Sendo a personagem "Elias", o todo poderoso da empresa, cria o confronto directo com o "regressado" Francisco, numa luta pela manutenção dos princípios que a "companhia" deve continuar a seguir. Ser mais rica e a engordar a sua fortuna acumulada.
A voz de "Elias", aqui, retrata essa actual predisposição, despedir reciclando, ou, como ele refere - actualizando.
Francisco assume o caminho da luta contra este aspecto, anunciando tudo tentar fazer para tornar a empresa pobre.
É sempre presente o clima de tensão, e a constante luta pela imposição do bem e do mal.
Voz de "Elias"
"Podes arrumar isto. A sessão terminou. Manda fazer já a transcrição da gravação, irei precisar dela ainda hoje. Depois trataremos da acta definitiva. (para os homens) Seria útil que se reunissem imediatamente com os chefes de sector. Não temos tempo a perder. O mais provável é que seja preciso demitir agentes, todos os que não forem recuperáveis, mas abriremos concurso para a entrada doutros, gente nova, sangue fresco. E temos de elaborar os programas de reciclagem, vamos chamar-lhe cursos de actualização, é menos bárbaro e mais convincente. Quando ouço a palavra reciclagem vejo sempre uma bicicleta a passar. (os homens saem, a mulher fica) Pedro ainda está no gabinete?"
em "A Segunda Vida de Francisco de Assis"
Caminho, página 20
(cada da obra, na edição italiana)
Sinopse da peça de teatro, mencionada na página da Fundação José Saramago,
em, http://www.josesaramago.org/a-segunda-vida-de-francisco-de-assis-1987/
1987 - «”Grande sala. Ambiente geral discreto e severo. Mesa comprida, cadeirões, cofre, telex, vários telefones, um terminal de computador. (…) Está reunido um conselho.” Assim se entra no mundo da “política”, segundo José Saramago. “A Segunda Vida de Francisco de Assis” é mais uma incursão no drama, desta vez à volta de um tema bem actual: o capitalismo, a qualidade, as chefias, a política, as eleições, a bolsa, as valorizações e desvalorizações dos produtos e das pessoas. E uma luta entre a razão e a força. Estamos em 1986, já há computadores, mas muita coisa mudou. “As coisas já não são o que eram”, diz a certa altura uma das personagens. “Houve muitas mudanças e nem todas estão à vista. Algumas nunca saem daquele cofre. São as que convém manter em segredo. “E Francisco? Também mudou, claro. Nesta segunda vida, aprendeu algumas lições e aparece a lutar contra a pobreza. “É a pobreza que deve ser eliminada do mundo”, diz. Mais uma vez Saramago usa a ironia para fazer as suas críticas. “A pobreza não é santa. Tantos séculos para compreender isto. Pobre Francisco.”»
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