Na senda da explicação do valor original e substantivo da "palavra", Saramago nesta conferência caminha a passos largos para trazer a "política" e "democracia" à baila, num processo demonstrativo e metamorfoseado destes conceitos.
Talvez, e tomando por certa esta ideia, desde que o homem é um ser colectivo, também o é enquanto ser político, nas decisões do quotidiano, na gestão da sociedade em que se insere, isto, de forma mais ou menos organizada. Aqui entra a alusão à ideia de Aristóteles, no seu tratado "Política".
Sendo um aspecto que José Saramago, de forma mais implícita ou explícita, com palavras directas ou inserindo-as numa alegoria, o vinha demonstrando.
Na obra "Ensaio sobre a Lucidez", talvez o testemunho mais ético e político de Saramago, a "democracia" é colocada em vários patamares. A democracia de quem vota em branco. A democracia de quem não aceita os resultados do duplo sufrágio. A democracia dos "governantes" que abandonam a capital. A democracia da conspiração do qual resulta a detonação de uma bomba e consequências que daí advém. A democracia do insubordinado Presidente da Câmara perante a linha oficial do partido/governo. E por último, a democracia dos que abatem o "Cão das Lágrimas" e a "Mulher do Médico".
Estas "democracias", ou "A Democracia" em diferentes patamares, são o motivo da reflexão sobre o peso e significado das palavras. A política aristotélica, com mais de dois mil anos, sendo um elemento reflexivo, não tem a mesma repercussão na governação dos povos nos dias que correm. A representação dos povos pobres em Aristóteles, hoje é suplantada pela artificial implementação de um estado social, mínimo e exíguo, para comportar os mais desfavorecidos.
Atente-se, então na transcrição das palavras de José Saramago.
"A democracia em que vivemos é uma democracia sequestrada, condicionada, amputada..."
(...) Aristóteles - embora nunca tenha estudado na universidade, li Aristóteles - dizia no seu tratado de "Política" que um governo realmente democrático deveria necessariamente, por lógica matemática, por pura aritmética, integrar no seu seio mais pobres que ricos porque, dizia ele "os pobre são mais que os ricos", logo, se o governo da "polis" tem, por exemplo, vinte pessoas, dezassete teria de ser pobres e os três restantes ricos.
Acrescentava Aristóteles que não é que os ricos não devam estar representados no governo da "polis", claro que sim, mas em proporção justa. Esta ideia utópica, uma entre tantas, tem dois mil e tal anos, foi enunciada por um senhor que viveu na Grécia e que continuamos a considerar um mestre. E colocou, preto no branco, esta afirmação revolucionária, nunca realizada e que provavelmente jamais será levada a cabo. Claro que o que estava implícito, ainda que Aristóteles não o tenha dito, era que devia existir um partido de pobres, mas talvez não tenha falado disso porque se deu conta de que um partido de pobres não tem muito para prometer, e se não promete não ganha as eleições. (...)
em, "Democracia e Universidade"
em, "Democracia e Universidade"
José Saramago
Fundação José Saramago e ed.ufpa
Página 27 e 28
Conferência realizada na Universidade Complutense de Madri em 2005
"Abro com duas citações de Aristóteles, ambas extraídas da "Política". A primeira delas, curta, sintética, diz-nos que "em democracia, os pobre são soberanos, com exclusão dos ricos, porque são eles o maio número, e porque a vontade da maioria é lei". (...) Eis o que nos diz a citação segunda: "A igualdade (no estado) pede que os pobres não tenham mais poder que os ricos, que não sejam eles os únicos soberanos, mas que o sejam todos na proporção do número existente de uns e outros. Este parece ser o meio de garantir ao Estado, eficazmente, a igualdade e liberdade". (...)
(...) Não resisto a recordar-vos, sofrendo com a minha própria ironia, que, para o discípulo de Platão, o Estado era a forma superior da moralidade... (...)
em, "Verdade e Ilusão Democrática
José Saramago
Fundação José Saramago e ed.ufpa
"Abro com duas citações de Aristóteles, ambas extraídas da "Política". A primeira delas, curta, sintética, diz-nos que "em democracia, os pobre são soberanos, com exclusão dos ricos, porque são eles o maio número, e porque a vontade da maioria é lei". (...) Eis o que nos diz a citação segunda: "A igualdade (no estado) pede que os pobres não tenham mais poder que os ricos, que não sejam eles os únicos soberanos, mas que o sejam todos na proporção do número existente de uns e outros. Este parece ser o meio de garantir ao Estado, eficazmente, a igualdade e liberdade". (...)
(...) Não resisto a recordar-vos, sofrendo com a minha própria ironia, que, para o discípulo de Platão, o Estado era a forma superior da moralidade... (...)
em, "Verdade e Ilusão Democrática
José Saramago
Fundação José Saramago e ed.ufpa
Página 59 e 60
Conferência em Santiago do Chile, abril de 2003
"Las Conferencias de la moneda"
Aqui, link http://www.josesaramago.org/democracia-e-universidade-2010/
Conferência em Santiago do Chile, abril de 2003
"Las Conferencias de la moneda"
Aqui, link http://www.josesaramago.org/democracia-e-universidade-2010/
Aristóteles, segundo Wikipédia, aqui em http://pt.wikipedia.org/wiki/Aristóteles
Aristóteles (em grego antigo: Ἀριστοτέλης, transl. Aristotélēs; Estagira, 384 a.C. — Atenas, 322 a.C.) foi um filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia. Juntamente com Platão e Sócrates (professor de Platão), Aristóteles é visto como um dos fundadores da filosofia ocidental. Em 343 a.C. torna-se tutor de Alexandre da Macedónia, na época com treze anos de idade, que será o mais célebre conquistador do mundo antigo. Em 335 a.C. Alexandre assume o trono e Aristóteles volta para Atenas, onde funda o Liceu.
Aristóteles era natural de Estagira, na Trácia, sendo filho de Nicômaco, amigo e médico pessoal do rei macedônio Amintas III, pai de Filipe II. É provável que o interesse de Aristóteles por biologia e fisiologia decorra da atividade médica exercida pelo pai e pelo tio, e que remontava há dez gerações.
Segundo a compilação bizantina Suda, Aristóteles era descendente de Nicômaco, filho de Macaão, filho de Esculápio.
Com cerca de 16 ou 17 anos partiu para Atenas, maior centro intelectual e artístico da Grécia. Como muitos outros jovens da época, foi para lá prosseguir os estudos. Duas grandes instituições disputavam a preferência dos jovens: a escola de Isócrates, que visava preparar o aluno para a vida política, e Platão e sua Academia, com preferência à ciência (episteme) como fundamento da realidade. Apesar do aviso de que, quem não conhecesse Geometria ali não deveria entrar, Aristóteles decidiu-se pela academia platônica e nela permaneceu vinte anos, até a morte de Platão, no primeiro ano da 108a olimpíada (348 a.C.).
Em 347 com a morte de Platão, a direção da Academia passa a Espeusipo que começou a dar ao estudo acadêmico da filosofia um viés matemático que Aristóteles (segundo opinião geral, um não-matemático) considerou inadequado, assim Aristóteles deixa Atenas e se dirige, provavelmente, primeiro a Atarneu convidado pelo tirano Hérmias e em seguida a Assos, cidade que fora doada pelo tirano aos platônicos Erasto e Corisco, pelas boas leis que lhe haviam preparado e que obtiveram grande sucesso.
Durante 347 a.C e 345 a.C, dirige uma escola em Assos, junto com Xenócrates, Erasto e Corisco e depois em 345/344 a.C. conhece Teofrasto e com sua colaboração dirige uma escola em Mitilene, na ilha de Lesbos e lá se casa com Pítias, neta de Hérmias , com quem teve uma filha, também chamada Pítias e Nicômaco. Em 343/342 a.C Filipe II escolhe Aristóteles como educador de seu filho Alexandre, então com treze anos, por intercessão de Hérmias.
Pouco se sabe sobre o período da vida de Aristóteles entre 341 a.C e 335 a.C, ainda que se questiona o período de tempo da tutela de Alexandre, alguns estimam em apenas dois ou três anos e outros em sete ou oito anos.
Em 335 a.C. Aristóteles funda sua própria escola em Atenas, em uma área de exercício público dedicado ao deus Apolo Lykeios, daí o nome Liceu. Os filiados da escola de Aristóteles mais tarde foram chamados de peripatéticos. Os membros do Liceu realizavam pesquisas em uma ampla gama de assuntos, os quais eram de interesse do próprio Aristóteles: botânica, biologia, lógica, música, matemática, astronomia, medicina, cosmologia, física, história da filosofia, metafísica, psicologia, ética, teologia, retórica, história política, do governo e da teoria política, retórica e as artes. Em todas essas áreas, o Liceu coletou manuscritos e assim, de acordo com alguns relatos antigos, se criou a primeira grande biblioteca da antiguidade.
Em 323 a.C, morre Alexandre e em Atenas começa uma forte reação antimacedônica, em 654 a.C. por causa de sua ligação com Alexandre, Aristóteles foge de Atenas e se dirige a Cálcides, onde sua mãe tinha uma casa, explicando, "Eu não vou permitir que os atenienses pequem duas vezes contra a filosofia" uma referência ao julgamento de Sócrates em Atenas. Ele morreu em Cálcis, na ilha Eubeia de causas naturais naquele ano.1 Aristóteles nomeou como chefe executivo seu aluno Antípatro e deixou um testamento em que pediu para ser enterrado ao lado de sua esposa.
Política - A política aristotélica é essencialmente unida à moral, porque o fim último do estado é a virtude, isto é, a formação moral dos cidadãos e o conjunto dos meios necessários para isso. O estado é um organismo moral, condição e complemento da atividade moral individual, e fundamento primeiro da suprema atividade contemplativa. A política, contudo, é distinta da moral, porquanto esta tem como objetivo o indivíduo, aquela a coletividade. A ética é a doutrina moral individual, a política é a doutrina moral social. Desta ciência trata Aristóteles precisamente na Política, de que acima se falou.
Em Ética a Nicômaco Aristóteles descreve o assunto como ciência política, que ele caracteriza como a ciência mais confiável. Ela prescreve quais as ciências são estudadas na cidade-estado, e os outros - como a ciência militar, gestão doméstica e retórica - caem sob a sua autoridade. Desde que rege as outras ciências práticas, suas extremidades servem como meios para o seu fim, que é nada mais nada menos do que o bem humano.
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