Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Resignação... falta ao povo a mente "Desassossegada"

(Ilustração na obra "A Maior Flor do Mundo - Conto Infantil)

Revista Visão
José Carlos de Vasconcelos
16 de Janeiro de 2003

(...)
Não farás mais política, segues as coisas, e pelos vistos com tristeza.
Com imensa tristeza. Eu pergunto-me todos ou quase todos os dias: o que se passa com os portugueses? A imagem que eu tenho, e que me é dada pela comunicação social, é de haver uma dominante tão pequena, tão baixa, tão reles! Então, para não dizerem que não sou patriota, todos os dias me lembro da célebre frase do Almeida Garrett: « A terra é pequena e a gente que nela vive também não é grande». E porque não somos grandes? Porque não somos maiores do que aquiloo que - tirando alguns momentos em que fazemos coisas notáveis, que não estavam no 'programa' - parece ser o  nosso destino histórico?
Porque nos resignamos tanto? Porque estamos nesta coisa do «quem vier atrás que feche a porta«? Ou, para usar a linguagem mais grosseira: «Pelo tempo que hei-de estar no convento, cago-lhe e mijo-lhe dentro». E o convento é isto - a vida, o País, a relação social. (...)

Pilar del Río, nossa Presidenta apresenta "Alabardas Alabardas Espingardas Espingardas"

Saramago questionava como motivo para esta obra, que ficando inacabada, é completa.


"Entrevista de João Fernando Ramos a Pilar del Río no “Página 2”, da RTP2.

10-11-2014

Sinopse de “Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas”
Aquando do seu falecimento, em 2010, José Saramago deixou escritas trinta páginas daquele que seria o seu próximo romance; trinta páginas onde estava já esboçado o fio argumental, perfilados os dois protagonistas e, sobretudo, colocadas as perguntas que interessavam à sua permanente e comprometida vocação de agitar consciências.
Saramago escreve a história de Artur Paz Semedo, um homem fascinado por peças de artilharia, empregado numa fábrica de armamento, que leva a cabo uma investigação na sua própria empresa, incitado pela ex-mulher, uma mulher com carácter, pacifista e inteligente. A evolução do pensamento do protagonista permite-nos refletir sobre o lado mais sujo da política internacional, um mundo de interesses ocultos que subjaz à maior parte dos conflitos bélicos do século xx.
Dois outros textos - de Fernando Gómez Aguilera e Roberto Saviano - situam e comentam as últimas palavras do Prémio Nobel português, cuja força as ilustrações de um outro Nobel, Günter Grass, sublinham."



"Porquê, nunca houve uma greve numa fábrica de armas?"

Via Fundação José Saramago,
Aqui em http://www.josesaramago.org/romance-inacabado-de-jose-saramago-sera-publicado-em-outubro/

"Romance inacabado de José Saramago será publicado em Outubro

“Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas”, o romance inacabado de José Saramago, será publicado em outubro, anunciou a revista Blimunda # 26 no seu editorial.

A publicação do texto “será mais uma forma de repúdio à violência”, escreveu Pilar del Río, presidenta da Fundação José Saramago, no editorial da revista que desde ontem (dia 23) está disponível em formato digital. “São poucos capítulos, mas o tema fica claro, o texto tem unidade”, explica a tradutora espanhola.

Acompanham os primeiros capítulos do romance as notas do autor, feitas quando começou a escrevê-lo. Nelas, José Saramago antecipa o andamento e o desenlace da história que pretendia contar.

Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas, título emprestado de um verso do poeta Gil Vicente, tem como protagonista o funcionário de uma fábrica de armas que vive um conflito moral decorrente do seu trabalho.

O último livro do Prémio Nobel de Literatura será publicado simultaneamente em português, italiano, espanhol e catalão, na Europa e na América.

A Blimunda, revista digital mensal de acesso livre da FJS, pode ser descarregada no endereço http://blimunda.josesaramago.org."


(ilustração)