Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sábado, 18 de janeiro de 2020

12 a 17 de Janeiro de 1995 - "Cadernos de Lanzarote III"

12 de Janeiro
"E vão três. Suspeito que os cães de Lanzarote andam a passar a palavra uns aos outros. Agora é uma cadela de uma raça a que aqui chamam sato, cor de amarelo-torrado (...) Desde há três dias que não nos larga a porta. Demos-lhe comida e água, em que começou por não tocar. Tremia, assustada. Depois foi-se tranquilizando, comeu e matou a sede. Pepe e Greta não foram simpáticos ao princípio, mas não tardaram muito a aceitá-la." (...)

13 de Janeiro
"A experiência pessoal e as leituras só valem o que a memória tiver retido delas.Quem tenha lido com alguma atenção os meus livros sabe que, o que ali há é um contínuo trabalho sobre os materiais da memória, ou, para dizê-lo com mais precisão, sobre a memória que vou tendo daquilo que, no passado, já foi memória sucessivamente acrescentada e reorganizada, à procura de uma coerência própria em cada momento seu e meu." (...)

15 de Janeiro
"Contra mim falo: o melhor que às vezes os livros têm são as epígrafes que lhes servem de credencial e carta de rumos." (...)

16 de Janeiro
"O Livro dos Conselhos não existe."

17 de Janeiro
"Sempre se morre demasiado cedo. Miguel Torga sai do mundo aos 87 anos, depois de uma longa e dolorosa doença. (...) 
Não conheci Miguel Torga. Nunca o procurei, nunca lhe escrevi.. Limitei-me a lê-lo, a admirá-lo muitas vezes, outras não tanto." (...) 

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#ContinuarSaramago

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