"Os problemas do erro e da verdade, ou da verdade e da mentira, são uma constante de todos os meus livros. E lembro que num diálogo entre o Scarlatti e o Bartolomeu de Gusmão (em Memorial do convento), um deles - não me lembro agora qual - diz que acredita nas virtudes do erro. O terreno vago entre o sim e o não é tão largo que nele podemos andar à vontade. E neste livro (História do cerco de Lisboa) chega-se ao fim sem saber que história escreveu o revisor sobre o cerco de Lisboa.
Uma é a história do livro, esse objeto, outra a do historiador, outra a do narrador e outra a literalmente ignorada e sobre a qual o narrador supostamente terá trabalhando, a do revisor. Qual é a verdadeira História do cerco de Lisboa? Nenhuma. A do historiador tem erros, a do revisor está inquinada de um vício fundamental, um não que contradiz os fatos históricos, e a do narrador é subjetiva. Tão pouco é a História do cerco de Lisboa a que vai aparecer nas livrarias, porque essa em si mesma não é coisa nenhuma."
“O cerco a José Saramago”
Clara Ferreira Alves entrevista José Saramago
Expresso - 22 de Abril de 1989
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