Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sábado, 6 de fevereiro de 2016

"O Leitor volta sempre" - Texto dedicado ao grupo da “Comunidade de Leitores Ler Saramago”

"O Viajante volta já.
Não é verdade. A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: «Não há mais que ver», sabia que não era assim. O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já." 
(Caminho, 11.ª edição, página 387)

Texto dedicado ao grupo da “Comunidade de Leitores Ler Saramago”
O “Leitor” volta sempre.

O “Leitor” tem de voltar sempre. A leitura nunca pode acabar. Os leitores sim, esses acabam, e mesmo assim serão recordados por outros aquém dedicaram as suas leituras.

Quando o “Leitor” se sentou na sua poltrona, e disse em murmúrio de lábios semicerrados: «Que deverei ler mais se já li tudo!?», bem sabia que não era assim. O fim de uma leitura é somente o início de outra.

Poderemos já ter lido uma montanha de livros, mas será sempre uma ínfima parte de um todo incalculável. É preciso ler o que já foi lido, ler uma e outra vez. Ler agora o que se leu ontem, ler de dia o que se leu de noite, ler em casa e depois na rua, na praia ou no campo, debaixo de uma árvore ou num banco de jardim. Ler num lado e mudar para outro.

É preciso ler e voltar aos parágrafos lidos à pressa e que mal entendemos, ver as anotações e procurar as palavras estranhas, ou digamos, mais complicadas.

 É preciso voltar aos livros já lidos há muito tempo, repeti-los e cumprimentar de novo as suas personagens. Sim, cumprimentar, eles são gente dentro de livros como dizia José Saramago.

É preciso recomeçar a leitura. Sempre. O “Leitor” volta sempre.

Lido por Ódin Santos

Este texto é baseado no último parágrafo do livro “Viagem a Portugal” (página 387), onde José Saramago escreveu “O Viajante volta já” (06/02/2016)

"A Maior Flor e Outras Histórias Segundo José" pela companhia Teatro Art'Imagem

Informação da exibição, hoje no Cine-Teatro Garrett - Póvoa de Varzim (06/02/2016), via Rádio Ondaviva, aqui
"Este sábado à noite, há teatro para ver no Cine-Teatro Garrett Póvoa de Varzim e logo uma peça baseada numa obra José Saramago, mais propriamente o texto “A maior flor do Mundo”. Em bom rigor, o trabalho da Companhia Teatro Art’Imagem inclui outros escritos do prémio Nobel que permitem, refere a promoção do espetáculo, conhecer a humanidade que o escritor deixou como legado para a “procura de um mundo diferente, melhor”. A peça tem a encenação de José Leitão, a interpretação de Daniela Pêgo e Flávio Hamilton e o valor das entradas oscila entre os três euros e meio e os sete euros. O pano sobe às 10 da noite."

Pode ser visualizado aqui, via YouTube

"Vídeo de promoção do espectáculo 
"A Maior Flor do Mundo e Outras Histórias Segundo José",
baseado na obra de José Saramago, com dramaturgia e encenação de José Leitão
e interpretação de Daniela Pêgo e Pedro Carvalho."