Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

«Somos cuentos, de cuentos, contando cuentos: Nada» - Conferência em Oviedo (13/06/1995)


Conferencia de José Saramago (Escritor).
«Somos cuentos, de cuentos, contando cuentos: Nada». 
Presentado por Melchor Fernández, Gustavo Bueno, Miguel Munárriz y José María Laso.

"Oviedo. Casa cheia: duzentas pessoas sentadas, outras tantas de pé. Ambiente invulgarmente afectuoso. Oviedo tem dois braços abertos e um coração de amigo. Um dos dias mais perfeitos que me lembro de ter vivido como escritor «falante»..."
in, "Cadernos de Lanzarote Diário III" 
Caminho, página 129 (13/06/1995)

Sebastião Salgado e José Saramago (1997)

(Sebastião Salgado, Betinho e José Saramago. 1997)

Texto e fotografia, podem ser consultados, aqui
em http://www.elfikurten.com.br/2011_03_01_archive.html
"Na realidade, acho que sempre fiz a mesma coisa desde que saí do interior, que fui estudar economia, que trabalhei como economista. Como entrei na fotografia, foi mais ou menos a mesma coisa. Eu troquei um instrumento pelo outro, troquei a máquina de cálculo pela máquina fotográfica, mas o discurso continuou mais ou menos o mesmo."
Sebastião Salgado

Ana Sofia Antunes - A primeira governante cega afirma que vivemos uma ‘cegueira branca’ como a de Saramago



"Ana Sofia Antunes protagoniza uma nova era na política portuguesa em que a integração e a inclusão já não são como verbos de encher. Um mês depois de entrar no Governo como secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia já andava pelos corredores do ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social sem fazer uso da bengala ou do braço de alguém. E se no início terá havido excesso de zelo por parte de alguns colegas, depressa todos perceberam que visão política, conhecimento, competência, autonomia e determinação são características que não lhe faltam. Ana Sofia tem andado pelo país a perceber o que deve ser alterado para que as pessoas deficientes tenham as mesmas oportunidades de todos os cidadãos, como o acesso ao trabalho - um dos seus cavalos de batalha. Adepta do rock de “Xutos e Pontapés”, quer fazer política à sua maneira como canta Tim, e revela um lado mais íntimo e pessoal neste episódio do podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”

Pode ser ouvido através da aplicação Soundcloud, aqui em 

"Logo no arranque deste episódio Ana Sofia Antunes, a primeira governante deficiente visual em Portugal, afirma que a nossa sociedade está contaminada por uma certa ‘cegueira branca’, como a descrita por José Saramago em “Ensaio Sobre a Cegueira”, uma maleita de vistas curtas que nos impede de perceber os outros [diferentes de nós]. Ana Sofia, de 34 anos, é adepta da expressão ‘nada sobre nós sem nós’ e esteve prestes a ser eleita deputada nas últimas legislativas. Colocada em 19º lugar nas listas do PS pelo círculo de Lisboa, foi por um triz que não entrou na Assembleia dado que foram apenas eleitos 18.

Agora no Governo, é o rosto e a voz de todos os portugueses com deficiência em Portugal. Cidadãos que veem nela uma esperança de mudança. "O difícil é gerir as expectativas dos outros." Desde o iníco do ano tem andado pelo país a perceber o que deve ser alterado para que as pessoas deficientes tenham as mesmas oportunidades de todos os cidadãos, como o acesso ao trabalho - um dos seus cavalos de batalha.

O seu caminho enquanto ativista pelos direitos dos deficientes é já longo. Formada em advocacia, trabalhou durante seis anos como assessora jurídica na Câmara de Lisboa (assessorou o vereador da Mobilidade na autarquia, Nunes da Silva), e por dois anos foi Presidente da ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíoples) e provedora do cliente na EMEL (Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa).

Nesta conversa, Ana Sofia esclarece a razão por que detesta a expressão invisual. “É uma palavra que não significa absolutamente nada. É o contrário de visual. É uma expressão que fomos inventando porque achamos que é menos grosseira, menos seca. E eu não acho que haja nada de ofensivo ou duro em dizermos que uma pessoa é cega ou deficiente visual. Porque é essa a característica que marca aquela pessoa. Não temos que ter medo das palavras. As palavras dizem apenas aquilo que dizem.”

Sobre o título polémico que foi capa do Correio da Manhã onde se lia “Costa chama cega e cigano para o Governo” e que gerou 236 queixas à entidade reguladora para a comunicação social, Ana Sofia comentou: “Não lhe dei muita importância na altura. Embora me tenha agradado de alguma forma ver que havia um conjunto de população que estava atenta. Não é pelo facto de me chamarem cega, que é a palavra mais adequada. Lido perfeitamente bem com ela. Agora, enquanto pessoa que vem para o Governo assumir uma função, ser valorizada apenas por essa característica acho pouco... E fizeram [o mesmo] a outros colegas. O Carlos Miguel [Secretário de Estado das Autarquias Locais], daquilo que conheço, tem todo o orgulho em ter ascendência cigana. [Mas] ele não é apenas um cigano que vem para o governo. E digo o mesmo sobre o que disseram da ministra da Justiça [Francisca Van Dunem – a primeira mulher negra a chegar a ministra]. Acho uma palermice!”

Nos tempos de infância a secretária de Estado conta que era Maria rapaz, uma menina destemida e alegre que apesar de não ver, corria como as outras crianças, fazia tropelias e até andava de bicicleta. “Claro que caía muitas vezes de bicicleta, era uma condição da situação em concreto.”

Mas na escola era boa aluna. Com notas de excelência. “Não me lembro sequer de estudar em casa. Era daquelas alunas que apanhava no ar [a matéria]. Repare que quem tem uma deficiência visual está condicionado nos materiais que tem e nos livros que recebe em braille. Portanto muito do que eu ouvia ia retendo. Conseguia fazer asneiras na sala de aula e dar atenção [ao professor] ao mesmo tempo. Pelo menos as notas que eram muito boas diziam isso.”

Neste podcast poderá conhecer os gostos musicais de Ana Sofia, que vão de um fado mais moderno ao pop e ao rock. À pergunta se se imagina no futuro a aceitar ou concorrer a outros cargos com mais destaque no Governo responde: “Não sei. Talvez. Para já estou muito focada e condicionada por aquilo que estou a fazer e pelo muito que tenho que fazer neste mandato. Mas não digo que não. Nunca fui de virar costas a desafios. Portanto, porque não?”

Mas há muito mais para ouvir e descobrir neste episódio: para o fazer, basta clicar na seta que se encontra no topo deste texto ou descarregar no Soundcloud.

O programa “A Beleza das Pequenas Coisas” conta com música dos Budda Power Blues."

Ana Sofia Antunes - Secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência