Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

José Saramago e a temática da morte com uma referência a Célest Albaret "Monsieur Proust"



A morte.
O encontro com a morte.
O sentido da morte e como a enfrentar... sabendo que não é possível vencê-la.

Esta é uma pequena reflexão deixada, como legado para o futuro, para a interpretação da sua visão da morte.
"As Intermitências da Morte" é lançado por altura desta entrevista, de onde o fio da obra percorre a várias velocidades e tempos, circula desde... "e no dia seguinte ninguém morreu", até à morte que se deita e ama o Violoncelista...

Mas Saramago deixa a sua visão sobre este assunto (uma das...)

Revista Visão
3 de Novembro de 2005
José Carlos de Vasconcelos

(...) Não falo da energia ou rebeldia que esteja no livro, falo da que posso reconhecer em mim próprio. Dá-me muita alegria ter podido escrevê-lo já não com 81, mas quase 83 anos. O que exige um certo tipo de juventude (não digo juventude, essa não volta) e uma certa atitude mental perante a vida, já tão perto da morte...

Uma atitude diferente perante a vida e perante a morte.
Sim, sim. Eu passei pelo medo da morte entre os 17/18 anos, uma coisa terrível. Não talvez medo da morte, mas a consciência de poder morrer. Ia na rua e, de repente, parava como que fulminado por essa ideia: terás de morrer. Ficava frio.

O que é que te despertou? Estiveste numa daquelas situações de que se diz ter visto a morte à frente?
Não sei. Foi uma coisa da adolescência. Passou e nunca mais voltou. Tive situações complicadas, mas nunca, até hoje, vi a morte à frente.

Pode, como no romance, ter estado a teu lado sem dares por ela...
Isso sim. Nós viajamos com a nossa própria morte, se é que não a levamos dentro. E, curiosamente, quando estava a escrever este romance, li o livro de Céleste Albaret, Monsieur Proust, no qual refere que quando ele já estava muito doente dizia que tinha visto no quarto uma mulher gorda vestida de preto. E por falar em Proust, o meu título é muito proustiano, porque em À la recherche du temps perdu fala-se das «intermitências do amor». O título apareceu-me autonomamente, logo no princípio do livro, mas há uma ligação óbvia, através de um eco longínquo, embora quando ele me surgiu eu não tivesse consciência disso. (fim da entrevista)



Céleste Albaret, née sous le nom Augustine Célestine Gineste le 17 mai 1891 à Auxillac (Lozère) et décédée le 25 avril 1984 à Montfort-l'Amaury, était la servante dévouée de Marcel Proust.
Le 28 mars 1913, Céleste Gineste épouse Odilon Albaret, chauffeur de taxi dont Marcel Proust est un client régulier. En 1914, par l'entremise de son mari, elle devient la toute jeune servante de l'écrivain.
Accompagnant ses horaires étranges, ses lubies vestimentaires, alimentaires et sociales, son épuisement physique, elle lui reste fidèle jusqu'à sa mort, en 1922.
Dans l'après-guerre, Proust vit de plus en plus reclus. À sa manière, Céleste participe, en rédigeant sous sa dictée, en rassemblant et vérifiant ses informations, en assurant une part de ses contacts avec le monde extérieur ou en lui inspirant certains traits de caractère, à l'achèvement de son œuvre romanesque.
À la mort de Proust, Céleste ouvre avec son mari l'hôtel Alsace Lorraine, rebaptisé hôtel La Perle, situé 14, rue des Canettes, dans le VIe arrondissement de Paris, puis elle est chargée, de 1954 à 1970, de la garde du Belvédère, la maison de Maurice Ravel à Montfort-l'Amaury. Oubliée de tous, elle survit à la quasi-totalité des personnages célèbres qui, grâce à Proust, avaient entouré sa jeunesse. Elle est « redécouverte » dans les années 1960, notamment par Roger Stéphane, à l'occasion de l'émission Marcel Proust, portrait-souvenir (1962), et par le célèbre collectionneur et bibliophile Jacques Guérin. Sur les conseils de celui-ci, elle livre ses souvenirs, qui sont mis en forme dans Monsieur Proust1. À la même époque, elle vend à Jacques Guérin plusieurs ouvrages que Proust lui avait offerts et qui figurent aujourd'hui parmi les trésors les plus recherchés des bibliophiles français.
Par son dévouement à l'homme et par son respect pour le créateur, Céleste Albaret est considérée comme le modèle des auxiliaires de l'écrivain. Peu avant sa mort d'ailleurs, en hommage à une personnalité qui a participé intimement à l'histoire de la littérature et qui a grandement contribué à la préservation de ses textes, Céleste Albaret est faite commandeur de l'ordre des Arts et des Lettres.
Dans sa Recherche du temps perdu, Marcel Proust a immortalisé sa gouvernante sous le nom de Françoise. Dans Sodome et Gomorrhe, un personnage porte le nom de Céleste Albaret.



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