“Na verdade, ninguém sabe para o que nasce. Nem as pessoas, nem os livros”
Última frase que pode ser lida na imagem digitalizada
José Saramago doou algum do seu espólio à BPN, e que pode ser consultada nos links que se indica.
Esta crónica de Isabel Coutinho do jornal Público, foi publicada no suplemento Ípsilon, do dia 2 de Julho de 2010, e pode ser aqui consultada através do link,
"Numa carta de 22 de Março de 1994, José Saramago escrevia: “Um dia destes, com vagar, vou dar uma volta aos meus desordenados arquivos. Há cartas, papéis, manuscritos que não tenho o direito de conservar como coisa minha, pois na verdade pertencem a todos.” E pouco depois, entregou à Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) a primeira parte da documentação que faz agora parte do fundo da BNP e que foi aumentada em anos posteriores.
Quem conta esta história é Fátima Lopes, do Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea, na nota explicativa que se pode ler na secção Colecção José Saramago da Biblioteca Nacional Digital, no “site” da BNP. Foi por causa da exposição “José Saramago: a consistência dos sonhos”, que esteve no Palácio Nacional da Ajuda, em 2008, que foi criado o espaço dedicado ao escritor.
A BNP considerou que contribuiria, complementarmente, para a divulgação dos métodos de trabalho de José Saramago através da digitalização dos manuscritos de sua autoria existentes no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea, escreve, por sua vez, o director da Biblioteca Nacional, Jorge Couto. “Neste conjunto destaca-se ‘O ano da morte de Ricardo Reis’ (editado em 1984) quer pela importância do livro no contexto da produção literária saramaguiana, quer porque os materiais preparatórios, incluindo uma agenda de 1983 adaptada ao ano de 1936, permitem analisar a metodologia adoptada na elaboração dos seus romances, bem como as correcções e aperfeiçoamentos que introduzia nos dactiloscritos, ao tempo em que ainda utilizava máquina de escrever”, acrescenta.
Esta agenda tem uma capa azul e foi escrita por Saramago a tinta azul, com riscados e sublinhados a marcador verde. É de 1983 mas os dias da semana foram emendados pelo autor para a fazer corresponder a uma agenda de 1936.
Mas avisa a Biblioteca Nacional: “Contém anotações diárias retiradas da leitura da imprensa da época, sobre a vida quotidiana e política: boletins meteorológicos, vencimentos de escriturários ou contínuos, a falta de carne em Lisboa, nomes de sabonetes e de produtos de cosmética, falecimentos de figuras da cultura portuguesa ou estrangeira, espectáculos de teatro ou musicais, com locais e preços, numerosas referências aos principais acontecimentos históricos ocorridos em Portugal, Espanha e também na restante Europa durante o ano de 1936, período em que decorre a acção do romance.”
No “site” os leitores podem percorrer a agenda página a página (em PDF ou JPG). Estão lá também os apontamentos de Saramago para a escrita do romance (onde se percebe como o livro era arquitectado pelo autor), uma “Biografia de Ricardo Reis” (onde se lê: “Não casou. Se teve amantes no Brasil, não as chega a ter depois de regressar a Portugal”); uma “Síntese (absurda, idiota, necessária) das odes de RR” e apontamentos históricos de 1936. Está também disponível para consulta “O Embargo I e II” (dactiloscrito com emendas) e “As opiniões que o D.L. teve / José Saramago”, compilação de alguns dos textos que ao longo de quase dois anos, 1972–73, foram publicados por Saramago, anonimamente, no “Diário de Lisboa”. E ainda o autógrafo assinado “Depois de Einstein já não há por aí quem ouse”, que termina com a frase: “Na verdade, ninguém sabe para o que nasce. Nem as pessoas, nem os livros”. Pois é.
Colecção José Saramago na BNP
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