Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Texto "Ceia" (25/12/2008), e que bem se enquadra em qualquer outra data...

Perdoai-me que sou um pecador...
Não menos a propósito, se bem que a quadra "católico-festiva" da Páscoa, tem um significado menos consumista, logo por inércia muito menos importante, já que o "Pai Natal da multinacional Coca-cola" tem exponencialmente muito mais poder que os famosos "coelhos" e amêndoas de chocolate, ora, lembrou-me procurar um texto apropriado.
Remontemos ao "natal" de 2008...


Pode ser consultado e lido em
http://caderno.josesaramago.org/18470.html


"Ceia"

"Há muitos anos, nada menos que em 1993, escrevi nos “Cadernos de Lanzarote” umas quantas palavras que fizeram as delícias de alguns teólogos desta parte da Ibéria, especialmente Juan José Tamayo, que desde aí, generosamente, me deu a sua amizade. Foram elas: “Deus é o silêncio do universo, e o homem o grito que dá sentido a esse silêncio”. Reconheça-se que a ideia não está mal formulada, com o seu “quantum satis” de poesia, a sua intenção levemente provocadora e o subentendido de que os ateus são muito capazes de aventurar-se pelos escabrosos caminhos da teologia, ainda que a mais elementar. Nestes dias em que se celebra o nascimento do Cristo, outra ideia me acudiu, talvez mais provocadora ainda, direi mesmo que revolucionária, e que em pouquíssimas palavras se enuncia. Ei-las. Se é verdade que Jesus, na última ceia, disse aos discípulos, referindo-se ao pão e ao vinho que estavam sobre a mesa: “Este é o meu corpo, este é o meu sangue”, então não será ilegítimo concluir que as inumeráveis ceias, as pantugruélicas comezainas, as empaturradelas homéricas com que milhões e milhões de estômagos têm de haver-se para iludir os perigos de uma congestão fatal, não serão mais que a multitudinária cópia, ao mesmo tempo efectiva e simbólica, da última ceia: os crentes alimentam-se do seu deus, devoram-no, digerem-no, eliminam-no, até ao próximo natal, até à próxima ceia, ao ritual de uma fome material e mística sempre insatisfeita. A ver agora que dizem os teólogos." (Quinta-feira, 25 de Dezembro de 2008)

Das "Armas" em "O Caderno 2" (26/05/2009), até às "Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas"

A 26 de Maio de 2009, José Saramago apresenta no seu blog, o texto "Armas", cuja inserção no livro "O Caderno 2", acontece com a compilação de todos os "posts", compreendidos entre Setembro de 2008 e Novembro de 2009.
Este texto - "Armas" - será a demonstração de um pensamento crítico e constante, que antecedeu a "fermentação" da ideia na qual surgiria a obra inacabada "Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas".
As fábricas em laboração contínua, as negociatas com as convenientes complacências dos "estados e seus governantes"... quem se indigna é porque não suporta, seguramente viverá agoniado, com o triste espectáculo que é este mundo...  



(Capa da edição italiana, pela editora Feltrinelli)

Texto publicado no blob/livro "O Caderno 2", pode ser lido e consultado
em http://caderno.josesaramago.org/43247.html

"Armas"
"O negócio das armas, sujeito à legalidade mais ou menos flexível de cada país ou de simples e descarado contrabando, não está em crise. Quer dizer, a tão falada e sofrida crise que vem destroçando física e moralmente a população do planeta não toca a todos. Por toda a parte, aqui, além, os sem trabalho contam-se por milhões, todos os dias milhares de empresas declaram-se em falência e fecham as portas, mas não consta que um único operário de uma fábrica de armamento tenha sido despedido. Trabalhar numa fábrica de armas é um seguro de vida. Já sabemos que os exércitos precisam de armar-se, substituir por armas novas e mais mortíferas (disso se trata) os antigos arsenais que fizeram a sua época mas já não satisfazem as necessidades da vida moderna. Parece portanto evidente que os governos dos países exportadores deveriam controlar severamente a produção e a comercialização das armas que fabricam. Simplesmente, uns não o fazem e outros olham para o lado. Falo de governos porque é difícil crer que, a exemplo das instalações industriais mais ou menos ocultas que abastecem o narcotráfico, existam no mundo fábricas clandestinas de armamento. Logo, não há uma pistola que, por assim dizer, não vá tacitamente certificada pelo respectivo, ainda que invisível, selo oficial. Quando num continente como o sul-americano, por exemplo, se calcula que há mais de 80 milhões de armas, é impossível não pensar na cumplicidade mal disfarçada dos governos, tanto dos exportadores como dos importadores. Que a culpa, pelo menos em parte, é do contrabando em grande escala, diz-se, esquecendo que para fazer contrabando de algo é condição sine qua non que esse algo exista. O nada não é contrabandeável. Toda a vida tenho estado à espera de ver uma greve de braços caídos numa fábrica de armamento, inutilmente esperei, porque tal prodígio nunca aconteceu nem acontecerá. E era essa a minha pobre e única esperança de que a humanidade ainda fosse capaz de mudar de caminho, de rumo, de destino." (26/05/2009)

(Ilustrações de Gunter Grass , Porto Editora, páginas 124/125)

Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas - Porto Editora, 2014
(com textos de Fernando Gómez Aguilera e Roberto Saviano, capa e ilustrações de Günter Grass)

Sinopse, via página da Fundação José Saramago, para ser consultada, 

"Aquando do seu falecimento, em 2010, José Saramago deixou escritas trinta páginas daquele que seria o seu próximo romance; trinta páginas onde estava já esboçado o fio argumental, perfilados os dois protagonistas e, sobretudo, colocadas as perguntas que interessavam à sua permanente e comprometida vocação de agitar consciências.Saramago escreve a história de Artur Paz Semedo, um homem fascinado por peças de artilharia, empregado numa fábrica de armamento, que leva a cabo uma investigação na sua própria empresa, incitado pela ex-mulher, uma mulher com carácter, pacifista e inteligente. A evolução do pensamento do protagonista permite-nos refletir sobre o lado mais sujo da política internacional, um mundo de interesses ocultos que subjaz à maior parte dos conflitos bélicos do século xx. Dois outros textos – de Fernando Gómez Aguilera e Roberto Saviano – situam e comentam as últimas palavras do Prémio Nobel português, cuja força as ilustrações de um outro Nobel, Günter Grass, sublinham."

Livros infantis pelo punho de José Saramago - Imagem Cénica

Dia Internacional do Livro Infantil

... porque todas as crianças devem ser felizes, 
crescer em ambientes socialmente saudáveis, 
com acesso aos cuidados médicos necessários,
disponham de acesso ao sistema de ensino,
devam ser protegidas de todas e quaisquer ameaças,
cuidadas e orientadas em família e junto dos seus pares...
... porque todas as crianças têm direito à construção do seu mundo e das suas fantasias...

Deixemos e proporcionemos que as crianças possam navegar nos rios
e mares do faz de conta, que caminhem pelas montanhas de onde se consegue tocar as nuvens, que construam todas as naves espaciais para poderem viajar para lá do que conhecemos, e só elas sabem onde fica... 

Viva o "Dia Internacional do Livro Infantil"
Viva todas as crianças 



Montagem cénica, com as 3 obras de José Saramago, conjuntamente com um conjunto de bandeiras imaginadas pelo Ódin Santos (8 anos) e alguns pequenos brinquedos...

"A Maior Flor do Mundo" - Caminho 2001 (Ilustrações de João Caertano

"O Silêncio da Água" - Caminho 2011 (Ilustração de Manuel Estrada), conto retirado da obra "Pequenas Memórias de 2006

"O Conto da Ilha Desconhecida" - Caminho 1999 (Ilustração de Bartolomeu dos Santos)

Dia Internacional do Livro Infantil

"O Dia Internacional do Livro Infantil celebra-se anualmente no dia 2 de Abril.
Esta data é celebrada por iniciativa do Conselho Internacional sobre Literatura para os Jovens (IBBY), que em Portugal é representada pela Associação Portuguesa para a Promoção do Livro Infantil e Juvenil (APPLIJ).
O IBBY criou o Dia Internacional do Livro Infantil em 1967, para homenagear o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, (autor de algumas das histórias para crianças mais lidas em todo o mundo), cujo aniversário do nascimento é assinalado a 2 de Abril."



Via Página do Facebook da "Blimunda" - Revista Digital
 "No Dia Internacional do Livro Infantil recuperamos da Blimunda # 6, de novembro de 2012, 
dois artigos sobre a Literatura Infantil de José Saramago (por Luísa Ducla Soares) 
e sobre o seu livro "A Maior Flor do Mundo" (por Andreia Brites).