Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

"Lembro-me" de Marcelo Buanain, fotógrafo e documentarista

A reportagem fotográfica pode ser recuperada e consultada aqui
em, http://www.buainain.com/blog/2013/6/7/lembro-me

"LEMBRO-ME"

"LEMBRO-ME que em 25 de fevereiro de 1996, em Lisboa fui buscar o escritor José Saramago em uma casa localizada no bairro da estrela. Enquanto o conduzia em um simplório carro – por acaso neste mesmo automóvel tive também a honra de transportar o fotógrafo Sebastião Salgado e a sua esposa Lélia – tentava dissimular a minha ansiedade com conversas sobre a nossa amiga em comum, a jornalista Cristina Duran, responsável pela conexão entre nós dois e que gentilmente nos cedeu a sua casa em Alfama para a sessão fotográfica."


A história dessas imagens surge a partir de uma insatisfação pessoal em relação ao padrão dos retratos clichês que na época predominavam nas mídias, levando-me a conceber o projeto Caras e Pessoas, cuja proposta era apresentar uma personalidade portuguesa sob duas óticas: uma face que espelhasse o normal e a outra - a exemplo da famosa fotografia de Albert Einstein com a língua de fora - o insólito, o inusitado. Bingo! A ideia estava concebida, faltava apenas a elaboração de uma lista com os nomes, a concepção para cada retrato e a produção, esta a parte menos atrativa uma vez que se tratavam de celebridades, da disponibilidade de suas agendas e das barreiras geralmente colocadas pelos seus assessores e empresários.


"O drama humano narrado no livro Ensaio sobre a Cegueira, de autoria do Prêmio Nobel José Saramago, inspirou-me a produzir uma série de retratos com ênfase nos olhos do escritor português. A namorada da época declara que a ideia de utilizar a bola de metal partiu dela... Não querendo ignorar o mérito de ninguém, porém é fato que este exercício de brincar com a visão do Nobel para mim não se tratava de uma experiência inédita, pois na década de 80, durante uma sessão fotográfica com o então vizinho, o poeta Manoel de Barros, em alusão à sua figura reservada e avessa à fotografia, servi-me de um caracol para também vedar os seus olhos.
Quando o assunto é retrato, acredito que além da técnica e criatividade seja necessário uma cumplicidade entre o fotógrafo e o seu personagem. Em se tratando do Nobel Saramago, nada foi as Cegas, a sessão aconteceu sem perda da acuidade visual."

Marcelo Buanain
"Nasceu em 1962 na cidade de Campo Grande, Estado do Mato Grosso do sul – Brasil. (...)  fotógrafo e documentarista"


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