Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Talleyrand na alusão à palavra de sentido ilusório - Conferência "Democracia e Universidade" 2005


"Democracia e Universidade"
José Saramago
Fundação José Saramago e ed.ufpa

Conferência realizada na Universidade Complutense de Madri em 2005




A propósito do valor das palavras e da possibilidade de as mesmas poderem alterar, acrescentando ou diminuindo "peso" à substância do seu significado, Saramago aludia à "voz" politica, 

Referia:
(...) "E pode chegar-se à situação absurda e terrível de que um político, sem alterar a expressão, isto é, com a cara mais dura do mundo - não é piada, trata-se de um político do meu país que teve altíssimas responsabilidades no governo - diga o seguinte: "A política é a arte de não dizer a verdade". Disse-o e não aconteceu nada (...)"

Com este efeito prático, também da verdade ilusória da palavra ou do mimetismo que com a mesma podemos configurar um momento, ou até, uma vida de mentira, surge a menção a Talleyrand.

E prossegue:
(...) "Esta frase aproxima-se de outra de Talleyrand, que dizia que a palavra tinha sido dada ao homem para encobrir o que pensava, afirmação tremenda que, no entanto, atravessou séculos sem muita contestação; pior, com um não dissimulado e cínico aplauso. (...)"




Quem foi Talleyrand, aqui, via Wikipédia
em, http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles-Maurice_de_Talleyrand-Périgord

"Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord, mais conhecido por Talleyrand GCNSC (Paris, 13 de fevereiro de 17541 — Paris, 17 de maio de 1838) foi um político e diplomata francês.
Talleyrand demonstrou admirável capacidade de sobrevivência política ao ocupar altos cargos no governo revolucionário francês, sob Napoleão, durante a restauração da monarquia dos Bourbons e sob o rei Luís Filipe. Embora de ascendência aristocrática, ele não pôde seguir a carreira militar por causa de um defeito físico, e, opcionalmente, foi preparado para a carreira religiosa e, como seminarista, estudou teologia e leu a obra dos filósofos progressistas contemporâneos.
Expulso do seminário (1775) por não seguir a regra do celibato, mesmo assim recebeu as ordens menores e o rei o nomeou abade de Saint-Denis, em Reims (1776). Ordenado (1779), foi nomeado vigário-geral pelo tio Alexandre, arcebispo de Reims e, um ano depois, tornou-se agente geral do clero junto ao governo da França. Defensor dos privilégios eclesiásticos, suas atividades o puseram em contato direto e frequente com os ministros da coroa, o que lhe permitiu adquirir experiência parlamentar e ser consagrado (1788) como bispo de Autun.
Durante o período pré-revolucionário, foi membro do Clube dos Trinta. Apoiou depois a nacionalização dos bens da igreja e conseguiu a adoção da constituição civil do clero que, sem o apoio papal, permitiu a reorganização completa da Igreja francesa ao serviço do Estado.
Excomungado pelo papa e, eleito administrador do departamento de Paris (1791), abandonou a Igreja Católica. Foi enviado pela Assembleia Geral à Grã-Bretanha (1792), para tentar convencer os ingleses a não se aliarem com a Áustria e a Prússia contra a França. O fracasso das negociações e a execução de Luís XVI obrigaram-no a fugir para os Estados Unidos (1794).
Após a queda de Robespierre e o fim do Terror (1796), regressou à França e no ano seguinte tornou-se ministro das Relações Exteriores. Acusado de corrupção (1799), foi demitido, mas após o golpe de estado de Napoleão e o estabelecimento do Consulado, recuperou o cargo.
Com o objetivo da pacificação da Europa, esforçou-se por articular uma política de alianças com as principais potências europeias e promoveu a reconciliação de Napoleão com o resto da Europa. No entanto, por discordar do projeto de conquistas do imperador, demitiu-se (1807). Apoiado pelo o czar Alexandre I da Rússia, organizou oposição a Napoleão e preparou a restauração dos Bourbons.
Com a entrada da liga antinapoleônica em Paris (1814), persuadiu o senado a estabelecer um governo provisório e a declarar Napoleão deposto. O novo governo imediatamente convocou Luís XVIII, que o nomeou ministro das Relações Exteriores. No Congresso de Viena (1814-1815), representou a França e expôs suas habilidades diplomáticas, mas prejudicou a França em termos territoriais, pois aceitou ceder à Prússia a maior parte da margem esquerda do rio Reno.
Após os cem dias napoleônicos, assumiu o cargo de presidente do Conselho de Estado, porém seu passado revolucionário levou-o a ser demitido em setembro do mesmo ano. Aliado aos liberais, participou de forma ativa na ascensão ao trono de Luís Filipe de Orleans (1830). Embaixador em Londres (1830-1834), teve participação fundamental nas negociações entre França e Reino Unido, como na criação do reino da Bélgica e na assinatura da aliança entre França, Reino Unido, Espanha e Portugal - a Quádrupla Aliança (1834).
Acusado em vida de cínico e imoral, alegava servir à França, e não aos regimes políticos. Foi, ao lado de Fouché, uma das figuras mais polêmicas da França."

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