Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

"Cadernos de Lanzarote - Diário II" - 31 de Dezembro de 1994 (relato da passagem de ano)

31 de Dezembro (de 1994)

"Escrevo entre as 12 da noite e as 12 da note. A Península já passou em 1995, aqui ainda nos restam vinte minutos de 1994 para viver. Em Canárias não fazemos as coisas por menos: necessitamos vinte e quatro badaladas para passar de um ano para o outro. Os amigos que vieram de Portugal e Espanha olham desconfiados os relógios, por pouco dirão que não sabem onde se encontram. De um deles, Javier Ryoio, sociólogo e escritor, sei eu que dormiu há dez anos no Hotel Bragança, de Lisboa, na cama que foi de Ricardo Reis, O tempo é uma tira de elástico que estica e encolhe. Estar perto ou longe, lá ou cá, só depende da vontade. Na Península já se apagaram os fogos-de-artifício. Anoite de Lanzarote é cálida, tranquila. Ninguém mais no mundo quer esta paz?»

Cadernos de Lanzarote - Diário II
Caminho, página 268


Sem comentários:

Enviar um comentário