Recordando a campanha publicitária da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género
"EM VOSSA DEFESA, DÊ UM MURRO NA MESA."
No vídeo e cartaz - Ódin Santos
Por estes dias, a Fundação José Saramago, deu mais uma vez voz, lutando contra o surdo silêncio que mata e destrói a sociedade, num dos pilares mais básicos que devendo ser protegido, parece encoberto e com dificuldade de ser erradicado.
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Na sua forma mais comum, que passa pela tortura física e psicológica da mulher, tem também as suas variantes na agressão ao idoso e homens.
Aqui texto, publicado na página da Fundação José Saramago (13/08/2015)
Pode ser consultado aqui, em https://www.facebook.com/fjsaramago?fref=nf
"Ontem a Polícia de Espanha encontrou o corpo de duas jovens (de 26 e 24 anos) que estavam desaparecidas havia já seis dias. O suspeito do duplo homicídio encontra-se foragido.
No ano passado, segundo dados oficiais, 53 mulheres foram assassinadas em Espanha vítimas de violência de género.
O jornal El País publicou, algumas semanas atrás, um especial sobre o assunto onde, além de números, recolhe histórias. O trabalho pode ser lido em: http://elpais.com/especiales/2015/violencia-de-genero/
Em julho de 2009, José Saramago publicou no blogue que mantinha à época um artigo intitulado "Problema de homens", em que propõe uma marcha, feita apenas por homens, como tentativa de combater essa "vergonha insuportável" que é a violência contra as mulheres. Para ler o texto, aceda: http://caderno.josesaramago.org/54038.html"
O post pode ser consultado e lido, aqui
"Problema de homens"
"Vejo nas sondagens que a violência contra as mulheres é o assunto número catorze nas preocupações dos espanhóis, apesar de que todos os meses se contem pelos dedos, e desgraçadamente faltam dedos, as mulheres assassinadas por aqueles que crêem ser seus donos. Vejo também que a sociedade, na publicidade institucional e em distintas iniciativas cívicas, assume, é certo que só pouco a pouco, que esta violência é um problema dos homens e que os homens têm de resolver. De Sevilha e da Estremadura espanhola chegaram-nos, há tempos, notícias de um bom exemplo: manifestações de homens contra a violência. Até agora eram somente as mulheres quem saía à praça pública a protestar contra os contínuos maus tratos sofridos às mãos dos maridos e companheiros (companheiros, triste ironia esta), e que, a par de em muitíssimos casos tomarem aspectos de fria e deliberada tortura, não recuam perante o assassínio, o estrangulamento, a punhalada, a degolação, o ácido, o fogo. A violência desde sempre exercida sobre a mulher encontrou no cárcere em que se transformou o lugar de coabitação (neguemo-nos a chamar-lhe lar) o espaço por excelência para a humilhação diária, para o espancamento habitual, para a crueldade psicológica como instrumento de domínio. É o problema das mulheres, diz-se, e isso não é verdade. O problema é dos homens, do egoísmo dos homens, do doentio sentimento possessivo dos homens, da poltronaria dos homens, essa miserável cobardia que os autoriza a usar a força contra um ser fisicamente mais débil e a quem foi reduzida sistematicamente a capacidade de resistência psíquica. Há poucos dias, em Huelva, cumprindo as regras habituais dos mais velhos, vários adolescentes de treze e catorze anos violaram uma rapariga da mesma idade e com uma deficiência psíquica, talvez por pensarem que tinham direito ao crime e à violência. Direito a usar o que consideravam seu. Este novo acto de violência de género, mais os que se produziram neste fim-de-semana, em Madrid uma menina assassinada, em Toledo uma mulher de 33 anos morta diante da sua filha de seis, deveriam ter feito sair os homens à rua. Talvez 100 mil homens, só homens, nada mais que homens, manifestando-se nas ruas, enquanto as mulheres, nos passeios, lhes lançariam flores, este poderia ser o sinal de que a sociedade necessita para combater, desde o seu próprio interior e sem demora, esta vergonha insuportável. E para que a violência de género, com resultado de morte ou não, passe a ser uma das primeiras dores e preocupações dos cidadãos. É um sonho, é um dever. Pode não ser uma utopia."
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