Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sexta-feira, 6 de março de 2015

Texto "Indignado" - Feira do Livro de Bogotá (Colômbia) - Apresentação da obra "Ensaio sobre a Cegueira" Novembro de 2004

Recuperação do texto publicado na revista "Blimunda" #10, de Março de 2013

"Em novembro de 2004 José Saramago visitou a Biblioteca Luís Ángel Arango, de Bogotá, para uma conversa com Jorge Orlando Melo, director da Biblioteca, a propósito do livro Ensaio sobre a Lucidez. No mês que antecede o início da Feira do Livro de Bogotá, que terá Portugal como país convidado, parte dessa conversa é agora publicada na Blimunda."

(José Saramago durante a "Feria Internacional del Libro" em Bogotá, Colômbia)

"A conclusão é muito fácil: os políticos preferem a abstenção ao voto em branco. Com a abstenção viveram sempre e encontraram uma forma de a justificar: pela chuva, pelo sol, pela praia, pela gripe, pela doença, ou simplesmente porque à pessoa não lhe apeteceu votar. Não é o mesmo que 40% de eleitores tenham intenção de votar e, porque as propostas existentes não lhes interessam, decidem votar em branco. 
Penso que não se pode dizer, com toda a ligeireza do mundo, que vivemos em democracia quando essa democracia não dispõe de meios nem de qualquer instrumento para controlar ou para impedir os abusos do poder económico. 
Acima daquilo a que chamamos o poder político há outro poder não democrático, o económico, que a partir de cima determina a vida do outro poder que está por baixo. 
Ao FMI manobram-no representantes das cinco grandes potência do mundo. Por isso para os outros países não há nada a fazer: ou se submetem, aceitam as condições, ou então fecha-se-lhes a torneira.
Isto parece-me muito claro e dou-vos um exemplo. Houve um tempo em que toda a ambição, a ilusão de um governo que se prometia aos cidadãos era o que se chamava então de pleno emprego, o que significaria emprego para toda a gente e para toda a vida. Era um ideal inalcançável, mas pelo menos falava-se disso. Em 20 anos, ou até em menos tempo, passámos do pleno emprego para a realidade brutal do emprego precário, a que eufemisticamente chamo mobilidade social. Como é que isto aconteceu? 
No fundo, é como um exercício de prestidigitação assombrosa, pelo meio do qual o poder económico, muito respeitado, fez saber aos governos que precisamos de ter as mãos livres, que se temos de encerrar umas fábricas, pois que as cerremos e não peçamos contas, levamo-las para outro país onde os salários são mais baixos e onde os horários de trabalho não têm limite. Então, como uma ordem que cai do céu, pouco a pouco, sem nos darmos conta, passamos ao emprego precário. Isto fez-se de maneira tal que já ninguém recorda, ou comportamo-nos como se não nos recordássemos de que houve um tempo, não tão distante assim, em que se falava de emprego para toda a gente. 
Agora vivemos nisto. Empresas que contratam trabalhadores por uma hora, aquilo a que em Espanha se chama contrato-lixo. O pior de tudo é que é como se nos tivessem arrancado um dente com anestesia. Arrancaram o dente, não sofremos nada, mas agora sentimos que há um vazio que é a preocupação, o medo de perder o trabalho. Isso é o que chamamos de democracia. É uma fachada. Não quero dizer que por trás dessa fachada não exista nada, pois todos os dias se constrói, todos os dias se tenta e todos os dias algo se consegue, mas não no fundamental, que constitui o velho e permanente problema: o poder. Quem detém o poder, como chegou ao poder, para que fim o tem, e o que há que aceitar, porque é uma evidência que os governos se transformaram nos comissários políticos do poder económico, o concubinato entre o poder político e o poder económico existe desde sempre. Creio que a democracia é o menos mau de todos os sistemas políticos, mas poderíamos reinventá-la, e para isto apenas se requer que lhe demos os meios adequados, que são as convicções dos cidadãos, a capacidade de intervenção de cada um de nós para que a democracia, simplesmente, seja como deve ser, e a verdade é que não o é.
Neste livro há uma frase que, no fundo, resume o romance, condensa-o, concentra-o em pouquíssimas palavras: «Quando nascemos é como se assinássemos um pacto para toda a vida, mas pode chegar o momento em que nos perguntemos quem é que assinou isto por mim». Creio que isso nos acontece. A Saulo, que perseguia os cristãos, de repente aparece-lhe uma luz imensa, cai do cavalo e escuta uma voz que diz: «Por que me persegues, Saulo?». E aí converteu-se. Claro que não aspiro a tanto, não sou tão ingénuo a ponto de poder dizer que com esta frase mudei o mundo, mas vai chegar o dia em que perguntaremos quem é que assinou isto por mim e não se ouvirá uma voz que diga por que me persegues, mas talvez possamos dizer-nos uns aos outros «óptimo, andamos a pensar nisso». 
Há uns anos reuniram-se dez escritores e filósofos para debater algo tão interessante e ao mesmo tempo tão inútil como apresentar dez propostas para o milénio, como se o milénio estivesse preocupado com as propostas, e eu era um deles. Todos tomaram o tema proposto de forma séria e apresentaram propostas para o milénio, evidentes quase todas, e eu, que sou muito mais consciente das minhas próprias limitações, propus regressar a essa coisa tão simples, tão estupenda, tão magnífica, tão deslumbrante, que é o pensamento. Pensar, regressar à filosofia. 
Agora mesmo, em todo o mundo estão a realizar-se milhares de congressos, milhares de mesas redondas, milhares de simpósios, e posso assegurar, sem medo de me equivocar, que há uma única coisa que não se está a discutir: a democracia. É como se fosse um dado descoberto de uma vez por todas e para sempre, e portanto sobre ele não vale a pena falar e eu digo que, pelo contrário, sim, vale a pena, falar interminavelmente, pensar, reflectir, discutir com os nossos entes mais próximos, clarificar coisas. Nós vivemos no que se pode chamar hoje, sem nenhum exagero, um deserto de ideias; não há ideias, não há ideias novas, não há ideias que mobilizem, não há ideias que façam levantar as pessoas da sua resignação, parece que todos nos resignámos a uma espécie de fatalidade que não aceita mudanças. Mas as ideias tão-pouco nascem assim do nada, é a própria sociedade a que tem de gerá-las e, quando tal ocorrer, começaremos a ter alguma coisa. 
Se a vida privada acabou de alguma forma, a consciência privada, para usar o mesmo termo técnico, sofreu um atentado semelhante. A liberdade, e agora falo da liberdade de consciência, por vezes arrisca-se a converter-se em algo utópico, com muito pouco conteúdo. 
Tivemos liberdade para torturar, para matar, para assassinar, e tivemos liberdade para lutar, para ir em frente, para tentar manter a dignidade. É aterrador o uso que se pode fazer de uma palavra. O importante é que exista a presença de um sentido de responsabilidade cívica, de dignidade pessoal, de respeito colectivo; se se mantém, se se constrói, se não se aceita cair na resignação, na apatia, na indiferença, isto pode ser uma semente para que algo mude. 
O que vai provocar a palavra semente? Algo que amanhã dará flores e frutos. Acredito muito que, se houver debate, é possível mudar as coisas, mas não podemos limitar-nos a esse debate que por vezes aparece nos meios de comunicação, que é uma coisa entre uma determinada família de comunicadores, de jornalistas, de políticos também, que no fundo manipulam os conceitos, como temos visto, como é claro para todo o mundo. Enquanto não ser puder mudar o que está por cima (o poder económico), vai ser muito difícil. 
Hoje, quando passámos ao lado de um cemitério de Bogotá, falava com a minha mulher sobre o epitáfio que escreveria na lápide, supondo que os restos ficassem ali, e então disse que poria «Indignado». E realmente digo indignado por dois motivos: um pessoal e o outro egoísta. Indignado por estar morto, não há direito, realmente, e o outro, pior, indignado por ter passado pela vida e não ter podido mudá-la. Isto é terrível." 

Revisitamos a "Blimunda" de Março de 2013 - Revista digital gratuita

(Capa da edição #10 - Março de 2013)

Sinopse via site da Fundação José Saramago, aqui

"A Blimunda 10, de março de 2013, destaca no seu dossier de capa a edição deste ano das Correntes d’Escritas, com uma reportagem, entrevistas e um texto de Maria do Rosário Pedreira, muito bem acompanhados por fotografias de Urbano Tavares Rodrigues e pelas ilustrações de João Fazenda. A secção dedicada ao infantil e juvenil centra-se no centenário do nascimento de Ilse Losa, com depoimentos de Álvaro Magalhães, José António Gomes, Manuela Bacelar e Ana Cristina Vasconcelos, para além da reprodução fac-símile de um texto da autora, publicado em 1948 na revista Vértice. Por fim, um texto de Mário de Carvalho sobre Aquilino Ribeiro, quando se assinalam 50 anos sobre a sua morte, e as palavras de José Saramago sobre Ensaio sobre a Lucidez, ditas em Bogotá, em 2004.
Um número feliz da Blimunda."

José Saramago "um humanista por acaso escritor" apresentação do documentário


"Filme-homenagem que busca olhar o mundo pelas lentes desassossegadas de José Saramago. Documentário que revive o redemoinho de sensações, palavras e lembranças deixadas em quem o sentiu por perto. Um humanista, que usou os microfones de um escritor, para gritar sobre o nosso mundo." 

Citador #35 ... queres fiado? Paga o que deves... (dos 35 anos do "Levantado do Chão")

Citador #35
... queres fiado? Paga o que deves...
em "Levantado do Chão"
Caminho, 10.ª edição, página 84

(...) ", Se eu fiar a toda a gente e não me pagarem, como é que eu vivo. 
Todos temos razão, quem é o meu inimigo." (...)

Homenagem na morte de Cláudio Capuano via "Letras in.verso e re.verso" - Texto sobre a obra "Caim"

Através do "Letras in.verso e re.verso" tive conhecimento da morte de Cláudio Capuano, que realizou estudo sobre a obra de José Saramago.
Agradecimento ao estudioso e "Saramaguino" Pedro Fernandes.

Aqui para consulta em
https://www.facebook.com/Letrasinverso
http://letrasinversoreverso.blogspot.com.br/2015/03/revisitando-historias-biblicas-caim-de.html

"O texto publicado hoje no Letras é um gesto de homenagem: Cláudio Capuano, seu autor, morreu no último domingo (03 de março). Formado em Geologia e Letras, Cláudio lecionava Literatura Portuguesa na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro desde 2010 e dedicou parte de seu trabalho à leitura da obra de José Saramago."

(Capa da edição brasileira da Companhia das Letras)

Aqui, prestando homenagem, republicando o texto, 

"REVISITANDO HISTÓRIAS BÍBLICAS: CAIM, DE JOSÉ SARAMAGO"

"A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele."
(Saramago, 2009, p. 88)

Caim é o que odeia deus (p. 142).

"Após dezessete anos da publicação de O Evangelho segundo Jesus Cristo, o  escritor português José Saramago retomou um tema criado a partir do evangelho: Caim. Publicado no segundo semestre de 2009, o livro é um romance, no qual, por meio da figura do primeiro filho do primeiro casal humano, somos confrontados não só com o tema, mas também com os posicionamentos em relação aos preceitos religiosos de base judaica do nosso prêmio Nobel de 1998.
A leitura de Caim é fluida, agradável, instigante. Nela nos deparamos com uma história, cujo princípio coincide com início da Bíblia. Nos dois primeiros capítulos, ali estão Adão e Eva às voltas com a incipiência do existir. Ganham a fala, comem do fruto proibido, perdem o direito de estar no paraíso. Uma vez expulsos, são informados por um querubim, de que não são os únicos humanos sobre a Terra.
É só no terceiro capítulo que aparecem Caim e Abel. De breves referências à infância comum dos dois, chega-se à situação do assassinato. Tendo suas oferendas a Deus sistematicamente rejeitadas, Caim, tomado pela ira e pela inveja, arma uma cilada e mata o irmão. Dá-se o primeiro dos inúmeros encontros entre o personagem e Deus. Em todos, configuram-se desentendimentos gerados por absoluta diferença de pontos de vista. Se Deus se indigna com o ato do personagem contra o irmão, ele se defende dividindo com o próprio Deus a sua responsabilidade. Tivesse ele aceitado os seus sacrifícios, os únicos que ele poderia oferecer, e não teria ocorrido o fratricídio.
Não há no livro um único posicionamento crítico em relação às incoerências do texto bíblico, assim nos apresentado pela voz de um narrador em terceira pessoa, que seja novidade para quem acompanhe minimamente a trajetória literária de José Saramago. No romance, Caim tem um constante confronto ideológico com Deus. Enquanto este é o tirano-vingador, capaz de trucidar populações inteiras, sem poupar nem crianças, aquele é o leitor cético dos tempos bíblicos, cujos pensamentos, quando não são por ele mesmo verbalizados, o são constantemente pelas palavras do narrador, eco anacrônico da voz do presente no pensamento do personagem.
Como o Caim bíblico, o do romance é marcado por Deus e condenado a errar indefinidamente. Pode-se extrair, contudo, justamente do tipo de errância empreendida pelo personagem o que há de realmente notável no romance. Se o Caim bíblico será condenado a errar pelo mundo, o de Saramago erra pelos tempos... bíblicos. Por um mecanismo de natureza fantástica, o personagem se vê diante de fronteiras temporais. Ao cruzá-las, transforma-se em testemunha ocular de episódios do Antigo Testamento.
O primeiro lugar a que chega é a terra de Noh. Ali reina Lilith, figura ausente no Evangelho. Poderosa e sedutora, Lilith leva para a sua cama os homens que deseja, para usá-los e destruí-los. Alertado dos perigos que lhe podem advir de um encontro com a mulher, o jovem Caim obviamente não consegue lhe passar despercebido. Lilith percebe o jovem trabalhador, sujo pelo ofício de pisar o barro, e o convoca ao palácio. A cena que antecede o primeiro encontro íntimo dos dois é emblemática e guarda um aspecto de que podemos nos utilizar para ler Caim: a constante passividade subitamente interrompida por atos bruscos.
Imundo, o personagem é levado até a senhora da cidade. Antes é preparado para o encontro. Amas o lavam por completo. Caim, como em diversos outros momentos da narrativa, deixa-se ficar, passivo, expectador dos acontecimentos. Igualmente passivo ele se manterá, mesmo quando elas, ao se deterem no seu sexo, provocam-lhe ereção e ejaculação. É quando subitamente se dá conta do que foi fazer ali.
Somente na presença de Lilith é que ele sairá do estado de passividade. O jovem que desperta o desejo da senhora de Nod, o assassino do irmão, é também o homem casto, pela primeira vez unido sexualmente a uma mulher. Caim revela-se tão vigoroso no ato sexual que se diferencia dos outros homens com quem Lilith esteve. Contrariando o usual, o personagem permanece na cidade como seu preferido.
Caim naturalmente desperta ciúmes em Noah, marido de Lilith, que trama a sua morte. O personagem, porém, leva na testa a proteção de Deus, sob a forma de um sinal negro. Lilith vinga-se dos escravos envolvidos na emboscada, mas poupa o marido. Caim, por sua vez, revela-lhe toda a sua história. Mesmo sabendo que a mulher engravidara, o primogênito de Adão parte de Nod.
A partir desse momento, inicia-se o trânsito do personagem pelos tempos bíblicos. Não há, contudo, um respeito cronológico aos acontecimentos. O primeiro encontro de Caim é com Abraão, que está prestes a sacrificar a Deus o filho Isaac. O personagem se antecipa ao anjo, impede o ato e reprova tanto a atitude de Abraão quanto a de Deus, que exigira tal sacrifício. Em um segundo encontro com Abraão, Caim o encontrará mais novo, antes do nascimento do filho, e se envolverá no episódio da destruição de Sodoma. Há nesse momento uma primeira referência à morte indiscriminada de pecadores e inocentes na cidade, sobretudo de crianças.
Na sua errância – quer seja no encontro com Moisés ou Josué, quer seja por assistir aos sofrimentos de Job – Caim passa a confrontar o seu único crime, o fratricídio, aos inúmeros desmandos cometidos por Deus, em nome de por à prova o seu próprio poder, com toda a falta de propósito que isso possa encerrar.
Antes do último encontro, com Noé, Caim retorna a Nod e se reencontra pela última vez com Lilith. Lá sabe do nascimento do filho e da morte de Noah. Antes de morrer, o marido de Lilith dera à cidade o nome de seu filho: Enoch.
O último episódio do livro envolve Noé, Caim e Deus. O personagem vê a construção da arca e nela toma lugar quando acontece o dilúvio. A embarcação será o surpreendente palco da batalha final entre Caim e o criador.
Mesmo se lermos o romance como romance, a ficção como ficção, o que por si só esvaziaria qualquer discussão de ordem religiosa, não é possível deixar de perceber um interessante ponto de vista exposto no romance. Há a defesa de uma ética, de uma retidão de conduta, reveladas pela coerência de atitudes tanto do protagonista, quanto de Lilith, apesar de ambos terem uma trajetória marcada por atitudes reprováveis do ponto de vista religioso.
Muito pouco nos informa a Bíblia a respeito de Caim. Após matar o irmão, segue para o desterro. Dele só se sabe que deixou descendência a partir do filho Enoch, unido a uma mulher não nomeada.
Símbolo da mulher que age, Lilith assume no livro o lugar da esposa de Caim, mãe de Enoch. A união de ambos revela ao leitor ser possível, partindo de histórias moralmente condenáveis, manter uma dignidade que sobrepõe tais tipos de valores. A Lilith do livro de José Saramago é o que é. É digna justamente por não se envergonhar de sua natureza. Revela-se inclusive capaz de amar um homem, independentemente de seus erros.
Caim é o fratricida, autor do primeiro e terrível crime da humanidade. Por isso cumpre a pena de jamais ter pouso, de jamais poder estar em paz. Assim lemos no livro, no qual os nomes próprios são sempre grafados em minúsculas: “para caim nunca haverá alegria, caim é o que matou o irmão, caim é o que nasceu para ver o inenarrável”(p. 142).
O personagem, no entanto, guarda em si uma pureza, uma ingenuidade que lhe faz grande e forte diante de Deus:

Apesar de assassino, caim é um homem intrinsecamente honesto, os dissolutos dias vividos em contubérnio com lilith, ainda que censuráveis do ponto de vista dos preconceitos burgueses, não foram bastantes para perverter o seu inato sentido moral da existência, haja vista o corajoso enfrentamento que tem mantido com deus, embora, forçoso é dizê-lo, o senhor nem de tal se tenha apercebido até hoje, salvo se se recorda a discussão que ambos travaram diante do cadáver ainda quente de abel (p. 143).


Em seu romance de 2009, José Saramago se utiliza de recursos discursivos frequentes em seus textos. A ficção preenche lacunas de significação encontradas, nesse caso específico, pelo texto bíblico consagrado como versão oficial. Trata-se de um claro diálogo estabelecido com a Bíblia. No entanto, ao trazer Lilith para a narrativa, a discussão se amplia, pois coloca em pauta a validade de outras versões de histórias que sempre circularam no seio da cultura ocidental.
A representação imaginativa do cotidiano dos primeiros tempos bíblicos é outro procedimento que assemelha a presente obra a tantas outras, também de sua autoria. Da mesma forma, as personagens Lilith e Eva se apresentam como forças femininas, comparáveis a tantas outras criadas pelo romancista português em sua extensa bibliografia.
Por fim, merece destaque a presença de um narrador cuja voz nitidamente ecoa do presente, fazendo o leitor não se esquecer de que o texto lido tem autoria definida e não representa uma verdade dos fatos. É o que ocorre no trecho:

Que eles não disseram aquelas palavras, é mais do que óbvio, mas as dúvidas, as suspeitas, as perplexidades, os avanços e recuos da argumentação, estiveram lá. O que fizemos foi simplesmente passar ao português corrente o duplo e para nós irresolúvel mistério da linguagem e do pensamento daquele tempo. Se o resultado é coerente agora, também o seria na altura porque, ao final, almocreves somos e pela estrada andamos. Todos, tanto os sábios como os ignorantes (p. 47).


Em suma, vemos em Caim o autor de sempre: inteligente, cáustico, irredutível em suas convicções éticas. O que de passional pode haver nas discussões a respeito do romance são fruto certamente da escrita apaixonada e apaixonante de José Saramago.


Referências:

Bíblia de Jerusalém. São Paulo, Paulus, 2002.

SARAMAGO, José. Caim. São Paulo, Cia das Letras, 2009.

Postado por Cláudio Capuano às terça-feira, março 22, 2011"

(2.ª Parte) 340 apontamentos do roteiro da "Viagem a Portugal" Lugares Paisagens Cores Sensações e Cheiros...


Estudo da obra de José Saramago, "Viagem a Portugal" editada em 1981.
(Capa da edição da Editora Caminho)

Continuação do post, publicado a 02 de Março (2.ª Parte do Roteiro)

171. Lamego hospedado. Sobe a Almacave. Dia seguinte. A Sé e o Santuário da Nossa Senhora dos Remédios. Museu fechado para obras e "A Criação dos Animais" de Vasco Fernandes que deixa a mágoa de não ter visto.
(Vista do Santuário Nossa Senhora dos Remédios)

172. Ferreirim na bacia do Rio Varosa, passando Ucanha, Salzedas Tarouca e São João de Tarouca e os oito painéis de Cristóvão de Figueiredo e o ataque que o viajante fez aos padres

173. Por sugestão vai a Ucanha na margem direita do Rio Varosa e a afamada torre

174. Salzedas, Tarouca e o deja-vu em São João de Tarouca

175. Moimenta da Beira onde almoça tardiamente, Paço, Rio Távora,  Granjinha e São Pedro das Águias que não sendo num alto e lá no fundo.

176. Serra da Estrela onde vai. Segue por Vale de Estrela até Valhelhas. Manteigas. E as nuvens não deixam perceber a paisagem

177. Segue pelo Rio Zêzere até ao Poço do Inferno
(Zona do apelidado "Poço do Inferno")

178. Covilhã o tempo não permite subidas altas. 
Visita Igreja de São Francisco,  Capela de São Martinho.

179. Capinha chamada de Talabara nos tempos dos romanos. 
Ribeira de Meimoa e caminho para Penamacor.

180. Penamacor e a manuelina Igreja da Misericórdia e os Paços do Concelho
(Igreja da Misericórdia de Penamacor - Séc. XVI)

181. Ruma a Monsanto. Passa Aranhas, Salvador e Penha Garcia, de longe Monfortinho.

182. Monsanto... menos igrejas e mais pedra, dirá o viajante que viajar é ficar. As pocilgas quais castelos para os porcos. A Capela de São Miguel e o templo arruinado. 
Daqui observa o vale do Rio Pônsul e a encosta de Monfortinho. 
As muralhas do castelo onde Gualdim Pais andou.
(Monsanto - Capela de São Miguel e torre sineira)

183. Passa Medelim o viajante sente que traz consigo uma enorme pedra desde o Monsanto

184. Idanha-a-Velha, Egitânia dos visigodos ou Igaeditania latina. O relógio de sol de 16 a.c. oferecido por Júlio Augurino.
(Idanha-a-Velha, Basílica Sueva-Visigótica da Egitania)

185. Desce por Alcafozes em direcção a Idanha-a-Nova. Fundada em 1187 por Gualdim Pais.

186. Proença-a-Velha, o adro, o vale do Rio Torto

187. Fundão. Vale de Prazeres e Cova da Beira.

188. Terra do jornal para onde o viajante muito dissertou. Fala do fantasma de José Júnior. A igreja matriz e outras pinturas consideradas menores.

189. Paul, segue para Ourondo... eventual terra de ouro. Observa a Ribeira de Porsim. A Ribeira de Pornão que não se encontra.

190. As montanhas de ferrugem e detritos das minas da Panasqueira

191. A aldeia de São Jorge da Beira onde viveu o homem José Júnior tornado fantasma na mente do viajante.

192. Retorno ao Fundão,  Chafariz das Oito Bicas e o lugar de Donas. A manuelina Capela do Pancas e a Casa do Paço

193. Em Alcaide a Igreja de São Pedro deixou boa impressão
(Igreja Matriz de Alcaide)

194. Contorna subindo a Serra da Gardunha e entra em Alpedrinha. Chafariz de Dom João V

195. Castelo Novo e a Ribeira de Alpreade, construída a meia altura da Serra da Gardunha. A luz que aqui ficará na memória do viajante. O românico, o barroco e o manuelino juntos e acrescentados em harmonia,  a Casa da Câmara,  o Chafariz a lagariça onde se pisou a uva

196. Castelo Branco. Castelo, Igreja de Santa Maria, a estátua do poeta João Ruiz de Castelo Branco que o viajante vem posteriormente a descobrir que é do médico Amato Lusitano, a Sé, o Cruzeiro de São João, o museu e o jardim do Paço Episcopal e suas estátuas.
(Cruzeiro de São João)

197. Moradal, a Serra Vermelha, Foz do Giraldo, chuva e mais chuva

198. Oleiros a sua igreja matriz.
(Igreja Matriz de Oleiros)

199. Para chegar a Álvaro, tem as serras de Alvelos e Vermelha com a Ribeira da Sertã mas o estado da estrada não o permitirá.

200. Sertã, Sardoal por perto e chega a Abrantes.

201. Terras do Sul com miragem do Tejo. Os painéis de Gregório Lopes na Igreja da Misericórdia a Igreja de Santa Maria do Castelo que recebe o Museu de Dom Lopo de Almeida e a tábua com a inscrição "Hic est chorus" aqui é o coro.

202. Depois de Montalvo está Constância. Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Milagres com pintura de José Malhoa. À beira rio e a casa/ruína de Camões. Castelo de Almourol. Igreja de Tancos datada de 1685.
(Castelo de Almourol)

203. Atalaia e sua fascinante igreja. Os seus azulejos e o viajante que custa a deixá-los para trás. A ponte sobre o Rio Zêzere, a massa gigantesca de água na barragem de Castelo de Bode

204. Beberriqueira, Ilha do Lombo que atravessa de barco para lá chegar.
(Detalhe da envolvência da Ilha do Lombo em pleno Rio Zêzere)

205. Tomar. Igreja de São João Baptista e sinagoga. A roda da rega chamada Roda dos Mouros. Convento de Tomar é o pórtico de João de Castilho
(Pórtico da autoria de João Castilho no Convento de Tomar)

206. Ourém... povoação em decadência

207. Fátima. O viajante é crítico da estética de duvidoso gosto do santuário, 
e da praga do comércio massivo

208. Gândara dos Olivais,  passa o Rio Lis, Amor

209. Vieira de Leiria e sua Santa Rita de Cássia que merece a visita, 
a praia da Vieira e a foz do Rio Liz

210. Pinhal de Leiria de Dom Dinis

211. São Pedro de Muel a sua magnífica mata e o mar

212. Marinha Grande terra das artes do vidro e de fábricas que teve curiosidade em visitar

213. Leiria. Sé e o Castelo. As ruínas da Igreja de Nossa Senhora da Pena, por onde terá andado Dom Afonso Henriques.
(Vista do Castelo de Leiria)

214. Percorre pelo Rio Lis e visita o Mosteiro de Santa Maria da Vitória

215. São Jorge e a Ermida mandada erigir por Nuno Álvares Pereira

216. Feriado 25 de Abril. Povoação de Cós, visita o Convento de Santa Maria
(Convento de Santa Maria em Cós)

217. Maiorga terra de músicas. 

218. Nazaré. O Sítio, o mar

219. Alcobaça, os rios Alcoa e Baça. A origem do nome que nasce de Helcobatie. Mosteiro que conjuga vários estilos arquitectónicos. Interior imponente. Túmulos de Pedro e Inês, imortais amantes nas palavras do viajante e os de Dom João e Dona Filipa que de tão altos mal se vislubra a sua magnitude
(Túmulo de Dona Inês de Castro no Mosteiro de Alcobaça)

220. Porto de Mós, palácio do conde de Ourém

221. Serra da Mendiga e Casais do Livramento depois de muita serra de curvas, 
o vale da Serra de Aire

222. Torres Novas. Museu de Carlos Reis e segue viagem

223. Riachos, Brogueira, Alcorochel e Golegã. Aqui há memórias do viajante

224. Manuelina Igreja da Golegã. Os largos campos, o Rio Almonda 
e a memória do Paul do Boquilobo
(Igreja Matriz da Golegã, estilo Manuelino do século XVI)

225. Azinhaga local de nascimento. Ermida de São José

226. O sítio Rabo dos Cágados

227. Santarém... as Portas do Sol, Igreja da Graça, Igreja de Marvila, Igreja da Misericórdia, Igreja do Seminário Patriarcal de estilo jesuíta, as ruínas do Convento de São Francisco
(Detalhe do interior do Convento de São Francisco)

228. Estância real dos séculos XV e XVI Almeirim... nada prenderá o viajante

229. O Tejo, a vala de Alpiarça, Ribeira de Muge, o Rio Sorraia mais a sul

230. Salvaterra de Magos visita a Capela do Paço Real com a 
pietà quinhentista e cristo deitado.
(Fotografia antiga do interior da Capela do Paço Real, Salvaterra de Magos)

231. As pontes e pontões de Vila Franca de Xira... Arruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agraço, São Quintino, Dois Portos e Torres Vedras... terras de agricultores

232. Arruda dos Vinhos a igreja manuelina e as quintas que se parecem com marcos geodésicos

233. São Quintino a bela igreja. Portal de 1530 e mistura de estilos renascença e manuelino
234. Dois Portos a igreja fechada
(Igreja de São Quintino, de Dom Manuel I)

235. Viagem ladeando o Rio Sizandro e a linha do comboio. Torres Vedras e a Fonte dos Canos, a Igreja de São Pedro e o castelo... e o susto com um São José em pasta de papelão moldado. Dia seguinte. Convento da Graça e Museu Municipal

236. Turcifal... a igreja fechada e as voltas que o viajante deu para conseguir visitar

237. São Pedro da Cadeira mais uma porta fechada

238. Ponte do Rol e enfim chegado a Varatojo. Convento local e o contentamento do viajante

239. Merceana, Aldeia Galega e Meca

240. Aldeia Gavinha. Mais uma procura da chave da igreja. Esta fará o viajante feliz. Nossa Senhora da Madalena e a memória da terra da actriz Palmira Bastos
(Igreja de Aldeia Gavinha)

241. São Sebastião de Espiçandeira na margem direita do Rio de Alenquer

242. Alenquer a terra do presépio. O primeiro convento franciscano de 1222, o de São Francisco.  O relógio de sol oferecido por Damião de Góis
(Convento de São Francisco)

243. Ota, Cercal e Sancheira Grande a caminho das Caldas da Rainha. Passeio pelo jardim. O museu de pintura abundante e a terra de louças. Igreja Nossa Senhora do Pópulo.

244. Óbidos demasiado florida para o gosto do viajante, as muralhas, 
a igreja e o túmulo do alcaide-mor

245. Serra d'El-Rei e Atouguia da Baleia, depois Ferrel terra que foi prevista a instalação de uma central nuclear e que se fica a saber que o viajante usa 
mapas militares para auxílio da sua viagem

246. Cabo Carvoeiro. Peniche, não consegue ir às Ilhas Berlengas. Forte de Peniche, as igrejas e a visita à Lagoa de Óbidos
(Forte de Peniche)

247. Museu de Óbidos poucas peças mas bem organizado, Igreja da Misericórdia

248. Carvalhal de Óbidos e a família de antigos comerciantes

249. Lourinhã a visita ao quadro de São João em Patmos

250. Praia de Santa Rita, a Ribeira de Alcabrichel

251. Ericeira e a igreja matriz

252. Mafra. O Convento de Mafra. O viajante hipnotizado pela grandeza.
(Convento de Mafra)

253. Ribeira de Cheleiros. Janas e a sua Ermida de São Mamede

254. A caminho de Sintra. Azanhas do Mar e Praia das Maçãs,  Monserrate e o Palácio em restauro, Seteais, Palácio da Pena e a sua multiplicidade de estilos. O Castelo dos Mouros. Capuchos e o Escorial. O Viajante que por reflexão chegará à conclusão que os seus pensamentos dificilmente lhe abrirão as portas do paraíso.
(Castelo dos Mouros)

255. Cascais. Museu de Castro Guimarães e a guardada Crónica de 
Dom Afonso Henriques de Duarte Galvão

256. O Estoril que o não prende e Carcavelos que a Igreja Matriz merece toda a atenção

257. Palácio de Queluz, as diatribes de Dona Carlota Joaquina 
e Dom João VI, ou Dom Pedro IV
(Palácio Nacional de Queluz)

258. Lisboa. Museu de Arqueologia e Etnologia que apresenta a coleira do escravo dos Lafetás que o Viajante visitou e conheceu a história das famílias abastadas de Carvalhal de Óbidos. Promessa cumprida. Mosteiro dos Jerónimos, Torre de Belém, Museu da Marinha e o dos Coches, Museu de Arte Popular e o da Arte Antiga à Rocha do Conde de Óbidos. O Terreiro do Paço e a Sé. Castelo de São Jorge, o Mosteiro de São Vicente de Fora. Alfama, Madre de Deus. A Casa dos Bicos que o Viajante ainda não sabia, mas que a apelidou de prima afastafa da Casa dos Diamantes de Ferrara. Das utilidades do Terreiro do Paço. Igreja de São Roque, Bairro Alto e o Carmo, Marquês de Pombal. Museu Calouste Gulbenkian

259. Pragal e o Cristo Rei. Caminho para visitar Palmela e o seu castelo e a igreja matriz.

260. Vila Fresca de Azeitão, passeio pela bucólica Quinta das Torres e da Bacalhôa

261. Cabo Espichel, Santuário da Senhora do Cabo. Santana até Sesimbra. Almoço, a famosa caldeirada. Serra da Arrábida
(Santuário de Nossa Senhora do Cabo, no Cabo Espichel)

262. Portinho da Arrábida de visita ao Convento Novo

263. Setúbal terra enorme onde nasceu Bocage. A Igreja de Jesus o Museu de Setúbal.

264. Seguindo por Águas de Moura até Alcácer do Sal. Rio Sado, este que subirá até Setúbal.
Igreja do Senhor dos Mártires do século XIII e a Igreja de Santa Maria no interior do castelo. A paisagem dos arrozais

265. Atravessa a Ribeira dos Sítimos para visitar a igreja matriz do Torrão, Alcáçovas que tem a sua igreja guardada pelo posto da GNR

266. Santiago do Escoural e as grutas com mais de dezassete mil anos.
(Interior das Grutas do Escoural)

267. Montemor-o-Novo. Castelo, Igreja de Santa Maria do Bispo e a 
de São João muito mal preservadas.

268. Arraiolos. O Solar da Sempre Noiva, depois o Convento dos Lóios em Vale de Flores.
(Convento dos Lóios)

269. Pavia perto da Ribeira de Tera. A ermida dedicada a São Dinis e a igreja matriz.

270. Não visita Mora e segue para a Aldeia de Brotas e a Torre das Águias onde o Viajante achará da urgência de aqui voltar
(A Torre das Águias na Aldeia de Brotas)

271. Atravessa Ciborro e a Guarita do Godeal.

272. Lavre. Terra de tantos amigos e histórias ouvidas.

273. Retorna por Mora, percorre a barragem de Montargil até Ponte de Sor.

274. Ponte de Sor, a Ribeira de Longomel, Longos Vales e Longador.

275. Alter do Chão ou a antiga Abelterium, o castelo de Dom Pedro I em 1359 que este não chegou a visitar.

276. Ribeira de Seda antes de chegar ao Crato. 
O infernal calor alentejano. Visita a igreja matriz.
(Igreja Matriz do Crato)

277. Flor da Rosa com seu castelo que também é convento e paço

278. Outra ribeira, a da Várzea,  antes de chegar a Alpalhão e depois Castelo de Vide. Aqui visita 2 igrejas e o monumental chafariz Fonte da Vila.
(Chafariz Fonte da Vila em Castelo de Vide)

279. Marvão cá do cimo. Da torre de menagem exclama-se que grande é o mundo
(Castelo do Marvão)

280. Portalegre que Afonso III em 1259 mandou construir a povoação de Portus Alacer. Aqui o Viajante reencontra obras de Nicolau Chanterenne. Visita também a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre. Museu Municipal e a Casa de José Régio

281. Monforte. Herdade da Torre de Palma e as ruínas romanas

282. Ribeira de Arronches e o Rio Caia. Em Arronches está a Igreja de Nossa Senhora da Luz.
(Igreja Nossa Senhora da Luz em Arronches)

283. Passa pela Aldeia da Nossa Senhora dos Degolados e chega a Campo Maior onde visita a Igreja de São João Baptista

284. Elvas. Muralhas, fortaleza e fortificações, Igreja de Nossa Senhora da Assunção, o museu local e o registo final para o Aqueduto da Amoreira que demorou mais de cem anos a construir até à data de 1622
(Aqueduto de Elvas)

285. Estremoz a Torre das Três Coroas,  o Paço de Dom Dinis e o Museu Municipal e os famosos bonecos que o Viajante ditou "A Estremoz irás, seus bonecos verás, tua alma salvarás"

286. Rossio e a Igreja de São Francisco onde morreu Dom Pedro I

287. São Francisco e a arrepiante capela dos Terceiros

288. Évora Monte, onde Dom Miguel se rendeu a Dom Pedro. O Paço de Homenagem onde se deu a rendição. Igrejas fechadas e uma nogueira carregada de cigarras
(Castelo de Évoramonte)

289. Borba. Igreja de São Bartolomeu. A terra onde é 
proibido destruir os ninhos e a Fonte das Bicas

290. Vila Viçosa e a Serra da Ossa ou Ursa. 
Paço Ducal, o castelo e a Igreja Nossa Senhora da Conceição
(Paço Ducal em Vila Viçosa)

291. Passa Ciladas de São Romão e Juromenha. Os mapas militares reconhecem Olivença como lusitana, passa por aqui a Ribeira de Táliga e de Olivença e o Rio Guadiana.

292. Em Juromenha visita as ruínas do castelo e da fortaleza... 
e o Guadiana tão perto como desprezado
(Ruínas do Castelo de Juromenha)

293. De Alandroal seguirá a Terena onde existe a 
igreja-fortaleza que tem mais fortaleza que igreja

294. Redondo e pouco viu dado o adiantado da hora

295. Évora, a Praça do Giraldo, local de conquistas aos mouros em 1165. Visita a cidade que respira história. A Sé, Templo de Diana, Museu de Évora,  Igreja dos Lóios e a da Misericórdia, a universidade e o Largo das Portas de Moura, Igreja de Nossa Senhora da Graça e a de São Francisco... o calor infernal, e a recusa em entrar na Capela dos Ossos, estes que se deviam revoltar com a afronta do amontoado em que estão.
(Praça do Giraldo em Évora)

296. Perto do Rio Degebe está a povoação de Caridade que só pelo nome dá vontade de parar.

297. Ribeira de Pêga, o som das cigarras sob o calor tórrido, chega a Reguengos de Monsaraz. As muralhas e a Igreja Matriz
(Igreja Matriz de Reguengos de Monsaraz)

298. Mourão o castelo e a igreja que integra

299. As paisagens amarelas das terras e planícies alentejana. Moura e outro castelo

300. Pias e sua Igreja Matriz que tem a famosa tábua onde Martim Moniz está entalado na porta do Castelo de São Jorge. A igreja estava fechada.

301. Dormida em São Gens e o nascer do sol

302. Serpa. O viajante do melhor que observa são as casas comuns, baixas e brancas.

303. Até ao Pulo do Lobo a estrada é um cabo das tormentas de tal forma que o Viajante se pudesse voltava para trás. Ribeira do Limas. Chegou. 
A terra esventrada e calcinada... será isto outro mundo
(Paisagem do Pulo do Lobo)

304. Serpa e a abandonada Ermida de São Sebastião.
(Ermida de São Sebastião na cidade de Serpa)

305. O Guadiana que se lhe aparece outra vez. Passará a Baleizão sem parar. Ai Baleizão Baleizão, respira fundo o Viajante

306. Pax Julia actual Beja que Baju para os Mouros. Igreja de Santa Maria, o Castelo, Igreja da Misericórdia e a de Santo Amaro que está fechada. O Museu de Beja e a Casa do Capítulo... aqui estará um São Vicente do Mestre de Sardoal que faria 
inveja em qualquer museu mundial, mas por cá...
(Castelo de Beja)

307. Sobe à Vidigueira terra de Vasco da Gama almirante das Índias.

308. Portel e o seu castelo do tempo de Dom Manuel I
(Castelo de Portel)

309. Oriola fica para trás. Viana de Fochem agora do Alentejo.  
Castelo das ameias muçulmanas a igreja matriz

310. Visita a Quinta de Água de Peixes, solar do século XIV antes de chegar ao Alvito. A igreja matriz, o Paço acastelado e a terra que faz homenagem às manhãs do mundo e à noite que a que caia seja a natural e não outras "noites" que afrontem os homens. 
A alma do Viajante enche-se de luz.

311. Vila Ruiva, Vila Alva e Vila de Frades onde é terra de Fialho de Almeida. 
Aqui está a vila romana de Cucufate

312. Pisões, Albernoa, o barranco de Marzelona, a Ribeira de Terges

313. Castro Verde. Igreja das Chagas do Salvador fechada e um suposto diálogo que deveria acontecer com o "anjo" encarregue de manter a porta aberta na ausência do padre. 
O Cante Alentejano
(Cante Alentejano trajes)

314. São Marcos da Ataboeira e a serra da Alcaria Ruiva e a planície dá lugar a montes e vales

315. Mértola e o Rio Guadiana que acompanha o Viajante. Igreja Matriz com o Senhor dos Passos trajado de roxo e que as estatuetas foram esculpidas há muitos anos por um preso na cadeia da cidade. A família italiana e o caminho em direcção ao Algarve.  Rio Vascão
(Igreja Matriz de Mértola, reaproveitamento da Mesquita original do Século XII/XIII)

316. Alcoutim paredes meias com Sanlucar em Espanha. Igreja e o padre irlandês.

317. Serra do Caldeirão ou também chamado de Mu.

318. Castro Marim visita ao castelo e à igreja matriz
(Castro Marim a Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Mártires e o Castelo)

319. Vila Real de Santo António. A calmaria do trânsito que o Viajante tem assistido acabou aqui. Antiga aldeia destruída de Santo António da Avenilha que Marquês de Pombal quis reconstruir na forma da baixa pombalina

320. Tavira onde as portas dos pontos de destino do Viajante apresentam-se fechadas. 
Visita o cais.

321. Segue para a Luz. A Igreja da Luz de Tavira
(Igreja da Luz de Tavira)

322. Olhão. A igreja que decepcionante foi vencida pelas uvas comidas no cais dos pescadores. A história do rei mouro apaixonado por uma princesa nórdica, esta de saudades das suas terras navegadas, o rei mandou plantar milhões de amendoeiras que quando abriram em flor, parecendo um manto de neve deu à princesa a ilusão da sua terra natal, curando-a do mal das saudades. Esta é a lenda. O Viajante não convencido com a história acabará por explicar que por ordens do rei as casas eram pintadas de branco dando na mesma a ilusão da neve.

323. Estói. Palácio dos Condes de Carvalhal e as ruínas de Milreu
(Ruínas romanas de Milreu)

324. Faro. Menção honrosa para a cidade que aqui imprimiu o segundo Incunábulo nacional ou livro impresso pelas artes de Gutenberg, datado de 1487. Igreja de São Pedro e a Sé dentro das muralhas, antiga Vila-a-Dentro posterior à Ossónoba e à Hárune dos Mouros. A visita ao Museu de Faro com o director do museu sentado na secretária do e a fazer de contínuo.

325. A banhos em Monte Gordo, Armação de Pêra, Senhora da Rocha, Olhos de Água e na Ponta João de Arães. Entradas por saídas defende-se o Viajante.

326. São Lourenço de Almansil e a igreja com os azulejos de Policarpo de Oliveira Bernardes
(Igreja de São Lourenço de Almansil)

327. Menos sorte teve o Viajante em Loulé, as três igrejas previstas no roteiro estão fechadas.

328. Ribeira de Algibre ao lado da Aldeia de Tôr, passa Salir onde existirá a bula do papa Paulo III de 1550 na Igreja matriz

329. Alte. Igreja cheia de musicalidade setecentista
(Igreja de Alte)

330. São Bartolomeu de Messines igreja em grés vermelho. A caminho de Silves
(Interior da Igreja de São Bartolomeu de Messines)

331. A língua e linguagem tão diferente nestas paragens por causa do turismo estrangeiro que relega o português para outras necessidades menos importantes.

332. Castelo de Silves dos Mouros, a gótica Sé de Silves e o cruzeiro Cruz de Portugal
(A Cruz de Portugal com o Castelo de Silves em segundo plano)

333. Passa Lagoa a fugir e visita a igreja matriz com o obra atribuída a Machado de Castro.

334. Algarve e a sua estranha toponímia. Budens, Odiáxere, Bensafrim, a Ribeira de Odelouca e outros lugares que o mapa do Viajante marcará mas não visita.

335. Igreja de Estômbar uma catedral em miniatura
(Igreja de Estômbar)

336. Ribeira do Arade e Portimão e a igreja fechada dará para conhecer o essencial

337. Lagos que a história a liga ao comandante Sertório, sucessor do lusitano Viriato,  original Lacóbria leva o Viajante a um maravilhosa reflexão sobre as origens do território. Dom Sebastião Rei de Portugal e dos Algarves e também recordado, porque daqui terá assistido à missa que o levou a Alcácer Quibir, cuja estátua de João Cutileiro em sua memória se encontra edificada. Igreja de São Sebastião, o antigo mercado de escravos e a barroca Igreja de Santo António de Lagos, o museu local que expõe a arqueologia do Paleolítico até à Época Romana
(Antigo Mercado dos Escravos)

338. A caminho da Finisterra do Sul, passando Espiche, Almadena, Budens, Raposeira e Vila do Bispo. Ponta de Sagres e o Cabo de São Vicente
(Fortaleza de Sagres... aqui termina tudo... aqui recomeça tudo)

339. Não pode avançar mais. Sobe ao longo da costa. Aljezur, Odemira, Vila Nova de Milfontes, a foz do Rio Mira, Sines e Santiago do Cacém,  as ruínas de Miróbriga... Fim de viagem


340. O Viajante remata com um "O Viajante volta já".
"Não é verdade. A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: «Não há mais que ver», sabia que não era assim. O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É pre-ciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já." 
(Caminho, 11.ª edição, página 387)

Nota do blog
Esta foi uma maravilhosa viagem que tomei em pulso e estudo das imagens e sensações vividas por José Saramago. 
Espero aqui, ter sido fiel nas minhas palavras, e que me salve de ter, por alguma forma manchado com erro ou imprecisão o espírito e forma original do "Viajante".
Deixei uma pergunta:

"Isto é o Portugal de 1981! Como será o Portugal de 2015?"

Que Portugal sobra?
Depois do total desinvestimento das tutelas nas "artes e culturas" lusitanas, que conduziram um trilho chegado ao ponto em que este fustigado país, afortunadamente povoado por diferentes povos desde os primeiros raios de luz das civilizações, somos chegados à triste realidade de não ter um agregador Ministério da Cultura, mas tão somente uma pequena e infeliz secretaria de estado da cultura.
Dizem-me, não quero acreditar, mas pasmado ouso perpétuamente ficar se for verdade, que há redes criminosas que roubam as artes sacras e as mais hereges; que os rios, ribeiros e afluentes estão mais secos ou poluídos; que as paisagens idílicas estão criminosamente queimadas; chegam mesmo ao ponto de me, indignadamente, dizerem que o interior morreu, emigrou ou desapareceu sem que alguém dissesse adeus...
Que Portugal sobra?