Reposição da notícia sobre a encenação da peça de teatro, baseada na obra "Memorial do Convento", no Complexo Feliz Lusitânia, em Belém do Pará, no Brasil, de onde se destaca a logística e meios humanos destacados para a produção que envolveu mais de 50 de actores, músicos e figurantes e teve como palcos a Igreja de Santo Alexandre e o Museu de Arte Sacra.
Toda a informação pode ser consultada e lida aqui,
Vera Barbosa - A brilhante actriz e artista de várias
artes que tem dado voz e musicalidade à obra de Saramago
Aqui fica o testemunho da notícia
“É, portanto, a vontade dos homens que segura as estrelas, é a vontade dos homens que Deus respira.” E foi a vontade que deu vida ao espetáculo Memorial do Convento, de José Saramago, em Belém, uma realização da Universidade Federal do Pará, por meio da Editora da UFPA (ed.ufpa), do Instituto de Ciências da Arte (ICA), da Escola de Teatro e Dança e da Escola de Música da UFPA (ETDUFPA), em parceria com a Fundação José Saramago. O evento integrou a programação de lançamento dos livros Da Estátua à Pedra e Discursos de Estocolmo e Democracia e Universidade, uma coedição ed.ufpa/Fundação José Saramago. As duas apresentações ocorreram nos dias 3 e 4 de outubro, no Complexo Feliz Lusitânia, centro histórico de Belém, localizado no bairro Cidade Velha, na capital paraense.
O escritor português, Prêmio Nobel de Literatura em 1998, escreveu, há quase trinta anos, o romance homônimo sobre a história da construção do Convento de Mafra, em Portugal. O público paraense pôde conhecer essa trama, com um elenco de cinquenta pessoas, que deram vida à obra de Saramago, incluindo os atores portugueses Cláudia Farias (Blimunda), Sérgio de Moura (Baltasar) e João Brás (Padre Bartolomeu), do grupo Éter.
Era uma vez - A apresentação em Belém tomou como referência a montagem dirigida pela atriz Vera Barbosa, em Lisboa, na própria Fundação José Saramago, em novembro de 2012. Vera foi também a responsável pela concepção e direção do espetáculo em Belém e, da janela central da Igreja de Santo Alexandre, narrou a história à plateia paraense. Outras janelas da igreja e do Palácio Episcopal (antigo Colégio de Santo Alexandre) foram palco para o coro grego, operários da construção do convento e figurantes, personagens que complementaram a narração. O público, composto de diversas faixas etárias, pôde, enfim, ouvir o "Era uma vez..." de José Saramago.
Ambientada em uma Portugal absolutista sob a influência da Igreja Católica, a obra de Saramago conta a história pela perspectiva da personagem principal de sua trama, o povo. Esquecidos pelos grandes poderes, são os trabalhadores que sacrificarão suas vidas para cumprir a promessa de D.João V, para que a rainha, D. Maria Ana, lhe desse um herdeiro. A religiosidade e a sombra da Inquisição logo se fazem presentes na narrativa de Saramago, na procissão puxada pela imensa cruz de miriti, que saiu da Igreja da Sé e atravessou a Praça Frei Caetano Brandão, composta pelo povo, os inquisidores e, por último, os condenados, e acompanhada, ainda, pelo próprio público. É nesse momento que conhecemos Baltasar e Blimunda, que se apaixonam de imediato. Ele, um ex-soldado que deixou a mão esquerda nos campos de batalha. Ela, uma mulher com o dom de enxergar o interior das pessoas. Com a chegada do padre Bartolomeu de Gusmão, o trio une-se para construir a passarola e, assim, realizar o sonho de voar. Esse segredo é compartilhado apenas com o músico Domenico Scarlatti. Está armada a trama e selado o desfecho trágico de cada uma das personagens.
Intensidade do drama e das interpretações - Os atores da Escola de Teatro e Dança da UFPA foram os responsáveis por dar vozes às personagens de Memorial do Convento. A maquiagem ficou a cargo do professor Cláudio Dídima e equipe, também da ETDUFPA. A Orquestra de Violoncelistas da Amazônia acompanhou, musicalmente, o enredo, em sintonia com cada cena: “A intensidade do drama e das interpretações dos atores contagiou os músicos no palco e nos levou a tocar com uma força incomum”, declarou o professor Áureo DeFreitas, regente da Orquestra. A orquestra executou variações de temas de Domênico Scarlatti, Bach, Vivaldi e Gabriel Fauré, e também adaptações de músicas contemporâneas. Vera Barbosa cantou o “Vos Omnes” (canto da Verónica ou Padeirinha), da tradição popular portuguesa, acompanhada pelo som de cravo, executado por André Gaby, professor da Escola de Música da UFPA.
O intercâmbio foi não só de atores, mas também de culturas: o figurino, concebido por Ézia Neves, professora da Escola de Teatro e Dança da UFPA, repleto de detalhes de redes e desenhos marajoara; os elementos cênicos construídos de miriti, executados pelo professor Bruce Macedo, também da Escola de Teatro e Dança da UFPA. A produção ficou a cargo da Editora da UFPA, que contou com a participação de sessenta pessoas, entre servidores e estudantes da UFPA.
Dedicação - O reitor da UFPA, Carlos Maneschy, prestigiou a estreia do espetáculo e falou da satisfação com o resultado. “Foi muito gratificante ver que diversas unidades da UFPA trabalharam de forma integrada e, com dedicação, nos propiciaram um espetáculo tão rico e à altura do texto de Saramago.”
A última apresentação – A segunda noite de exibição do espetáculo trouxe uma surpresa no encerramento: a passarola "voou" em frente à Igreja de Santo Alexandre. Para aqueles que estavam mais atrás, a impressão era de que ela flutuava. Foi assim que a plateia assistiu ao padre Bartolomeu fugir da fogueira da Inquisição, enquanto Blimunda andava por toda Portugal à procura de Baltasar, encontrando apenas a sua vontade, que ainda não lhe tinha abandonado o corpo.
"Desprendeu-se a vontade de Baltasar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas se à terra pertencia e a Blimunda". O elenco, então, entoou as últimas palavras do teatro musical: “A morte vem antes da vida. Morreu quem fomos, nasce quem somos. Por isso é que não morremos de vez.”
Ao final da apresentação, atores, músicos e equipes da produção subiram ao palco, embalados por All the lonely people, dos Beatles, executada pela Orquestra de Violoncelistas da Amazônia. Na ocasião, a diretora da Editora da UFPA, Simone Neno, agradeceu a todos em nome do reitor Carlos Maneschy e da presidenta da Fundação José Saramago, Pilar del Río, usando, ao final, um trecho da saudação que Pilar enviou de Lisboa para a Equipe do Memorial do Convento: “Assim, unidos, levaremos no coração o escritor que nos ofereceu sonhos e força para tentarmos ser, a cada dia, mais humanos e, portanto, mais sábios.”
O evento contou com o patrocínio da Secretaria de Estado de Turismo do Pará/Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico e Incentivo à Produção, da Sol Informática, da Clínica Lobo e do Restaurante Benjamin.
A montagem contou, também, com o apoio dos governos do Estado do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura /Secretaria Especial de Promoção Social e do Sistema Integrado de Museus e Memoriais; e do Município de Belém, por meio da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), que possibilitaram o uso do ambiente do Complexo Feliz Lusitânia.
Também apoiaram o evento a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação/UFPA, a Pró-Reitoria de Relações Internacionais/UFPA, o Instituto de Letras e Comunicação/UFPA, a Academia Amazônia/UFPA, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Ministério da Cultura/Governo Federal, o Grupo Éter Produção Cultural (Portugal), Ná Figueredo e o Vice-Consulado de Portugal em Belém.
Texto: Laís Nunes / Assessoria de Comunicação da Editora da UFPA
Fotos: Alexandre Moraes e Ismael Costa"
Apresentação do espectáculo, via YouTube, aqui
A encenação da peça teve uma menção especial por parte da Fundação José Saramago, aqui
em, http://www.josesaramago.org/espetacular-encenacao-do-memorial-do-convento-ocupa-centro-historico-de-belem-do-para/
"Uma espetacular encenação de Memorial do Convento vai ocupar hoje e amanhã, a partir das 19h00, o Complexo Feliz Lusitânia, em Belém do Pará, no Brasil, numa produção que envolve mais de 50 de atores, músicos e figurantes e tem como palcos a Igreja de Santo Alexandre e o Museu de Arte Sacra.
O espetáculo, de acesso gratuito, ocupará toda a fachada da Igreja de Santo Alexandre, a calçada e algumas janelas do Palácio Episcopal (antigo Colégio de Santo Alexandre), onde está o Museu de Arte Sacra.
Três atores do grupo de teatro português Éter são protagonistas, nos papéis de Blimunda (Cláudia Faria), Baltasar (Sérgio de Moura) e Padre Bartolomeu de Gusmão (João Brás). Entre os artistas locais, contam-se alunos e professores da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal de Belém do Pará (UFPA) e músicos da Orquestra de Violoncelistas da Amazónia, dirigidos pelo professor Áureo de Freitas. Participam também cantores da Schola Gregoriana “Ad te levavi”, um projeto de extensão da Escola de Música da UFPA, com arranjo e direção do professor André Gaby.
Este teatro musical é concebido e dirigido por Vera Barbosa, que em novembro de 2012 encenou o Memorial do Convento na Casa dos Bicos. Esta é a primeira vez que este livro de José Saramago é encenado no Brasil.
A encenação de Belém do Pará incorpora elementos da cultura amazónica, quer nos figurinos de Ézia Neves, quer nos adereços cenográficos criados por Bruce Macedo, ambos professores da Escola de Teatro e Dança da UFPA. A obra literária portuguesa situada no séc. XVIII harmoniza-se assim com componentes cénicos da cultura paraense.
Esta é uma iniciativa da Universidade Federal do Pará, através da Editora da UFPA (ed.ufpa), do Instituto de Ciências da Arte (ICA), da Escola de Teatro e Dança e da Escola de Música da UFPA (ETDUFPA), em parceria com a Fundação José Saramago." - (03/10/2013)
(Edição Companhia das Letras)
Dedicatória de Pilar del Río, Presidenta da FJS
"Hoje, no Brasil, sois os protagonistas absolutos da narrativa de José Saramago. Esta noite Belém é Mafra e Lisboa, os lugares onde a passarola voa, Blimunda recolhe vontades, ouve-se a música de Scarlatti, os trabalhadores levantam um convento e todos juntos podemos celebrar a amizade apesar de os tempos serem turvos e por toda a parte se ensine e pratique a desconfiança. Porém, hoje, em Belém do Pará, realiza-se o milagre da Literatura e o milagre expande-se com a força do
sobrenatural.
Passaram trinta anos desde que José Saramago escreveu Memorial do Convento, mas qualquer do que hoje ou amanhã tenham a sorte de ver o vosso trabalho pensarão que este romance foi escrito para vocês, para ser espetáculo concebido e representado por amigos do mais belo que existe no mundo: a generosidade, o amor desinteressado pela criação artística e pela bondade humana. Foi o que percebi do encontro que mantivemos e o que refletem as fotos e os vídeos que chegam a Portugal. Também o que os ecos trazem de um continente a outro.
Desde a Fundação José Saramago em Lisboa, enviamos, a todos e a cada um, abraços e todo o reconhecimento. Sabeis que se não temos pena de não estar aí é porque nenhum sentimento melancólico pode cruzar a noite. De alguma forma acompanhamos-vos, veremos através dos mares como Blimunda olha para o interior das pessoas. E seguiremos passo a passo a formidável aventura de realizar o memorial do convento de Mafra – e também de Portugal – em Belém do Pará, Brasil. Assim unidos, levaremos no coração o escritor que nos ofereceu sonhos e força para tentarmos ser, a cada dia, mais humanos e, portanto, mais sábios"
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