Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 1 de março de 2016

Citador #41 - Os livros e as noites na Biblioteca do Palácio Galveias

Sala de estudo na Biblioteca do Palácio Galveias

(...) "Não tive um livro meu até os dezoito anos e, mesmo assim, os livros que tive, os que comprei, comprei com o dinheiro que um colega mais velho que eu me emprestou. Creio que foram uns trezentos escudos, o que equivaleria a umas 250 pesetas [um euro e cinquenta centavos]. Com isso pude comprar alguns livros. Antes, eu já havia lido muitíssimo nas bibliotecas públicas, lia de noite. Depois de jantar ia andando, apesar de ficar longe de casa, até a Biblioteca do Palácio Galveias, e até a hora de fechar lia tudo o que podia, sem nenhuma orientação, sem ninguém que me dissesse se aquilo era muito ou pouco para mim. Lia tudo o que me parecia interessante. Os nossos autores eu conhecia pelas aulas, mas tudo o que tinha a ver com autores de outros países, nada, não tinha a menor ideia, mas depois você vai se dando conta de que existe um senhor que se chama Balzac e outro Cervantes, et cetera. Pouco a pouco ia entrando por esse bosque e encontrava frutos que depois fui assimilando, cada um à sua maneira." (...)

Juan Arias
"José Saramago: O amor possível", Barcelona, Planeta, 1998

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