No dia em que se assinala a data de nascimento de José Saramago,
recupera-se uma entrada no seu "Diário III - Cadernos de Lanzarote",
onde é feita a alusão aos afectos dos seus amigos.
Até já!
16 de Novembro de 1995
"Encontro no gravador de chamadas as vozes de Eduardo Lourenço e de Baptista-Bastos, um a falar de Providence, outro de Lisboa, e ambos dizendo coisas bonitas sobre o Ensaio. Não podia desejar melhores presentes de aniversário. E como estes são dos que se devem guardar, aqui ficam, cuidadosamente transcritos. O estilo é de facto o homem: as chamadas são, cada uma delas, o retrato psicológico de quem as fez. Eis o que disse o BB: «É o Baptista-Bastos, para o Zé. Zé Saramago, querido amigo, olha, estou a telefonar-te pelo seguinte: é que escreveste um grande romance. Acabei ontem de ler, com grande cuidado, com grande aprazimento, e escreveste um grandessíssimo romance, e o resto é conversa. É para te dizer isto e dar-te um grande abraço, que as felicitações são para mim porque li um grande romance. Outro grande abraço para ti, Zé, e um beijinho para a Pilar.» Do Eduardo Lourenço: «Bom dia, meu caro José. Devo ser o último a dar-te os parabéns pelo Prémio Camões. Já tentei telefonar, mas nunca te apanho. Um prémio mais do que merecido. Vou escrever-te a propósito do livro, do teu livro, que me deixou perplexo e que gostaria de comentar contigo, por carta ou em público. Para já, repito, é um livro de muito impacto e de muita importância. Merecia ser discutido por aquele país, e não só. Um grande abraço, Eduardo.» Obrigado, amigos, obrigado, em nome desta reconfortada alma."
in, "Cadernos de Lanzarote - Diário III"
Caminho, páginas 199 e 200
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