Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Roteiro de Leitura da obra "O Evangelho segundo Jesus Cristo"

Roteiro de Leitura
"O Evangelho segundo Jesus Cristo"
Caminho, 1991

Um roteiro não nos mostra o local físico, porém, 
nos orienta pelos caminhos a percorrer até ao seu destino.
São 85 pontos de interesse, em sucessão e não antecipáveis, tal como se pode imaginar e idealizar num trajecto entre o ponto de partida e o de chegada. Pelo meio, um caminho percorrido. 
Mil vozes e imagens transporta este "O Evangelho segundo Jesus Cristo".


1. Quadro de Dhurer


2. O amanhecer e o sexo consumado

3. Nazaré na Galileia e a casa feita na encosta

4. O mendigo que bate à porta pedindo comida e que se despede na forma de anjo

5. A tigela com a luz brilhante

6. Por dúvidas quanto à intenção do mendigo José consulta o conselho de anciãos

7. Os anciãos que vão a casa de José interrogar
Maria e decidem cavar um buraco para esconder a terra brilhante


8. A passagem dos meses, as chuvas, os soldados de Roma que preparam
o recenseamento com vista à colecta dos impostos

9. O caminho em direcção a Belém, José e o grupo dos homens,
Maria a burro no grupo atrasado das mulheres

10. O ancião Simeão questiona José sobre a questão de recensear a família,
e se não nasce até ao último dia do recenseamento.
A discussão e a perda de razão, a argumentária do ancião

11. Maria e a gestação

12. A revelação de Simeão o filho deve ser escondido

13. A caminhada onde José terá a alucinação de ver
o seu futuro filho já homem a acompanhar a mãe,
ou a presença do mendigo da terra brilhante

14. Jerusalém, as primeiras dores e o trabalho de parto

15. Belém o tempo urge

16. A parideira escrava Zelomi que ajudará no parto,
a estada na gruta quando faltou outro tipo de guarida


17. Maria pariu, 3 pastores trouxeram o leite e o queijo, o terceiro pastor trouxe o pão,
Maria reconhece-o como sendo o mendigo

18. O rei Herodes, o retrato da loucura e doença

19. Jesus levado pelo pai à sinagoga para ser circuncidado.
Passaram 8 dias após o nascimento e faltarão 33 dias
 a contar desse momento para purificação da mãe

20. Maria purificada através do sacrifício de 2 rolas no Templo

21. A profecia que cai sobre rei Herodes

22. José ouve da boca de 3 soldados, falam de uma ordem de matança
de todos os nascidos com menos de 3 anos.
A urgência de fugir em direcção à gruta para colocar o filho a salvo da matança

23. Numa ausência de José aparece o mendigo sob a forma de pastor e anuncia a culpa,
por salvarem Jesus e esqueceram as restantes crianças

24. Os pesadelos e culpa de José. Mais filhos e a vida segue.
Jesus tem 5 anos e vai à escola

25. Jesus com 11 anos, a intifada de Judas Galileu e seus homens
contra o rei David na Galileia e Judeia


26. O vizinho Ananias pede a José que lhe cuide da casa na sua ausência.
Vai para a guerra contra os romanos e alista-se nas tropas de Judas Galileu

27. Passado tempo chega a José que Ananias está em Séforis ferido e que as tropas romanas prestam-se a avançar. José decide ir procurá-lo, encontra-o às portas da morte. Morre.

28. José foi crucificado. As tropas romanas apanharam-no vagueando por Séforis à procura do seu burro roubado na noite em que esteve de vigília a Ananias. 40 homens levados para fora da cidade morreram. José morreu aos 33 anos.

29. Maria e Jesus vão de caminho saber de José. O crucificado morto e descido da cruz. O choque. Jesus recolhe as sandálias de José, agora já homem. José sepultado numa vala comum

30. Os pesadelos de Jesus. Maria revela a Jesus os pesadelos de José e que Jesus acabara de herdar. Jesus fica sozinho no deserto e é observado de longe por um pastor.

31. Jesus assume a ruptura com a família e decide sair de casa. Numa noite seguinte o mendigo que se tinha anunciado a Maria volta a casa para arrancar a planta pela raiz que tinha nascido onde a terra brilhante estava depositada.

32. O caminho para Jerusalém


33. A chegada ao Templo e sua esplanada de acesso.
O Átrio dos Gentios, o Átrio das Mulheres, a Sala dos Óleos e a dos Nazarenos e finalmente os anciãos e os escribas que conhecedores das leis dão conselhos

34. Jesus questiona sobre a culpa

35. Segue para Belém

36. Pára no túmulo de Raquel como aconteceu com seus pais faz 13 anos e descobre numa praça o túmulo das 25 crianças mandadas matar pelo rei Herodes. Jesus chega aos lugares que os seus passos os leva sem procurar.

37. Encontra uma escrava velha, agora velha mas que vem a descobrir que foi a sua parteira Zelomi. Do túmulo das 25 crianças sepultadas vai conhecer a cova onde nasceu.

38. Jesus é surpreendido pelo pastor que se apresentou a Maria.
Do susto inicial a ficar como seu ajudante

39. Passado um dia e noite Jesus decide confrontar o pastor que não cumprindo com as praxes das bênçãos anuncia a sua ida para outras paragens.

40. Confronto ético e teológico constante com o pastor... será um emissário do Diabo?
A ausência de resposta leva Jesus a segui-lo

41. O acidente com o pequeno cabrito morto por jesus por acidente

42. Aproxima-se a Páscoa. Jesus segue para Jerusalém. Em Emaús pede para comprar o cordeiro que deverá ser sacrificado. Recebe um de oferenda.

43. Jerusalém e os odores da queima e seus sacrifícios. Jesus questiona-se sobre estes rituais. O cordeiro não morrerá. De volta para o deserto onde está o pastor e seu rebanho.


44. O cordeiro já é ovelha. Esta desaparece no deserto. Jesus vai em sua procura e encontra.
Deus que exige que a seja sacrificada.

45. Pastor expulsa Jesus do rebanho. Seguirá pelas margens do rio Jordão

46. Passa uns dias e ajuda os pescadores. Junta-se a André e Simão numa ida ao
mar Genesaré e o milagre da pescaria farta

47. Caminho para Nazaré passando por Magdala.

48. As feridas nos pés obrigam a pedir ajuda. Bate à porta da casa de uma prostituta.

49. Maria de Magdala disse a Jesus aprende o meu corpo.  Assim foi. Uma semana.

50. Voltou a Nazaré

51. De volta a casa descobre que no fundo do alforge lhe aparecem
20 moedas colocadas por Maria de Magdala

52. Maria e os filhos Tiago e José acabam por duvidar de Jesus que acaba por sair de novo de sua antiga casa e família. A tigela escolhida.

53. Volta para Magdala. Passado pouco tempo fogem da casa e partem para junto do mar.
A casa de Maria foi incendiada .

54. Mãe de Jesus recebe de novo o visitante que já lhe anunciou a gravidez de Jesus. Agora para lhe dizer que devia ter acreditado no filho. Ele viu Deus. Chega a hora do arrependimento. Maria manda Tiago e José para os lados do mar da Galileia procurar o irmão e pedir que regresse.

55. O encontro entre os 3 rapazes. Jesus, Tiago e José. O confronto leva-os de volta a casa e a Jesus aos milagres da pescaria. As terras e populações que tentam ficar com Jesus por ser sinónimo de abundância. A necessidade de Jesus em repartir a sua presença pelo máximo de embarcações.
56. A tempestade no mar que Jesus faz abrandar. A aclamação popular

57. Jesus tem 25 anos



58. Continua a obrar milagres. Visita a outra margem e se depara com um homem imundo que lhe pede que lhe liberte os demónios que carregava dentro. Era a Legião.  Foram enviados para uma vara de porcos que pouco depois se afogaram no mar.
Os porcos morreram e os demónios foram libertos e soltos. Jesus e seus seguidores sentam-se a debater quem é ele afinal e para que servirá sendo filho de Deus. 

59. O milagre falhado da figueira

60. Já era tempo disse Jesus. O nevoeiro chama-o ao mar aonde os pescadores permanecem em terra.

61. Atravessando o nevoeiro chega ao centro do mar. Deus está sentado na popa do barco.
Saber quem é Jesus e o que Deus lhe tem destinado.

62. Diálogo e argumentação

63. Ouvem-se braçadas de algo que se aproxima do barco. Interrompe-se o diálogo com o fim da resposta à primeira questão. É o pastor que aparece. Deus apresenta-o a Jesus. É o Diabo. Continua o diálogo.

64. No final ficará a saber a resposta às duas perguntas.
Que é filho de Deus e será mártir e vítima.

65. A lista dos nomes que morreram em nome ou por causa de Deus,
os martírios e sacrifícios, as guerras e cruzadas

66. O Pastor tentou fazer sem sucesso uma aliança com Deus.
Acabar com o mal e evitar as desgraças futuras.


67. Levantou o nevoeiro. Jesus dirige-se para terra onde uma multidão o espera. Simão lhe diz que esteve quarenta dias fora no mar sem que os pescadores pudessem pescar

68. Jesus parte com seus companheiros. Ele e Maria de Magdala vão discretamente a caminho de Betânia visitar os irmãos dela. Desde que se tornou prostituta ficaram desavindos.
A irmã Marta e Lázaro que é curado.

69. Chegam multidões para o ver e obter os milagres. O Templo está atento.

70. Jesus seguirá com Judas Escariote e Tomé à procura de João
que anda a pregar a chegada do filho de Deus e ajudará Jesus

71. Perto de Betânia em Betabara Jesus encontra João.
Apresentam-se e seguem os seus caminhos. Jesus é baptizado por João, este lhe dirá Não é preciso que o Messias faça tanto desde que faça o que deve.

72. Recolhe-se durante 8 dias
73. Decide que chegou a hora de ir para Jerusalém. Segue com os seus 12 companheiros.
Chegam e provocam um tumulto juntos dos cambistas.
Derruba as mesas e diz que o templo está repleto de ladrões.

74. Regressa a Betânia. Chega a casa de Marta e Lázaro. Este morreu. Marta pede que o ressuscite. Maria diz que ninguém fez tanto mal que mereça duas mortes. Assim fica.

75. Jesus vive a indefinição e a tristeza.

76. Chega a notícia que João o Baptista foi preso e degolado, não porque andasse a pregar a chegada do Messias mas porque denunciou o adultério do rei Herodes.
Causa mesquinha que perturbou Jesus e os seus discípulos.

77. Jesus com todos os discípulos em reunião sem a presença das mulheres e por desafio de Judas Escariote, anunciará a morte ou sortes de todos. Todos serão executados de forma horrível mas João chegará a velho e Judas Escariote saberá que se enforcará numa figueira.

78. Durante a assembleia com os discípulos Judas Escariote oferece-se para ir a Jerusalém,  anunciar junto das tropa do rei Herodes a chegado do Messias, filho de Deus.

79. Jesus é preso e levado para Jerusalém.
À saída de Betânia Jesus vê Judas Escariote pendurado pelo pescoço na anunciada figueira.

80. Em Jerusalém, Jesus é levado à presença dos anciãos. Depois enviado ao palácio de Pilatos onde este procurador aguardava aquele que se dizia rei dos Judeus e atacado os cambistas às portas do templo finalmente para ser julgado


81. A assembleia, o julgamento, o diálogo do acusador e acusado.
O filho do Homem e rei dos Judeus como Jesus se apresenta

82. Pilatos dá a Jesus a escolha da sua morte.
Crucificado e pede um letreiro sobre a sua cabeça. Jesus de Nazaré Rei dos Judeus

83. A crucificação, retornar ao pai José crucificado em Séforis.
Pendurado na cruz. Os céus abrem-se e Deus aparece.
E pela terra dá a sua voz ao filho Jesus.

84. Jesus nascido para morrer e o rio de sangue que percorrerá a terra em seu nome.

85. Num assomo de vida última Jesus vê um homem e a tigela negra a seus pés recolhendo o sangue. 

Luis Pastor "Con Saramago en la voz" - entrevista à Revista Ñ Clarín (Irene Amuchastegui 23/09/2015)


(Foto de Luis Pastor que acompanha a entrevista)

A entrevista pode ser consultada aqui, 

De Irene Amuchastegui, 23/09/2015

"En su comentario para el álbum En esta esquina del tiempo , José Saramago compara la voz del español Luis Pastor, “áspera y al mismo tiempo suave”, con las de “los grandes trovadores del siglo pasado”. Y formula una invitación de la concisión más contundente: “Oigámoslo”. El disco reúne poemas del escritor portugués, musicalizados e interpretados por Pastor. El texto de presentación sentencia: “El tiempo cabe todo en la duración de un disco”. Este se publicó en edición bilingüe en 2006, en Europa, y acaba de aparecer en español en la Argentina, donde Luis Pastor nunca había actuado, hasta ahora. En su primera visita a Buenos Aires, también estrena su primer tango y su propia cuenta de Facebook. La cuenta acaba de crearla su hijo Pedro, también músico, en la computadora del lobby del hotel, y debuta en la red con un anacrónico: “Nos modernizamos”, lleno de irónico encanto para un cantautor de los de la vieja guardia. En cuanto al tango, “Uno de mayo”, es un poema de Luis García Montero, granadino de su misma generación, a quien conoció por un libro que le regaló Joaquín Sabina. “Me va a acompañar mi hijo, que toca mejor que yo. Yo no sé tocar un tango. Yo estoy en la frontera de todas las músicas: hago mornas de Cabo Verde sin haber estado allí, hago fados de Portugal y ahora he dejado fluir la copla, que está en mi origen, y de la que había escapado para convertirme en el cantautor que quería ser. Entre España, Cabo Verde y Lisboa, vienen y van las músicas que hago, Atlántico por medio. A veces, tocan también estas costas, porque más allá de todas mis influencias portuguesas y africanas, tengo algo muy latino. Cuando tenía 16, como era un ‘niño de copla’ que tenía que aprender a ser otro cantante, además de los nuestros, como Paco Ibáñez, o de los portugueses, como José Afonso, yo cantaba “A desalambrar” de Viglietti y escuchaba a Mercedes Sosa, a Atahualpa, a los grandes. Yo siempre he estado ahí”.

–Es curioso, entonces, que no hayas venido antes.
–Lo explica mi propia trayectoria: soy un cantautor que viene de una tradición de finales de los años 60 y de los 70, donde la canción no era una vía para volverse famoso, ganar dinero, dar “el salto”. He viajado sólo cuando me han llamado: a Nicaragua en los 80, con mi banda, a Chile, a Brasil… Pero nunca me había planteado hacer una gira. No soy ambicioso. Nunca me he fiado de oficinas ni representantes… Mi primer manager ha sido un cura obrero. El anti-manager. Por otro lado, en los 90 sentía que había mucha gente que me tenía que descubrir en España misma, porque las nuevas generaciones no se paraban a escuchar. El cantautor había quedado estigmatizado como un tipo aburrido, un matraquero, un panfletero… un coñazo.

–En “¿Qué fue de los cantautores?” hablás de aquellos que aún resisten “en sus trincheras”. ¿Recuperaron espacio?
–En la España de fines de los 70, el cantautor empieza a ser denostado, como un tipo que, muerto Franco, no tenía razón de ser. Yo lo sufrí en mi persona, cuando me retiré tres años en el 79 y volví en el 81 con disco nuevo: aquella misma gente que antes había hablado bien de mí en las radios y en los medios, de pronto me negaba el pan y la sal. Pero a mí me ha salvado que soy, sobre todo, un ser musical: más allá de toda mi historia política y de barrio, de trabajador, de obrero y de militante, fui un niño que a los 7 años cantaba a Joselito. Me transformé en el cantautor que quería ser y he persistido en ese camino. En los 90 hice la obra más bonita posible. Yo creo que ahí está por fin mi triunfo: haber aprendido con los años a contarme en canciones. Porque yo era un niño sin estudios. Fui un trabajador desde los 9 años, sólo estuve en la escuela 4 años.

–¿Te faltaban herramientas para lograr la expresión a la que aspirabas?
–No me faltaban porque descubrí a los poetas y fui a por ellos, buscando lo que yo quería decir y ellos decían mejor que yo. Me prohibieron el primer disco, cuando tenía 20 años: de once canciones, me prohibieron diez. Mi primer single fue “Con dos años”, de Miguel Hernández, y un poema de Pablo Neruda que se llamaba “La huelga” y para pasar la censura tuve que rebautizar “La huelga del ocio”. Claro, el hecho de musicar a grandes poetas a mí me puso el listón muy alto y me he exigido siempre cierto nivel en mis letras. La vida a veces es circular: en los últimos diez años, desde el disco de Saramago, siento que vuelvo al punto de partida. He vuelto a musicar poetas y escribo menos yo. Aunque las letras del último disco ( ¿Qué fue de los cantautores?) son todas mías y tengo otras cosas esperando por ahí, he vuelto a los poetas. Cuando terminé En esta esquina del tiempo me puse a leer a los poetas canarios y encontré todo un mundo. Luego, hace unos años fue el centenario del nacimiento de Miguel Hernández. Yo no lo leía desde el 79. Lo releí y descubrí a otro Miguel: cuando era joven, yo iba buscando la lucha, la cárcel, la guerra y ahora encontré a un Miguel pletórico de imágenes de una fuerza que ningún poeta ha sabido expresar. Miraba los versos y decía: esto es una copla, esto es flamenco… He musicado de una pegada veinte poemas y se los he regalado a Carmen Linares, la más grande cantaora de flamenco, que montó un espectáculo en el que la mitad del repertorio es ese. Al grupo Jarcha le di otros nueve poemas musicados de Miguel. Yo nunca los grabé, pero quiero hacerlo.

–¿Cómo surgió el proyecto de En esta esquina del tiempo?
–Con Saramago nos conocimos en un programa de televisión y quedamos amigos para siempre. Cada vez que íbamos a cantar a Lanzarote con Lourdes, mi mujer, lo visitábamos. Uno de esos días me ha regalado su poesía completa. Al despedirme le he dicho: “Te voy a musicar”. Y él me ha dicho: “A ver si es verdad”. Ahí arrancó todo. Cuando monté en el avión y vi esos poemas, que tienen 45 años, pues él no volvió a escribir poesía, sentí que me estaban esperando. Eran para mí. Al leerlos me parecía que ya la música estaba puesta. Ha surgido sin pretenderlo. Al llegar a casa, he compuesto 18 temas en tres días de una semana: lunes, miércoles y viernes.

–¿Cómo reaccionó Saramago al escuchar por primera vez el material?
–Estábamos en mi casa con José, Pilar del Río, Miguel Ríos y su mujer. Yo había grabado una maqueta en una hora. Nos sentamos a escuchar, pongo la primera canción y Miguel dice: “Qué bonita música”. La segunda y Miguel comenta: “Qué música más bonita”. Ya a la tercera, José le retruca: “Bueno, las letras tampoco están mal…”

–Volviste a trabajar sobre poemas de Saramago para una versión teatral de El viaje del elefante. ¿Cómo fue eso?
–Vino un director de teatro a pedirme que hiciera las músicas y las letras para esa obra. Y yo le he dicho: “No, Saramago apunta en sus poemas lo que luego desarrolla en sus novelas. Verás cómo para cada escena vamos a encontrar dos o tres poemas”. Y así fue. Es maravilloso el encuentro de una novela convertida en obra de teatro que a su vez se nutre de su poesía… José hubiera flipado."

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Nova edição espanhola de “O Evangelho segundo Jesus Cristo” com novo capítulo

(Apresentação da capa - nova edição)


Informação via Fundação José Saramago, aqui para consulta

"Nova edição espanhola de “O Evangelho segundo Jesus Cristo” com novo capítulo

A nova edição espanhola de O Evangelho segundo Jesus Cristo, agora com a chancela da Penguin Random House, publicada este mês de setembro, inclui um novo capítulo. Este texto foi originalmente publicado em O Caderno 2, na entrada do blog correspondente ao dia 24 de julho de 2009, com o título “Um capítulo para o Evangelho“, e começa assim:

De mim se há-de dizer que depois da morte de Jesus me arrependi do que chamavam os meus infames pecados de prostituta e me converti em penitente até ao fim da vida, e isso não é verdade. Subiram-me despida aos altares, coberta unicamente pela cabeleira que me desce até aos joelhos, com os seios murchos e a boca desdentada, e se é certo que os anos acabaram por ressequir a lisa tersura da minha pele, isso só sucedeu porque neste mundo nada pode prevalecer contra o tempo, não porque eu tivesse desprezado e ofendido o mesmo corpo que Jesus desejou e possuiu. Quem aquelas falsidades vier a dizer de mim nada sabe de amor."


Recuperação da continuação do post publicado no Livro/Blog "O Caderno 2"
Pode ser consultado aqui em http://caderno.josesaramago.org/53850.html
"Deixei de ser prostituta no dia em que Jesus entrou na minha casa trazendo-me a ferida do seu pé para que eu a curasse, mas dessas obras humanas a que chamam pecados de luxúria não teria eu que me arrepender se foi como prostituta que o meu amado me conheceu e, tendo provado o meu corpo e sabido de que vivia, não me virou as costas. Quando diante de todos os discípulos Jesus me beijava uma e muitas vezes, eles perguntaram-lhe porque me queria mais a mim que a eles, e Jesus respondeu: “A que se deve que eu não vos queira tanto como a ela?” Eles não souberam que dizer porque nunca seriam capazes de amar Jesus com o mesmo absoluto amor com que eu o amava. Depois de Lázaro ter morrido, o desgosto e a tristeza de Jesus foram tais que, uma noite, debaixo do lençol que tapava a nossa nudez, eu lhe disse: “Não posso alcançar-te onde estás porque te fechaste atrás de uma porta que não é para forças humanas”, e ele disse, queixa e gemido de animal que se escondeu para sofrer: “Ainda que não possas entrar, não te afastes de mim, tem-me sempre estendida a tua mão mesmo quando não puderes ver-me, se não o fizeres esquecer-me-ei da vida, ou ela me esquecerá”. E quando, alguns dias passados, Jesus foi reunir-se com os discípulos, eu, que caminhava a seu lado, disse-lhe: “Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti”, e ele respondeu: “Quero estar onde estiver a minha sombra se lá é que estiverem os teus olhos”. Amávamo-nos e dizíamos palavras como estas, não apenas por serem belas e verdadeiras, se é possível serem uma coisa e outra ao mesmo tempo, mas porque pressentíamos que o tempo das sombras estava a chegar e era preciso que começássemos a acostumar-nos, ainda juntos, à escuridão da ausência definitiva. Vi Jesus ressuscitado e no primeiro momento julguei que aquele homem era o cuidador do jardim onde o túmulo se encontrava, mas hoje sei que não o verei nunca dos altares onde me puseram, por mais altos que eles sejam, por mais perto do céu que alcancem, por mais adornados de flores e olorosos de perfumes. A morte não foi o que nos separou, separou-nos para todo o sempre a eternidade. Naquele tempo, abraçados um ao outro, unidas pelo espírito e pela carne as nossas bocas, nem Jesus era então o que dele se proclamava, nem eu era o que de mim se escarnecia. Jesus, comigo, não foi o Filho de Deus, e eu, com ele, não fui a prostituta Maria de Magdala, fomos unicamente aquele homem e esta mulher, ambos estremecidos de amor e a quem o mundo rodeava como um abutre babado de sangue. Disseram alguns que Jesus havia expulsado sete demónios das minha entranhas, mas também isso não é verdade. O que Jesus fez, sim, foi despertar os sete anjos que dentro da minha alma dormiam à espera que ele me viesse pedir socorro: “Ajuda-me”. Foram os anjos que lhe curaram o pé, eles foram os que me guiaram as mãos trementes e limparam o pus da ferida, foram os que me puseram nos lábios a pergunta sem a qual Jesus não poderia ajudar-me a mim: “Sabes quem eu sou, o que faço, de que vivo”, e ele respondeu: “Sei”, “Não tiveste que olhar e ficaste a saber tudo”, disse eu, e ele respondeu: “Não sei nada”, e eu insisti: “Que sou prostituta”, “Isso sei”, “Que me deito com homens por dinheiro”, “Sim”, “Então sabes tudo de mim” e ele, com voz tranquila, como a lisa superfície de um lago murmurando, disse: “Sei só isso”. Então, eu ainda ignorava que ele fosse o filho de Deus, nem sequer imaginava que Deus quisesse ter um filho, mas, nesse instante, com a luz deslumbrante do entendimento pelo espírito, percebi que somente um verdadeiro Filho do Homem poderia ter pronunciado aquelas três palavras simples: “Sei só isso”. Ficámos a olhar um para o outro, nem tínhamos dado por que os anjos se tinham retirado já, e a partir dessa hora, pela palavra e pelo silêncio, pela noite e pelo dia, pelo sol e pela lua, pela presença e pela ausência, comecei a dizer a Jesus quem eu era, e ainda me faltava muito para chegar ao fundo de mim mesma quando o mataram. Sou Maria de Magdala e amei. Não há mais nada para dizer."



segunda-feira, 28 de setembro de 2015

"Comunidade de Leitores sobre a obra de José Saramago" - Fundação José Saramago - Serviço Educativo 2015/16

A Fundação José Saramago apresentou o Programa "Serviço Educativo 2015/16"

O programa completo pode ser consultado aqui  

Damos especial destaque à "Comunidade de leitores sobre a obra de José Saramago" que tem como
orientadora da Comunidade, a Professora de Língua e Literatura Portuguesa, Maria Leiria

Preço: 15,00 € / mês (O preço inclui documentação da Comunidade. Os participantes poderão adquirir os livros com desconto de 20% na livraria da Fundação)
Informações e marcações pelo número

917 462 561 (Maria Leiria)
ou pelo e-mail marialeiria@gmail.com

Calendário das Sessões agendadas:

Sessões destinadas a um público mais familiarizado com a obra do autor.

Mês de outubro: As Intermitências da Morte
Dias: 8 e 29 (das 14h30 às 16.00 horas)
Sinopse da obra http://www.josesaramago.org/as-intermitencias-da-morte-2006/
(Imagem da borboleta, presenta em algumas capas da obra)


Mês de novembro: O Homem Duplicado
Dias: 5 e 26 (das 14h30 às 16.00 horas)
Sinopse da obra http://www.josesaramago.org/o-homem-duplicado-2002/
(Imagem do cartaz que apresentou o filme "Enemy" 
baseado na obra de Saramago)

Mês de dezembro: A Noite
Dias: 3 e 17 (das 14h30 às 16.00 horas)
Sinopse da obra http://www.josesaramago.org/a-noite-1979/
(Imagem da peça representada no teatro A Trindade)






domingo, 27 de setembro de 2015

Programa "Ler Mais, Ler Melhor" - "Memorial de Convento" livro da vida de Miguel Real


"Programa Ler Mais, Ler Melhor"
Livro da vida de Miguel Real "Memorial do Convento" de José Saramago (Editorial Caminho)

Pode ser visualizado, aqui via YouTube

"El voto en blanco" de Miguel Koleff publicado no HoyDía Córdoba (Argentina - 24/09/2015)

Baseado no romance de José Saramago "Ensaio sobre a Lucidez", e que pode ser consultado, aqui em http://www.hoydia.com.ar/magazine/9618-el-voto-en-blanco

«…que pesaba mucho más como ausencia» (Adriana Lisboa)
por Miguel Koleff
Especial para HDC

"Transitamos jornadas electorales, de modo que no viene nada mal pararnos un minuto para pensar en lo que realmente significa el derecho de votar. Nos han enseñado que a través del sufragio contribuimos –de manera soberana- a elegir nuestras autoridades. La ley nos impone esa obligación al tiempo que ratifica un derecho. Es cierto que también prevé la posibilidad de introducir un sobre vacío si no nos identificamos con los partidos en pugna. Sin embargo el voto en blanco –de él estamos hablando- no goza de mucha simpatía en general. Incluso, se lo homologa a una falta de coraje ciudadano. Si uno confiesa abiertamente esa opción, a la salida de un comicio, puede ser tildado de irresponsable y genuflexo cuando no de traidor y poco comprometido con las instituciones. Pesa un mal irremediable sobre este ejercicio de libertad que es tan lícito como el voto efectivo. Saramago no se salvó de ese estigma cuando en el año 2004 publicó “Ensayo sobre la lucidez” y llevó el tópico a la ficción, ya que los medios oficiales de entonces –envalentonados como estaban contra su persona- rápidamente lo fustigaron acusándolo de anarquista, antidemócrata, e instigador de actos de rebelión al orden constitucional.  Nada más desacertado que todo eso. La sutil ironía saramaguiana pasaba y pasa todavía, por un costado ignorado que es difícil de asumir con idoneidad: la capacidad de decir «no» a un orden de cosas que conspira contra los propios principios.

La novela en cuestión se concentra en las elecciones municipales de una capital en la que la mayoría de los habitantes se inclina por el voto en blanco, superando el 73% en la primera vuelta y el 80% en la segunda. Son circunstancias imprevistas ante las cuales el poder de turno se rinde por el atenazamiento de la gobernabilidad puesta en discusión. Ahora bien, antes de hipotetizar sobre el curso de los acontecimientos narrativos, es oportuno preguntarse qué pasa en realidad cuando se apela a ese recurso en una convocatoria cívica en lugar de escoger la abstención. O sea, ¿qué se quiere expresar en ese acto? Por lo pronto, un rechazo voluntario a una o a más opciones que se presentan y que no se adecuan ni al pensamiento ni a la ideología ni tampoco a la escala de valores y credibilidad de quien lo hace carne. Hay que decir –en este sentido-  que, a través de esa acción, el votante  está sincerando un punto de vista y actuando en consecuencia. Está también cumpliendo un deber cívico y ejerciendo el derecho que le es concomitante. Algo muy distinto de lo que supone negarse a votar, ignorar los comicios o anular un voto manipulando contra él. 

Si nos tomáramos un poquito de tiempo y analizáramos esta cuestión con diligencia veríamos que la opción traída a colación no es desdeñable, pero para ello hay que desnaturalizar el sesgo de tibieza que se le imprime y, sobre todo, arremeter contra su destino de ignominia. Lo podemos hacer, extrapolando los contextos y considerando una situación diferente de la electoral. Por ejemplo, es un buen recurso para sentar nuestra perspectiva y hacerlo sin violencia manifiesta cuando nos sentimos ninguneados: se está por cortar una torta a la que tenemos derecho pero no fuimos invitados al ágape. En lugar de reclamar, hipostasiar, juzgar o estereotipar al enemigo, podemos «votar en blanco», esto es, no asentir con el procedimiento de exclusión y hacerlo saber, sin propiciar una desbandada. La declaración de ausencia vale por lo que pesa y evita la indigestión. La metáfora del color blanco –sin que implique la idea de rendición a la que se suele asociar- tiene alguna fuerza expeditiva en este marco. No ofende ni afrenta abiertamente, pero protege y efectiviza de manera explícita el desacuerdo. Nos hace saber a nosotros y también a nuestros interlocutores que el juego se está realizando por fuera del tablero y que las posiciones están lejos de llegar a un consenso. Puede tener efectos inmediatos o no pero a la larga instalan legitimidad por la omisión. Es un vacío que llena fácilmente las entrelíneas. 

Una lectura más profunda del texto de Saramago permite avanzar en esta dirección al remarcar –en todo momento- la responsabilidad del acto, en primer lugar, y la autodeterminación, en segunda instancia. Viendo las cosas desde este prisma hasta puede tratarse de una acción noble y digna de alguien que sabe lo que está haciendo y por qué lo hace, diferente de aquella dictada por el oportunismo político de ocasión. No estamos obligados de manera ninguna a comulgar con proyectos que nos resultan ajenos e incluso atentatorios a nuestra identidad cívica.

Por el contrario, tan responsable y vehemente puede ser el acto de votar en blanco en una elección o en otra situación particular de la vida, que despierta la intolerancia acallada de muchos co-partícipes. Y si no, veamos lo que pasa en la novela de Saramago. en la que el gobierno opta por acusar a la población de practicar un crimen contra la democracia en lugar de hacer un examen de consciencia sobre las eventuales causas que llevaron a esa situación. Y –además- le hace pagar caro el error, imputándole responsabilidades que le exceden. El atentado terrorista auto-gestado en la estación de metro a raíz de una bomba colocada en las inmediaciones es una muestra. Y la elección de un chivo expiatorio, el pathos que lo demuestra, ya que sin la construcción de un culpable es imposible garantizar el orden y restituir el control. Por este motivo, la «mujer del médico» es elegida como carnada y víctima propiciatoria, acusada de ser la líder intelectual de la revuelta cívica. Este personaje, recuperado de una novela anterior (“Ensayo sobre la ceguera”, 1995) no padeció la ceguera blanca que infligió a todos los habitantes de la misma ciudad cuatro años antes de estos sucesos. La identidad  del color –de la ceguera y de los votos- funciona como una buena coartada para hacer justicia por manos propias. El juego saramaguiano, como vemos, se direcciona hacia una fórmula que invierte el sentido común: 

«El voto en blanco es una manifestación de ceguera tan destructiva como la otra, O de lucidez, dijo el ministro de justicia, Qué, preguntó el ministro del interior, que creyó haber oído mal, Dije que el voto en blanco puede ser apreciado como una manifestación de lucidez por parte de quien lo usó». (Saramago, 2004, p. 172) 

Aun puesta en boca de un personaje secundario, la alocución del ministro de justicia dice mucho más de lo que sus detractores quieren que diga. Y el autor portugués se encarga de ratificar estas palabras al afirmar el poder de pronunciamiento del colectivo a través de su lábil gesto de resistencia." 

"Fuentes Consultadas:  
Saramago, J. (2004) 
Ensaio sobre a lucidez. São Paulo: Companhia das Letras. 
Traducción al español de Alfaguara."

"Viagem Literária" - Pilar del Río e José Luís Peixoto em Évora (18/10/2015)


Para anotar na agenda:
No dia 18 de outubro, Pilar del Río, presidenta da Fundação José Saramago, 
e o escritor José Luís Peixoto participarão de uma conversa em Évora, 
em mais uma sessão das "viagens literárias" promovidas pela Porto Editora.

"É preciso recomeçar a viagem. Sempre.". 
À boleia das palavras de José Saramago, a Viagem Literária não pára e segue para Évora. 
A próxima sessão junta José Luís Peixoto e Pilar del Río, 
no Palácio D.Manuel, no dia 18 de outubro.
Contamos convosco?

Aqui link, via Facebook em


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

"RISE UP II – LEVANTEI-ME DO CHÃO" a partir de "Levantado do Chão de José Saramago" - Criação de Carlos Marques



Toda a informação cedida por Carlos Marques e consultada, aqui 
em https://riseupprojecto.wordpress.com/rise-up-ii-levantei-me-do-chao/

"RISE UP II – LEVANTEI-ME DO CHÃO"
a partir de "Levantado do Chão de José Saramago"  
Criação de Carlos Marques

Na 4ª edição do Festival de Teatro de Montemor o novo:

Estreia 1 de Outubro de 2015 no Festival de Teatro de Montemor-o-Novo

1 e 2 Outubro – Montemor-o-Novo (Cine Teatro Curvo Semedo)
9 Outubro – Lavre
10 Outubro – Ciborro
16 Outubro – São Cristovão
6, 13, 20, 27 Janeiro 2016 – Lisboa Fundação José Saramago

(Imagem de cena)

Sinopse 
"Levantamos o pó dos tempos, levantamos um livro bem lá no alto, levantamos ainda cabeça e o corpo, e acima de tudo tentamos levantar-nos como comunidade. Um músico de hoje conta e canta as histórias do livro - Serão necessárias novas músicas de intervenção? - Numa conversa franca com o espectador vamos descobrindo a musicalidade nas palavras e nas ideias de Saramago. Aqui reflete-se sobre a democracia - que mundo queremos afinal? E tudo isto num concerto. Um solo de um contador de histórias carregado da memória afectiva da leitura e da importância dos conhecedores da obra do Nobel, ou um músico de canções avulsas oriundas das palavras de Saramago e, ainda, um actor submerso num texto inédito e assumidamente fragmentado Um espectáculo baseado no livro onde se diz - à laia de mito - que o autor descobriu o estilo saramaguiano de narrar.


Equipa Artística
Carlos Marques Criador, músico e actor
Susana Cecílio Apoio à criação
Nuno Borda de Água Dispositivo cénico
João Bastos Apoio técnico e musical
Rodolfo Pimenta Video
Susana Malhão Designer Gráfica
Candela Varas Produçao
ALGURES, colectivo de criação

Reservas - Telefone: +351 266 898 103
Horário: 9h30 - 13h / 14h30 - 18h
Informações - riseup.projecto@gmail.com

Co-Produção
TRIMAGISTO, cooperativa de experimentação teatral
ALGURES, colectivo de criação artística

Apoios
Fundação José Saramago, Câmara Municipal de Montemor-o-Novo
O Espaço do Tempo

Projecto Financiado pela Secretaria de Estado da Cultura / Direcção Geral das Artes

(Capa da edição inicial da obra "Levantado do Chão")


Este espectáculo é um manifesto poético e efémero sobre o “Levantado do Chão”, um solo fragmentado, portátil e maleável (capaz de se adaptar a vários espaços e públicos).

Levantamos o pó dos tempos, levantamos um livro bem lá no alto, levantamos ainda cabeça e o corpo, e acima de tudo tentamos levantar-nos como comunidade.

Um músico de hoje conta e canta as histórias do livro – Serão necessárias novas músicas de intervenção? – Numa conversa franca com o espectador vamos descobrindo a musicalidade nas palavras e nas ideias de Saramago. Aqui reflete-se sobre a democracia – que mundo queremos afinal? E tudo isto num concerto.

Um solo de um contador de histórias carregado da memória afectiva da leitura e da importância dos conhecedores da obra do Nobel, ou um músico de canções avulsas oriundas das palavras de saramago e, ainda, um actor submerso num texto inédito e assumidamente fragmentado.

Um espectáculo baseado no livro onde se diz – à laia de mito –  que o autor descobriu o estilo saramaguiano de narrar.

foto4Se no primeiro espectáculo em torno da obra, reflectimos sobre o estado da nossa democracia, neste reflectiremos sobre a condição humana. A metáfora da pedra e da estátua que Saramago usou para descrever as duas fases da sua criação literária adapta-se na perfeição ao que sera agora o nosso objecto artístico: se na primeira fase enquanto escritor, na qual se inclui “Levantado do Chão”, o autor descreve a superfície da pedra, numa segunda fase após “Evangelho Segundo Jesus Cristo” há uma tentativa de descrever o interior da pedra, ou seja existe a ambição de alcançar um entendimento do interior do ser humano, filosoficamente falando.

O propósito é levar estas reflexões em torno das palavras de Saramago a muitos lugares, conseguir criar um objecto que comunique com as diversas comunidades onde se inscreve.

 estudos poster 5-04

Saramago um dia afirmou, numa entrevista conduzida por Ernesto Sampaio, que se imaginava “a contar este Levantado do Chão a um grupo de pessoas, lá no Alentejo, ou aqui em Lisboa, ou em qualquer outro lugar, a contar em voz alta, voltando atrás quando apetecesse, metendo pelo meio coisas da sabedoria popular, ditados (…) e se entre essas pessoas houver analfabetos, essa será a grande prova. É maior dever do narrador contar e bem claro. Amanhã, noutro lugar contaria a mesma história, mas diferente, sempre diferente, outros ditos, outras voltas, outros caminhos. Haveria de ter sua graça experimentar, mas, não podendo ser, aí fica o livro em sua forma de livro e aparente invariabilidade.” Levantado do chão é um livro para ser contado e cantado em voz alta, bem alta!!

Este é um solo de um contador de histórias que gosta de estar ali. Um solo de um músico de intervenção. Um solo de actor que se inquieta com o estado das coisas. Este é um trabalho de uma equipa séria e divertida.

Este é um regresso a uma casa onde tudo foi intenso. Uma casa que foi abandonada e que está fechada apanhando pó. Uma casa cheia de utopias – até parece uma palavra distante. Quando era miúdo agarrava na guitarra e tocava as músicas do Zeca, do Fausto e do Godinho com aquele desejo ter vivido aqueles tempos. E questionava-me se naquela altura eu teria tido a lucidez para me aperceber para saber de que lado da trincheira devia estar.

E agora? Falemos do agora. Será que entretanto entaiparam a casa que não tinha muros no jardim? Será que em cada instante sabemos de que lado da trincheira estamos. Será que conseguimos sempre pensar pela nossa cabeça? Será que estamos sempre certos e centrados nas nossas opções? Será que existe esse questionamento, ou essa vontade?

Em situações delicadas politicamente vamos sempre lá atrás buscar os hits das lutas passadas para tentar galvanizar uma massa (conformada) que não tem curiosidade de saber para onde nos estão a puxar. Trazemos para o presente essas músicas porque nos identificamos ou, talvez, porque já são património de uma união em épocas difíceis/vitoriosas – é mais fácil assim, dirão uns.

Mas dessa forma não se banalizarão as épocas, a luta e a própria música? E será que as lutas de hoje são as mesmas de então? Seremos nós como os nossos pais?

foto8Serão precisas novas músicas e mais do que isso novos heróis artistas nestes tempos confusos. Não que queira inscrever o meu nome como herói – talvez em sonhos gostasse dessa ideia, mas não fui talhado para isso -, apenas vou fazendo a minha parte. Porém, talvez a arte devesse ter essa função. Essa inscrição! Talvez seja necessário que ela perca tudo… que ela passe por uma carestia! Talvez para sermos heróis tenhamos de estar ainda mais F**** já me faltam as palavras. Primeiro temos de fazer o que não queremos para depois fazermos o que realmente queremos? Que mundo queremos afinal?

Parafraseando Fausto Bordalo Dias “a ditadura proletária já morreu, mas nasceu a ditadura dos mercados.” E se eu tivesse a oportunidade de conhecer estes tais senhores dos mercados apenas lhes poderia dizer: A MINHA GUITARRA É CONSTANTE E ROSNA! É tempo de levantar do chão!



quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Maria Alzira Seixo teoriza sobre o homem e escritor José Saramago (Programa Ler mais Ler melhor)


Recuperação do video, onde a Professora Catedrática Maria Alzira Seixo, 
aborda a vida e obra do Prémio Nobel da Literatura José Saramago

Pode ser visualizado aqui, 




"A Ronda da Noite" Com João Francisco Vilhena, José Saramago, Valter Hugo Mãe e Miguel Real. Um programa de Luís Caetano

Aqui o link directo da entrevista

A Ronda da Noite

Um programa de Luís Caetano, com João Francisco Vilhena, José Saramago, Valter Hugo Mãe e Miguel Real.

Emitido em 21 Set, 2015

"A Ronda da Noite recebe e divulga escritores, artistas, gente com conhecimento e imaginação, autores de excepção. Mostra o novo mas também recupera memórias e momentos, e sai do estúdio para palcos de criação e fruição.
Antes do dia acabar, a rádio tem ideias para discutir e histórias para contar. Como num quadro de Rembrandt."


Pode ser visualizado, aqui
em http://www.rtp.pt/play/p1299/e207158/a-ronda-da-noite#sthash.O98mv7Cv.dpuf

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Revista Blimunda edição #40 - Setembro 2015

Capa da edição #40 - Setembro 2015

"Assuntos atuais e que nos tocam a todos, a questão dos refugiados e do voto merecem destaque neste número 40 da Blimunda. Como tratam os livros de receção infantil e juvenil questões como as da guerra, das fugas e dos recomeços? A Blimunda de setembro debruça-se sobre esta questão e recolhe obras literárias que tratam estes temas, dirigidas aos leitores mais jovens.

E se toda uma cidade votasse em branco? A secção Saramaguiana traz excertos do romance Ensaio sobre a Lucidez, de José Saramago, que nos ajuda a pensar no poder que tem o voto, se de facto nos sentimos representados e como se sustenta a democracia.

O Museu Bordalo Pinheiro, o mais antigo museu português dedicado a um artista, é outro dos assuntos da revista deste mês. A Blimunda visitou o espaço e conta por que vale a pena conhecê-lo.

O que tem a luz de Lisboa que tanto fascina? Na tentativa de responder a esta questão a Blimunda visitou a exposição «A Luz de Lisboa», patente no Torreão Poente da Praça do Comércio, e voltou de lá com a certeza de que a luz que lhe dá o mote nunca falta.

Na secção Cinema, a revista publica a segunda parte de um ensaio dedicado ao filmes exploitation feitos em Portugal.

Tudo isto e muito mais pode ser lido na edição de setembro da nossa e vossa Blimunda.

Boas leituras!"

sábado, 19 de setembro de 2015

Fundação José Saramago – Exposição permanente "José Saramago A Semente e os Frutos"

Fundação José Saramago – Exposição permanente "José Saramago A Semente e os Frutos"


A presente informação pode ser consultada, através do site da FJS, aqui
em, http://www.josesaramago.org/folha-de-sala-da-exposicao-a-semente-e-os-frutos/

"Se o homem não for capaz de organizar a economia mundial de forma a satisfazer as necessidades de uma humanidade que está a morrer de fome e de tudo, que humanidade é esta? Nós, que enchemos a boca com a palavra humanidade, acho que ainda não chegamos a isso, não somos seres humanos. Talvez cheguemos um dia a sê-lo, mas não somos, falta-nos mesmo muito. Temos aí o
espetáculo do mundo e é uma coisa arrepiante.Vivemos ao lado de tudo o que é negativo como se não tivesse qualquer importância, a banalização do horror, a banalização da violência, da morte, sobretudo se for a morte dos outros, claro. Tanto nos faz que esteja a morrer gente em Sarajevo, e também não devemos falar desta cidade, porque o mundo é um imenso Sarajevo. E enquanto a consciência das pessoas não despertar isto continuará igual. Porque muito do que se faz, faz-se para nos manter a todos na abulia, na carência de vontade, para diminuir a nossa capacidade de intervenção cívica.
Canarias7, Las Palmas, 20 de fevereiro de 1994
[Entrevista de Esperanza Pamplona]

Fachada da sede da FJS - Casa dos Bicos

Na obra literária de José Saramago (Azinhaga, 1922) conjuga-se a literatura mais exigente e pessoal com as interrogações mais fecundas.Autor tardio, mas de formação caldeada no calor de letras escritas e de leituras, soube construir, a partir da década de oitenta, uma literatura renovadora e original, que lhe conferiu, em 1998, o primeiro Prémio Nobel concedido a um escritor de língua portuguesa. Denso e irónico, inteligente e cético, terno e sarcástico, demolidor e pertinaz nas suas críticas, praticou, ao longo da sua produção narrativa, tanto a desmitificação da História convencional como a censura ativa dos desvios contemporâneos, tomando sempre como referência a essência humana da vida, a solidariedade, a compaixão, o respeito pelo outro e a relatividade do ponto de vista.Armado por um autor-narrador forte, que invade o espectro da sua narrativa, defendia que a obra é o romancista, ao mesmo tempo que marcou uma literatura construída a partir de ideias fortes, de audazes metáforas visionárias e ilustradas, de uma deslumbrante fabulação e de uma consciência incómoda que quis e soube ligar o seu destino ao pulsar turbulento do coração do mundo contemporâneo, permanentemente posto a nu e questionado.


Saramago – que nunca ocultou a sua militância comunista – projetou mundialmente o seu trabalho e a sua figura pública, acentuando o seu perfil de intervenção cívica em defesa da liberdade, dos direitos humanos e da inclusão social, imbuído de valores e ideais suscetíveis de construir outra realidade mais justa, mais humana. Esta atitude engagée serviu-lhe para recuperar, com energia e credibilidade, o papel do intelectual inconformista, envolvido nas questões palpitantes e nos debates do seu tempo, trazendo ângulos de visão heterodoxos, refutando a ordem aceite maioritariamente e reclamando uma ética individual e coletiva que contemplasse como prioridade o ser humano, a sua dignidade, acima de qualquer outra hierarquia discriminatória ou qualquer outro interesse de poder ou económico. José Saramago desenvolveu, pois, com intensidade as suas responsabilidades cívicas, com o desejo de colocar o cidadão ao mesmo nível do escritor, tal e como ele mesmo expressaria: «Tenho muito cuidado em não transformar os meus romances em panfletos, apesar de ser marxista e comunista com cartão.Tenho umas ideias e não separo o escritor do cidadão das minhas preocupações. Acho que nós, os escritores, devemos voltar à rua, e ocupar de novo o espaço que antes tínhamos e agora é ocupado pela rádio, pela imprensa ou pela televisão. É preciso, além disso, fomentar o humanismo, o conhecimento de que milhares e milhares de pessoas não podem aproximar-se do desenvolvimento.»
La Provincia, Las Palmas, 3 de março de 1994
[Entrevista de Javier Duran]

Polémico, pessimista confesso, brilhante, ativista e incómodo, a perspetiva da sua vida caldeada oferece o balanço de um trabalho literário amplo e pertinaz, em que o cultivo do romance conviveu com o teatro, a poesia, as crónicas jornalísticas e as memórias. A exposição José Saramago. A semente e os frutos dá conta, em síntese, dessa dedicação, mostrando como o príncipe da literatura que foi José Saramago funde as suas raízes no operário das letras que, com o seu minucioso e metódico trabalho, em momentos difíceis da sua vida – os árduos e obscuros anos quarenta, cinquenta e sessenta em Portugal – sedimentou as bases do brilho futuro. A mostra, que aglutina numerosos manuscritos, documentos, primeiras edições e centenas de traduções em mais de quarenta línguas, propõe um percurso tanto pela produção literária de José Saramago como pelos seus contextos ideológicos e sociais.

A conceção expositiva de José Saramago. A semente e os frutos incorpora recursos audiovisuais postos ao serviço de conteúdos específicos que abrem as portas ao denso e rico mundo saramaguiano. O discurso expositivo oferece a possibilidade de aproximação à génese do escritor através de inúmeras portas de entrada, propocionando a cada visitante a oportunidade de construir o seu próprio percurso, em função dos seus interesses no momento de penetrar num universo literário e intelectual tão amplo e sugestivo como polifacetado.

A nossa grande tarefa está em conseguirmo-nos tornar mais humanos. Marx e Engels, num livro intitulado A Sagrada Família, têm uma frase que é essencial pôr em prática: «Se o homem é formado pelas circunstâncias, então é preciso formar as circunstâncias humanamente.»
José Saramago, 1999

Fernando Gómez Aguilera
 Fundação José Saramago – Exposição permanente
josesaramago.org"

Todos os nomes ou a ordem alfabética que Deus refere a Jesus em "O Evangelho segundo Jesus Cristo"


(...) "Adalberto de Praga, morto com um espontão de sete pontas, 
Adriano, morto à martelada sobre uma bigorna, 
Afra de Ausburgo, morta na fogueira, 
Agapito de Preneste, morto na fogueira, pendurado pelos pés, 
Agrícola de Bolonha, morto crucificado e espetado com cravos, 
Águeda de Sicília, morta com os seios cortados, 
Alfégio de Cantuária, morto a golpes de osso de boi, 
Anastácio de Salona, morto na forca e decapitado, 
Anastásia de Sírmio, morta na fogueira e com os seios cortados, 
Ansano de Sena, morto por arrancamento das vísceras, 
Antonino de Pamiers, morto por esquartejamento, 
António de Rivoli, morto à pedrada e queimado, 
Apolinário de Ravena, morto a golpes de maça, 
Apolónia de Alexandria, morta na fogueira depois de lhe arrancarem os dentes, 
Augusta de Treviso, morta por decapitação e queimada, 
Aura de Óstia, morta por afogamento com uma mó ao pescoço, 
Áurea de Síria, morta por dessangramento, sentada numa cadeira forrada de cravos, 
Auta, morta à frechada, 


Babilas de Antioquia, morto por decapitação, 
Bárbara de Nicomedia, morta por decapitação, 
Barnabé de Chipre, morto por lapidação e queimado, 
Beatriz de Roma, morta por estrangulamento, 
Benigno de Dijon, morto à lançada, 
Blandina de Lião, morta a cornadas de um touro bravo, 
Brás de Sebaste, morto por cardas de ferro, 
Calisto, morto com uma mó ao pescoço, 
Cassiano de Ímola, morto pelos seus alunos com um estilete, 
Castulo, morto por enterramento em vida, 
Catarina de Alexandria, morta por decapitação, 
Cecília de Roma, morta por degolamento, 
Cipriano de Cartago, morto por decapitação, 
Ciro de Tarso, morto, ainda criança, por um juiz que lhe bateu com a cabeça nas escadas do tribunal, Claro de Nantes, morto por decapitação, 
Claro de Viena, morto por decapitação, 
Clemente, morto por afogamento com uma âncora ao pescoço, 
Crispim e Crispiniano de Soissons, mortos por decapitação, 
Cristina de Bolsano, morta por tudo quanto se possa fazer com mó, roda, tenazes, flechas e serpentes, Cucufate de Barcelona, morto por esventramento, 

chegando ao fim da letra C, Deus disse, Para diante é tudo igual, ou quase, são já poucas as variações possíveis, excepto as de pormenor, que, pelo refinamento, levariam muito tempo a explicar, fiquemo-nos por aqui, Continua, disse Jesus, e Deus continuou, abreviando no que podia, 

Donato de Arezzo, decapitado, 
Elífio de Rampillon, cortaram-lhe a calote craniana, 
Emérita, queimada, 
Emílio de Trevi, decapitado, 



Esmerano de Ratisbona, amarraram-no a uma escada e aí o mataram, 
Engrácia de Saragoça, decapitada, 
Erasmo de Gaeta, também chamado Telmo, esticado por um cabrestante, 
Escubículo, decapitado, 
Ésquilo da Suécia, lapidado, 
Estêvão, lapidado, 
Eufémia da Calcedónia, enterraram-lhe uma espada, 
Eulália de Mérida, decapitada, 
Eutrópio de Saintes, cabeça cortada por uma acha-de-armas, 
Fabião, espada e cardas de ferro, 
Fé de Agen, degolada, 
Felicidade e os Sete Filhos, cabeças cortadas à espada, 
Félix e seu irmão Adaucto, idem, 
Ferreolo de Besançon, decapitado, 
Fiel de Sigmaringen, maça eriçada de puas, 
Filomena, flechas e âncora, 
Firmin de Pamplona, decapitado, 
Flávia Domitília, idem, 
Fortunato de Évora, talvez idem, 
Frutuoso de Tarragona, queimado, 
Gaudêncio de França, decapitado, 
Gelásio, idem mais cardas de ferro, 
Gengoulph de Borgonha, corno, assassinado pelo amante da mulher, 
Gerardo Sagredo de Budapeste, lança, 
Gereão de Colónia, decapitado, 
Gervásio e Protásio, gémeos, idem, 
Godeliva de Ghistelles, estrangulada, 
Goretti Maria, idem, 
Grato de Aosta, decapitado, 
Hermenegildo, machado, 
Hierão, espada, 
Hipólito, arrastado por um cavalo, 
Inácio de Azevedo, morto pelos calvinistas, estes não são católicos, 
Inês de Roma, esventrada, 
Januário de Nápoles, decapitado depois de ter sido lançado às feras e atirado para dentro de um forno, Joana d'Arc, queimada viva, 
João de Brito, degolado, 
João Fisher, decapitado, 


João Nepomuceno de Praga, afogado, 
Juan de Prado, apunhalado na cabeça, 
Júlia de Córsega, cortaram-lhe os seios e depois crucificaram-na, 
Juliana de Nicomedia, decapitada, 
Justa e Rufina de Sevilha, uma na roda, outra estrangulada, 
Justina de Antioquia, queimada com pez a ferver e decapitada, 
Justo e Pastor, mas não este que aqui temos, de Alcalá dë Henares, decapitados, 
Killian de Würzburg, decapitado, 
Léger d'Autun, idem depois de lhe arrancarem os olhos e a língua, 
Leocádia de Toledo, fraguada do alto de um rochedo, 
Liévin de Gand, arrancaram-lhe a língua e decapitaram-no, 
Longuinhos, decapitado, 
Lourenço, queimado numa grelha, 
Ludmila de Praga, estrangulada, 
Luzia de Siracusa, degolada depois de lhe arrancarem os olhos, 
Magino de Tarragona, decapitado com uma foice serrilhada, 
Mamede de Capadócia, estripado, 
Manuel, Sabel e Ismael, o Manuel com um cravo de ferro espetado em cada lado do peito e um cravo atravessando-lhe a cabeça de ouvido a ouvido, todos degolados, 
Margarida de Antioquia, tocha e pente de ferro, 
Mário da Pérsia, espada, amputação das mãos, 
Martinha de Roma, decapitada, 
os mártires de Marrocos, Berardo de Cobio, Pedro de Gemianino, Otão, Adjuto e Acúrsio, degolados, os do Japão, vinte e seis crucificados, alanceados e queimados, 
Maurício de Agaune, espada, 
Meinrad de Einsiedeln, maça, 
Menas de Alexandria, espada, 
Mercúrio da Capadócia, decapitado, 


Moro Tomás, idem, 
Nicásio de Reims, idem, 
Odflia de Huy, flechas, 
Pafnúcio, crucificado, 
Paio, esquartejado, 
Pancrácio, decapitado, 
Pantaleão de Nicomedia, idem, 
Pátrocles de Troyes e de Soest, idem, 
Paulo de Tarso, a quem deverás a tua primeira Igreja, idem, 
Pedro de Rates, espada, 
Pedro de Verona, cutelo na cabeça e punhal no peito, 
Perpétua e Felicidade de Cartago, a Felicidade era escrava da Perpétua, escorneadas por uma vaca furiosa, 
Piat de Tournai, cortaram-lhe o crânio, 
Policarpo, apunhalado e queimado, 
Prisca de Roma, comida pelos leões, 
Processo e Martiniano, a mesma morte, julgo eu, 
Quintino, pregos na cabeça e outras partes, 
Quirino de Ruão, crânio cortado em cima, 
Quitéria de Coimbra, decapitada pelo próprio pai, um horror, 
Renaud de Dortmund, maço de pedreiro, 
Reine de Alise, gládio, 
Restituta de Nápoles, fogueira, 
Rolando, espada, 
Romão de Antioquia, língua arrancada, estrangulamento, 

ainda não estás farto, perguntou Deus a Jesus, e Jesus respondeu, Essa pergunta devias fazê-la a ti próprio, continua, e Deus continuou, 

Sabiniano de Sens, degolado, 
Sabino de Assis, lapidado, 
Saturnino de Toulouse, arrastado por um touro, 
Sebastião, flechas, 
Segismundo rei dos Burgúndios, atirado a um poço, 
Segundo de Asti, decapitado, 
Servácio de Tongres e de Maastricht, morto à tamancada, por impossível que pareça, 
Severo de Barcelona, cravo espetado na cabeça, 
Sidwel de Exeter, decapitado, 
Sinforiano de Autun, idem, 
Sisto, idem, 
Tarcísio, lapidado, 
Tecla de Icónio, amputada e queimada, 
Teodoro, fogueira, 
Tibúrcio, decapitado, 
Timóteo de Éfeso, lapidado, 
Tirso, serrado, 
Tomás Becket de Cantuária, espada cravada no crânio, 
Torcato e os Vinte e Sete, mortos pelo general Muça às portas de Guimarães, 
Tropez de Pisa, decapitado, 
Urbano, idem, 
Valéria de Limoges, idem, 
Valeriano, idem, 
Venâncio de Carnerino, degolado, 
Vicente de Saragoça, mó e grelha com puas, 
Virgílio de Trento, outro morto por tamancos, 
Vital de Ravena, lança, 
Vítor, decapitado, 
Vítor de Marselha, degolado, 
Vitória de Roma, morta depois de ter a língua arrancada, 
Wilgeforte, ou Liberata, ou Eutrópia, virgem, barbuda, crucificada, 

e outros, outros, outros, idem, idem, idem, basta. Não basta, disse Jesus, a que outros te referes, Achas que é mesmo indispensável, Acho, Refiro-me àqueles que, não tendo sido martirizados e morrendo de sua morte própria, sofreram o martírio das tentações da carne, do mundo e do demónio, e que para as vencerem tiveram de mortificar o corpo pelo jejum e pela oração, há até um caso interessante, um tal John Schorn, que passou tanto tempo ajoelhado a rezar que acabou por criar calos, onde, nos joelhos, evidentemente, e também se diz, isto agora é contigo" (...) 

in, "O Evangelho segundo Jesus Cristo"
Páginas 381 a 385