Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

"Cantiga de Sapo" poema de José Saramago cantado por Luis Pastor

Pode ser visualizado via YouTube, aqui

"Cantiga de Sapo"
Ya mastiqué soledad - Já mastiguei solidão
Tenía sabor de cobre - E tinha gosto de cobre
Y un regusto en la lengua - Ficou-me o travo na língua
Más amargo que el óxido - Mais amargo que o azebre

Ya canté con voz de sapo - Já cantei com voz de sapo
Las rosas del cielo más cercano - As rosas de céu mas perto
Con hilo cosieron mi boca - Coseram-me a fio a boca
En una vara torcida me clavaron - Espetaram-me em vara torta 

Volé con plumas de ceniza - Voei com penas de cinza
Sobre las aguas abiertas - Por sobre as águas abertas 
Sueño de ala poco firme - Sonho de asa mal firmada 
Con apariencia de viento - Numa aparência de vento

Volví al sapo que era - Voltei ao sapo que era
A mi boca callada - À minha boca calada
A la triaca a la mordedura - À triaga à mordedura
A la vara que me clavaba - À vara que me espetava 

Debajo de mí la tierra - Debaixo de mim a terra 
Por encima de mí el cielo - Por cima de mim o céu 
La noche va pasando - A noite que vai passando

El silencio la soledad - O silêncio a solidão
La mañana aún tan lejos - A manhã que vem tão longe
Las rosas que se marchitan - As rosas que vão murchando

in "Os Poemas Possíveis"








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