"Embora soe algo paradoxal, diria que entre história e ficção a diferença não é grande demais. Ao escrever uma história - porque disso se trata -, o historiador faz um pouco o que faz o romancista: escolhe os fatos e os concatena, vale dizer, encontra relações entre eles em função de conseguir um discurso coerente. O mesmo se exige de um romance. Pode ser mágico, fantástico ou qualquer coisa, mas até a fantasia e a imaginação mais disparatadas precisam de uma coerência. Um livro de História apresenta algo predeterminado. Os fatos estão ali, e um fato traz como consequência outro, e outro, e outro. Há uma espécie de fatalidade histórica que faz que as coisas sejam como são e não de outra maneira. Então, ao dirigir os fatos, ao organizá-los, eu diria que o historiador se comporta como um romancista e o romancista como um historiador."
“José Saramago, la importancia del no”
Christian Kupchik entrevista José Saramago para o "El País" (Montevidéu, 09/1995)
Publicado posteriormente em "La Época" (Santiago do Chile, 15/10/1995)
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