Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quarta-feira, 17 de junho de 2015

"Uma mão cheia de eventos para lembrar os cinco anos da morte de Saramago" - Via Observador.pt (Sara Otto Coelho)

"Uma mão cheia de eventos para lembrar os cinco anos da morte de Saramago"

A notícia pode ser consultada e lida, aqui

"O quinto aniversário da morte do Nobel português vai ser assinalado com vários eventos em Lisboa. No Brasil, vai ser organizada uma exposição no Museu da Língua Portuguesa. Em Roma, haverá uma ópera."

A Fundação José Saramago, em Lisboa, vai estar aberta esta quinta-feira, de manhã à noite, com vários eventos gratuitos que assinalam o quinto aniversário da morte do único Nobel português da Literatura. O público vai poder ler um texto inédito do escritor.

“Contar os anos pelos dedos e encontrar a mão cheia” foi a frase escolhida para a capa da revista Blimunda, que a Fundação publica todos os meses. Cinco anos depois da morte de José Saramago, a 18 de junho de 2010, Pilar del Río destaca o quanto a memória do escritor está viva, em Portugal e no estrangeiro. O destaque do número 37 da revista inclui as notas preparatórias que escreveu para o livro Ensaio Sobre a Lucidez, um texto inédito que estará disponível a partir de quinta-feira, aqui.

Logo a partir das 10h00, quem se deslocar à Casa dos Bicos, onde está sediada a Fundação, vai poder ver as ilustrações que André Letria criou para o livro infantil A Maior Flor do Mundo, que Saramago publicou em 2001.

(Cartaz ilustrado por André Letria)

"Às 11h30, vai ser exibido, em estreia, o documentário “Um Humanista por acaso Escritor”, realizado pelo brasileiro Leandro Lopes. O filme vai estar nos cinemas brasileiros e pretende dar uma visão do mundo pelas lentes “desassossegadas” de José Saramago. Como parte da homenagem, foram feitos uns óculos a partir dos originais que Saramago usava e o visitantes vão poder experimentá-los, bem como tirar fotografias.

Às 21h00, a atriz Maria do Céu Guerra vai ler excertos da obra do autor de Ensaio sobre a Cegueira, seguindo-se um concerto de João Afonso e Rogério Cardoso Pires."

(Pilar del Río segura os óculos que os visitantes vão poder usar 
e o caderno original agora encontrado. ©Sara Otto Coelho)

"No encontro com os jornalistas, Pilar del Río anunciou também a descoberta de um texto de teatro escrito por José Saramago e Costa Ferreira, no final dos anos 1970. “Está aqui Saramago”, disse a viúva do escritor. Há anos que Pilar o tinha no gabinete que ocupa na Fundação, pensando ser outra obra. “O Fim da Paciência” nunca chegou a ser apresentado nos palcos. Depois da descoberta, deverá ser publicado, não se sabe ainda se pela Alfaguara, se pela Porto Editora. “Por enquanto, a prioridade da Porto Editora é fazer chegar às livrarias as quatro obras que faltam reeditar para completar a nova coleção, A Jangada de Pedra (1986), Objeto Quase (1978), Terra do Pecado (1947) e Todos os Nomes (1997) e o Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), disse ao Observador Manuel Alberto Valente.

Durante os próximos meses haverá uma mão cheia de referências internacionais ao português que venceu o Nobel da Literatura em 1998. Uma das principais é a exposição que está a ser organizada no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, no Brasil, e que se estima que abra as portas em 2016. Pilar del Río admitiu que falou com o diretor do museu, Antonio Carlos de Moraes Sartini, sobre a hipótese de a exposição ser posteriormente mostrada em Portugal, mas ainda não existem certezas.

Destaca-se também o Congresso Internacional sobre os Deveres Humanos que se vai realizar no México, a 24 e 25 de junho. A ideia é fazer o esboço de uma “Carta dos Deveres Humanos”, que José Saramago sugeriu no seu discurso em Estocolmo, em 1998, quando recebeu o Nobel.

Na capital italiana, Roma, vai ser apresentada uma ópera baseada no romance As Intermitências da Morte. Em Espanha, vai subir ao palco o Ensaio sobre a Cegueira, pela companhia Sarabela, na Galiza, e O Homem Duplicado, em Madrid."


"História de uma flor" post colocado no livro/blog "O Caderno 2" - 25 de Maio de 2009


Pode ser visualizado aqui, via YouTube 

E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos?
Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?

Pode ser consultado e lido, aqui 
em http://caderno.josesaramago.org/42904.html

"História de uma flor"
"Aí pelos começos dos anos 70, quando eu ainda não passava de um escritor principiante, um editor de Lisboa teve a insólita ideia de me pedir que escrevesse um conto para crianças. Não estava eu nada certo de poder desobrigar-me dignamente da encomenda, por isso, além da história de uma flor que estava a morrer à míngua de uma gota de água, fui-me curando em saúde pondo o narrador a desculpar-se por não saber escrever histórias para a gente miúda, a quem, por outro lado, diplomaticamente, convidava a reescrever com as suas próprias palavras a história que eu lhes contava. O filho pequeno de uma amiga minha, a quem tive o desplante de oferecer o livrinho, confirmou sem piedade a minha suspeita: “Realmente”, disse à mãe, “ele não sabe escrever histórias para crianças”. Aguentei o golpe e tentei não pensar mais naquela frustrada tentativa de vir a reunir-me com os irmãos Grimm no paraíso dos contos infantis. Passou o tempo, escrevi outros livros que tiveram melhor sorte, e um dia recebo uma chamada telefónica do meu editor Zeferino Coelho a comunicar-me que estava a pensar em reeditar o meu conto para crianças. Disse-lhe que devia haver um engano, porque eu nunca tinha escrito nada para crianças. Quer dizer, havia esquecido totalmente o infausto acontecimento. Mas, há que dizê-lo, foi assim que começou a segunda vida de “A maior flor do mundo”, agora com a bênção das extraordinárias colagens que João Caetano fez para a nova edição e que contribuíram de maneira definitiva para o seu êxito. Milhares de novas histórias (milhares, sim, não exagero) foram escritas nas escolas primárias de Portugal, Espanha e meio mundo, milhares de versões em que milhares de crianças demonstraram a sua capacidade criadora, não só como pequenos narradores, também como incipientes ilustradores. Afinal, o filho da minha amiga não tivera razão, o conto, de transparente simplicidade, havia encontrado os seus leitores. Mas as coisas não ficaram por aqui. Há alguns anos, Juan Pablo Etcheverry e Chelo Loureiro, que vivem na Galiza e trabalham em cinema, procuraram-me com o objectivo de fazer da “Flor” uma animação em plasticina, para a qual Emilio Aragón já tinha composto uma bela música. Pareceu-me interessante a ideia, dei-lhes a autorização que pediam e, passado o tempo necessário, inútil dizer que depois de muitos sacrifícios e dificuldades, o filme foi estreado. Eu próprio apareço nele, de chapéu e bastante favorecido na idade. São quinze minutos da melhor animação, que o público tem aplaudido em salas e festivais de cinema, como foram, no passado recente, os casos de Japão e Alasca. Como foi igualmente o prémio que acaba de lhe ser atribuído no Festival de Cinema Ecológico de Tenerife, felizmente ressurgido de uma paragem forçada de alguns anos. Chelo veio a nossa casa, trouxe-nos o prémio, uma escultura representando uma planta que parece querer ascender até ao sol e que, muito provavelmente, irá continuar a sua existência na Casa dos Bicos, em Lisboa, para mostrar como neste mundo tudo está ligado a tudo, sonho, criação, obra. É o que nos vale, o trabalho."

José Saramago, em "O Caderno 2"
Caminho, 25 de Maio de 2009

"Saramago no pierde la visión cinco años después de su muerte" de Prado Campos em "El Confidencial"

O texto pode ser consultado e lido, aqui
em http://www.elconfidencial.com/cultura/2015-06-17/saramago-muerte-quinto-aniversario-nobel_888325/

"Saramago no pierde la visión cinco años después de su muerte", texto de Prado Campos
http://www.elconfidencial.com/



(José Saramago - 2009 - Agência EFE)

"José Saramago no quiso ser escritor. De hecho, contaba que de niño en su casa no había libros -sólo uno "grueso, encuadernado, salvo error, en azul celeste, que se llamaba A Toutinegra de Moinho, y cuyo autor, si la memoria me acierta, era Émile Richerbourg"-, pero iba a menudo a la ópera gracias a la amistad de su padre con el portero del teatro. Sin embargo, quien empezó a leer en los periódicos y se encontró con los libros en una rara asignatura de Literatura en la escuela técnica, no sólo se acabó convirtiendo en uno de los escritores más célebres sino que encontró en la escritura la forma de "desasosegar" al lector. Mañana se cumplen cinco años de la muerte del Premio Nobel de Literatura luso que repetía que “a donde va el escritor, va el ciudadano”, dejando claro que en sus obras y en sus palabras era siempre él y que nunca iba a renunciar a su responsabilidad con la sociedad.
"Yo soy una persona pacífica, sin demagogia ni estrategia. Digo exactamente lo que pienso. Y lo hago en forma sencilla, sin retórica”, aseguró Saramago (Azinhaga, 1922) en una de sus incontables entrevistas. Y esa es, precisamente, una de las (muchas) claves de su vida: una conciencia social y política lúcida, honesta y capaz de adelantarse a los acontecimientos.
'Yo soy una persona pacífica, sin demagogia ni estrategia. Digo exactamente lo que pienso. Y lo hago en forma sencilla, sin retórica'
Dice su mujer, Pilar del Río, que “José no es un muerto para nada”. Y en esa idea se van a centrar las actividades de este quinto aniversario. El mejor ejemplo sale del que va ser uno de los nuevos descubrimientos literarios del escritor portugués. Hoy se presenta en su fundación lisboeta El fin de la paciencia, una adaptación teatral inédita hecha por Saramago y Costa Ferreira del relato Cosas, recogido en Casi un objeto (1978). Esta obra, llevada a la escena haciendo hincapié en su parte social, es un cuento ficticio que recrea una sociedad de ciudadanos usuarios clasificados según sus prioridades para consumir (A, B y C) y gobernada por un Estado autoritario en la que las cosas cobran vida y desaparecen.

(Ver el mundo con la mirada de Saramago, 
es lo que propone su fundación en el quinto aniversario de su muerte)

- Lo peor es que el efecto de la represalia acaba siempre por caer sobre nosotros: dificultades de abastecimiento, escasez de producto, carestía... Pensaba que ya habíamos pasado esta fase.
- Será inevitable. Sin austeridad no podemos volver a la armonía social.
Del Río recita al otro lado del teléfono este diálogo de la versión escénica del relato de su marido que tanto suena al hoy “hemos vivido por encima de nuestras posibilidades” y crítico con la austeridad como receta gubernamental para salir de la crisis. Porque si algo ha sido una constante en la mirada de Saramago ha sido su actualidad y su carácter visionario. "No os resignéis, indignémonos", espetó en más de una ocasión al ciudadano, quien era el centro de un discurso que alcanzó su máxima responsabilidad social tras recibir, en 1998, un Nobel que no sólo no le domesticó sino que acrecentó su carácter quijotesco y su condición de creador de opinión.
“En mi oficio de escritor, pienso no haberme apartado nunca de mi conciencia de ciudadano. Defiendo que adonde va uno, debe ir el otro. No recuerdo haber escrito ni una sola palabra que estuviese en contradicción con mis convicciones políticas, pero eso no significa que haya puesto alguna vez la literatura al servicio de mi ideología. Significa, eso sí, que cuando escribo estoy expresando la totalidad de la persona que soy", escribió en Cuadernos de Lanzarote como recoge Fernando Gómez Aguilera en José Saramago en sus palabras (Alfaguara, 2010).
El legado de Saramago
Apenas hoy podría entenderse en la totalidad la figura del escritor Saramago sin su compromiso con el pensamiento crítico, la defensa de los derechos humanos y una firme creencia en los ciudadanos como motor para cambiar la realidad. No puede estar más de actualidad en este panorama político. "No era un optimista y tampoco era pesimista, pero el mundo era pésimo decía siempre. La única salida que veía a las situaciones absurdas que vive el mundo está en los ciudadanos manifestando sus derechos y cumpliendo con sus obligaciones", asegura Del Río.

(José Saramago e Pilar del Río - Agência EFE)

Sus palabras siempre apelaron e interrogaron a los ciudadanos para hacerles creer en la necesidad de intervenir. "Siempre sostuvo que no podíamos mantener la fachada del edificio de la democracia como si todo estuviera bien, cuando por dentro había desafección, corrupción y suciedad", garantiza su mujer. Sin lugar a dudas, Ensayo sobre la ceguera (1995) y, después, Ensayo sobre la lucidez (2004) -siempre sostuvo que no era una continuación y que sólo compartían la palabra ensayo en su título porque reconocer la ceguera no es sinónimo de volverse lúcido- son, además de sus obras más célebres, la mejor muestra de esa censura al fracaso de la racionalidad y ese llamamiento a huir y levantarse contra la manipulación.
De ahí, que esa anticipación a los acontecimientos de Saramago sea pasmosa. Tras ese mundo abatido por la ceguera, en el Ensayo sobre la lucidez plantea una mundo en el que el pueblo se revela ante los abusos del poder y dice no a más sometimiento. Algo que resuena mucho en estos años post 15M, mareas y primaveras y de panoramas políticos cambiantes. Sirvan estas citas de sendas entrevistas como ejemplo de su plena vigencia:
- "El poder político es el que menos cuenta, el poder real es el económico, y no es democrático. Entonces, ¿tiene sentido que sigamos hablando de democracia? Me parece poco serio. Las noticias políticas no son más que declaraciones. Es como el mundo del fútbol, los presidentes se calumnian, se intrigan, protestan, pero ¿quién gobierna los países?: las finanzas internacionales". (1997, El Mundo)
- "Lo que me preocupa más es la apatía de la gente, ese desánimo, esa crisis de indiferencia que se vive en el país. Parece mentira que sea el mismo pueblo que hace 30 años era el más combativo de Europa", decía sobre Portugal en 2005 (El País).
- "El Gobierno socialista [portugués] ha hecho políticas de derecha y el problema es que no hay ningún palacio de invierno para asaltar. Lo peor de todo, y esta crisis lo ha demostrado, es que la izquierda no tiene ideas. Ningún partido de izquierda, más o menos roja, más o menos rosa, ha presentado una sola idea para combatir la crisis. Y con los sindicatos ha ocurrido lo mismo. Su fuerza está dormida, domesticada. Me parece que Marx nunca ha tenido tanta razón como ahora. Pero eso no es suficiente. Haría falta una reflexión profunda, partiendo de Marx". (2009, El País)

Por eso, su lucidez es el mayor legado de un genio comprometido dentro y fuera de sus páginas. "Nunca hizo pactos con nada ni con nadie porque un intelectual que se precie no pacta y dice lo que piensa aunque no sea simpático. Dijo cosas que nadie quería oír como, por ejemplo, hablar de la corrupción hace muchísimo tiempo. Lo que le distingue y le caracteriza, además de su estilo, es la ciudadanía, era un ciudadano de una integridad y una valentía esplendorosa", dice su mujer.
Y su vigencia es más que evidente porque desde que Samarago falleció se han publicado dos obras póstumas: Claraboya (escrita en 1953) y Alabardas (obra en la que estaba trabajando cuando falleció), se ha llevado al cine El hombre duplicado (2003), se estrenó el documental José y Pilar, se ha estrenado una ópera suya en San Francisco y hay otra en marcha en Italia, varias obras de teatro en Estados Unidos, Portugal o España y el 24 y 25 de junio la Universidad Nacional Autónoma de México acogerá un congreso sobre su figura.
Además, su mujer recuerda que la casa museo de Lanzarote siempre está abierta con café para los visitantes y en su fundación en la Casa dos Bicos, de Lisboa, mañana habrá una exposición de ilustraciones; el estreno del documental Um humanista por acaso escritor, de Leandro Lopes; un concierto con lecturas de Saramago a cargo de Joao Afonso y Rogério Cardoso Pires y en su página web se publicarán unas notas inéditas sobre el Ensayo sobre la lucidez. Unas gafas como las suyas también aguardarán en la fundación para que cualquiera pueda ver el mundo con lúcida mirada de Saramago... aunque sea durante unos minutos."