Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Baptista-Bastos até Sempre!



Aqui, http://caderno.josesaramago.org/2011/03/15/

"Num bairro"
"Viver em Lanzarote é, afinal, viver num bairro de uma grande ilha que é o pequeno mundo em que todos vivemos."
Armando Baptista-Bastos - "José Saramago. Aproximação a um Retrato, Lisboa"
Publicações Dom Quixote

Mensagem publicada pela Fundação José Saramago

"Adeus, Baptista-Bastos,
amigo de toda a vida e curador da Fundação José Saramago:"

"Manhã de passeio, manhã de palavras. Conheço o Baptista-Bastos há muitos anos, somos amigos desde então, portanto temos conversado muitas vezes, mas nunca desta maneira, com esta franqueza, a despejar o saco. Uma ilha, mesmo não sendo deserta, é um bom sítio para falar, é como se estivesse a dizer-nos: «Não há mais mundo, aproveitem antes que este resto se acabe.» Levei-o ao Mirador del Río, aos Jameos del Agua, a Timanfaya, ofereci-lhe tudo isto como se fosse meu, a paisagem, o mar, o céu, o vento. Amanhã regressará a Lisboa, aos seus velhos lugares, à Ajuda onde nasceu, à Alfama onde mora, e, aí, o melhor que eu posso desejar-lhe é que feche os olhos de vez em quando e peça à memória a graça de restituir-lhe aquelas sombras de nuvens que passavam por baixo de nós na falda da montanha fronteira à Graciosa, as escarpas roxas de Famara, ao crepúsculo, entre a neblina, a bocarra hiante da Caldera de los Cuervos, o desenho japonês de duas palmeiras sobre a anca deitada duma colina. Que essa memória não lhe falte, e gozará da vida eterna."
(José Saramago, in Cadernos de Lanzarote III)