"Democracia e Universidade"
Conferência Universidade Complutense de Madri
2005
Edição Fundação José Saramago - páginas 25 e 26
(...) Eu próprio estou num grupo de prémios Nobel - coisas que acontecem - que se reúne anualmente em Barcelona exactamente para isso, para tomar o pulso ao ensino superior. (...)
(...) E no último encontro, já um pouco cansado de tanta conversa, disse: "vamos ver, quem chega à universidade? Chegam os estudantes que passaram pelo ensino médio e primário. Estamos a ocupar-nos do que acontece na universidade, em matéria de instrução, não de educação, que isso está fora do debate, e já se reconheceu que tampouco está em níveis óptimos, mas como se pretende que se dê o milagre de funcionar o último nível, a última etapa de um processo de aprendizagem que começa aos quatro anos e termina aos vinte e tal, se o que antecede não está bem?
Se a escola primária está mal - e está em todo o lado, não apenas em Espanha ou Portugal, se o ensino médio está mal, como aspirar a resolver o problema do último nível? (...)
(...) A nascente do rio começa com o "a", o "e", o "i", o "o", e o "u", as vogais que o menino ou a menina aprendem, esse é o gérmen, tudo o que venha depois pode simplificar a tarefa da universidade, anos mais tarde. (...)
(...) A universidade é o último nível formativo em que o estudante se pode converter, com plena consciência, em cidadão; é o lugar de debate onde, por definição, o espírito crítico tem de florescer: um lugar de confronto, não uma ilha onde o aluno desembarca para sair com um diploma." (...)
Imagem, do professor Tertuliano Máximo Afonso, interpretado por Jake Gyllenhaal, no filme "O Homem Duplicado", baseado na obra de José Saramago, com o mesmo nome.
Para além de toda a metáfora à volta e em redor do "Eu" e do "outro Eu", este professor propõe ao director da escola, a ideia de serem invertidos os processos de ensino na cadeira que ele lecciona.
Pretende inverter a lógica da transmissão da cronologia dos factos ou momentos da história. Alega este professor, que ao ensinar os factos mais recentes em direcção aos mais antigos, é criado um sistema mais intuitivo e linear na causa/efeito, ou na interpretação da razão para que um determinado acontecimento tenha tido lugar.
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