Luis Pastor canta poemas de José Saramago
Álbum "Nesta Esquina do Tempo"
Musica "Digo Pedra"
«Que seja eu o autor das poesias aqui interpretadas,
em português e também em castelhano, é apenas
uma feliz coincidência. O que é importante é a
música. E a voz, essa inconfundível voz de Luis
Pastor, áspera e ao mesmo tempo suave, tal como
as vozes dos grandes trovadores do século passado.
Oiçamos»
José Saramago
(alguma palavras sobre Luis Pastor)
Nesta esquina do tempo pode explicar-se de uma
forma simples: Luís Pastor compõe a música e
canta os poemas de José Saramago, Prémio Nobel
de Literatura em 1998. Mas as obras excepcionais
costumam habitar em mundos modestos e Nesta
esquina do tempo é uma obra maior, que também
nasceu de uma maneira natural, espontânea
e sincera. Pilar del Rio, esposa de Saramago e
tradutora da sua obra para espanhol referiu: «Um
dia, não há muito tempo, José Saramago e Luís
Pastor encontraram-se. Mais tarde partilharam
tribuna para dizer com força que não queriam
guerras canalhas, que as únicas ofensivas morais e
necessárias eram as que deveriam combater a fome
e a falta de cultura. Luís Pastor foi ousado e deu o
passo seguinte quando, dirigindo- se a Saramago,
disse-lhe que ia escrever a música para os seus
poemas e, mais ainda, que ia cantar em português.
Saramago achou piada, riu e disse: “oxalá”. De certo,
pensou que a loucura dos músicos é quase tão
grande como a dos sábios. Esqueceu o assunto e
começou a escrever As intermitências da Morte.
Luís Pastor continua a história de Nesta esquina do
tempo «Surgiu de um encontro, por acaso» refere
o cantor. «Em Maio de 2005 viajei até Lanzarote
com Moncho Armendáriz para apresentar o
documentário Unidades Móviles. Tomámos um café
com José Saramago, que me ofereceu um livro das
Obras Completas de Poesia e eu disse-lhe meio a
sério, meio a brincar: – vou musicar os seus poemas.
No avião de regresso para Madrid, comecei a
trabalhar, e em casa ia cantando os poemas só
com a voz, sem instrumentos. Passados três dias
compus todas as músicas mas, por acidente, foram
apagadas do minidisc. Comecei de novo, com a
certeza de que não ia ter problemas. Depois passei
à harmonia e gravei umas maquetes, que José
Saramago e Pilar del Rio ouviram em Outubro
de 2005. Só questionaram a minha pronúncia do
português. Tomei nota, comecei a estudar e fui
aprendendo ao ouvir Saramago a declamar os
seus próprios poemas, numas cassetes que tinha
gravado para mim. Foi fundamental gravar metade
do disco em Portugal, com a produção de João
Lucas e a ajuda de João Afonso».
«Estava predestinado a fazer este disco pela minha
paixão por Portugal, pela música e a língua», diz
Luís Pastor. «Em português, antes só tinha musicado
um poema de Fernando Pessoa, mas sempre
admirei e fui amigo de José “Zeca” Afonso e do seu
sobrinho João, do Fausto, de Sérgio Godinho... Ao
deparar-me com a obra de José Saramago senti
a musicalidade e a importância da temática. No
álbum há poemas de amor, alguns mais surrealistas,
outros sociais... São poemas grandes, belíssimos,
nunca banais». Pilar del Rio escreveu: «apesar dos
conselhos dos bem-pensantes, é como se José
Saramago e Luís Pastor gostassem de brincar.
Transgrediram as normas e a idade, cada um
acarretando os seus muitos e jovens anos de uma
vida entre poemas e canções, com a pele nua,
sentindo e desfrutando. Mais do que um disco é
um milagre».
Ninguém melhor do que Saramago para resumir
este feliz encontro da música e da palavra Nesta
esquina do tempo: «Que seja eu o autor das poesias
aqui interpretadas, em português e em espanhol,
é só uma feliz coincidência. O que mais importa é
a música. E a voz, essa inconfundível voz de Luís
Pastor, áspera e ao mesmo tempo suave, como o
foram as vozes dos grandes trovadores do século
passado. Ouçamo-lo.
O tempo cabe todo na duração de um disco»
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