Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Fernando Gómez Aguilera destapa um pouco de "A Viagem do Elefante"

(Imagem de João Amaral, "A Viagem do Elefante" em BD)



(...) "Depois para deixar para trás um período de hospitalização em Lanzarote, que coincidiu com a fase mais aguda da sua doença, no início de 2008, retomou a escrita entretanto interrompida de "A Viagem do Elefante". E regressaria à ficção alentando por uma atitude de plena liberdade, descosendo, uma vez mais, as costuras do género, com uma nouvelle abordada desde o seu interior, ratificando o papel desempenhado pelo majestático e libérrimo autor-narrador por quem Saramago se sentia tão encantado. O arranque do conto, que se desenvolveria com um declarado propósito simbólico, parte de uma passagem por Salzburbo, cuja universidade o escritor visitou, em 1999, para pronunciar uma conferência. No hotel onde estava alojado - o Zum Elefanem -, reparou um diferentes reproduções que representavam um elefante em plena viagem, pelas quais se interessou. Tomou assim contacto com a aventura do exótico animal que, no século XVI, havia viajado de Lisboa até  Viena, como presente do rei D. João III de Portugal o Arquiduque Maximiliano de Áustria pelo seu casamento com Maria de Habsburgo. Mas, sobretudo, impressionou-o o grotesco final do admirável e sofrido viajante: as suas patas convertidas em recipiente para sombrinhas. Adoptando intelectualmente a atitude de ensaísta, Saramago articulou o relato com a expressa vontade de penetrar na medula da literatura, numa das metáforas mais substantivas, a da viagem, e dar à luz o seu texto mais cervantino, detendo-se no prazer da literatura pela literatura, quando a palavra e a invenção se convertem em puro discurso autónomo sobre a nossa existência, pois, como ele próprio admitiria, «ao falar do elefante, falo da vida humana». Nada de estranhar, pois desse mesmo modo havia lido o grande livro das letras hispânicas, interpretando Dom Quixote nascia quando Alonso Quijano partia, quando verdadeiramente começava a sua viagem de liberdade. (...)
Com uma frescura tonificante, retoma a circunstância portuguesa, para além de se fixar em figuras concretas, para levar ao leitor um humor desinibido, por vezes burlesco, que serve de contraponto à épica melancolia do paquiderme, cujo discreto e terno heroísmo não o eximirá de um destino implacável, se exceptuarmos o poder redentor da literatura, porque, tal como indica Saramago na epígrafe que ilumina o sentido da narrativa, «sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam». (...)

Em, "A Estátua e a Pedra"
Fundação José Saramago
Ensaio de Fernando Gómez Aguilera
Páginas 56 e 57

(Imagem da encenação da peça de teatro, baseada na obra, pela ACERT)

Quem é Alonso Quijano, referido por Fernando Gómez Aguilera?
Aqui uma breve explicação, via Wikipédia em http://es.wikipedia.org/wiki/Alonso_Quijano

(Iluminura de Dom Quixote e seu fiel escudeiro)


"Alonso Quijano era el auténtico nombre del hidalgo don Quijote, personaje ficticio principal en la novela Don Quijote de la Mancha. Su procedencia se desconoce. Familiarmente, en su aldea natal se le conocía por el nombre de Alonso Quijano, el Bueno.
El porqué del nombre
Investigadores españoles han encontrado documentos históricos que avalan la historia de 'Don Quijote de la Mancha' y de las personas reales en que se basó Miguel de Cervantes para crear su célebre novela. Según 'ABC', en 1581 Pedro de Villaseñor, amigo de Cervantes, y Francisco de Acuña, intentaron matarse a lanzazos en el camino que unía los municipios manchegos de El Toboso y Miguel Esteban.
A diario, Villaseñor y Acuña, coetáneos de Cervantes, iban vestidos como caballeros medievales, y el historiador Francisco Javier Escudero y la arqueóloga Isabel Sánchez Duque consideran que el célebre dramaturgo pudo conocer estos hechos y parodió con su novela una historia y personajes reales.
"Encontramos que los Acuña intentaron matar a los Villaseñor vestidos de caballeros, con todo el aparataje medieval, y nos dimos cuenta de que la historia de Don Quijote no es inventada, es real: es lo que hacían los enemigos de los Villaseñor contra ellos. Increíble pero cierto, está documentado", afirmó Escudero.
Pero en 1573, según textos del Archivo Histórico Nacional español, se produjo un intento de asesinato de otro Villaseñor, Diego, y aquí aparece un tercer personaje, Rodrigo Quijada, que fue procesado aquel año. A su apellido, Quijada, pudo añadir Cervantes un sufijo despectivo que derivó en Quijote.
Escudero explica que El Quijote es "una parodia, una burla" y teniendo en cuenta que no se escriben novelas para burlarse de amigos, Cervantes debió crearla para "ridiculizar" a los enemigos de los Villaseñor, amigos de una de las máximas figuras de la literatura española.
"Todavía estamos en la fase preliminar y puede aparecer mucho más, pero lo que parece evidente es que El Quijote está dedicado a burlarse de esos enemigos de los Villaseñor que, posiblemente, también sean enemigos de Cervantes o a quienes Cervantes consideraba enemigos", añadió el historiador.
Los investigadores han encontrado media docena de documentos de Rodrigo Quijada, en los que se le retrata como "un personaje muy polémico que estuvo muy mal visto en todos los pueblos de la zona", y que, según su biografía, se merecía el maltrato que se le da al Quijote en la novela.
Además, todos estos personajes confluyen en un entorno geográfico conocido por Cervantes."


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