Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quarta-feira, 29 de abril de 2015

A pedra, seu interior e o caminho da descoberta ou lucidez... em Raul Brandão e José Saramago

(...) "A pedra depois de talhada é uma expressão. Entro na catedral. Silêncio e um cheirinho a floresta apodrecida. As lajes estão gastas de um lado pelos passos dos vivos, do outro pelo contacto dos mortos. Tudo aqui gira em torno da mesma ideia. A pedra esboroa-se, mas eu contemplo-a viva, com um povo de estátuas em cima, com um povo de mortos em baixo. Nos alicerces uma geração, outra geração, todos apodrecendo juntos na mesma terra misturada e revolvida. A parte exterior é maravilhosa, a parte subterrânea e mais maravilhosa ainda. É a única raiz que a conserva intacta." (...)
em "Húmus" de Raul Brandão, publicado em 1917

Existe aqui um paralelo, na interpretação e busca da lucidez. A "pedra", como elemento exterior, material e matéria, mas também, o que protege o "interior".

(...) "Com este livro terminou a estátua. A partir de "O Evangelho segundo Jesus Cristo", e isto sei-o agora que o tempo passou, começou outro período da minha vida de escritor, no qual desenvolvi novos trabalhos com novos horizontes literários, dispondo portanto de elementos de juízo suficientes para afirmar com plena convicção que houve uma mudança importante no meu ofício de escrever. Não falo da qualidade, falo de perspectiva. É como se desde o "Manual de Pintura e Caligrafia" até a "O Evangelho segundo Jesus Cristo", durante catorze anos, me tivesse dedicado a descrever uma estátua. O que é a estátua? A estátua é a superfície da pedra, o resultado de tirar pedra da pedra. Descrever a estátua, o rosto, o gesto, as roupagens, a figura, é descrever o exterior da pedra, e essa descrição, metaforicamente, é o que encontramos nos romances a que me referi até agora. Quando terminei "O Evangelho" ainda não sabia que até então tinha andado a descrever estátuas. Tive de entender o novo mundo que se me apresentava ao abandonar a superfície da pedra e passar para o seu interior, e isso aconteceu com "Ensaio sobre a Cegueira". Percebi, então, que alguma coisa tinha terminado na minha vida de escritor e que algo diferente estava a começar." (...)
em "A estátua e a pedra" de José Saramago
Fundação José Saramago, 2013
Páginas 33 e 34

"Leituras para o Verão" Post com sugestões de leitura no blog/livro (10/09/2009)

(do meu espólio, três obras mencionadas)

Pode ser consultado e lido, aqui
em http://caderno.josesaramago.org/51374.html

"Leituras para o Verão"
"Com os primeiros calores, já se sabe, é fatal como o destino, jornais e revistas, e uma vez por outra alguma televisão de gostos excêntricos, vêm perguntar ao autor destas linhas que livros recomendaria ele para ler no Verão. Tenho-me furtado sempre a responder, porquanto considero a leitura actividade suficientemente importante para dever ocupar-nos durante todo o ano, este em que estamos e todos os que vierem. Um dia, perante a insistência de um jornalista teimoso que não me largava a porta, resolvi ladear a questão de uma vez por todas, definindo o que então chamei a minha “família de espírito”, na qual, escusado será dizer, faria figura de último dos primos. Não foi uma simples lista de nomes, cada um deles levava a sua pequena justificação para que melhor se entendesse a escolha dos parentes. Incluí nos Cadernos de Lanzarote a imagem final da “árvore genealógica” que me tinha atrevido a esboçar e repito-a aqui para ilustração dos curiosos. Em primeiro lugar vinha Camões porque, como escrevi em O Ano da Morte de Ricardo Reis, todos os caminhos portugueses a ele vão dar. Seguiam-se depois o Padre António Vieira, porque a língua portuguesa nunca foi mais bela que quando a escreveu esse jesuíta, Cervantes, porque sem o autor do Quixote a Península Ibérica seria uma casa sem telhado, Montaigne, porque não precisou de Freud para saber quem era, Voltaire, porque perdeu as ilusões sobre a humanidade e sobreviveu ao desgosto, Raul Brandão, porque não é necessário ser um génio para escrever um livro genial, o Húmus, Fernando Pessoa, porque a porta por onde se chega a ele é a porta por onde se chega a Portugal (já tínhamos Camões, mas ainda nos faltava um Pessoa), Kafka, porque demonstrou que o homem é um coleóptero, Eça de Queiroz, porque ensinou a ironia aos portugueses, Jorge Luis Borges, porque inventou a literatura virtual, e, finalmente, Gogol, porque contemplou a vida humana e achou-a triste.Que tal? Permitam-me agora os leitores uma sugestão. Organizem também a sua lista, definam a “família de espírito” literária a que mais se sentem ligados. Será uma boa ocupação para uma tarde na praia ou no campo. Ou em casa, se o dinheiro não deu para férias este ano." 
(10 de Julho de 2009)

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Primeira pedra para a constituição da "Cátedra José Saramago" na Universidade Vigo (Galiza / Espanha)

(Reitor Salustiano Mato e Pilar del Río na assinatura do acordo)

Notícia via Fundação José Saramago, aqui

"Realizou-se hoje na Universidade de Vigo a assinatura de um protocolo de colaboração com a Fundação José Saramago, formalizando a constituição da Cátedra com o nome do Prémio Nobel português que arrancará em pleno nos próximos meses.
Fruto de uma proposta dos Professores Burghard Baltrusch e Carlos Nogueira, o convénio hoje assinado pelo reitor Salustiano Mato e por Pilar del Río dá início a um trabalho conjunto entre as duas entidades em torno dos múltiplos signficados do pensamento e da obra de José Saramago."

e através do site informativo da Universidade de Vigo ( http://www.uvigo.es/ )

"Universidade e Fundação José Saramago asinaron un primeiro convenio de colaboración
Primeira pedra para a constitución en Vigo da Cátedra José Saramago
Pilar del Río lembra en Vigo a “devoción” do Premio Nobel de Literatura por Galicia e os seus autores

A constitución en Vigo dunha Cátedra José Saramago é aínda un proxecto, pero a sinatura este luns dun primeiro convenio de colaboración entre a Universidade de Vigo e a Fundaçao José Saramago pon a pedra de arranque a unha iniciativa que ambas institucións agardan se converta en realidade nos vindeiros meses, tal e como subliñaron tras a sinatura do acordo, o reitor vigués, Salustiano Mato, e a presidenta da Fundaçao José Saramago, Pilar del Río, tradutora e viúva do Premio Nobel, que acudiu a Vigo acompañada do director xeral da fundación, Sérgio Machado.

“Con este acordo comeza un proxecto moi bonito e engaiolante, un proxecto de apoio mutuo e traballo a prol da difusión de todo o que significa a figura e a obra de José Saramago”, explicou tras a sinatura do acordo Salustiano Mato, que puntualizou que o obxectivo do convenio é regular a colaboración entre ambas institucións, aspecto no que tamén fixeron fincapé os profesores Burghard Baltrusch, director de Departamento de Filoloxía Galega e Latina, e Carlos Nogueira, dous dos principais impulsores da iniciativa, que asistiron tamén á sinatura do convenio no despacho do reitor.

Un autor universal con estreita relación con Galicia
“José Saramago practicaba devoción por algúns autores de Galicia, sobre todo polos seus poetas e aquí tiña moi bos amigos”, apuntou Del Río, que asinou o acordo cunha das plumas que empregaba o Premio Nobel e que aproveitou a súa visita ao campus de Vigo para lembrar que a primeira parada de Saramago tras recoller o Premio Nobel en Estocolmo no 1998 foi Santiago de Compostela, pois non quixo deixar de asistir ao enterro dun dos seus grandes amigos, Gonzalo Torrente Ballester. “Alí viviu con tristura a despedida ao amigo e emocionouse escoitando a interpretación do poema Negra Sombra de Rosalía de Castro que fixo o gaiteiro Carlos Núñez na cerimonia”, subliñou a presidenta da fundación, que lembrou que nesta ocasión José lle comentara “así merece a pena morrer” e por iso cando, ao cumprirse o primeiro aniversario da súa morte en xuño de 2011, as súas cinzas foron depositadas ao pé dunha oliveira centenaria, traída do seu pobo natal e transplantada no Campo das Cebolas fronte á Fundación José Saramago Casa dos Bicos en Lisboa, “varios gaiteiros interpretaron esta peza”.

A relación con Torrente Ballester foi só un dos múltiples exemplos que se puxo sobre a mesa á hora de lembrar a estreita relación do Nobel portugués con Galicia, lugar que visitara en numerosas ocasións, entre outras para participar nun Congreso de Literatura Comparada organizado pola profesora da Universidade de Vigo Carmen Becerra “outra boa amiga que tiña nesta terra e colaboradora habitual da fundación”, recalcou Del Río, que informou tamén de que na actualidade hai cátedras dedicadas ao estudo da obra deste autor nos cinco continentes.

Posta en marcha de múltiples proxectos conxuntos
A sinatura deste primeiro convenio de colaboración vai facilitar o desenvolvemento de proxectos de divulgación social e de transferencia do coñecemento, así como a organización e realización de todo tipo de actividades de divulgación, difusión e promoción da figura e da obra deste autor, tales como cursos, conferencias, simposios ou seminarios, así como o intercambio e colaboración en todo tipo de proxectos culturais e literarios e/ou sociais de interese común. 

“O noso gran obxectivo é o estudo e a difusión da obra deste autor”, subliñou Burghard Baltrusch, que resaltou a importancia de fortalecer as relacións entre Portugal e Galicia a partir das ideas de José Saramago. “De conseguir pór en marcha a cátedra unha das primeiras cousas que faríamos sería pór en valor todo aquilo que trae consigo a figura e a obra de Saramago para Galicia, por un lado, pero tamén para o mundo lusófono e, de forma aínda máis xeral, para o contexto da cultura peninsular”, explicou o director do Departamento de Filoloxía Galega e Latina, que recalcou que a cátedra estaría ligada á posta en marcha de múltiples actividades relacionadas coa promoción da lingua, a literatura e a cultura portuguesas.

Clúster en humanidades
Segundo explicou o reitor vigués tras a sinatura, este proxecto de colaboración nace ao calor do recentemente creado clúster en humanidades. “Se ben o campus de Vigo está especializado no mundo da tecnoloxía isto non significa que teñamos que descoidar a investigación humanística”, recalcou Mato, ao tempo que fixo fincapé en que este tipo de proxectos contribúen de xeito importante á internacionalización da Universidade “pois a posta en marcha da cátedra suporá tamén multiplicar todas as posibilidades de cooperación intelixente que poidamos ter co resto de institucións que dende outros países tamén teñen as súas propias cátedras Saramago”.


Assinalando também as presenças de Sérgio Letria (director geral da Fundação José Saramago), 
e dos professores Burghard Baltrusch e Carlos Nogueira

sábado, 25 de abril de 2015

25 de Abril de 1974... Três visões da revolução dos cravos nas obras de José Saramago


"Levantado do Chão"

(...) «Todos os dias são iguais, e nenhum se parece. Pelo meio da tarde chegaram à vinha notícias que desassossegaram o pessoal, ninguém tinha certezas do que tivesse sido, Diz-se que há tropas em Lisboa, ouvi na rádio» (...) «Em dois tempos se desfez o ritmo do trabalho, a cadência da enxada passou a ser vergonhosa distracção, e Maria Adelaide não é menos que os outros, está de nariz levantado, curiosa» (...) «Neste lugar do latifúndio, tão longe do Carmo de Lisboa, não se ouviu um tiro nem anda gente a gritar pelos descampados» (...) « Ah, isso é que é uma revolução.» (...) «A circulação é de lá vem um, faz-se a viagem depressa, e de ansiedades ali mesmo se reduzem as mais instantes, há unanimidade de cobrador, motorista e passageiros, o governo foi a terra, acabou-se o Tomás e acabou-se o Marcelo, neste ponto desfaz-se o acordo geral, não se sabe bem, alguém falou em junta, mas os outros duvidam, junta não é nome de governo, junta é de freguesia» (...)
Caminho, 10.ª edição
Páginas 350 a 352

(Fotografia de Helena Mesquita, 
Avenida da Liberdade - Lisboa, 25 de Abril de 2015)


"A Noite"

"Torres (Exultando)
Aconteceu! Aconteceu! (...) É tudo verdade! Há tropas na Emissora, na Televisão, no Rádio Clube. E o Quartel-General, em S. Sebastião, está cercado. E outros locais, Fora de Lisboa, também. Eu escrevo a notícia. Esperem, é só um bocadinho, vai ser rápido. Eu não demoro... eu não demoro... (...) Pronto já está. Querem ouvir?

Director (Estendendo a mão)
Dê-me isso Torres. Não vai para a tipografia sem que eu veja.

Torres (Como se despertasse)
Não vale a pena, senhor director. Só escrevi o que acabei de dizer. Nem sequer afirmo que as tropas saíram à rua para derrubar o governo. Nem sequer isso, imagine. Esteja descansado. Sei muito bem que o senhor procura um pretexto.

Director (Intimativo)
Ordeno-lhe que me entregue esse papel! Olhe que se arrepende!

Jerónimo (Tirando simplesmente o papel da mão de Torres)
Não se arrepende, não, senhor director. Cuide o senhor de si, que bem vai precisar, (...) Vamos, rapazes. Já ganhámos a nossa noite. (...)

(...)

Todos Juntos (Em tons diferentes)
A máquina já está a andar!

Grupo do Administrador (Começando em surdina e alternado com o grupo de Torres)
Há-de parar! Há-de parar! Há-de parar! Há-de parar!

Grupo de Torres (Mesmo jogo)
Andar! Andar! Andar! Andar! (O ruído da rotativa cresce.)"
Caminho, 2.ª edição
Páginas 112 a 115

(Fotografia, momentos de tensão entre as tropas 
estacionadas no Terreiro do Paço e marinha no Rio Tejo, 25 de Abril de 2015)

"Manual de Pintura e Caligrafia"
"O regime caiu. Golpe militar, como se esperava. Não sei descrever o dia de hoje: as tropas, os carros de combate, a felicidade, os abraços, as palavras de alegria, o nervosismo, o puro júbilo. Estou neste momento sozinho: M. foi encontrar-se com alguém do Partido, não sei onde. Vai acabar a clandestinidade. O meu auto-retrato já esta muito adiantado. Dormíamos em minha casa, M. e eu, quando o Chico, noctívago, telefonou, aos gritos, que ouvíssemos a rádio. Levantámo-nos de um salto (estás a chorar, meu amor?): «Aqui Posto de Comando das Forças Armadas. As Forças Armadas portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa...» Abraçámo-nos (meu amor, estás a chorar), e embrulhados no mesmo lençol, abrimos a janela: a cidade, oh cidade, ainda noite por cima das nossas cabeças, mas já uma claridade difusa ao longe. Eu disse: «Amanhã vamos buscar o António.» M. apertou-se muito contra mim. «E um dia destes dar-te-ei uns papeis que aí tenho. Para leres.» «Segredos?», perguntou ela, sorrindo. «Não, papeis. Coisas escritas.»"
Caminho, 4.ª edição
Página 311


"Diálogos com José Saramago" - Estrutura e capítulos da obra do Prof. Carlos Reis


Estrutura e capítulos da obra do Prof. Carlos Reis

Nota Prévia - apresentação da nova edição (datada de 21 de Setembro de 2014)
(...) " Não termino sem lembrar que este livro não teria sido possível sem a generosa disponibilidade de quem foi um grande escritor e amigo inesquecível." (...) Página 8

Apresentação - apresentação da obra (1998)
(...) "Aos amigos mostra Saramago a sua ilha (com orgulho, revela-me o escritor que oficialmente fizeram dele cidadão honorário de Lanzarote); e justamente não se cansa de chamar a atenção para a convulsiva beleza de um cenário que só visto pode ser razoavelmente apreciado, mas dificilmente entendido..." (...) Página 10

Introdução
"O escritor em contrução"

Diálogo I
"Sobre formação, aprendizagem e profissão do escritor"

Diálogo II
"Sobre a condição do escritor"

Diálogo III
"Sobre a História como experiência"

Diálogo IV
"Sobre o escritor e a linguagem da literatura"

Diálogo V
"Sobre géneros literários"

Diálogo VI
"Sobre a narrativa e romance"

Diálogo VII
"Sobre temas e valores, sentidos e destinos comuns"

Diálogos virtuais

"A Estátua e a Pedra ou a magia das ficções" 
Texto lido na apresentação de "A Estátua e a Pedra", de José Saramago 
(Lisboa, Fundação José Saramago, 7 de Maio de 2013)
Texto do professor/escritor Carlos Reis



A Casa José Saramago en Tías, Lanzarote - "Día del Libro 2015: III Premio de Narrativa José Saramago"

Excelente iniciativa que A CASA JOSÉ SARAMAGO (Tías, Lanzarote) realizou. 
Jovens, leitores, por certo, entusiastas da obra de Saramago, estiveram em concurso.

Aqui de deixa a informação.
Aqui se deixa o testemunho e o orgulho por esta iniciativa.

Bem hajam os que caminham...


“Con la misma vehemencia con que reivindicamos los derechos, reivindiquemos también el deber de nuestros deberes. Tal vez así el mundo pueda ser un poco mejor”. 
José Saramago

"María del Río y Pancho Hernández, alcalde de Tías, junto a las ganadoras del Premio"

Pode ser lido e consultado em
http://acasajosesaramago.com/dia-del-libro-2015-iii-premio-de-narrativa-jose-saramago/

"Qué maravillosa tarde vivimos ayer, Día del Libro, en la entrega de premios del III Concurso de Narrativa José Saramago. La Biblioteca recibió la presencia de profesores y alumnos de 12 de los 14 centros de enseñanza secundaria de la isla, así como de Pancho Hernández, alcalde de Tías, y distintas personalidades políticas y culturales de Lanzarote. Asistimos a dos emocionantes horas de música, poesía y relatos cortos, con especial presencia de las figuras de José Saramago, Gunter Grass y Eduardo Galeano entre los autores homenajeados y el protagonismo de los jóvenes finalistas en las dos categorías del premio, que nos hablaron de sus obras y de sus inquietudes literarias, dejando patente que el futuro de este premio y de la narración corta en la isla está asegurado.

Los finalistas en la categoría de nacidos en 1999 y menores fueron:

Virginia Ardevol. IES Tías
Direy Hernández. IES Teguise
María Teresa Parrila. IES Tías
Olmo Pérez. IES Yaiza
Ania Robayna. EA Pancho Lasso
Los finalistas en la categoría de nacidos a partir del año 2000 fueron:

Zofia Daregowska. Colegio hispánico Británico
Yaiza Llamas. IES San Bartolomé
Jharol Montilla. IES Tías
Idaira Ramírez. IES Tías
Paula Torres. IES Tías

Concurrieron un total de 69 obras a concurso, superando la calidad literaria de las dos ediciones anteriores, según apreció el jurado.

Las galardonadas con el primer premio en sendas categorías fueron Virginia Ardevol, por su relato “El precio de un Ferrari” y Yaiza Llamas, por su relato “El prado de la nostalgia”. ¡Enhorabuena, campeonas!

Nos vemos el año que viene en la cuarta edición del Premio de Narración Corta José Saramago."

quinta-feira, 23 de abril de 2015

"Histórias da Emigração" em "O Caderno 2"... tão actual em 2015 como em 2009

Barco com emigrantes à chegada da ilha de Lampedusa (2011) 
Fotografia: Ettore Ferrari/EPA

No seu livro/blog, "O Caderno 2", José Saramago escreveu este texto, hoje tão actual como cruel, na expressão mais severa que o ser humano, na sua condição de sobrevivência pode sofrer. Fugir da morte para morrer. 
Os cartéis e máfias, que a troco de fortunas, obrigam os que pretendendo escapar do "inferno local", desfazem-se dos seus poucos haveres e compram, literalmente, uma ida para outro inferno.
O Mediterrâneo é um mar de morte e de corpos afogados.
Neste momento, a comunicação social ocidental e os políticos da UE, retratam e abordam este flagelo com a leviandade da coisa natural que acontece com gente de outra condição de existência.
Os que ficam na sua terra natal, que sem nada para poder vender não chegam a poder adquirir um destes bilhetes trágicos, ficam entregues às sortes da morte. Os que embarcam, em barcos super lotados e de uma fragilidade assustadora, são enviados ao engano que a morte, quase certa, os bafejará. 

Pode ser lido aqui,

"Histórias da emigração"
"Que atire a primeira pedra quem nunca teve nódoas de emigração a manchar-lhe a árvore genealógica… Tal como na fábula do lobo mau que acusava o inocente cordeirinho de lhe turvar a água do regato onde ambos bebiam, se tu não emigraste, emigrou o teu pai, e se o teu pai não precisou de mudar de sítio foi porque o teu avô, antes dele, não teve outro remédio que ir, de vida às costas, à procura do pão que a sua terra lhe negava. Muitos portugueses morreram afogados no rio Bidassoa quando, noite escura, tentavam alcançar a nado a margem de lá, onde se dizia que o paraíso de França começava. Centenas de milhares de portugueses tiveram de submeter-se, na chamada culta e civilizada Europa de além-Pirinéus, a condições de trabalho infames e a salários indignos. Os que conseguiram suportar as violências de sempre e as novas privações, os sobreviventes, desorientados no meio de sociedades que os desprezavam e humilhavam, perdidos em línguas que não podiam entender, foram a pouco e pouco construindo, com renúncias e sacrifícios quase heróicos, moeda a moeda, centavo a centavo, o futuro dos seus descendentes. Alguns desses homens, algumas dessas mulheres, não perderam nem querem perder a memória do tempo em que tiveram de padecer todos os vexames do trabalho mal pago e todas as amarguras do isolamento social. Graças lhes sejam dadas por terem sido capazes de preservar o respeito que deviam ao seu passado. Outros muitos, a maioria, cortaram as pontes que os ligavam àquelas horas sombrias, envergonham-se de terem sido ignorantes, pobres, às vezes miseráveis, comportam-se, enfim, como se uma vida decente, para eles, só tivesse começado verdadeiramente no dia felicíssimo em que puderam comprar o seu primeiro automóvel. Esses são os que estarão sempre prontos a tratar com idêntica crueldade e idêntico desprezo os emigrantes que atravessam esse outro Bidassoa, mais largo e mais fundo, que é o Mediterrâneo, onde os afogados abundam e servem de pasto aos peixes, se a maré e o vento não preferiram empurrá-los para a praia, enquanto a guarda civil não aparece para levantar os cadáveres. Os sobreviventes dos novos naufrágios, os que puseram pé em terra e não foram expulsos, terão à sua espera o eterno calvário da exploração, da intolerância, do racismo, do ódio à pele, da suspeita, do rebaixamento moral. Aquele que antes havia sido explorado e perdeu a memória de o ter sido, explorará. Aquele que foi desprezado e finge tê-lo esquecido, refinará o seu próprio desprezar. Aquele a quem ontem rebaixaram, rebaixará hoje com mais rancor. E ei-los, todos juntos, a atirar pedras a quem chega à margem de cá do Bidassoa, como se nunca tivessem eles emigrado, ou os pais, ou os avós, como se nunca tivessem sofrido de fome e de desespero, de angústia e de medo. Em verdade, em verdade vos digo, há certas maneiras de ser feliz que são simplesmente odiosas." (17 de Julho de 2009)

Blimunda #35 - Abril 2015 - Revista Digital para descarregar gratuitamente

Capa da edição de Abril (#35)

Link para aceder à edição e descarregar gratuitamente,

Sinopse via Fundação José Saramago

"Precisamente três anos depois do arranque da revista da Fundação José Saramago, a 23 de abril de 2012, e para assinalar o Dia Mundial do Livro, é hoje publicada a edição # 35 da Blimunda.

Neste mês de abril, as perdas impõe-se e é preciso falar delas. O editorial da revista é dedicado a esses finais que são começos, como afirmou uma vez vez Eduardo Galeano, um dos grandes que partiu nos últimos dias e que nos deixará muitas saudades. Nas Leituras do Mês, Gunter Grass, Manoel de Oliveira, Galeano, François Maspero e Herberto Helder são recordados, publicando-se também deste último um conjunto de poemas escolhidos por Manuel Gusmão, Gustavo Rubim, Rita Taborda Duarte, Manuel Frias Martins e Manuel Alberto Valente.

Mas há muito mais nesta edição 35 da revista. 
A Blimunda esteve no Festival Rota das Letras, em Macau, e trouxe de lá uma conversa com Murong Xuecun, que nos conta como é ser um escritor na China dos dias de hoje. Viajámos também até Aveiro para acompanhar a The Child and Book Conference, este ano dedicado à análise de temas fracturantes neste género literário.

Em Lisboa, vimos e ouvimos a 13ª edição da Festa do Jazz do São Luiz, num dossier que inclui uma entrevista com o músico Carlos Martins, director artístico da Festa, e um texto do músico Matt Pavolka que, em 2008 actuou no São Luiz apresentando um tema composto a partir da última frase do primeiro capítulo de Ensaio sobre a Cegueira.

A propósito do centenário da revista Orpheu, esse acontecimento marcante para a arte e para a literatura do século XX, a Blimunda reproduz algumas páginas do número 3 da publicação, que nunca chegou a ser impresso.

Recuperamos também um texto de Pilar del Río, escrito no ano 2000, que fala sobre o modo como Sebastião Salgado vê e retrata o mundo.

Por fim, mas não menos importante, a secção Saramaguiana publica as palavras de Ondjaki e Adriana Lisboa ditas em Washington no mês passado, no tributo a José Saramago, integrado no Festival Iberian Suite.

Feliz Dia Mundial do Livro e boas leituras!"


(Editorial da edição)


quarta-feira, 22 de abril de 2015

Concerto "A Viagem do Elefante" de Luís Pastos e Trigo Limpo Teatro Acert - 30 de Abril - CCB - 21 horas

A propósito do concerto "A Viagem do Elefante" de Luís Pastos e Trigo Limpo Teatro Acert (30 de Abril - CCB Pequeno Auditório - 21 horas), recorda-se aqui os dois post's do blog "Caderno" (com a sua publicação no livro "O Caderno 2"), "O elefante em viagem" e "Regresso". 

Queremos uma casa cheia de música...

Para leitura aqui,

"O elefante em viagem"
"Os leitores recordarão que os nomes das duas aldeias que a expedição encontrou no seu caminho para Figueira de Castelo Rodrigo nunca foram mencionados pelo narrador da história. Essas aldeias, tal como se encontram descritas, foram simples inventos necessários à ficção e não tinham nem têm qualquer correspondência na vida real. Parecerá portanto abusivo aos amantes do rigor histórico que Salomão esteja a preparar-se hoje para uma viagem que, não sendo documentalmente a que foi, bem o poderia ter sido, ainda que dela não tenha ficado qualquer registo. A vida traz muitos acasos no bolso e não se pode excluir que, em um ou outro caso, a letra tenha acertado com a tabuleta. É certo que a História não diz que Salomão tivesse pisado terras de Castelo Novo, Sortelha ou Cidadelhe, mas também é impossível jurar que tal não sucedeu. Dessa obviedade nos servimos, nós, Fundação José Saramago, para idear e organizar uma viagem que vai começar hoje em Belém, diante do mosteiro dos Jerónimos e nos levará à fronteira, lá em cima, onde aconteceu aquilo dos couraceiros austríacos que pretendiam levar o elefante ao arquiduque. Que o itinerário é arbitrário, protestará o leitor, nós, porém, se no-lo permitem, preferiremos chamar-lhe um dos inúmeros possíveis. Andaremos por fora dois dias e do que neles se passar faremos relato. Quem vai? Vai a Fundação em peso, vão mais uns poucos amigos fixes de Salomão, jornalistas portugueses e espanhóis, tudo boa gente. Ficai em paz. Até ao nosso regresso, adeus, adeus."
(Quarta-feira, 17 de Junho de 2009)


Para leitura aqui,
em http://caderno.josesaramago.org/47860.html

"Regresso"
"O elefante gostou do que viu e fê-lo saber à companhia, embora em nenhum ponto o itinerário que escolhemos tivesse coincidido com aquele que a sua memória de elefante zelosamente guardava. Que haviam, disse, ele e os soldados de cavalaria, subido para o norte quase a pisar a linha da fronteira, por isso eram os caminhos tão ruins. Comparada com a viagem de então, esta foi um passeio: boas estradas, bons alojamentos, bons restaurantes, o próprio arquiduque, ainda que habituado aos luxos da Europa central, teria ficado surpreendido. A expedição foi para trabalhar, mas disfrutou como se andasse de férias. Até os sofridos câmaras, obrigados a carregar com equipamentos de sete quilos ao ombro, estavam encantados. O interessante é que nem os nossos amigos, nem os jornalistas conheciam os lugares que visitámos. Melhor para eles, que dali levaram muito que contar e recordar. Começámos por Constância, onde se crê que Camões viveu e teve casa, de cujas janelas terá visto mil vezes o abraço do Zêzere e do Tejo, aquele suave remanso da água na água capaz de inspirar os versos mais belos. Dali fomos para Castelo Novo para ver a Casa da Câmara, do tempo de D. Dinis, e o chafariz joanino que lhe está pacificamente encostado. Vimos também a lagariça, essa espécie de dorna ao ar livre para a pisa das uvas, cavada na rocha bruta em tempos que se acredita serem os da pré-história. Dormimos no Fundão, terra de cerejas por excelência, e na manhã seguinte ala para Belmonte onde nasceu Pedro Álvares Cabral, direitos à igreja de S. Tiago, da minha particular devoção. Ali está uma das mais comovedoras esculturas românicas que existem na face da terra, uma pietà de granito toscamente pintado, com um Cristo exangue deitado sobre os joelhos da sua mãe. Ao pé desta estátua, a célebre pietà de Miguel Ângelo que se encontra no Vaticano não passa de um suspiro maneirista. Não foi fácil arrancar o pessoal à extática contemplação em que havia caído, mas lá os conseguimos levar aliciando-os com o enigma arquitectónico de Centum Cellas, essa construção inacabada cuja problemática finalidade foi e continua e ser objecto das mais acaloradas discussões. Seria uma torre de vigia? Uma hospedaria para viajantes de passagem? Uma prisão, embora o neguem as rasgadas janelas que subsistem? Não se sabe. Saciada a fome de imagens, o destino seguinte seria Sortelha, a das muralhas ciclópicas. Ali nos caiu em cima uma trovoada como poucas, relâmpagos em rajada, trovões a condizer, chuva a cântaros e granizo que era como metralha. Não chegámos a beber o café, a corrente eléctrica sumira-se. Uma hora foi o que demorou o céu a escampar. Ainda chovia quando entrámos no autocarro, a caminho de Cidadelhe, sobre o qual não escreverei. Remeto o leitor interessado e de boa vontade para as quatro ou cinco páginas que lhe dediquei na Viagem a Portugal. Os companheiros arregalaram os olhos perante o pálio de 1707, depois foram ver aldeia, os relevos nas portas das casas, os caixotões da igreja matriz com retratos de santos. Vinham transfigurados e felizes. Agora só faltava Castelo Rodrigo. O presidente da câmara municipal de Figueira de Castelo Rodrigo esperava-nos na ponte sobre o Côa, a pouca distância de Cidadelhe. De Castelo Rodrigo eu conservava a imagem de há trinta anos, quando lá fui pela primeira vez, uma vila velha decadente, em que as ruínas já eram só uma ruína de ruínas, como se tudo aquilo estivesse a desfazer-se em pó. Hoje vivem 140 pessoas em Castelo Rodrigo, as ruas estão limpas e transitáveis, foram recuperadas as fachadas e os interiores, e, sobretudo, desapareceu a tristeza de um fim que parecia anunciado. Há que contar com as aldeias históricas, elas estão vivas. Eis a lição desta viagem."
(Segunda-feira, 22 de Junho de 2009)

domingo, 19 de abril de 2015

Citador #37 ... da estrutura e coerência do romance, em "Diálogos com José Saramago" de Carlos Reis

Citador #37
... da estrutura e coerência do romance
em "Diálogos com José Saramago"
Carlos Reis - Porto Editora
Página 134

(...) "O que me preocupa é a arquitectura do livro, a sua solidez, um sistema de vigas que suportam, de modo a que nada trema, mesmo que a história seja delirante e avance pelo fantástico de velas erguidas." (...)
José Saramago

Carlos Reis via Universidade Aberta - Documentário sobre José Saramago

Pode ser visionado pelo YouTube, aqui

... um testemunho sobre o Homem e sua Obra...

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Apresentação da obra do Prof. Carlos Reis "Diálogos com José Saramago"

Início da apresentação. 
A escritora Lídia Jorge, o autor e professor Carlos Reis
Pilar del Río a Presidenta da Fundação José Saramago e anfitriã do evento

Capa da actual edição - Porto Editora

Capa da edição original - Caminho

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Quinto Foro Social Mundial de Porto Alegre (2005) com a participação de (entre outros) José Saramago

Aqui deixo a conferência, e ao minuto 50, com o início da tomada da palavra por parte de José Saramago, é aplaudido como se de uma estrela mundial se tratasse. 

"Tenho uma má notícia para Vos dar. E a má notícia é que eu não sou utopista. E ainda pior... considero a utopia inútil... "
José Saramago 


Pode ser visionado via YouTube, 
em http://www.youtube.com/watch?v=lUQLMmUZE5k&sns=em

"Quijotes Hoy: Utopía y Política en Porto Alegre"

"En el 2008, en el Foro Social Mundial de Porto Alegre, se realizó un panel sobre el tema "La Utopía y la política", organizado por Roberto Savio, de la comisión de comunicación del FSM, con el apoyo del Comit Para la celebración del IV Centenario de Don Quijote. Este panel se realizó en el Estadio de Porto Alegre, con aproximadamente 40.000 partecipantes, gracias a la presencia de Saramago y Galeano, que protagonizaron un enriquecedor debate sobre la utopía vista desde una perspectiva y vivencia de izquierda."

"Una discusión histórica y a la vez de última hora es preguntarse si hay una utopía implícita en la idea de combatir la globalización. ¿Es posible otro mundo? Durante el Quinto Foro Social Mundial de Porto Alegre, el Comité de Celebración del IV Centenario del Quijote llevó a discutir el tema a personalidades como Federico Mayor Zaragoza, José Saramago, Ignacio Ramonet y Eduardo Galeano."


segunda-feira, 13 de abril de 2015

No dia da morte de Gunter Grass, fica a memória das imagens e palavras...


Günter Grass, cujo último trabalho foi provavelmente 
a colaboração com a edição de "Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas", 
num manifesto pela paz, morreu hoje aos 87 anos.
As suas palavras, as suas imagens continuam vivas!
(Mensagem de homenagem publicada pela Fundação José Saramago)







No dia da morte de Eduardo Galeano, recuperamos em sua homenagem o post que José Saramago publicou (24/04/2009)


Via página do Facebook da "Fundação José Saramago", 

Pode ser consultado e lido,
em http://caderno.josesaramago.org/37490.html

"Eduardo Galeano"
"Grande alvoroço nas redacções dos jornais, rádios e televisões de todo o mundo. Chávez aproxima-se de Obama com um livro na mão, é evidente que qualquer pessoa de bom senso achará que a ocasião para pedir um autógrafo ao presidente dos Estados Unidos é muito mal escolhida, ali, em plena reunião da cimeira, mas, afinal, não, trata-se antes de uma delicada oferta de chefe de Estado a chefe de Estado, nada menos que As veias abertas da América Latina de Eduardo Galeano. Claro que o gesto leva água no bico. Chávez terá pensado: “Este Obama não sabe nada de nós, quase que ainda não tinha nascido, Galeano lhe ensinará”. Esperemos que assim seja. O mais interessante, porém, além de se terem esgotado As veias na Amazon, as quais passaram num instante de um modestíssimo lugar na tabela de vendas à glória comercial do “best-seller”, de cinquenta e tal mil a segundo na classificação, foi o rápido e parecia que concertado aparecimento de comentários negativos, sobretudo na imprensa, tratando de desqualificar, embora num caso ou noutro com certos matizes benevolentes, o livro de Eduardo Galeano, insistindo em que a obra, além de se exceder em análises mal fundamentadas e em marcados preconceitos ideológicos, estava desactualizada em relação à realidade presente. Ora, As veias abertas da América Latina foi publicada em 1971, há quase quarenta anos, portanto, a não ser que o seu autor fosse uma espécie de Nostradamus, só com um hercúleo esforço imaginativo seria capaz de adiantar a realidade de 2009, tão diferente já dos anos imediatamente anteriores. A denúncia dos apressados comentadores, além de mal intencionada, é bastante ridícula, tanto como o seria a acusação de que a História verdadeira da conquista da Nova Espanha, por exemplo, escrita no século XVII por Bernal Díaz del Castillo, abunda, também ela, em análises mal fundamentadas e em marcadíssimos preconceitos ideológicos. A verdade é que quem pretender ser informado sobre o que se passou na América, naquela América, desde o século XV, só ganhará em ler o livro de Eduardo Galeano. O mal daqueles e outros comentadores que enxameiam por aí é saberem pouco de História. Agora só nos falta ver como aproveitará Barack Obama da leitura de As veias abertas. Bom aluno parece ser.
(24 de Abril de 2009)

em "O Caderno 2"
Caminho
Páginas 57 a 59

domingo, 12 de abril de 2015

Edição para recordar - Abril de 2013, chegava o n.º 11 da "Blimunda", que passaria pelo seu primeiro mês dos cravos


Abril de 2013, chegava o n.º 11 da "Blimunda", que passaria pelo seu primeiro mês dos cravos



Para ler e descarregar a edição de Abril de 2013, aqui
em http://blimunda.josesaramago.org/2013/04/20/blimunda-11-abril-2013/

Sinopse
"A Blimunda de abril está aqui! Com várias páginas sobre o festival Rota das Letras de Macau, uma entrevista a Andréa del Fuego, Prémio José Saramago, um dossier sobre os 50 anos da Feira do Livro Infantil de Bolonha, com a escolha de um livro descoberto na Feira por editores, autores e ilustradores portugueses, e a habitual secção Saramaguiana, com um texto de Laura Restrepo, que assinala também nas páginas da Blimunda a abertura da Feira do Livro de Bogotá que dedica a José Saramago grande parte da sua programação.

Tudo isto e muito mais no número 11 da Blimunda, do mês de abril."

"Blimundas" passadas... Recordando a edição de Abril de 2014, enquanto aguardamos a edição de 2015


Recordando a edição de Abril de 2014, enquanto aguardamos a edição de 2015

Para consultar o n.º de Abril de 20014 (#23), aqui
em http://blimunda.josesaramago.org/2014/04/20/blimunda-23-abril-de-2014/

Sinopse da edição
"Numa data tão simbólica para Portugal, a Blimunda não poderia ficar alheia ao aniversário de 40 anos do 25 de Abril. Neste mês a revista dedica boa parte dos seus conteúdo à celebração da Revolução dos Cravos. Do acervo de Vasco Gonçalves, em depósito na Fundação José Saramago, recuperam-se 15 cartazes do 25 de Abril, acompanhados por frases de 15 convidados, de diferentes países, sobre o significado desse momento histórico. Sara Figueiredo Costa escreve sobre Os Rapazes dos Tanques, de Alfredo Cunha e Adelino Gomes, um precioso registo da manhã em que a democracia renasceu. Há ainda espaço para A Hora da Revolução: vinte anos depois, um texto escrito por Eduardo Lourenço em 1994, inédito em português, e para O sabor da palavra Liberdade, discurso proferido por José Saramago em 1990.

Na secção Infantil e Juvenil, o 25 de Abril está em destaque com um mosaico de obras revolucionárias publicadas antes de 1974. Andreia Brites conversa com as três editoras independentes que este ano marcaram presença na Feira do Livro Infantil de Bolonha com espaço próprio.

A abrir este número, num dos poucos textos sem referência ao 25 de Abril, Sara Figueiredo Costa publica as suas impressões sobre a terceira edição do festival literário Rota das Letras, em Macau.

Até Maio!"

José Saramago em discurso directo "Platão ...o Mito da Caverna..."


"José Saramago Platão ...o Mito da Caverna...
Nesta versão moderna do mito da caverna de Platão, 
José Saramago faz uma apresentação subtil da face cruel do mundo capitalista e tecnológico."

"Saramago y Ella" de Joaquín Dholdan - Revista Visperas (30/03/2015)




Texto de Joaquín Dholdan, pode ser lido e consultado em

"Saramago y Ella"

"Con el tiempo algunos de los llamados “defectos” se enquistan. O sea, las características con las que nos movemos socialmente- si no evolucionan- se instalan en nuestros mecanismos. Prueba de ello es un viejo padecimiento, tengo la mala costumbre de reaccionar luego de un tiempo. O sea, ante un suceso cualquiera, me quedo inmóvil (a veces unos minutos, a veces días) y luego de la pausa aparece la respuesta, o la pregunta, o la reacción de forma tardía y en general inoportuna. Les cuento este “defecto” como excusa para mi reacción el día que conocí a Pilar del Rio, la compañera de José Saramago, su esposa, su viuda. Que conste que sigo con la teoría que durante unas décadas los hombres deberíamos dejar de escribir, gobernar y administrar, quizás sea una forma de compensar el despropósito que nuestra civilización hizo con ellas. Ya está bien de Yokos Onos, de María Kodamas, de hombres recogiendo premios y dándoles las gracias a ellas, sus apoyos, sus respaldos. El caso de Pilar es otro, aunque seguramente José podía escribir con calma teniendo a alguien que le gestionara la parte de su obra que no tiene que ver con la escritura. Pero volvamos a mi reacción lenta: en un homenaje que algunas asociaciones de amigos del pueblo saharaui le hicieron a Aminetu Haidar y a Saramago conocí a Pilar. Le iba a contar que había visto muchas veces (muchas) el documental José y Pilar y quería contarle que había llegado a una conclusión… Pero no lo hice, le pedí que me firmara su traducción de “El cuaderno” , me dijo “que bien, ya está publicado”, y yo sabía que iba a querer decirle algo más, pero necesitaba un tiempo indefinido para pensar como hacerlo… esto fue hace cuatro años.


Saramago está afeitándose y de repente mira al espejo y murmura “El hombre duplicado” y allí nace la novela, que no sabe sobre que, o quien, hablará, y como con tantos de sus libros a partir de una anécdota”mágica” todos sus sucesos son lógicos e hipnóticos- La muerte deja de matar. Se desprende la península ibérica y va a la deriva por el Atlántico. Casi todo el mundo se queda ciego- Quizás por esto Manuel Vilas me dijo un día que Saramago escribía siempre la misma novela, y tal como les conté con mis reacciones lentas, al mes le pedí que me explicara su afirmación y en cambio me contó: “Una vez presenté a Saramago en el norte y uno del público se levantó y le cantó una jota, una compuesta para él, ante el estupor de todos, pero Saramago la escuchó con atención sabiendo que era un gesto de afecto de aquel tipo”.


En “José y Pilar” veía muchas cosas que me hacían sentir aún más cercano a uno de mis escritores preferidos. Me encantaba cuando se escuchaba el murmullo que hablaba de él mientras estaba en su casa, ajeno a todo, o cuando mientras Pilar armaba y organizaba y él decía “Pilar, yo me voy para casa”. Jorge Wagensberg dice que el “aire de familia” entre un escritor y un lector, es clave en el hecho artístico. Por eso, cada vez que escuchaba una entrevista y sabía como pensaba Saramago, en las cosas que creía, en las que no creía, a quienes defendía, a quienes acusaba, yo saltaba de libro en libro como quien se va a vivir de adulto a la casa en la que fue criado.


Ahora hagamos el siguiente ejercicio: Cortázar nunca traduce a Poe. Historias extraordinarias , ese libro, nunca llega a nuestras manos, nuestra vida es otra. Pilar del Río no traduce a Saramago, lo haría otro u otra traductora, pero nunca de forma tan simultánea. Podrían decir, los contras de siempre, que también otro u otra traduciría a Poe, y que quizás nadie traduciría a Saramago. Lo que importa es: los libros de Saramago que yo he leído, todos, han sido traducidos por Pilar del Río. Y más allá de la traducción como género literario, está, en este caso, la perfecta sintonía entre la versión portuguesa y la española, pocos casos habrá en la literatura en que uno podría asegurar, sin el mínimo atisbo de duda, que la traducción y la versión original son el mismo libro.


Hay otra anécdota que pasa muy rápido en José y Pilar, el documental: la pareja viene cansada en un vuelo trasnoceánico cuando, bajando del avión Saramago dice al pasar algo así como “Me gustaría escribir un libro sobre Caín”, al rato Pilar le pide que lo repita y mira de reojo a la cámara “Pues nada señores, tenemos un nuevo libro”. ¿Qué habrá visto o pensado esta vez José durante ese vuelo? ¿En algún traidor? ¿En algún escritor hermano? ¿Viendo las nubes pensó en ese Dios que no entendemos ni nos entiende? Me gustaba ver como en ese comentario ella sabía que había un libro, conocía ese mecanismo como nadie. Por eso, y hablando estrictamente de literatura, mucho se ha escrito y se escribirá sobre Saramago, y seguramente grandes escritores podrán construir brillantes ensayos sobre su obra, pero el análisis definitivo, el verdadero “Universo Saramago” sólo nos podrá ser descrito por Pilar del Río.

Dicen que uno se hace hombre cuando muere su padre. El día que me dijeron que el mío ya no estaba, me llevó todo un día reaccionar y llorar, y el resto de los días entender lo que había pasado. Estaba haciendo una tortilla cuando dijeron por la televisión que había muerto Saramago y quizás por primera vez reaccioné de inmediato y me puse a llorar (esto también me hubiera gustado contárselo a Pilar). El resto de lo días pensé en ella y llegué a la conclusión que no me dio tiempo a decirle aquel día que nos conocimos: se merece cada una de los libros que José le dedicó."



sábado, 11 de abril de 2015

"Pilar del Rio, Freitas do Amaral, Sérgio Godinho e Mário Zambujal em Vila Real de Santo António para falar de livros"

Ciclo "Sinónimos de Leituras" de 16 a 24 de Abril




"As conversas à volta do universo dos livros, da leitura, do teatro e da literatura regressam a Vila Real de Santo António, com um ambicioso programa que traz até à Biblioteca Municipal Vicente Campinas grandes nomes da cultura nacional e ibérica como Freitas do Amaral, Pilar del Rio, Sérgio Godinho ou Mário Zambujal.
Pelo quarto ano consecutivo, entre os dias 16 e 24 de abril, o ciclo «Sinónimos de Leitura» reúne dezenas de autores, ilustradores, contadores de histórias e profissionais do palco num ambiente informal onde a troca de ideias e o debate são de participação totalmente livre.
Além de um vasto programa que inclui apresentações e lançamento de livros, sessões de conto e poesia e conversas com autores, a iniciativa reserva igualmente espaço para uma feira do livro, teatro e oficinas de música, dança e expressão plástica.
Com um cartaz para todos os públicos e faixas etárias, o evento tem como convidados os investigadores e académicos Filipe Vasconcelos Romão, que apresentará o livro «Nacionalismos espanhóis – tensão e conflitualidade» (16 de abril), ou Freitas do Amaral, que apresentará o livro «Uma introdução à Política (17 de abril).
O cantautor Sérgio Godinho também se associou à programação e irá apresentar, na primeira pessoa, a sua obra «Vidadupla» (21 de abril), enquanto o escritor Mário Zambujal falará de «Serpentina», o seu mais recente trabalho (23 de abril).

O universo de José Saramago volta a estar em destaque com uma palestra que contará com a presença de Pilar del Rio (presidente da Fundação José Saramago) e do académico Carlos Reis, que apresentará o último texto editado de Saramago intitulado «Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas» (17 de abril).

Simultaneamente, estará patente, durante todo o ciclo, a exposição «Mail Art», de Diego Mesa, produzida a partir do livro «Levantado do Chão», de José Saramago.
Para ampliar as perspetivas e os caminhos que tornam possível a leitura, será dado destaque à ilustração no universo da literatura e promovido um encontro com a ilustradora Danuta Wojciechowska (23 de abril).
As celebrações de Abril também dão corpo ao programa: na manhã do dia 24 de abril, será exibido o documentário de Edgar Pêra «25 de Abril – uma aventura para a democracia», enquanto a tarde será dedicada ao debate «O 25 de Abril nos media do século XXI».
Em paralelo, os Sinónimos de Leitura dão espaço às artes de palco, com duas apresentações do grupo de teatro «A Gorda» (dia 22) e um espetáculo do grupo «Doismaisum», também dedicado à Revolução de Abril.
As sessões de conto – especialmente dedicadas ao púbico escolar – serão uma constante ao longo da semana, com diversas sessões que se farão ouvir pelos diferentes espaços da biblioteca.
O ciclo «Sinónimos de Leitura» é organizado pela Câmara Municipal de Vila Real de Santo António / Biblioteca Municipal Vicente Campinas. Todos os eventos têm entrada livre."

Pilar del Río e João Amaral à conversa com João Caldeira sobre a obra "Viagem do Elefante" (Banda Desenhada)






O testemunho de Pilar del Río e de João Amaral com a moderação de João Caldeira.


"A propósito da adaptação da Viagem do Elefante da obra de José Saramago, prémio Nobel da Literatura, para banda desenhada, aqui se reúnem em conversa Pilar del Río, João Amaral e João Caldeira.
Pilar del Río, Presidenta da Fundação José Saramago, dispensa apresentações, João Amaral é o autor da BD e João Caldeira o fundador da Casa das Artes e Conhecimentos.
A Obra de Saramago e as suas múltiplas adaptações, bem como o valor dessas adaptações e o lugar que ocupam, é dos assuntos abordados.
A Viagem do Elefante e as suas mensagens profundas, é um tópico de destaque nesta conversa.
Uma conversa que irá revelar um pouco mais sobre esta obra inserida no mundo de Saramago.
Um apontamento realizado na Fundação José Saramago.
Referências:
João Caldeira Monsanto - Casa das Artes e Conhecimentos - http://www.arteseconhecimentos.com"


Link do trabalho do autor João Amaral - http://joaocamaral.blogspot.pt/










segunda-feira, 6 de abril de 2015

"Todos os Nomes" Adaptação por Margaret Jull Costa - "All the Names" no Quantum Theater Pittsburgh (Pensilvânia EUA)

Via Facebook, página "Blimunda" e "Fundação José Saramago"

"Depois de um tributo no Iberian Suite, em Washington, e da estreia da ópera "As Intermitências da Morte" em San Francisco, é a vez de "Todos os Nomes" chegar a um palco nos Estados Unidos. A partir de 10 de abril, no Quantum Theater, em Pittsburgh (Pensilvânia). 
Todas as informações, aqui:"
http://www.quantumtheatre.com/season/allthenames

"Adaptation based on José Saramago's book, translated by Margaret Jull Costa
Devised by Karla Boos, Chris Evans, Cindy Limauro, Barbara Luderowski, Sarah Pickett, Megan Monaghan Rivas, Joe Seamans, and Narelle Sissons
April 10–May 2, 2015
Location: The Original Carnegie Free Library of Allegheny"





"World premiere adaptation based on José Saramago's Nobel Prize winning book, translated by Margaret Jull Costa

A team of collaborators and a fascinating premise: make José Saramago’s Nobel Prize-winning novel a three-dimensional, theatrical experience.  Devised by: Karla Boos, Chris Evans, Cindy Limauro, Barbara Luderowski (Co-Director of the Mattress Factory), Sarah Pickett, Megan Monaghan Rivas, Joe Seamans, and Narelle Sissons.  What results might look like theatre from one perspective, but installation art from another, allowing Luderowski’s love of architecture, sculpture, and assemblage to contribute in a fundamental way, and asking patrons to forget everything they know about the traditional theater experience and become completely immersed in José Saramago's beautiful story, about Senhor José, a lowly clerk in the Central Registry of an unnamed city, obsessed with collecting and on a journey to find a mysterious woman who has slipped through the cracks of Kafka-esque categorization.

World Premiere"