Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

8 de Janeiro de 1995 - "Cadernos de Lanzarote III"

"Há tempos prometi a Lakis Proguidis, para o seu L'atelier du roman, um ensaio sobre Ernesto Sábato, para o qual até já dispunha de título, uma vez que, como é minha incorrigível tineta, baptizo sempre a criança antes de ela ter nascido. Chamar-se-ia O Olhar Sobrevivente. O condicional já está aí a dizer que a promessa não chegou a ser cumprida. Talvez regresse um dia a esse projecto, mas nunca antes de me libertar da legião de cegos que me rodeia. Aliás, é bem possível que o título me tenha vindo, por desconhecidos caminhos, daquele «olhar sobrevivente» que, em sentido literal, existe no Ensaio sobre a Cegueira. Isso e, por diferentes vias, o Informe sobre Cegos do mesmo Sábato (onde o número de cegos não conta comparado com os do Ensaio...), é o que provavelmente me terá levado ao título desse outro «ensaio» que ficou por escrever." (...) 

#ContinuarSaramago
#DiáriosDeLanzarote

José Saramago com Ernesto Sábato

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