Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

domingo, 31 de maio de 2015

"Inventário" a poesia de José Saramago cantada por João Afonso


"Inventário"

"De que sedas se fizeram os teus dedos,
De que marfim as tuas coxas lisas,
De que alturas chegou ao teu andar
A graça da camurça com que pisas.

De que amoras maduras se espremeu
O gosto acidulado do teu seio,
De que Índias o bambu da tua cinta,
O oiro dos teus olhos, donde veio.

A que balanço de onda vais buscar
A linha serpentina dos quadris,
Onde nasce a frescura dessa fonte
Que sai da tua boca quando ris.

De que bosques marinhos se soltou
A folha de coral das tuas portas,
Que perfume te anuncia quando vens
Cercar-me de desejo a horas mortas."

José Saramago
em, "Os Poemas Possíveis"
Porto Editora, página 143

Post no blog/Livro "O Caderno 2" sobre os índio da reserva "Raposa do Sol" (30/03/2009)


Pode ser consultado e lido aqui,
em http://caderno.josesaramago.org/33103.html


"Raposa do Sol"
"Lá de longe em longe o dia amanhece diferente. Que o digam os índios da reserva indígena da Raposa do Sol no Estado de Roraima, ao norte do Brasil, a quem o Supremo Tribunal Federal acaba de reconhecer e confirmar definitivamente o seu direito à plena posse e ao uso pleno dos mil quilómetros quadrados de superfície da reserva. A sentença não deixa qualquer margem a dúvidas: os não índios devem sair imediatamente da Raposa do Sol, assim como as empresas arrozeiras que durante anos invadiram o território e nele se instalaram abusivamente. Já em 2005 o presidente Lula havia decidido a entrega da reserva aos indígenas e a saída das empresas arrozeiras, mas as autoridades do Estado de Roraima, favoráveis aos arrozeiros, recorreram ao Supremo Tribunal por considerarem inconstitucional o decreto presidencial. Quatro anos depois o Supremo decide a questão e põe uma definitiva pedra sobre o assunto. Nem tudo, porém, são rosas neste idílico quadro. Afinal, a luta de classes, tão discutida em épocas relativamente recentes e que parecia haver sido condenada ao caixote do lixo da História, existe mesmo. Com esta visão unilateral que temos, nós, os europeus, dos problemas sociais da América Latino, tendemos a ver unanimidades onde elas não existem nem existiram nunca. Na Raposa do Sol, os índios endinheirados, que também lá os há, fizeram causa comum com os não índios e com as empresas arrozeiras. A festa foi dos outros, dos pobres.

Cá para baixo, na Cidade Maravilhosa, a do samba e do carnaval, a situação não está melhor. A ideia, agora, é rodear as favelas com um muro de cimento armado de três metros de altura. Tivemos o muro de Berlim, temos os muros da Palestina, agora os do Rio. Entretanto, o crime organizado campeia por toda a parte, as cumplicidades verticais e horizontais penetram nos aparelhos de Estado e na sociedade em geral. A corrupção parece imbatível. Que fazer?"
(30 de Março de 2009)

quinta-feira, 28 de maio de 2015

"Dispostos em cruz" a poesia de José Saramago cantada por Luis Pastor


Musicado por Luis Pastor, do álbum "Nesta Esquina do Tempo"

Poema de José Saramago, em "Provavelmente Alegria"
Caminho, 3.ª Edição, páginas 90 e 91

«Dispostos em cruz»

Dispostos em cruz desfeitos em cruz
em cada caminho três portas fechadas
um vento de faca um resto de luz
o espanto da morte nas águas cortadas

Um corpo estendido um ramo de frutos
um travo na boca da boca do outro
o branco dos olhos o negro dos lutos
o grito o relincho e o dente do potro

As feridas do vento as portas abertas
os cantos da boda no ventre macio
as notas do canto nas linhas incertas
e o lago do sangue ao largo do rio

O céu descoberto da nuvem da chuva
e o grande arco-íris na gota de esperma
o espelho e a espada o dedo e a luva
e a rosa florida na borda na berma

E a luz que se expande no pino do Verão
e o corpo encontrado no corpo disperso
e a força do punho na palma da mão
e o espanto da vida na forma do verso

Resenha da obra "Alabardas, Alabardas, Espingadas, Espingardas" no blog "Literar"

Via página do Facebook da Fundação José Saramago, aqui
em https://www.facebook.com/fjsaramago?fref=nf

«Uma crítica a "Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas" publicada pelo blog Literar, do Brasil: "Pode parecer estranho publicar um livro incompleto, mas essa é justamente a graça de toda a obra de Saramago: o futuro está aí para ser escrito, todos os dias, o tempo todo."»



Link do blog "Literar" (Brasil), aqui em http://www.literar.com.br/
Link da resenha da obra, via blog "Literar", aqui para consulta e leitura 
em http://www.literar.com.br/alabardas-alabardas/


«Na minha cabeça, algumas pessoas são imortais. Eu sei, eu sei: a vida tem etapas, e morrer faz parte desse processo natural. Racionalmente, eu sei (mas vai dizer isso para aquela parte de mim que espera que Manuel Bandeira, Ariano Suassuna e Gabriel García Marquez estejam sempre por aqui). Para minha felicidade completa, minha teoria às vezes se prova certa. Mais de três anos após deixar milhares de órfãos pelo mundo, José Saramago volta a bater na minha porta com Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas. O que eu poderia fazer senão tirar a tranca do portão e convidá-lo para um chá com bolachas?

Alabardas, Alabardas… é o último romance escrito por Saramago, com um porém: o escritor se foi antes que pudesse terminá-lo. Na verdade, o que temos nas páginas publicadas pela Companhia das Letras são os três capítulos iniciais da obra, acompanhados de anotações feitas por José sobre o caminho que pretendia seguir daí para frente. Parece pouco, né? E em certo ponto, é mesmo. É pouco porque as palavras de Saramago tem o efeito de te abraçar com força logo nos primeiros parágrafos. Depois de conhecer seus personagens, é difícil aceitar que não vamos acompanhá-los até o final de suas jornadas. Por outro lado, o romance cumpre o papel essencial de um livro: colocar a imaginação para trabalhar a todo vapor. Se não há final, há páginas e páginas em branco para que novos destinos surjam na cabeça de quem lê.


O livro nos introduz a Artur Paz Semedo, trabalhador de uma indústria armamentista e defensor da arte da guerra, e sua ex-mulher Felícia, uma pacifista convicta que acabou rompendo seu casamento por não acreditar na ideologia do marido. Em um livro sobre a Guerra Civil Espanhola, Artur lê um trecho que lhe chama a atenção: em determinado local, funcionários do setor de armas sabotaram materiais que seriam usados na guerra. Impulsionado por esse fato, ele decide pesquisar, dentro da empresa que trabalha, os históricos referentes a essa época e tentar descobrir se algo similar se passou também por lá.

Além dos três capítulos, o livro traz ilustrações incríveis de Günter Grass, alemão ganhador do Nobel de literatura, e três ensaios sobre a obra de Saramago. Escritos por Fernando Gómez Aguilera, Luiz Eduardo Soares e Roberto Saviano, os textos formam um complemento importante para entender a importância dessas últimas páginas de um dos maiores escritores que o mundo conheceu. Pode parecer estranho publicar um livro incompleto, mas essa é justamente a graça de toda a obra de Saramago: o futuro está aí para ser escrito, todos os dias, o tempo todo.

Se eu precisasse tirar uma única lição de toda a obra de José Saramago, seria: o mundo é feito de pessoas. Pessoas que pensam, se relacionam e comunicam. Pessoas que não tem ideia de todo o potencial que se esconde por trás de seus dia-a-dia monótonos. Pessoas que desconhecem a mágica por trás de suas histórias mundanas e seus relacionamentos. Por isso, não, eu não acho estranho ler seu último livro e nunca saber como ele termina. Afinal, Saramago me ensinou a ver além, a enxergar mais do que se vê.



Com Alabardas, Alabardas… Saramago entrou na minha casa, deixou o casaco no cabineiro, provou do chá e pediu por uma colher de açúcar, mas teve que ir embora antes dos biscoitos saírem do forno. Fica tranquilo, Saramago, seu lugar na mesa vai estar sempre separado – e eu mando fazer um pacote especial com as guloseimas ainda quentinhas. Palavra de amigo. ;)»
Luiz Marcatto

"A Casa José Saramago" de Tías Lanzarote lança a iniciativa "TODOS SOMOS SARAMAGO" - 18/06/2015 (5 anos)



Via página do Facebook, aqui 

"Faltan solo 3 semanas para recordar a José Saramago en el homenaje TODOS SOMOS SARAMAGO. ¡Esperamos vuestros vídeos y colaboraciones!

¿Nos ayudáis a difundirlo?
El próximo mes (jueves 18 de junio) se cumplen 5 años sin José ‪#‎Saramago‬. 5 años de ausencia en los que su memoria y su literatura se nos hacen más necesarias que nunca. Desde A Casa hemos pensado hacerle un homenaje libre y abierto a todos sus lectores y amigos. Para ello os invitamos a grabar un vídeo corto (con una cámara de móvil o webcam servirá), de no más de 3 minutos, recitando, cantando o interpretando algún poema o estrofa que os guste de cualquiera de sus libros, y nos los hagáis llegar a nuestro correo: acasajosesaramago@gmail.com

TODOS SOMOS SARAMAGO

No próximo mês (quinta-feira 18 de junho ) reuniu-se cinco anos sem José Saramago. 5 anos de ausência em sua memória e sua literatura nos tornamos mais necessário do que nunca . De A Casa nós tê-lo pensado um tributo gratuita e aberta a todos os leitores e amigos. Para este fim, nós convidamos você para gravar um vídeo curto ( com uma câmera de celular ou webcam irá fazer) , não superior a três minutos, recitando, cantando ou tocando um poema ou verso você gosta de alguns de seus livros, e todos nós devemos fazer chegar nosso e-mail : acasajosesaramago@gmail.com

TODOS SOMOS SARAMAGO"

segunda-feira, 25 de maio de 2015

"Palavras trocadas" inspiradas em algumas obras de José Saramago


"Palavras Trocadas"

... vivemos num autêntico "Ensaio sobre a Cegueira", 
que se repete num "Ensaio sobre a Lucidez"
... a alguns apetece partir numa "Jangada de Pedra", 
ou seguir na "Viagem do Elefante", 
porque as coisas que vivemos não são "Deste Mundo e do Outro".
Quando chegará de novo "A Noite", 
para que "Os Poemas Possíveis" possam ser de novo musicados?
Às vezes, sinto-me acabado de ser "Levantado do Chão", 
extenuado depois de uma "Viagem a Portugal", 
onde "Os Apontamentos" recolhidos, são peças soltas de uma passarola construída por um padre alucinado que vive num suposto estado de "Provavelmente Alegria". 
"O Ano da Morte de Ricardo Reis", que este, sendo "O Homem Duplicado" de Pessoa, 
viveu nas suas "Pequenas Memórias" 
as "Intermitências da Morte", 
dentro da "Caverna" em que este país se tornou, 
desde a famosa "História do Cerco de Lisboa".
Os censores andam aí, com a cara destapada ou com uma simples capa vestida, 
gritam e bramem aos céus "In Nomine Dei", "In Nomine Dei"!!!
... talvez em busca de outro "Evangelho Segundo Jesus Cristo"
... mas tenham atenção, que "Caim" marcado para sempre, 
dará outra oportunidade tal qual se tratasse de uma "Segunda Vida de Francisco de Assis".
Nesta "Terra do Pecado", onde falta a bondade ao homem, 
procuramos uma nova luz de esperança 
e que essa possa chegar sob o signo da "Maior Flor do Mundo".
"Que Farei com este Livro", 
onde constam todas as evangélicas atrocidades cometidas em nome de deuses, 
por homens raivosos e cegos de razão e moral... 
esses a quem lhe faltou sempre um "Manual de Pintura e Caligrafia" 
com os valores inscritos para a humanidade...

Miguel de Azevedo


domingo, 24 de maio de 2015

Post "Tristeza" do Blog/Livro "Caderno 2" de 20 de Agosto de 2009

Pode ser consultado e lido, aqui 
em http://caderno.josesaramago.org/58856.html

"Tristeza"
"Uma irresistível e já automática associação de ideias faz-me sempre recordar a Melancolia de Dürer quando penso na obra de Eduardo Lourenço. Se o Só de António Nobre é o livro mais triste que alguma vez se escreveu em Portugal, faltava-nos quem sobre essa tristeza reflectisse e meditasse. Veio Eduardo Lourenço e explicou-nos quem somos e porque o somos. Abriu-nos os olhos, mas a luz era demasiado forte. Por isso, tornámos a fechá-los." (20 de Agosto de 2009)

em "Caderno 2"
Caminho

(Pintura de Albrecht Durer)

Blimunda Revista Digital - Relembramos a edição #24 Maio de 2014... agora que a #36 foi lançada

(Capa da edição 24 - Maio de 2014)

Em Maio de 2015. conhecida a presente edição, relembramos o #24. 
Via Fundação José Saramago, aqui

Sinopse da edição
"Num dos seus romances, José Saramago faz a Península Ibérica viajar, como se fosse uma “jangada de pedra”. Nesta edição de maio, a Blimunda convida os seus leitores a empreender viagens para vários sítios: a Lanzarote, para conhecer melhor o livro de fotos de João Francisco Vilhena sobre a ilha de Saramago; a Lisboa, que recebeu mais uma edição do Festival da Máscara Ibérica; ao Brasil de Zuenir Ventura e Luis Fernando Veríssimo e à sua visão sobre o 25 de abril; até ao universo mágico de João Lizardo ou o assustador cinema de Tobe Hooper.

Já quase no fecho da revista chegou-nos a notícia de que, graças ao trabalho do atelier Silvadesigners, a Blimunda foi distinguida com o prémio prata na categoria de Design Editorial/Publicações Periódicas no XVI Festival do Clube de Criativos de Portugal. A distinção alegra-nos e motiva-nos ainda mais na tarefa de mensalmente produzir conteúdos culturais que despertem o interesse dos nossos leitores.

Boas leituras e até junho, mês em que a Blimunda, cheia de novidades, completa dois anos."

Citador #38 ... do tempo do Sr. José, em "Todos os Nomes"

Citador #38
... do tempo do Sr. José
"Todos os Nomes"
Caminho, páginas 46 e 47

(Capa da edição italiana de 1997)

(...) «O tempo pusera-se a contar os dias desde o princípio, agora usando a tábua da multiplicação para recuperar o atraso, e com tanto acerto o fez que o Sr. José já tinha outra vez cinquenta anos quando chegou a casa. Quanto à criança lacrimosa, essa só estava uma hora mais velha, o que demonstra que o tempo, ainda que os relógios queira convencer-nos do contrário, não é o mesmo para toda a gente.» (...)

sábado, 23 de maio de 2015

Aprsentação da peça de teatro "A Maior Flor e Outras Histórias Segundo José" - dia 23/05 na Fundação José Saramago



Informação via página da Fundação José Saramago, aqui
em http://www.josesaramago.org/2305-apresentacao-de-a-maior-flor-e-outras-historias-segundo-jose/

"Mais sobre a obra:
Inspirado na obra de José Saramago e tendo como base de trabalho dramatúrgico o seu livro A Maior Flor do Mundo, o Teatro Art´Imagem apresenta uma peça de teatro para ser vista por adultos e crianças em conjunto. Uma boa oportunidade para homenagear e divulgar o autor e a sua obra, na esteira do Teatro Art´Imagem cujo lema tem sido apresentar os grandes autores e textos da literatura universal, transformando-os em teatro.

Acrescentando outros textos que vão desde As Pequenas Memórias aos contos Deste Mundo e do Outro, dos Cadernos de Lanzarote aos Poemas Possíveis e ao Discurso de aceitação do Prémio Nobel, ao aparecimento de personagens literárias inesquecíveis do universo do autor, como o par Blimunda e Baltazar, os Sete Sóis e Sete Luas, do Memorial do Convento, a Mulher do Médico e o Cão das Lágrimas, de O Ensaio Sobre a Cegueira, até às criaturas reais, mais ou menos fantasiadas, que povoaram a sua infância, como os seus avós Jerónimo e Josefa e outros familiares, bem como as recordações do que era viver, trabalhar e brincar na aldeia de Azinhaga do Ribatejo, ao despertar dos primeiros amores. Dois actores, uma mulher e um homem, interpretam e representam em palco e na plateia, as palavras e acções escritas e descritas pelo autor, ganhando estas outra dimensão artística de comunicação e partilha. Há corpos em presença, olhos que se cruzam, pessoas de corpo presente, membros que se tocam, vozes que se ouvem, respirações e tempos comuns entre espectadores e artistas, acção dramática, movimento e vida em misturando-se teatro e literatura, palavras e actos, deambulação e realidade, sentimentos, medos e perguntas, recordações e memórias. Em palco toda a humanidade que Saramago descreve e defende nos seus romances e na sua própria vida, à procura de um mundo diferente, melhor."



Aqui via Teatro Art'Imagem, aqui 

"A MAIOR FLOR E OUTRAS HISTÓRIAS SEGUNDO JOSÉ"

«Havia uma aldeia e um menino (ou uma menina?).
Havia também os avós com quem a menina (menino?) vivia, mais os vizinhos.
Um dia sai o menino (menina?) pelos fundos do quintal e toca a andar, toca a andar.
Caminhou, caminhou, correu, correu, parou, parou...
Até que chegou ao limite das terras até onde se aventurara sozinha ( sozinho?).
– Vou ou não vou?
Foi!
À descoberta de si, à descoberta do mundo.»

Inspirado na obra de José Saramago e tendo como base de trabalho dramatúrgico o seu livro para crianças “A Maior Flor do Mundo”, o Teatro Art´Imagem apresenta uma peça de teatro para ser vista por adultos e crianças em conjunto. Uma boa oportunidade para homenagear e divulgar o autor e a sua obra, na esteira do Teatro Art´Imagem cujo lema tem sido apresentar os grandes autores e textos da literatura universal, transformando-os em teatro. 
Acrescentando outros textos que vão desde “Pequenas Memórias” aos contos “Deste Mundo e do Outro”, dos “Cadernos de Lanzarote” aos “Poemas Possíveis” e ao Discurso de aceitação do Prémio Nobel, ao aparecimento de personagens literárias inesquecíveis do universo do autor, como o par Blimunda e Baltazar, os Sete Sóis e Sete Luas, do “Memorial do Convento”, a Mulher do Médico e o Cão das Lágrimas, de “O Ensaio Sobre a Cegueira”, até às criaturas reais, mais ou menos fantasiadas, que povoaram a sua infância, como os seus avós Jerónimo e Josefa e outros familiares, bem como as recordações do que era viver, trabalhar e brincar na aldeia de Azinhaga do Ribatejo, ao despertar dos primeiros amor. Dois actores, uma mulher e um homem, interpretam e representam em palco e na plateia, as palavras e acções escritas e descritas pelo autor, ganhando estas outra dimensão artística de comunicação e partilha. Há corpos em presença, olhos que se cruzam, pessoas de corpo presente, membros que se tocam, vozes que se ouvem, respirações e tempos comuns entre espectadores e artistas, acção dramática, movimento e vida em misturando-se teatro e literatura, palavras e actos, deambulação e realidade, sentimentos, medos e perguntas, recordações e memórias. Em palco toda a humanidade que Saramago descreve e defende nos seus romances e na sua própria vida, à procura de um mundo diferente, melhor.

Ficha artística e técnica

» Inspirado na Obra de José Saramago 
» Dramaturgia e encenação José Leitão 
» Interpretação Daniela Pêgo e Flávio Hamilton
» Pintura Agostinho Santos
» Música Alfredo Teixeira
» Cenário Fátima Maio, José Leitão e José Lopes 
» Figurinos e adereços Fátima Maio
» Apoio ao movimento Renato Vieira e Ana Lígia
» Desenho de Luz Leunam Ordep
» Operação Técnica Sandra Sousa

» Produção Sofia Leal

Classificação Etária: M/6
Duração Aproximada: 50m

104ª Criação do Teatro Art'Imagem - 2014

terça-feira, 19 de maio de 2015

Blimunda #36 - Maio de 2015 - Revista Digital para descarregar gratuitamente



Pode ser lida e descarregada, via página da Fundação José Saramago, aqui
em http://www.josesaramago.org/blimunda-36-maio-2015/

Sinopse
"O número 36 da revista Blimunda arranca com uma revelação. Em Junho realizar-se-á no México um encontro entre académicos, intelectuais e pensadores de várias nacionalidades para colocar em marcha um desafio lançado por José Saramago: a criação de uma Carta dos Deveres Humanos. É sobre essa iniciativa que o editorial da revista se debruça.

Mais adiante, a Blimunda desembarca em Matosinhos para acompanhar o LeV – Festival Literatura em Viagem, de lá trazendo histórias contadas por Sara Figueiredo Costa e imagens de Pedro Loureiro.

Na secção cinema, o Capitão Falcão, “o primeiro super-herói português”, entra na mira de João Monteiro, que coloca o irreverente filme que acaba de chegar aos cinemas de Portugal em diálogo com um outro filme, A Revolução de Maio, de António Lopes Ribeiro, de 1937.

Colaboram nesta edição da revista o jornalista Fernando Alves, com um texto sobre o livro que narra a digressão do elefante Salomão e do Trigo Limpo Teatro ACERT, de Tondela, por terras de Dão Lafões, e também a professora Ana Paula Arnaut, da Universidade de Coimbra, que na secção Saramaguiana analisa o livro Diálogos com José Saramago, de Carlos Reis, agora reeditado.

Para a secção Infantil e Juvenil, Andreia Brites preparou uma seleção de novidades literárias que serão lançadas no final do mês na Feira do Livro de Lisboa.
Boas leituras, e até Junho, mês do terceiro aniversário da Blimunda e dos cinco anos da morte de José Saramago, a quem dedicaremos grande parte da próxima edição desta nossa e vossa Blimunda."

domingo, 17 de maio de 2015

«Todos os Nomes» de José Saramago ... do Sr. José e o início




(...) «O verbete é de uma mulher de trinta e seis anos, nascida naquela mesma cidade, e dele constam dois averbamentos, um de casamento, outro de divórcio. Como este verbete há de certeza centenas no ficheiro, senão milhares, portanto não se compreende por que estará o Sr. José a olhar para ele com uma expressão tão estranha, que à primeira vista parece atenta, mas que é também vaga e inquieta, possivelmente é este o modo de olhar de quem, aos poucos, se desejo nem recusa, se vai desprendendo de algo e ainda não vê aonde poderá deitar a mão para tornar a segurar-se.» (...)

em "Todos os Nomes"
Caminho, página 37


domingo, 10 de maio de 2015

"O último tiro" publicado em "Rascunho jornal de literatura do Brasil" sobre a obra "Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas"

"O último tiro" de Ovídio Poli Junior

Pode ser consultado e lido, aqui
em http://rascunho.gazetadopovo.com.br/o-ultimo-tiro/


"Em seu inacabado e póstumo romance, 
José Saramago combate o universo sombrio da indústria armamentista"

"O silêncio é a mais poderosa das armas, parece insinuar o narrador criado por José Saramago a propósito de Felícia, ativista com ideais pacifistas e ex-mulher de Artur Paz Semedo, funcionário de uma indústria de armas. Esse é o núcleo em torno do qual o autor constrói a última narrativa que nos deixou — Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas.
Artur Paz Semedo é um homem comum, cumpridor de suas obrigações na chefia do setor de contabilidade de armas leves e munições da Belona S. A. Igual a meu pai, que foi contador em uma pequena indústria têxtil, ele passa os dias encenando a rotina universal da profissão: a organização meticulosa, o cálculo das faturas, a precisão dos apontamentos, o rame-rame dos papéis, a regularidade dos registros, a segurança fria e confortável proporcionada pelos números.
O protagonista é uma espécie de Bartleby, o escrivão de Herman Melville, só que possuidor de alguma determinação e iniciativa. Não questiona os seus superiores e tem certo orgulho do renome da empresa e de trabalhar em seu ofício. É discretamente ambicioso e sonha em chefiar o setor de armamentos pesados da empresa:
Os efeitos psicológicos desta entranhada e não satisfeita ambição intensificam-se até à ansiedade nas ocasiões em que a administração da fábrica apresenta novos modelos e leva os empregados a visitar o campo de provas, herança de uma época em que o alcance das armas era muito menor e agora impraticável para qualquer exercício de tiro. Contemplar aquelas reluzentes peças de artilharia de variados calibres, aqueles canhões antiaéreos, aquelas metralhadoras pesadas, aqueles morteiros de goela aberta para o céu, aqueles torpedos, aquelas cargas de profundidade, aquelas lançadeiras de mísseis (…), era o maior prazer que a vida lhe podia oferecer.
Em seu último romance, inacabado e publicado postumamente, Saramago nos leva a refletir sobre os descaminhos do mundo moderno escarafunchando o universo sombrio da indústria armamentista. Mais que isso, nos leva a refletir sobre a microfísica do poder, o dever de consciência escondido sob a capa da indiferença e do conformismo burocrático.
O título da obra, extraído de uma tragicomédia de Gil Vicente (Exortação da guerra), soa como uma espécie de reverberação a demarcar a insistência humana na destruição sempre renovada dos semelhantes e na construção de instrumentos letais: alabardas, alabardas, espingardas, espingardas. Soa também de forma irônica, pois sabemos que nas guerras modernas não se matam homens como antigamente, os mísseis e obuses tornando a morte cada vez mais distante e impessoal, quase científica em sua pretensão cirúrgica.
Indústria da morte
Nos três capítulos que Saramago nos deixou, não há cenas de combate e a guerra não aparece em sua face mais cruel. O que o escritor quer mostrar são os bastidores dessa indústria da morte, ou, mais precisamente, a responsabilidade humana no interior desse universo: o administrador que herdou o empreendimento familiar, a secretária que de forma calculada estende o tempo de espera dos que procuram a direção da empresa, os funcionários do arquivo vivendo como toupeiras nos subterrâneos da Belona S. A.
Mais que isso, Saramago mostra como os personagens se desvencilham dos dramas de consciência que o seu trabalho poderia desencadear. A naturalidade desse processo é aterradora: “Nada que outra pessoa não pudesse fazer”, diz Artur Paz Semedo ao administrador. É nesse terreno insípido que nasce a indiferença e se assentam os pilares sobre os quais o nazismo, o fascismo, o stalinismo e as ditaduras de toda espécie se sustentam.
Contra esse silêncio se insurge Saramago em seu derradeiro escrito, a palavra e o pensamento fazendo frente à barbárie perpetrada pelas guerras. A certa altura da narrativa, incomodado ao assistir a um filme dos anos 30 e saber que operários de Milão haviam sido fuzilados por terem sabotado obuses, Artur Paz Semedo é autorizado a investigar os arquivos da Belona S. A. relativos ao período da guerra civil espanhola.
Vale destacar a forma pela qual o narrador retrata os subterrâneos em que se localiza o arquivo da fábrica onde está enterrado o passado ignoto da empresa. É magistral a caracterização dos personagens que vivem na cave: Arsénio e Sesinando, chefe e assistente, passam os dias em meio a prateleiras carregadas de caixas de papelão cultivando uma relação de distanciamento respeitoso, feito de pequenos gestos e códigos, vicejando entre os dois uma fina e precisa hierarquia, sempre presente, minúscula, indelével. Saramago parece pagar um tributo a Kafka nesse capítulo, compondo um cenário a um só tempo sufocante e respeitoso não bastasse o jogo onomástico contido na designação do chefe da seção (arsênio | arsenal).
Há no livro algumas anotações de trabalho feitas por Saramago durante a escritura da narrativa, que indicam possíveis caminhos para a trama. Como se trata de obra inconclusa, ficamos a nos perguntar se o personagem ficará ou não angustiado ao questionar a finalidade dos artefatos produzidos pela fábrica, se sofrerá consequências ao tomar contato com alguma informação mais contundente que comprometa a empresa ou seus dirigentes ou se vai aquietar-se diante daquilo que porventura descobrir.
O livro vem acompanhado de três ensaios que abordam aspectos da narrativa interrompida e da obra de Saramago.
O primeiro ensaio, do escritor espanhol Fernando Gómez Aguilera, explora a habilidade do autor português em refletir sobre a banalização do mal.
O escritor e jornalista italiano Roberto Saviano (autor de Gomorra) explora correlações entre a encruzilhada em que parece meter-se o pacato personagem de Saramago e casos de perseguição a jornalistas em várias partes do mundo por investigarem o tráfico de drogas e o comércio de armas.
Já o antropólogo e cientista político brasileiro Luiz Eduardo Soares mostra como a interrupção da redação da narrativa pela morte do autor instaura uma espécie de jogo de espelhos durante a leitura:
Eis o autor diante de nós, imprescindível, evocando, involuntariamente, sua falta por meio do narrador que se esquiva, mas acena e promete, e de novo põe-se a retirar-se, estendendo ainda um pouco o fio de voz, numa emocionante e hipnótica coreografia em espiral, até o abismo.
As ilustrações são do escritor Günter Graas e foram extraídas de uma obra publicada em 2013 na Alemanha — os traços negros e cinzas instauram um diálogo intenso com a narrativa, a paisagem sombria e desolada devastada pela guerra.
Ao que parece as gravuras do romancista alemão não foram feitas especialmente para o livro, mas isso não tem importância: poderiam muito bem retratar o morticínio atual em que o mundo se lança na África, no Oriente Médio e em outras latitudes."

"Ovídio Poli Junior, é escritor e doutor em literatura brasileira pela USP. Ministra oficinas de criação literária e mora em Paraty (RJ). É curador da Off Flip das Letras e editor do Selo Off Flip."

Manifesto "Não ao Desemprego" publicado no livro/blog "Caderno" (10 de Novembro de 2009)

Pode ser consultado e lido, aqui
em http://caderno.josesaramago.org/61468.html

"Não ao Desemprego"
"Diante das manifestações que se estão preparando em toda a Europa, de protesto contra o desemprego, escrevi, a pedido de um grupo de sindicalistas, o texto que a seguir se reproduz.
Não ao Desemprego
A gravíssima crise económica e financeira que está convulsionando o mundo traz-nos a angustiante sensação de que chegámos ao final de uma época sem que se consiga vislumbrar o que e como será o que virá de seguida.Que fazemos nós, que assistimos, impotentes, ao avanço esmagador dos grandes potentados económicos e financeiros, loucos por conquistar mais e mais dinheiro, mais e mais poder, com todos os meios legais ou ilegais ao seu alcance, limpos ou sujos, regulares ou criminais?Podemos deixar a saída da crise nas mãos dos peritos? Não são eles precisamente, os banqueiros, os políticos de máximo nível mundial, os directores das grandes multinacionais, os especuladores, com a cumplicidade dos meios de comunicação social, os que, com a soberba de quem se considera possuidor da última sabedoria, nos mandavam calar quando, nos últimos trinta anos, timidamente protestávamos, dizendo que não sabíamos nada, e por isso nos ridicularizavam? Era o tempo do império absoluto do Mercado, essa entidade presunçosamente auto-reformável e auto-regulável encarregada pelo imutável destino de preparar e defender para sempre e jamais a nossa felicidade pessoal e colectiva, ainda que a realidade se encarregasse de desmenti-lo a cada hora que passava.E agora, quando cada dia aumenta o número de desempregados? Vão acabar por fim os paraísos fiscais e as contas numeradas? Será implacavelmente investigada a origem de gigantescos depósitos bancários, de engenharias financeiras claramente delitivas, de inversões opacas que, em muitos casos, mais não são que massivas lavagens de dinheiro negro, do narcotráfico e outras actividades canalhas? E os expedientes de crise, habilmente preparados para benefício dos conselhos de administração e contra os trabalhadores?Quem resolve o problema dos desempregados, milhões de vítimas da chamada crise, que pela avareza, a maldade ou a estupidez dos poderosos vão continuar desempregados, mal-vivendo temporariamente de míseros subsídios do Estado, enquanto os grandes executivos e administradores de empresas deliberadamente conduzidas à falência gozam de quantias milionárias cobertas por contratos blindados?O que se está a passar é, em todos os aspectos, um crime contra a humanidade e desde esta perspectiva deve ser analisado nos fóruns públicos e nas consciências. Não é exagero. Crimes contra a humanidade não são apenas os genocídios, os etnocídios, os campos de morte, as torturas, os assassinatos selectivos, as fomes deliberadamente provocadas, as contaminações massivas, as humilhações como método repressivo da identidade das vítimas. Crime contra a humanidade é também o que os poderes financeiros e económicos, com a cumplicidade efectiva ou tácita de os governos, friamente perpetraram contra milhões de pessoas em todo o mundo, ameaçadas de perder o que lhes resta, a sua casa e as suas poupanças, depois de terem perdido a única e tantas vezes escassa fonte de rendimento, quer dizer, o seu trabalho.Dizer “Não ao Desemprego” é um dever ético, um imperativo moral. Como o é denunciar que esta situação não a geraram os trabalhadores, que não são os empregados os que devem pagar a estultícia e os erros do sistema.Dizer “Não ao Desemprego” é travar o genocídio lento mas implacável a que o sistema condena milhões de pessoas. Sabemos que podemos sair desta crise, sabemos que não pedimos a lua. E sabemos que temos voz para usá-la. Frente à soberba do sistema, invoquemos o nosso direito à crítica e ao nosso protesto. Eles não sabem tudo. Equivocaram-se. Enganaram-nos. Não toleremos ser suas vítimas. 
José Saramago
a 10 de Novembro de 2009

quinta-feira, 7 de maio de 2015

"Homem novo" post do blog/livro "Caderno"

Faz hoje 6 anos que José Saramago, colocou na roda livre da internet este post, intitulado "Homem Novo". (no livro "O Caderno 2" e no blog "Caderno")
6 anos depois, não sei se a esperança num homem socialmente pacífico e mais evoluído, não seja mais do que uma urgente miragem. 
José Saramago, infelizmente, antecipava-se ao tempo que viria. O nosso futuro foi sempre o seu presente.
José Saramago com a resistente e activista Saharaui Aminatou Haidar
Na morte de Saramago deixou estas palavras 
“El mundo entero es pobre sin José Saramago”

Pode ser consultado e lido aqui 
em http://caderno.josesaramago.org/39728.html

"Homem novo"
"Culturalmente, é mais fácil mobilizar os homens para a guerra que para a paz. Ao longo da história, a Humanidade sempre foi levada a considerar a guerra como o meio mais eficaz de resolução de conflitos, e sempre os que governaram se serviram dos breves intervalos de paz para a preparação das guerras futuras. Mas foi sempre em nome da paz que todas as guerras foram declaradas. É sempre para que amanhã vivam pacificamente os filhos que hoje são sacrificados os pais…

Isto se diz, isto se escreve, isto se faz acreditar, por saber-se que o homem, ainda que historicamente educado para a guerra, transporta no seu espírito um permanente anseio de paz. Daí que ela seja usada muitas vezes como meio de chantagem moral por aqueles que querem a guerra: ninguém ousaria confessar que faz a guerra pela guerra, jura-se, sim, que se faz a guerra pela paz. Por isso todos os dias e em todas as partes do mundo continua a ser possível partirem homens para a guerra, continua a ser possível ir ela destruí-los nas suas próprias casas.

Falei de cultura. Porventura serei mais claro se falar de revolução cultural, embora saibamos que se trata de uma expressão desgastada, muitas vezes perdida em projectos que a desnaturaram, consumida em contradições, extraviada em aventuras que acabaram por servir interesses que lhe eram radicalmente contrários. No entanto, essas agitações nem sempre foram vãs. Abriram-se espaços, alargaram-se horizontes, ainda que me pareça que já é mais do que tempo de compreender e proclamar que a única revolução realmente digna de tal nome seria a revolução da paz, aquela que transformaria o homem treinado para a guerra em homem educado para a paz porque pela paz haveria sido educado. Essa, sim, seria a grande revolução mental, e portanto cultural, da Humanidade. Esse seria, finalmente, o tão falado homem novo." (Quinta-feira, 7 de Maio de 2009)

quarta-feira, 6 de maio de 2015

A morte, a mulher morte, a mulher... "As Intermitências da Morte"


(...) «A morte, porém, esta que se fez mulher, tira da bolsa uns óculos escuros e com eles defende os seus olhos agora humanos dos perigos de um oftalmia mais do que provável em quem ainda terá de habituar-se às refulgências de uma manhã de verão.» (...) Página 190

(...) «Então, apareceu o violoncelista, Ao vê-la, estacou, chegou mesmo a esboçar um movimento de recuo, como se vista de perto, a mulher fosse outra cousa que mulher, algo de outra esfera, de outro mundo, da face oculta da lua.» (...) Página 199

(...) «Ele adormeceu, ela não. Então ela, a morte, levantou-se, abriu a bolsa que tinha deixado na sala e retirou a carta cor violeta. (...) A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras.» (...) Página 214

"As Intermitências da Morte"
Caminho, 1.ª edição

sábado, 2 de maio de 2015

Pedro Gonçalves - "A Pilar até ao último instante" - banda sonora do filme"José & Pilar"


Banda Sonora do filme "José e Pilar" interpretada pela orquestra do Algarve.

Pedro Gonçalves
"A Pilar até ao último instante"

Noiserv - "A Viagem do Elefante", da banda sonora do filme "José & Pilar"


Banda Sonora do filme "José e Pilar" interpretada pela orquestra do Algarve.

Noiserv
"A Viagem do Elefante"

"Carlos Paredes", evocação do mestre da guitarra portuguesa no livro/blog "O Caderno 2"

(Via YouTube, para ser assistido aqui, 

Evocação de José Saramago, a um dos maiores mestres da guitarra portuguesa.
Para ser lido aqui, 

"Carlos Paredes"
"Não o pensava antes, quando escutava a guitarra de Carlos Paredes, mas hoje, recordando-a, compreendo que aquela música era feita de alvoradas, canto de pássaros anunciando o sol. Ainda tivemos de esperar uma década antes que outra madrugada viesse abrir-se para a liberdade, mas o inesquecível tema de Verdes Anos, esse cantar de extática alegria que ao mesmo tempo se entretece em harpejos de uma surda e irreprimível melancolia, tornou-se para nós numa espécie de oração laica, um toque a reunir de esperanças e vontades. Já seria muito, mas ainda não era tudo. O resto que ainda faltava conhecer era o homem de dedos geniais, o homem que nos mostrava como podia ser belo e robusto o som de uma guitarra, e que era, a par de músico e intérprete excepcional, um exemplo extraordinário de simplicidade e grandeza de carácter. A Carlos Paredes não era preciso pedir que nos franqueasse as portas do seu coração. Estavam sempre abertas." (18 de Agosto de 2009)

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Blog/Livro O Caderno 2 - "Poetas e Poesia" post de homenagem a Mario Benedetti, com Prólogo de José Saramago para a música de Tania Libertad "La Vida Ese Paréntesis"

Tania Libertad com Mario Benedetti

Pode ser consultado e lido, aqui em http://caderno.josesaramago.org/41965.html
"Poetas e poesia"
"Não será com todos nem será sempre, mas às vezes acontece o que estamos vendo nestes dias: que, por ter morrido um poeta aparecem, em todo o mundo, leitores de poesia que se declaram devotos de Mario Benedetti e que precisam de um poema que expresse o seu desconsolo e talvez também para recordar um passado em que a poesia teve lugar permanente, quando hoje é a economia que nos impede de dormir. Assim, vemos que de repente se estabelece um tráfico de poesia que deve ter deixado perplexos os medidores oficiais, porque de um continente a outro saltam mensagens estranhas, de factura original, linha curtas que parecem dizer mais do que à primeira vista se crê. Os decifradores de códigos não têm mãos a medir, há demasiados enigmas para decifrar, demasiados abraços e demasiada música acompanhando sentimentos que são demasiados: o mundo não poderia suportar muitos dias desta intensidade emocional, mas tão-pouco, sem a poesia que hoje se expressa, seríamos inteiramente humanos. E isto, em poucas linhas, é o que está sucedendo: morreu Mario Benedetti em Montevideo e o planeta tornou-se pequeno para albergar a emoção das pessoas. De súbito os livros abriram-se e começaram a expandir-se em versos, versos de despedida, versos de militância, versos de amor, as constantes da vida de Benedetti, junto à sua pátria, aos seus amigos, ao futebol e alguns boliches de trago largo e noites mais largas ainda.Morreu Benedetti, esse poeta que soube fazer-nos viver os nossos momentos mais íntimos e as nossas raivas menos ocultas. Se com os seus poemas saímos à rua – lado a lado somos muito mais que dois –, se lendo “Geografias”, por exemplo, aprendemos a amar um país pequeno e um continente grande, agora, segundo as cartas que chegam à Fundação, recuperaram-se momentos de amor que deram sentido a tempos passados, e quem sabe se presentes. Isso também o devemos a Benedetti, ao poeta que ao morrer fez de nós herdeiros da bagagem de uma vida fora do comum." (19 Maio de 2009)

* Prólogo de José Saramago
(La Vida Ese Paréntesis - Intro - Tania Libertad/Mario Benedetti)

"Tania y Mario: la libertad"*

"No es verdad que el mundo está todo descubierto. El mundo no es sólo la geografía con sus valles y montañas, sus ríos y sus lagos, sus planicies, los grandes mares, las ciudades y las calles, los desiertos que ven pasar el tiempo, el tiempo que nos ve pasar a todos. El mundo es también las voces humanas, ese milagro de la palabra que se repite todos los días, como un corona de sonidos viajando en el espacio. Muchas de esas voces cantan, algunas cantan verdaderamente. La primera vez que oí cantar a Tania Libertad tuve la revelación de las alturas de la emoción a que puede llevarnos una voz desnuda, sola delante del mundo, sin ningún instrumento que la acompañara. Tania cantaba a capella "La paloma" de Rafael Alberti, y cada nota acariciaba una cuerda de mi sensibilidad hasta el deslumbramiento.Ahora Tania Libertad canta a Mario Benedetti, ese gran poeta a quien tan bien le sentaría el nombre de Mario Libertad...Son dos voces humanas, profundamente humanas, que la música de la poesía y la poesía de la música han reunido. De él la palabras, de ella la voz.Oyéndolas estamos más cerca del mundo, más cerca de la libertad, más cerca de nosotros mismos."



Exposição Lanzarote "A Janela de Saramago" em Santo Tirso na Fábrica Santo Thyrso (8/5 a 16/6)


(Capa da obra de João Francisco Vilhena)


Para ser consultado aqui,
em http://www.jornaldoave.pt/index.php/santo-tirso/241-inauguracao-da-exposicao-lanzarote-a-janela-de-saramago

"Fábrica de Santo Thyrso acolhe exposição de fotografia até 16 de junho
A Câmara Municipal de Santo Tirso, inaugura na sexta-feira, dia 8 de maio, pelas 18h30, a exposição Lanzarote a Janela de Saramago, do fotógrafo João Francisco Vilhena. Patente na Fábrica de Santo Thyrso até dia 16 de junho, “Lanzarote a Janela de Saramago” é um diário/caderno de notas sobre o olhar sensorial e apaixonado do escritor, visto e filtrado pelo olhar de um fotógrafo que em 1998 esteve em Lanzarote para o retratar, e que 15 anos depois regressa para capturar novas imagens e sentir o que aquela terra, no meio do oceano, representou para o único prémio Nobel de Literatura da língua portuguesa.
Nos seus diários sobre Lanzarote, em entrevistas e conferências, Saramago declarou o seu amor pela ilha e confessou um imaginário regresso aos lugares da infância perdida. Em Lanzarote um novo homem revela-se e é revelado. “Quantas maneiras haverá de ser feliz? Começo a crer que as conheço a todas.” É essa atmosfera que João Francisco Vilhena retrata e apresenta no seu trabalho. A tranquilidade, refletida nas palavras, a influência da paisagem, a luz e as nuvens, o mar e o silêncio, a temperatura das cores, tudo isso influenciou a escrita e a vida de Saramago. Através das suas imagens João Vilhena procura retratar Lanzarote como uma janela aberta por Saramago. O lugar e sua paisagem como símbolo de uma nova fase; uma nova literatura, uma nova vida, um momento diferente de criação e do homem.
Esta é ainda uma exposição/instalação visual e sonora, composta por fotografias a preto e branco e sépia interagindo com frases de José Saramago. A exposição conta ainda com uma instalação sonora em que ouvimos a voz de José Saramago, integrada numa partitura musical criada para a exposição pelos Cindy Kat. 
A exposição tem entrada gratuita e pode ser vista de segunda a sexta-feira entre as 9h00 e as 18h00, e ao fim de semana entre as 14h00 e as 18h00.
JOÃO FRANCISCO VILHENA nasceu em Lisboa, em 1965.
Trabalhou como fotojornalista e colaborou com diversos jornais e revistas, em Portugal e no estrangeiro, tais como Ler, Elle, Máxima, Marie Claire, Oceanos, Visão, Grande Reportagem, Colóquio-Letras, Der Spiegel, o suplemento cultural DNA e Le Monde. Foi editor fotográfico do semanário O Independente e do semanário Sol, bem como diretor de arte da Tabacaria – revista literária da Casa Fernando Pessoa. Tem realizado diversas exposições em Portugal e no estrangeiro. Assinou vários livros em coautoria. Tem participado como júri em prémios de fotografia."