Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Citador #23 o enigma com que o mundo sempre nos apresenta...

Citador #23

"Para mim o mundo é uma espécie de enigma constantemente renovado. Cada vez que o olho estou sempre a ver as coisas pela primeira vez. O mundo tem muito mais para me dizer do que aquilo que sou capaz de entender. Daí que me tenha de abrir a um entendimento sem baías, de forma que tudo caiba nele."

José Saramago
O Jornal (Janeiro de 1983)

Saramago aborda a temática da "inspiração" - Existe? O que é?

Podemos ser inspirados por algo ou por outrem?
Existe a "inspiração"?
O que é a "inspiração"?


(...) "Sente aqui inspiração (nota: referência a Lanzarote) para escrever como se estivesse em qualquer outro lugar?"
Isso da inspiração para escrever é uma fábula. Se eu tenho de escrever...
Em primeiro lugar há que questionar essa questão da inspiração, O que é a inspiração? Alguma coisa que está fora de nós e que de repente toma conta e nos leva a pintar ou a fazer música? Não, a inspiração existe tanto como no caso, por exemplo, de uma pessoa que está a dizer a outra que a quer muito, a um namorado, a uma namorada, e que de repente tem uma frase que está bem, que é bonita. Se se quer chamar a isso inspiração, pois, sim, chama-se, mas não adianta muito. Aquilo que nós temos para dizer está diante da nossa cabeça, dentro da nossa cabeça, e a comunicação entre o que está dentro, esperando, mais ou menos adormecido, em estado de vigília mas de uma forma reservada, está à espera que nos apercebamos de que está ali... É nesse jogo entre o consciente e, ponhamos as coisas assim, o inconsciente, que pode haver algo a que poderíamos chamar, que podemos chamar e continuamos a chamar a inspiração. Eu tenho uma tese que é a existência de dois pensamentos na cabeça de cada um de nós. Um pensamento consciente, que é aquele que nós mais ou menos acompanhamos e desenvolvemos. E a par disso, um outro consciente subterrâneo, que trabalha por sua conta. E às vezes acontece que o efeito desse trabalho subterrâneo pode, de repente, subir à superfície. E nós damo-nos conta, sem esperar, de algo que não estávamos a elaborar mas que uma parte de nós estava. Quer dizer, isto de fundamento científico não tem nada, mas é só para me ajudar a entender que isso a que nós chamamos a inspiração, segundo esta tese, não é mais que o afloramento de algo do pensamento subterrâneo ao pensamento superficial." (...)

em, "Uma longa viagem com José Saramago"
de João Céu e Silva
Porto Editora, páginas 245 a 246

O tanto que José Saramago inspira os homens e mulheres, a criarem e a serem críticos e inquietos. Pelo mundo fora, chegam exemplos de inspiração "Saramaguiana".

Cartaz promocional 
Peça de teatro inspirada em obra de José Saramago "O Conto da Ilha Desconhecida", 
nas celebrações do Dia de Portugal na Venezuela (27 de Maio de 2012)

O Diário de Notícias (29/05/2012), deu destaque ao evento, que pode ser consultado,

"Aproximadamente 200 pessoas assistiram, em Caracas, à peça "O Conta da Ilha Desconhecida", inspirada numa obra com o mesmo nome, de José Saramago e que marcou o início das celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
O evento, de entrada livre, contou com a presença de diplomatas, personalidades da cultura e estudantes, entre outros. Foi organizado pela Embaixada de Portugal, em parceria com a Escola de Idiomas Modernos da Universidade Central da Venezuela.
A representação bilingue da peça esteve a cargo da Fundação Cultural Luso-Venezuelana Camões e do Grupo de Teatro "TKNELA".
A peça é uma adaptação da obra "O conto da ilha desconhecida", escrito por José Saramago e editado em 1998, que recorrendo a uma atmosfera de conto de fadas aborda o conflito básico da existência humana."