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Poema cantado por Pedro Barroso, homens das artes e grande admirador de José Saramago
Letra/Poema de José Saramago
"Nasce Afrodite, amor, nasce o teu corpo"
Ao princípio é nada
Um sopro apenas
Um arrepio de escamas
Um perpassar de sombra
Como de nuvem marinha
Que se esgarça nos radiais tentáculos da medusa
Não se dirá que o mar se comoveu
E que a onda vai formar-se deste frémito
No embalo da água oscilam peixes
E das algas as hastes serpentinas a correnteza dobram
Como ao vento
As searas da terra
E as crinas dos cavalos
Entre dois infinitos de azul
A onda vem
Toda de sol
Vestida e rebrilhante
Líquido corpo de reflexos
Cegos
Da terra o vento corre para ela
Tal o macho cioso
Para a fêmea aberta
Transportando consigo o pólen das flores
Fecundada a onda rola
Agora trovejando
Na corrida para o parto
Que a espera
No leito de negras rochas
Que na costa se adorna
De mil vidas fervilhantes
Mais alto ainda
As águas se suspendem
E no segundo final
A gestação imensa
E quando num furor
Da vida que começa
A onda se despedaça num rochedo
O envolve o cis
O despedaça
E dilacera
Da branca espuma
Do sol
Do vento que soprou
Dos peixes
Das flores
E do seu pólen
Das algas trémulas
Do trigo
Dos braços da medusa
Das crinas dos cavalos
Do mar da vida toda
Nasce Afrodite, amor
Nasce o teu corpo
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