurrió con Ensayo sobre la ceguera, con Intermitencias de la muerte. Cuando acabas, te despides, entra una especie de vacío, ¿y ahora qué? Siempre.

P. ¿Pasó con éste?
R. Pasó. Es un libro de memorias de cuando era pequeño; se iba a llamar El libro de las tentaciones, pero me pareció pretencioso, así que le puse este título, que es idéntico a su propósito: Las pequeñas memorias. Me quedé siempre muy atado al niño que fui, y ahora me ha sorprendido la cantidad de recuerdos que tenía de aquella época. El libro me ha hecho sufrir un poco. Al final también hubo alivio.

P. ¿Sufrió escribiéndolo?
R. Porque algunas cosas que cuento son dolorosas. Recuerdos familiares que no son agradables, que me tocaron negativamente; podía haberlos omitido, pero no podía dar una visión idílica de tiempos que de idílicos no tenían nada. Eso me ha producido dolor. Y a veces me he bloqueado. Sólo me había sucedido con Manual de pintura y caligrafía.

P. Dolor en la niñez.
R. Cosas que un niño no debía haber visto. Cuando lo leas sabrás de qué estoy hablando.

P. Ochenta y tres años. ¿Qué le ha hecho volver a una edad tan remota?
R. Es una idea que ya llevaba más de veinte años en mi cabeza. Ahora o jamás. Son 150 páginas. No es literatura sobre lo que he vivido, sino lo que he vivido. Si hubiera literaturizado la vida hubieran salido 500 páginas.

P. ¿Qué efecto sentimental produce una confesión así?
R. Un adulto escribe memorias de adulto, acaso para decir: "Miren qué importante soy". He hecho memorias de niño, y me he sentido niño haciéndolas; quería que los lectores supieran de dónde salió el hombre que soy. Así que me centré en unos años, de los 4 a los 15.

(José Saramago / Consuelo Bautista)

P. ¿Y de dónde viene?
R. El libro tiene un epígrafe, que viene de un libro que me inventé, Libro de los consejos: "Déjate llevar por el niño que has sido". Si no hubiera vivido aquella infancia no sería exactamente éste que soy. Algunos puntos significativos de mi forma de ser son las de aquel niño.

P. ¿Rejuvenece escribir memorias?
R. Puede que sí. Lo que es cierto es que lo he escrito como si estuviera viviendo en aquel momento.

P. Dos Nobel, Grass y usted, escribiendo memorias.
R. Las suyas son diferentes.

P. ¿Cuál es su reacción a lo que ha sucedido con Grass?
R. Primero he tenido perplejidad. Nunca hubiera pensado que él hubiera estado en las Waffen-SS..., y menos aún que hubiera ido como voluntario. Y me ha sorprendido la violencia de las reacciones. Él tenía 17 años. ¿Y el resto de la vida no cuenta? Me parece una reacción hipócrita la que ha habido, de mucha gente que acaso no consulta su propia conciencia. Mucha gente quiere buscar pies de barro a personalidades influyentes. Me recuerdan al que iba de ciudad en ciudad, siguiendo un circo. Un día le preguntaron: "¿Por qué sigue tanto a este circo?". "Porque quiero ver cuándo se cae el trapecista y se mata". Y me parece indigna, infame, la insinuación de que Grass ahora lo dice por motivos promocionales de su libro. ¿Qué juez puede decir que una confesión viene demasiado tarde? La verdad es que lo ha dicho, ahí está su confesión.

P. Le hemos visto firmando una declaración de notables sobre Cuba. ¿Cómo ve el futuro?
R. Se observa menos crispación en el exilio. Y estamos percibiendo señales de que empieza la transición. Ojalá la haga el pueblo cubano, sin interferencias, aunque siempre cabe preguntar si Estados Unidos se va a limitar a asistir a esa transición.

P. ¿El pueblo cubano de dentro y de fuera?
R. Claro. Espero que haya negociación, diálogo, ya no hay lugar ni para invasiones ni para asesinatos, sino para que haya acuerdos básicos que contemplen también las indudables conquistas de la revolución: sanidad, cultura, educación...

P. Otro asunto de su preocupación. Estalla Oriente Próximo.
R. Mientras no se resuelva el problema de Palestina, que tenga su Estado, no habrá paz allí. Israel produce una ocupación militar de Palestina, manda a guetos a sus nacionales. No se me va de la memoria lo que dijo un intelectual judío, Leibovitz, sobre el carácter judionazi de su Ejército, de las reacciones de su Ejército; y no se va de mi memoria el dolor que produce ver niños a los que rompían los huesos de las manos, con martillos, en el curso de la primera Intifada. Cuando digo que las víctimas, con las que todos nos solidarizamos, no pueden hacer de verdugos y llamo la atención sobre ese carácter de la reacción militar israelí, siempre oigo voces -"ya está de nuevo el Saramago ese"-, pero lo que digo es la verdad, tiene que ver con los hechos...

P. ¿Qué hacer?
R. Ojalá los organismos internacionales comprendan esto de una puta vez: mientras eso no se resuelva, Israel siempre se sentirá amenazado, y responderá con la agresividad que muestra su Ejército, el más poderoso de la región. Algún signo positivo he visto últimamente: la posible alianza de Al Fatah con Hamás para gobernar.

P. Usted no es un hombre optimista.
R. ¿Cómo vas a ser optimista si lees el periódico? El mundo es el lugar del infierno; millones nacen para sufrir; no les importan nada a nadie. No soy un pesimista, soy un optimista bien informado.

Revista Blimunda #14 - Mês de Julho 2013 - Recordação de edições antigas

Revista Blimunda #14 - Mês de Julho 2013 - Recordação
Neste mês de Julho, recordamos o #14 da Revista Blimunda 
Pode ser descarregada gratuitamente, aqui
em http://blimunda.josesaramago.org/2013/07/20/blimunda-14-julho-de-2013/

(Capa da edição #14 - Julho de 2013)

Sinopse da edição
"De que forma pode o quarto poder sobreviver à encruzilhada? A Blimunda de julho tenta perceber que caminhos podem ser percorridos, através de um texto de Sara Figueiredo Costa e das respostas de três jornalistas que em Espanha, Portugal e Grécia fazem do jornalismo um processo sério, rigoroso e sem cedências. Um dossier de leitura recomendada para discutir perspectivas de futuro para um dos pilares dos estados democráticos.

No infantil e juvenil, uma viagem de Andreia Brites aos “Encontros” que Margarida Botelho promove em torno dos livros, da educação pela arte, com paragens em Moçambique e na Amazónia. Um testemunho da forma como estes caminhos considerados por muitos como alternativos assumem uma importância cada vez maior na construção de novos cidadãos, no pleno respeito pela diversidade cultural.

A fechar, a Saramaguiana de julho centra-se em dois locais fundamentais para a vida e obra de José Saramago. Nas palavras do próprio, recuperamos os textos sobre a cidade de Lisboa que integram o livroViagem a Portugal, no primeiro de três excertos que terão continuação em agosto e setembro. Sobre Lanzarote, o diário de viagem do jornalista Ricardo Viel, que visitou a ilha que tambem é de Saramago no passado mês de junho, quando se inaugurou a rotunda com o nome do Escritor.

Tudo isto e muito mais, na Blimunda de julho.

Boas leituras!"

"História do Lagarto Verde" - Maria Alzira Seixo faz a crítica a "As pequenas memórias" (JL #846 - 8/11/2006)

"Maria Alzira Seixo faz a crítica a "As pequenas memórias", 
na edição do JL 846, de 8 de Novembro de 2006"

Pode ser consultado e lido, aqui
em http://visao.sapo.pt/historia-do-lagarto-verde=f562777

(Maria Alzira Seixo, José Saramago e Luiz Francisco Rebello)

"História do Lagarto Verde"

"Saramago dá-nos, com As Pequenas Memórias, o trigésimo nono volume da sua obra. Mais consagrada ao romance, é de facto obra de polígrafo: integra outros géneros de ficção (conto e novela), significativa produção de teatro, escritos opinativos e autobiográficos, livros de crónicas e de poesia que lhe marcam o início da carreira e nos quais encontramos em esboço muita da sua temática posterior, e textos híbridos que equacionam em densidade o seu modo de articular literatura e mundo: O Ano de 1993 e Viagem a Portugal. Após Cadernos de Lanzarote, o entendimento do eu como objecto de reflexão e não apenas ponto de vista dá agora outro resultado de escrita, que o autor judiciosamente apelida de memórias.
O memorialismo parte do eu, mas enquanto postura narrativa de quem dá a ver as coisas e sabe que se arrisca a ser comprovado, ou não, no que conta; o memorialismo não se ocupa do eu para o narrar como objecto privilegiado, caso em que resvala para a autobiografia, e por isso alcança a sua integração reflectida na comunidade e, nesse sentido, ultrapassa a subjectividade para traçar lugares e tempos que valem por interesse próprio, enquanto modos de vida idos que são raízes e alimento da sociedade actual. Como fez Saint-Simon, o memorialista que Proust punha acima de todos, seguindo-o na sua obra compósita de memórias, autobiografia e ensaio, que é sobretudo ficção.
Quem ler As Pequenas Memórias vê satisfeita a curiosidade de saber como viveu e cresceu este vulto das Letras, e será surpreendido pela lição de briosa humildade que elas contêm, assim como pelo exemplo de trabalho e estudo que fazem, do menino rústico e sem condições, a culta e interventiva personalidade que é Saramago no mundo de hoje. Este exemplo não pode ser entendido como expoente de regra, pois é excepção, mas permite ponderar os resultados do facilitismo no ensino actual, assim como condições que, proporcionadas sem sentido moral e afectivo, não dão frutos. Os objectivos morais não emergem na escrita do texto, mas o certo é que nele se fala muito de costumes. Que erguem diante de nós terra e gente, um estilo de vida do campesinato e de classes urbanas desfavorecidas. Sem propaganda nem miserabilismo. Na real.

Um lagarto na memória
Na real, é como quem diz. Naquela camada de real indestrinçável de factos, emoções, ecos, pressentimentos, interpretações e olvido recuperado que leva a acarinhar ou idealizar a vida passada, mesmo se foi difícil. E a isolar nela grandes acontecimentos e pormenores fortuitos que, postos por escrito, os irmanam em poder de repercussão. Por isso acho nestas memórias do "rapazinho da Azinhaga" (a que o autor chama "as memórias pequenas de quando fui pequeno") a história do lagarto verde.
Dir-se-á, com razão, que o livro dá conta da expressão indelével provocada no sujeito da escrita por pessoas (os avós maternos, o primo José Dinis, o irmão Francisco), lugares (o rio Almonda e o Tejo, o olival, ruas de Lisboa), habitações (em constantes mudanças por partes-de-casa), momentos afectivos (encontros com raparigas, a ternura dos bacorinhos que dormiam com o avô, o medo dos cães, o gosto pelos cavalos), de lazer aprazível (idas à pesca ou ao cinema "Piolho "), de contacto problemático com os outros (a maçaroca surripiada ao primo), de entrada na escrita (escrever na pedra, os ditados na escola, a primeira quadra). Tudo isso é o livro.
Mas o livro é também o lugar original formulado no começo, em estilo indirecto (como o nome que a contingência cola à pessoa), a colocar no coração da frase um caminho tosco de vida (a "azinhaga"), ligado à História e à imaginação, às águas do rio e às árvores que o bordejam, e ao extenso olival com troncos em cujas locas "se acoitavam os lagartos", destruído pelas transformações agrícolas da União Europeia. "Contam-me agora que se está voltando a plantar oliveiras", escreve o autor; "o que não sei é onde se irão meter os lagartos". E de certa forma, nestes troços despegados da recordação (como as talhadas de melancia que come, já perto do final), "o pobre de mim", como ironicamente se autoapelida ao jeito de Fernão Mendes Pinto, parece não ter em vistas um fito muito estável, oscilando entre um projectado Livro de Tentações e estas memórias do "eu pequeno", do qual não anda visivelmente à procura já que é ele que aqui o comanda. E do que a mim me parece que anda à procura é de saber mesmo onde se meteram os lagartos. Como se a própria estrutura da narrativa, dada em continuidade de discurso mas entremeada de espaços em branco, figurasse frinchas por onde esses seres vivos alapardados ao sol da memória se escapam quando pretendemos alcançá-los com os gestos das nossas sombras escritas.
A mistura de real e imaginário, dada pela memória que inventa a vida para a dar em literatura, atravessa a individualidade do memorialista para reconstituir esboços de história das mentalidades, hábitos quotidianos, crenças e modos de agir hoje raros. Quem se lembra do uso de defumadouros para afastar doenças e mau olhado? Ou do ruído da "costureira" em tardes de verão ou serões silenciosos de leitura e bordados? Eu lembro-me. Como me lembro do sistema de contabilidade dos analfabetos de então, o da avó Josefa de Saramago e da minha tia Emília, que tinha um lugar de fruta e hortaliça e não lhe falhava um tostão no rol de fiados, com aqueles sinais que mais ninguém entendia e me ensinou, de círculos fechados com uma cruz interna (um escudo), um traço diagonal interno (cinco tostões), sem traço (um tostão) e risco sem círculo nenhum (meio tostão). Ou sistemas de partilha empírico-afectiva, como a sopa que o petiz e a mãe comem do mesmo prato, com duas colheres e um de cada lado. Ou o costume, por necessidade e natureza, de andar de pé descalço; ou ainda, entre pavores e tentações, e medo do escuro como todas as crianças, dormir no chão com as baratas, "não estou a inventar nada, de noite passavam-me por cima", diz ele sem mais comentários. E passa adiante, tal como o petiz dormia. E que passou adiante vê-se em cenas do ontem dadas por ele hoje, como a do Otelo de Mouchão de Baixo ou do sapateiro que lia Fontenelle. Para pé-descalço e meio prato de sopa, não se pode dizer que José Saramago venha mal alimentado do caminho que percorreu.

Nas asas da palavra
Ao ouvir ler em voz alta o primeiro livro de que se lembra, Maria, a Fada dos Bosques, Saramago entra em contacto com a literatura, e o importante não parece ser tanto a impressão que lhe provocam cenas do livro como a sensação de ser levado a outros mundos pela articulação encantatória das frases, revigorando em experiência pessoal as "palavras aladas" de Homero que como escritor tenta também. Essa é talvez a maior das tentações neste livro onde, a certa altura, explica que a sua génese era a de ponderar sobre "a teratologia da santidade", isto é, os desejos e monstros, os pesadelos e pavores da noite que afligiam a mentalidade infantil reprimindo a sua expansão de natureza humana. É por isso que a Saramago-criança se vai contrapondo o Saramago-homem, a olhar para si de longe e para o mundo onde, pequeno, mas porque pequeno é o homem, se integra natural e artificiosamente.
Com a sua propensão para a integração na natureza (campos, animais, costumes urbanos primitivos) e a vocação da construção da arte. Quando relata as idas à pesca em petiz, e a imobilidade espelhada do pedaço de rio, é o Saramago de hoje quem escreve, a partir da indizível sensação da criança: "não creio que exista no mundo um silêncio mais profundo que o silêncio da água". A recordação é por vezes confessada invenção ("senti dentro de mim, se bem recordo, se não o estou a inventar agora, que tinha, finalmente, acabado de nascer") assim se transmudando em descoberta; outras vezes acontece, inexplicável, pois "esquecemos o que gostaríamos de poder recordar" e, por outro lado, "recorrentes, obsessivas, reagindo ao mínimo estímulo, vêm-nos do passado imagens, palavras soltas, fulgurância, iluminações, e não há explicação para elas, não as convocámos, mas elas aí estão". O livro termina com uma iluminação destas, forte e concentrada, adjacente ao que se narrou, e onde o autor se dá como sujeito de observação e participante moral da acção. Aquilo, afinal, que o escritor vai ser. Passa-se nas ruínas de uma malhada de porcos, entre um homem e uma mulher não identificados, e o narrador (jovem) senta-se num valado, "a distância, perto de uma oliveira ao pé da qual, dias antes, tinha visto um lagarto verde". E quando a cena termina, com a partida das personagens, o livro finda também com a observação do autor: "nunca mais tornei a ver o lagarto verde".
Os lagartos, que de início afirmava não saber onde se tinham metido, meteram-se afinal aqui no livro, como símbolos da familiaridade terrestre e do gosto pelo sol, em lendas mediterrânicas representando a inexorabilidade da morte. Como reconhecimento também da inocência perdida, sobretudo porque a observação se segue à menção da morte de José Dinis, o primo com quem se dava como o cão e o gato, e a quem, nas penúltimas linhas, furtara a maçaroca, após saborearem ambos a bela melancia de casca verde-escura, de cujas talhadas foi ficando o "castelo" ou "coração". Isto é, o cerne da recordação. A simbólica de Saramago é sempre objectual e pede para ser lida à letra, como palavra a saber a sentidos, mas a sua notação sóbria, despojada, emerge isolada no texto, a despertar os sonhos e tentações, também no espírito do leitor."

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