Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Poema «Lugar-comum do quadragenário»

José Saramago recupera este poema, escrito por altura dos seus quarenta anos, isto a propósito da menção que faz a Javier e María, na sua nova casa.
Depois destas três décadas passadas, Saramago refere-se assim:

"Como vejo eu isto, trinta anos depois? Sorrio, encolho os ombros, e penso: 
«Que coisas nós dizemos aos quarenta anos...»"

Lugar-comum ao quadragenário
"Quinze mil dias secos são passados,
Quinze mil ocasiões que se perderam,
Quinze mil sóis inúteis que nasceram,
Hora a hora contados
Neste solene, mas grotesco gesto
De dar corda a relógios inventados
Para buscar, nos anos que esqueceram,
A paciência de ir vivendo o resto."

in, "Cadernos de Lanzarote Diário I"
página 144, 17 de Outubro de 1993


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