Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

8 de Janeiro de 1997 - "Cadernos de Lanzarote V"

"Leio (...) que o retrato do primeiro-ministro António Guterres vai ser colocado nas paredes das repartições públicas do país. Pensava eu que nos havíamos curado destas demonstrações iconográficas depois de tantos anos a aturar deus-pátria-família e seus derivados, com o sábio varão de Santa Comba a fiscalizar do alto os impostos que pagávamos à boca do cofre ou com juros de mora, sob a presidência, conforma as épocas e mandatos, do bigode mosqueteiro de Carmona, do ar de quero-mas-não-posso de Craveiro Lopes, da expressão transcendentalmente estúpida de Américo Tomás..." (...) 

#ContinuarSaramago
#DiáriosDeLanzarote

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