Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Roteiro de Leitura da obra "O Evangelho segundo Jesus Cristo"

Roteiro de Leitura
"O Evangelho segundo Jesus Cristo"
Caminho, 1991

Um roteiro não nos mostra o local físico, porém, 
nos orienta pelos caminhos a percorrer até ao seu destino.
São 85 pontos de interesse, em sucessão e não antecipáveis, tal como se pode imaginar e idealizar num trajecto entre o ponto de partida e o de chegada. Pelo meio, um caminho percorrido. 
Mil vozes e imagens transporta este "O Evangelho segundo Jesus Cristo".


1. Quadro de Dhurer


2. O amanhecer e o sexo consumado

3. Nazaré na Galileia e a casa feita na encosta

4. O mendigo que bate à porta pedindo comida e que se despede na forma de anjo

5. A tigela com a luz brilhante

6. Por dúvidas quanto à intenção do mendigo José consulta o conselho de anciãos

7. Os anciãos que vão a casa de José interrogar
Maria e decidem cavar um buraco para esconder a terra brilhante


8. A passagem dos meses, as chuvas, os soldados de Roma que preparam
o recenseamento com vista à colecta dos impostos

9. O caminho em direcção a Belém, José e o grupo dos homens,
Maria a burro no grupo atrasado das mulheres

10. O ancião Simeão questiona José sobre a questão de recensear a família,
e se não nasce até ao último dia do recenseamento.
A discussão e a perda de razão, a argumentária do ancião

11. Maria e a gestação

12. A revelação de Simeão o filho deve ser escondido

13. A caminhada onde José terá a alucinação de ver
o seu futuro filho já homem a acompanhar a mãe,
ou a presença do mendigo da terra brilhante

14. Jerusalém, as primeiras dores e o trabalho de parto

15. Belém o tempo urge

16. A parideira escrava Zelomi que ajudará no parto,
a estada na gruta quando faltou outro tipo de guarida


17. Maria pariu, 3 pastores trouxeram o leite e o queijo, o terceiro pastor trouxe o pão,
Maria reconhece-o como sendo o mendigo

18. O rei Herodes, o retrato da loucura e doença

19. Jesus levado pelo pai à sinagoga para ser circuncidado.
Passaram 8 dias após o nascimento e faltarão 33 dias
 a contar desse momento para purificação da mãe

20. Maria purificada através do sacrifício de 2 rolas no Templo

21. A profecia que cai sobre rei Herodes

22. José ouve da boca de 3 soldados, falam de uma ordem de matança
de todos os nascidos com menos de 3 anos.
A urgência de fugir em direcção à gruta para colocar o filho a salvo da matança

23. Numa ausência de José aparece o mendigo sob a forma de pastor e anuncia a culpa,
por salvarem Jesus e esqueceram as restantes crianças

24. Os pesadelos e culpa de José. Mais filhos e a vida segue.
Jesus tem 5 anos e vai à escola

25. Jesus com 11 anos, a intifada de Judas Galileu e seus homens
contra o rei David na Galileia e Judeia


26. O vizinho Ananias pede a José que lhe cuide da casa na sua ausência.
Vai para a guerra contra os romanos e alista-se nas tropas de Judas Galileu

27. Passado tempo chega a José que Ananias está em Séforis ferido e que as tropas romanas prestam-se a avançar. José decide ir procurá-lo, encontra-o às portas da morte. Morre.

28. José foi crucificado. As tropas romanas apanharam-no vagueando por Séforis à procura do seu burro roubado na noite em que esteve de vigília a Ananias. 40 homens levados para fora da cidade morreram. José morreu aos 33 anos.

29. Maria e Jesus vão de caminho saber de José. O crucificado morto e descido da cruz. O choque. Jesus recolhe as sandálias de José, agora já homem. José sepultado numa vala comum

30. Os pesadelos de Jesus. Maria revela a Jesus os pesadelos de José e que Jesus acabara de herdar. Jesus fica sozinho no deserto e é observado de longe por um pastor.

31. Jesus assume a ruptura com a família e decide sair de casa. Numa noite seguinte o mendigo que se tinha anunciado a Maria volta a casa para arrancar a planta pela raiz que tinha nascido onde a terra brilhante estava depositada.

32. O caminho para Jerusalém


33. A chegada ao Templo e sua esplanada de acesso.
O Átrio dos Gentios, o Átrio das Mulheres, a Sala dos Óleos e a dos Nazarenos e finalmente os anciãos e os escribas que conhecedores das leis dão conselhos

34. Jesus questiona sobre a culpa

35. Segue para Belém

36. Pára no túmulo de Raquel como aconteceu com seus pais faz 13 anos e descobre numa praça o túmulo das 25 crianças mandadas matar pelo rei Herodes. Jesus chega aos lugares que os seus passos os leva sem procurar.

37. Encontra uma escrava velha, agora velha mas que vem a descobrir que foi a sua parteira Zelomi. Do túmulo das 25 crianças sepultadas vai conhecer a cova onde nasceu.

38. Jesus é surpreendido pelo pastor que se apresentou a Maria.
Do susto inicial a ficar como seu ajudante

39. Passado um dia e noite Jesus decide confrontar o pastor que não cumprindo com as praxes das bênçãos anuncia a sua ida para outras paragens.

40. Confronto ético e teológico constante com o pastor... será um emissário do Diabo?
A ausência de resposta leva Jesus a segui-lo

41. O acidente com o pequeno cabrito morto por jesus por acidente

42. Aproxima-se a Páscoa. Jesus segue para Jerusalém. Em Emaús pede para comprar o cordeiro que deverá ser sacrificado. Recebe um de oferenda.

43. Jerusalém e os odores da queima e seus sacrifícios. Jesus questiona-se sobre estes rituais. O cordeiro não morrerá. De volta para o deserto onde está o pastor e seu rebanho.


44. O cordeiro já é ovelha. Esta desaparece no deserto. Jesus vai em sua procura e encontra.
Deus que exige que a seja sacrificada.

45. Pastor expulsa Jesus do rebanho. Seguirá pelas margens do rio Jordão

46. Passa uns dias e ajuda os pescadores. Junta-se a André e Simão numa ida ao
mar Genesaré e o milagre da pescaria farta

47. Caminho para Nazaré passando por Magdala.

48. As feridas nos pés obrigam a pedir ajuda. Bate à porta da casa de uma prostituta.

49. Maria de Magdala disse a Jesus aprende o meu corpo.  Assim foi. Uma semana.

50. Voltou a Nazaré

51. De volta a casa descobre que no fundo do alforge lhe aparecem
20 moedas colocadas por Maria de Magdala

52. Maria e os filhos Tiago e José acabam por duvidar de Jesus que acaba por sair de novo de sua antiga casa e família. A tigela escolhida.

53. Volta para Magdala. Passado pouco tempo fogem da casa e partem para junto do mar.
A casa de Maria foi incendiada .

54. Mãe de Jesus recebe de novo o visitante que já lhe anunciou a gravidez de Jesus. Agora para lhe dizer que devia ter acreditado no filho. Ele viu Deus. Chega a hora do arrependimento. Maria manda Tiago e José para os lados do mar da Galileia procurar o irmão e pedir que regresse.

55. O encontro entre os 3 rapazes. Jesus, Tiago e José. O confronto leva-os de volta a casa e a Jesus aos milagres da pescaria. As terras e populações que tentam ficar com Jesus por ser sinónimo de abundância. A necessidade de Jesus em repartir a sua presença pelo máximo de embarcações.
56. A tempestade no mar que Jesus faz abrandar. A aclamação popular

57. Jesus tem 25 anos



58. Continua a obrar milagres. Visita a outra margem e se depara com um homem imundo que lhe pede que lhe liberte os demónios que carregava dentro. Era a Legião.  Foram enviados para uma vara de porcos que pouco depois se afogaram no mar.
Os porcos morreram e os demónios foram libertos e soltos. Jesus e seus seguidores sentam-se a debater quem é ele afinal e para que servirá sendo filho de Deus. 

59. O milagre falhado da figueira

60. Já era tempo disse Jesus. O nevoeiro chama-o ao mar aonde os pescadores permanecem em terra.

61. Atravessando o nevoeiro chega ao centro do mar. Deus está sentado na popa do barco.
Saber quem é Jesus e o que Deus lhe tem destinado.

62. Diálogo e argumentação

63. Ouvem-se braçadas de algo que se aproxima do barco. Interrompe-se o diálogo com o fim da resposta à primeira questão. É o pastor que aparece. Deus apresenta-o a Jesus. É o Diabo. Continua o diálogo.

64. No final ficará a saber a resposta às duas perguntas.
Que é filho de Deus e será mártir e vítima.

65. A lista dos nomes que morreram em nome ou por causa de Deus,
os martírios e sacrifícios, as guerras e cruzadas

66. O Pastor tentou fazer sem sucesso uma aliança com Deus.
Acabar com o mal e evitar as desgraças futuras.


67. Levantou o nevoeiro. Jesus dirige-se para terra onde uma multidão o espera. Simão lhe diz que esteve quarenta dias fora no mar sem que os pescadores pudessem pescar

68. Jesus parte com seus companheiros. Ele e Maria de Magdala vão discretamente a caminho de Betânia visitar os irmãos dela. Desde que se tornou prostituta ficaram desavindos.
A irmã Marta e Lázaro que é curado.

69. Chegam multidões para o ver e obter os milagres. O Templo está atento.

70. Jesus seguirá com Judas Escariote e Tomé à procura de João
que anda a pregar a chegada do filho de Deus e ajudará Jesus

71. Perto de Betânia em Betabara Jesus encontra João.
Apresentam-se e seguem os seus caminhos. Jesus é baptizado por João, este lhe dirá Não é preciso que o Messias faça tanto desde que faça o que deve.

72. Recolhe-se durante 8 dias
73. Decide que chegou a hora de ir para Jerusalém. Segue com os seus 12 companheiros.
Chegam e provocam um tumulto juntos dos cambistas.
Derruba as mesas e diz que o templo está repleto de ladrões.

74. Regressa a Betânia. Chega a casa de Marta e Lázaro. Este morreu. Marta pede que o ressuscite. Maria diz que ninguém fez tanto mal que mereça duas mortes. Assim fica.

75. Jesus vive a indefinição e a tristeza.

76. Chega a notícia que João o Baptista foi preso e degolado, não porque andasse a pregar a chegada do Messias mas porque denunciou o adultério do rei Herodes.
Causa mesquinha que perturbou Jesus e os seus discípulos.

77. Jesus com todos os discípulos em reunião sem a presença das mulheres e por desafio de Judas Escariote, anunciará a morte ou sortes de todos. Todos serão executados de forma horrível mas João chegará a velho e Judas Escariote saberá que se enforcará numa figueira.

78. Durante a assembleia com os discípulos Judas Escariote oferece-se para ir a Jerusalém,  anunciar junto das tropa do rei Herodes a chegado do Messias, filho de Deus.

79. Jesus é preso e levado para Jerusalém.
À saída de Betânia Jesus vê Judas Escariote pendurado pelo pescoço na anunciada figueira.

80. Em Jerusalém, Jesus é levado à presença dos anciãos. Depois enviado ao palácio de Pilatos onde este procurador aguardava aquele que se dizia rei dos Judeus e atacado os cambistas às portas do templo finalmente para ser julgado


81. A assembleia, o julgamento, o diálogo do acusador e acusado.
O filho do Homem e rei dos Judeus como Jesus se apresenta

82. Pilatos dá a Jesus a escolha da sua morte.
Crucificado e pede um letreiro sobre a sua cabeça. Jesus de Nazaré Rei dos Judeus

83. A crucificação, retornar ao pai José crucificado em Séforis.
Pendurado na cruz. Os céus abrem-se e Deus aparece.
E pela terra dá a sua voz ao filho Jesus.

84. Jesus nascido para morrer e o rio de sangue que percorrerá a terra em seu nome.

85. Num assomo de vida última Jesus vê um homem e a tigela negra a seus pés recolhendo o sangue. 

Luis Pastor "Con Saramago en la voz" - entrevista à Revista Ñ Clarín (Irene Amuchastegui 23/09/2015)


(Foto de Luis Pastor que acompanha a entrevista)

A entrevista pode ser consultada aqui, 

De Irene Amuchastegui, 23/09/2015

"En su comentario para el álbum En esta esquina del tiempo , José Saramago compara la voz del español Luis Pastor, “áspera y al mismo tiempo suave”, con las de “los grandes trovadores del siglo pasado”. Y formula una invitación de la concisión más contundente: “Oigámoslo”. El disco reúne poemas del escritor portugués, musicalizados e interpretados por Pastor. El texto de presentación sentencia: “El tiempo cabe todo en la duración de un disco”. Este se publicó en edición bilingüe en 2006, en Europa, y acaba de aparecer en español en la Argentina, donde Luis Pastor nunca había actuado, hasta ahora. En su primera visita a Buenos Aires, también estrena su primer tango y su propia cuenta de Facebook. La cuenta acaba de crearla su hijo Pedro, también músico, en la computadora del lobby del hotel, y debuta en la red con un anacrónico: “Nos modernizamos”, lleno de irónico encanto para un cantautor de los de la vieja guardia. En cuanto al tango, “Uno de mayo”, es un poema de Luis García Montero, granadino de su misma generación, a quien conoció por un libro que le regaló Joaquín Sabina. “Me va a acompañar mi hijo, que toca mejor que yo. Yo no sé tocar un tango. Yo estoy en la frontera de todas las músicas: hago mornas de Cabo Verde sin haber estado allí, hago fados de Portugal y ahora he dejado fluir la copla, que está en mi origen, y de la que había escapado para convertirme en el cantautor que quería ser. Entre España, Cabo Verde y Lisboa, vienen y van las músicas que hago, Atlántico por medio. A veces, tocan también estas costas, porque más allá de todas mis influencias portuguesas y africanas, tengo algo muy latino. Cuando tenía 16, como era un ‘niño de copla’ que tenía que aprender a ser otro cantante, además de los nuestros, como Paco Ibáñez, o de los portugueses, como José Afonso, yo cantaba “A desalambrar” de Viglietti y escuchaba a Mercedes Sosa, a Atahualpa, a los grandes. Yo siempre he estado ahí”.

–Es curioso, entonces, que no hayas venido antes.
–Lo explica mi propia trayectoria: soy un cantautor que viene de una tradición de finales de los años 60 y de los 70, donde la canción no era una vía para volverse famoso, ganar dinero, dar “el salto”. He viajado sólo cuando me han llamado: a Nicaragua en los 80, con mi banda, a Chile, a Brasil… Pero nunca me había planteado hacer una gira. No soy ambicioso. Nunca me he fiado de oficinas ni representantes… Mi primer manager ha sido un cura obrero. El anti-manager. Por otro lado, en los 90 sentía que había mucha gente que me tenía que descubrir en España misma, porque las nuevas generaciones no se paraban a escuchar. El cantautor había quedado estigmatizado como un tipo aburrido, un matraquero, un panfletero… un coñazo.

–En “¿Qué fue de los cantautores?” hablás de aquellos que aún resisten “en sus trincheras”. ¿Recuperaron espacio?
–En la España de fines de los 70, el cantautor empieza a ser denostado, como un tipo que, muerto Franco, no tenía razón de ser. Yo lo sufrí en mi persona, cuando me retiré tres años en el 79 y volví en el 81 con disco nuevo: aquella misma gente que antes había hablado bien de mí en las radios y en los medios, de pronto me negaba el pan y la sal. Pero a mí me ha salvado que soy, sobre todo, un ser musical: más allá de toda mi historia política y de barrio, de trabajador, de obrero y de militante, fui un niño que a los 7 años cantaba a Joselito. Me transformé en el cantautor que quería ser y he persistido en ese camino. En los 90 hice la obra más bonita posible. Yo creo que ahí está por fin mi triunfo: haber aprendido con los años a contarme en canciones. Porque yo era un niño sin estudios. Fui un trabajador desde los 9 años, sólo estuve en la escuela 4 años.

–¿Te faltaban herramientas para lograr la expresión a la que aspirabas?
–No me faltaban porque descubrí a los poetas y fui a por ellos, buscando lo que yo quería decir y ellos decían mejor que yo. Me prohibieron el primer disco, cuando tenía 20 años: de once canciones, me prohibieron diez. Mi primer single fue “Con dos años”, de Miguel Hernández, y un poema de Pablo Neruda que se llamaba “La huelga” y para pasar la censura tuve que rebautizar “La huelga del ocio”. Claro, el hecho de musicar a grandes poetas a mí me puso el listón muy alto y me he exigido siempre cierto nivel en mis letras. La vida a veces es circular: en los últimos diez años, desde el disco de Saramago, siento que vuelvo al punto de partida. He vuelto a musicar poetas y escribo menos yo. Aunque las letras del último disco ( ¿Qué fue de los cantautores?) son todas mías y tengo otras cosas esperando por ahí, he vuelto a los poetas. Cuando terminé En esta esquina del tiempo me puse a leer a los poetas canarios y encontré todo un mundo. Luego, hace unos años fue el centenario del nacimiento de Miguel Hernández. Yo no lo leía desde el 79. Lo releí y descubrí a otro Miguel: cuando era joven, yo iba buscando la lucha, la cárcel, la guerra y ahora encontré a un Miguel pletórico de imágenes de una fuerza que ningún poeta ha sabido expresar. Miraba los versos y decía: esto es una copla, esto es flamenco… He musicado de una pegada veinte poemas y se los he regalado a Carmen Linares, la más grande cantaora de flamenco, que montó un espectáculo en el que la mitad del repertorio es ese. Al grupo Jarcha le di otros nueve poemas musicados de Miguel. Yo nunca los grabé, pero quiero hacerlo.

–¿Cómo surgió el proyecto de En esta esquina del tiempo?
–Con Saramago nos conocimos en un programa de televisión y quedamos amigos para siempre. Cada vez que íbamos a cantar a Lanzarote con Lourdes, mi mujer, lo visitábamos. Uno de esos días me ha regalado su poesía completa. Al despedirme le he dicho: “Te voy a musicar”. Y él me ha dicho: “A ver si es verdad”. Ahí arrancó todo. Cuando monté en el avión y vi esos poemas, que tienen 45 años, pues él no volvió a escribir poesía, sentí que me estaban esperando. Eran para mí. Al leerlos me parecía que ya la música estaba puesta. Ha surgido sin pretenderlo. Al llegar a casa, he compuesto 18 temas en tres días de una semana: lunes, miércoles y viernes.

–¿Cómo reaccionó Saramago al escuchar por primera vez el material?
–Estábamos en mi casa con José, Pilar del Río, Miguel Ríos y su mujer. Yo había grabado una maqueta en una hora. Nos sentamos a escuchar, pongo la primera canción y Miguel dice: “Qué bonita música”. La segunda y Miguel comenta: “Qué música más bonita”. Ya a la tercera, José le retruca: “Bueno, las letras tampoco están mal…”

–Volviste a trabajar sobre poemas de Saramago para una versión teatral de El viaje del elefante. ¿Cómo fue eso?
–Vino un director de teatro a pedirme que hiciera las músicas y las letras para esa obra. Y yo le he dicho: “No, Saramago apunta en sus poemas lo que luego desarrolla en sus novelas. Verás cómo para cada escena vamos a encontrar dos o tres poemas”. Y así fue. Es maravilloso el encuentro de una novela convertida en obra de teatro que a su vez se nutre de su poesía… José hubiera flipado."