Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Sugestão de Leitura "José Saramago: Tudo, Provavelmente são Ficções; Mas a Literatura é Vida" de Eula Pinheiro



"José Saramago: tudo, provavelmente, são ficções; mas a literatura é vida" 
Eula Pinheiro
Musa Editora - 2012

A sugestão de leitura, que aqui apresento, é uma obra da autoria da Dra. Eula Carvalho Pinheiro, académica e entusiasta estudiosa sobre a temática "Saramaguiana". A Presidenta, da Fundação José Saramago (onde a obra se apresenta à venda), Pilar del Río, prefacia o livro, de onde considera que: -  "Eula Carvalho, que escreveu um livro indispensável para os que amam a obra de Saramago, ou seja, ao autor que construiu a realidade à base de ficções que nos fortalecem e dignificam."

Sandra Dias, do site http://canelaehortela.com, apresentou o livro desta forma:
"Eula Carvalho Pinheiro investiga esta viagem de Saramago, dialoga com o autor para descobrir que talvez ele não tivesse razão quando fez da sua obra um antes e um depois, parece dizer-lhe que todas as suas ficções, toda a sua vida, são a descrição da pedra porque ela é a matéria mais sólida da qual se ergue a realidade que somos. As ficções e os seres humanos que as lemos. Disto trata Eula Carvalho, que escreveu um livro indispensável para os que amam a obra de Saramago, ou seja, ao autor que construiu a realidade à base de ficções que nos fortalecem e dignificam.
Estas são as palavras de Pilar del Río no prefácio do livro de Eula Carvalho Pinheiro José Saramago: tudo, provavelmente, são ficções; mas a literatura é vida, editado pela Musa Editora e disponível agora na Fundação José Saramago.
Segundo as palavras da autora em entrevista ao jornal Tribuna de Minas na altura do lançamento do livro no Brasil, em Dezembro de 2012. “O meu compromisso é mostrar a coerência de José”.  Nesta obra, feita no âmbito do mestrado concluído em 1993, Eula Pinheiro debruça-se sobre sete livros de José Saramago, entre o Manual de Pintura e Caligrafia e a História do Cerco de Lisboa. Embora Evangelho segundo Jesus Cristo tenha surgido entretanto, Eula não considerou esse livro por ter sido publicado muito próximo da conclusão do estudo. Como sublinha na introdução, dois factos essenciais ocorreram entretanto – o Prémio Nobel da Literatura, em 1998, e a morte do escritor, em 2010.
Em Agosto de 2010, a investigadora conheceu Pilar del Río no Brasil e desde então deslocou-se várias vezes a Portugal e também a Lanzarote. Desenvolve actualmente um trabalho de doutoramento sobre a obra não ficcional de José Saramago.
Domingos Lobo, responsável pelo posfácio, escreve que “Há nesta iinterpretação de Eula Carvalho Pinheiro, nesta certeza certa que só a literatura inscreve em nossos imaginários, uma releitura sagaz e oportuna sobre os objectos, os eixos estruturantes da bagagem metafórica e intáctica de José Saramago: ler este mundo sem preconceitos, descomplexadamente, eis o que faz a autora neste brilhante livro. Apetece voar de novo, atrelado a esta análise, feita de rigor e objectividade, pelos textos de Saramago e redescobrir neles, com redobrado prazer, as determinantes que este estudo configura e expressa.”
A obra, editada pela Musa Editora, foi lançada no mercado brasileiro em Dezembro de 2012 e está agora disponível na loja da Fundação José Saramago, na Casa dos Bicos... " (9 de Maio de 2013)




(imagem da sessão de apresentação da obra, 
"José Saramago: tudo, provavelmente, são ficções; mas a literatura é vida"
na sede da Fundação José Saramago, na Casa dos Bicos)

A Musa Editora, que publicou o livro, apresenta a autora e o livro, assim:
"José Saramago: tudo, provavelmente, são ficções; mas a literatura é vida analisa a primeira fase da obra saramaguiana, a fase “estátua”: do romance Manual de pintura e caligrafia à História do Cerco de Lisboa. Para Pilar Del Río é “livro indispensável para os que amam a obra de Saramago, ou seja, ao autor que construiu a realidade à base de ficções que nos fortalecem e dignificam.”

Sumário da obra:
Prefácio Pilar del Río | Apresentação Eula Pinheiro

Traçando um caminho
Manual de Pintura e Caligrafia: ponto de partida
O diálogo com a literatura
“Todos os caminhos portugueses vão dar a Camões”
“O poeta é um fingidor”: o jogo intertextual e o texto como construção
O diálogo com a Bíblia
O diálogo com a tradição oral
Saramago conversa com Saramago
História do Cerco de Lisboa: “toda a verdade é ficção” .

Posfácio Domingos Lobo | Bibliografia | Lista de obras de José Saramago e abreviaturas | Caderno de fotos (em cores)

Eula Pinheiro, a autora

Eula Carvalho Pinheiro nasceu em Paraíba do Sul, RJ. Graduou-se em Letras pela Universidade Federal de Juiz de Fora –UFJF, Mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Há 27 anos lê a obra de José Saramago. É, no momento, investigadora de doutoramento em Lisboa: acolhida pela Fundação José Saramago. Cursa o doutoramento na Universidade Nova de Lisboa. Colabora com a Fundação José Saramago com o objetivo e a vontade de levar adiante o estudo da obra saramaguiana e sua consequente divulgação a todas as pessoas que desejarem conhecer a escrita e a vida de José Saramago."



O "Estadão" publicou a crónica sobre esta matéria e que o site da Musa Editora, reproduz. Aqui, o respectivo link, do através site da editora.

"Eula Pinheiro não transformou a dissertação de mestrado que fez sobre a obra de José Saramago em livro assim que a apresentou na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1993. Tampouco aproveitou o fato de seu objeto de estudo ter conquistado o Prêmio Camões em 1995 ou o Nobel em 1998. A morte dele em 2010 também não a fez apertar o passo. E não foi por falta de editora.
Ana Cândida ainda trabalhava em uma grande casa em meados dos anos 90 quando conheceu o trabalho de Eula. Gostou tanto que resolveu guardar para a Musa, sua editora que começava a caminhar, a ideia de publicá-lo. Mas também não o fez.
O ano de 2011 foi decisivo para que esse projeto saísse da gaveta e abrisse espaço para uma série de outras ideias que a pesquisadora pretende colocar em prática quando estiver reestabelecida em Lisboa, cidade onde passou a maior parte do ano passado e que foi responsável pela mudança do vento.
Foi nesse período que ela pode se aproximar de Pilar Del Río, a viúva de José Saramago, e conviver com as pessoas que o cercavam. Participou de importantes momentos relacionados à memória dele: a abertura da biblioteca da casa de Lanzarote, a pré-estreia de José e Pilar no Rio e a deposição de suas cinzas na oliveira da Casa dos Bicos, que abrigará a Fundação Saramago, em Lisboa. Toda essa dedicação está para ser recompensada com uma mesinha com vista para o Tejo nessa mesma fundação.
Enquanto isso não acontece, Eula se ocupa com a edição de José Saramago - Tudo, Provavelmente, São Ficções; Mas a Literatura É Vida, prevista para abril. No bairro de Perdizes, em São Paulo, editora e autora se encontram na nova sede da Musa para discutir o projeto gráfico e selecionar as imagens. Eula trouxe muitas fotografias de Portugal – das viagens que fez pelas rotas saramaguianas e dos eventos de que participou. Elas devem vir em um caderno e serão alternadas com citações dos romances estudados. A capa foi feita por Raquel Matsushita a partir da tela O Dia Seguinte, do artista plástico português Júlio César – ele também um fã de Saramago.

Há 26 anos acompanhando a trajetória do escritor, a pesquisadora analisou, em sua dissertação transformada agora em livro, os cinco primeiros romances publicados no Brasil - Levantado do Chão, Memorial do Convento, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Jangada de Pedra e História do Cerco de Lisboa -, e a edição portuguesa de Manual de Pintura e Caligrafia, livro que só seria lançado no País às vésperas da defesa da tese. Outro romance chegou ao País quando Eula concluía o trabalho, mas acabou ficando de fora: O Evangelho Segundo Jesus Cristo, um dos mais polêmicos dele.
Essas sete obras pertencem à fase que o próprio autor chamou de estátua. O que veio depois pertence à fase pedra, ou universal. “José Saramago, sendo já autor de uma vasta obra, deu-se conta de que até O Evangelho Segundo Jesus Cristo tinha estado empenhado em descobrir a estátua, mas que a partir de Ensaio Sobre a Cegueira o seu interesse era outro, tratava-se de descrever a pedra de que a estátua é feita”, escreve Pilar no prefácio.
Eula explica: “A fase estátua é o trabalho com a pedra, ou seja, a abordagem de temas locais e particulares. Memorial do Convento conta a história da construção do convento de Mafra no século 18. Levantado do Chão aborda toda a problemática de um país agrícola na ditadura do século 20. Depois vem Jangada de Pedra e a questão do iberismo. Já em O Ano da Morte de Ricardo Reis, o tema é Fernando Pessoa”. Nas obras posteriores, ele trabalha com a pedra, que é a essência da estátua. “Mas no fim tudo foi pedra porque ele sempre falou do homem”, reavalia.
A ideia da divisão de sua obra em fases não é muito difundida no Brasil, analisa a autora. Saramago usou a expressão pela primeira vez em um discurso que fez em Turim. Improvisada, essa fala foi transcrita em Portugal para voltar a Turim, para as mãos da artista Luciana Stegagno Picchio, que produziu 126 exemplares da peça A Estátua e a Pedra."


"No dia 29 de Junho comemorou-se o 4.º aniversário da Fundação José Saramago com uma leitura pública do livro "Palavras para José Saramago", que recolhe os textos publicados por todo o mundo nos dias que se seguiram à morte de José Saramago. - Leitura de Eula Pinheiro"


"O percurso da leitura feito por Eula não foi totalmente cronológico. “Eu havia lido do Levantado até História do Cerco de Lisboa e pensei que se o Manual de Pintura e Caligrafia trouxesse as respostas às perguntas que estava a fazer-me, fecharia o meu trabalho. Ali, vi que ele já antecipava questões que viria a tratar até a última linha escrita, e conclui minha tese.” O livro que clareou as ideias da pesquisadora é de 1976 e foi o primeiro da nova fase de Saramago, que já tinha lançado, em 1947, Terra do Pecado.
O escritor Domingos Lobo destaca, no posfácio, a análise que Eula faz desse romance antigo, “um dos menos amados de Saramago”, e o que nele encontra: o jogo intertextual e com as derivantes da sabedoria popular, a tradição oral, as componentes metonímicas, a herança dos campos semânticos, o sentido humano da literatura e a sua ligação com as outras artes, o mágico e o fantástico e o sentido de que toda a verdade é ficção. A memória do ouvido e do vivido, o cotidiano das pessoas comuns e os pequenos acontecimentos já estão nesse primeiro livro e serão vistos nos seguintes.
“A metáfora que fiz em 1990, que foi algo de bastante vanguarda pelo que disseram depois, foi a da construção. Coloquei o Manual de Pintura e Caligrafia como alicerce, os quatro outros romances como paredes e numa laje, com a possibilidade de novas paredes, o História do Cerco de Lisboa. Deixei isso preparado. Claraboia completou a casa”, diz referindo-se ao romance escrito por Saramago aos 30 anos e que só foi publicado em 2011.
Com seu livro lançado e divulgado, Eula mergulha em outros projetos. As rotas saramaguianas, por exemplo, que começou a percorrer no ano passado, devem virar livros infantis em que a autora mostrará os cenários onde Saramago situa suas histórias. E o doutorado, sobre a obra não ficcional do escritor, deve ser transferido da PUC do Rio para alguma universidade lisboeta. O título provisório é O Intelectual se Levanta no Silêncio do Mundo para Intervir na Realidade."

De Eula Pinheiro, pode também ser consultada, outra matéria de estudo e análise, neste caso sobre a obra "Ensaio sobre a Cegueira", na Revista Blimunda (edição digital), de Fevereiro de 2014 - N.º 21
Páginas 60 a 69



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