Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Juan Cruz da TVCanariados entrevista José Saramago (06/2000)

"Esta es la entrevista que realizó el periodista Juan Cruz al escritor portugués José Saramago
en el mes de junio de 2000, en su casa de Lanzarote."

José Saramago (entrevista, primera parte)

José Saramago (entrevista, segunda parte)

José Saramago (entrevista, tercera parte)

José Saramago (entrevista, cuarta parte)

José Saramago (entrevista, quinta parte)

De Miguel Koleff "EL PERRO DE LAS LÁGRIMAS y otros ensayos de Literaturas Lusófonas" Ferreyra Editor e Facultad de Lenguas (da UNC Universidad Nacional de Córdoba) 2017

De Miguel Koleff 
"EL PERRO DE LAS LÁGRIMAS y otros ensayos de Literaturas Lusófonas" 
Ferreyra Editor e Facultad de Lenguas (da UNC Universidad Nacional de Córdoba) 2017

(...) el escrito titulado El perro de las lágrimas, que se interroga acerca de lo que determina la humanidad de un ser vivo." (...) 
página 13 do Prólogo (de Marisa Leonor Piehl - Cátedra Libre José Saramago)

Se destaca o capítulo "José Saramago"
Carne Cruda, p57
El voto en blanco, p60
El perro de las lágrimas, p64
Las fieras, p67
Piedad de léon, p71
Corpus, p75

Um abraço ao amigo Miguel Koleff cujo trabalho sobre as literaturas e "letras do mundo" é de um enorme prazer poder acompanhar mesmo que com um oceano por meio.

"José Saramago inspirou-se em Leonard Cohen" via TSF (07/11/2017) - Narração de Fernando Alves de trecho da "História do Cerco de Lisboa"

"José Saramago inspirou-se em Leonard Cohen" é o titulo da crónica de Fernando Alves na "Manhã TSF" de 07/11/2017, onde faz leitura parcial da página 93 da "História do Cerco de Lisboa".  
Aqui se recupera em
https://www.tsf.pt/cultura/musica/interior/cohen-e-saramago-8899531.html

"No dia em que assinalamos o primeiro aniversário da morte de Leonard Cohen, recordamos o romance de Saramago em que o cantor canadiano ocupa uma página."

Foto: Fernando Farinha/Global Imagens

"Também José Saramago encontrou em Leonard Cohen inspiração. Valeu pelo menos uma página, a 93 do romance "História do Cerco de Lisboa", editado em 1989.

A figura central do romance é Raimundo Silva, um revisor de textos que comete propositadamente um erro ao rever um livro sobre a história do cerco de Lisboa. Raimundo acrescenta um "não" a uma frase e isso muda o sentido de toda a história.

A editora tenta remediar o problema com a publicação de uma errata e contrata uma supervisora cuja tarefa é orientar o trabalho do revisor. Mas esta percebe que Raimundo não vai admitir qualquer alteração e incentiva-o a reescrever a sua própria história do Cerco de Lisboa, agora sem a ajuda dos cruzados.

Raimundo e Sara viveram o seu próprio romance, mas essa é já outra história. E há Lisboa, em fundo. A Lisboa em que Raimundo, na página 93 do romance de Saramago, escuta na televisão o cantor Leonard Cohen."

Narração de Fernando Alves
(...) "Agora um homem aparece sozinho, deve estar a cantar apesar de mal se lhe moverem os lábios, o dístico dizia Leonard Cohen, e a imagem olha para Raimundo Silva insistentemente, os movimentos da boca articulam uma pergunta, Por que não queres ouvir-me, homem sozinho, e certamente acrescenta, Ouve-me agora porque depois será demasiado tarde, após um video-clip vem outro, não se repetem, isto não é um disco que possas fazer voltar atrás mil e uma vezes, é possível que eu volte, mas não sei quando e tu talvez já aqui não estejas nesse momento, aproveita, aproveita, aproveita. Raimundo Silva inclinou-se para a frente, abriu o som, o gesto de Leonard Cohen foi como se agradecesse, agora podia cantar, e cantou, disse as coisas que diz quem viveu e se pergunta quanto e para quê, quem amou e se pergunta a quem e porquê, e, tendo feito as perguntas todas se acha sem resposta, uma só que fosse, é o contrário daquele que afirmou um dia que as respostas estão todas por aí e que nós não temos mais que aprender a fazer as perguntas. Quando o Cohen se calou, Raimundo Silva tornou a cortar o som, e logo a seguir desligou de todo o aparelho. A saleta, interior, tornou-se de repente noite negra, e o revisor pôde levar as mãos aos olhos sem que ninguém o visse." (...)
in "História do Cerco de Lisboa (1989), Caminho - 2.ª edição (página 93) 

Edição #66 da revista "Blimunda" em formato digital para descarregar gratuitamente

A edição pode ser consultada e descarregada gratuitamente aqui
em https://www.josesaramago.org/blimunda-66-novembro-2017/

"Com o objetivo de tornar a leitura mais agradável, o formato da Blimunda foi alterado. O leitor perceberá as mudanças já neste número #66 da revista, que tem como um dos destaques a conversa de Sara Figueiredo Costa com Sandro William Junqueira a propósito de Quando as Girafas Baixam o Pescoço, o seu mais recente romance. Andreia Brites conversou com a ilustradora espanhola Ana Pez, autora de O meu irmão invisível. Na secção Saramaguiana recupera-se um texto escrito pelo crítico literário César António Molina em 1985, ano de publicação da edição espanhola de O Ano da Morte de Ricardo Reis.
Numa tradução de Carla Fernandes, a revista dá a conhecer aos leitores a voz do escritor britânico Peter Kalu num dos capítulos de Little Jack Horner. No seu espaço habitual, Andréa Zamorano reflete sobre o sal da escrita. E, assinalando a edição dos Dias do Desassossego’17 – programa que a Fundação José Saramago organiza em conjunto com a Casa Fernando Pessoa – a Blimunda inclui uma galeria de imagens para recordar como o mês de novembro em Lisboa foi repleto de livros, leituras e extraordinários encontros. Boas leituras!"

"A capa da Revista Blimunda deste mês de novembro, 
que estará disponível hoje, assinalando o 
último dos Dias do Desassossego'17. 
Neste número, para além dos conteúdos a merecer leitura, 
uma mudança no formato da revista, com assinatura, 
como sempre, de Jorge Silva/Silvadesigners."
Via página do Facebook da FJS, aqui em https://www.facebook.com/fjsaramago/

"Problema de Homens" crónica publicada a 27/07/2009

A presente crónica foi publicada originalmente no blog "Outros Cadernos de Saramago" a 27/07/2009 e pode ser aqui consultada e recuperada em http://caderno.josesaramago.org/54038.html 
A compilação dos textos em papel foi editada nos 2 volumes "O Caderno" e que agrega todos os textos de Setembro de 2008 a Novembro de 2009.
Na página da Fundação José Saramago, na secção "Memória" está também disponível através do link, em https://www.josesaramago.org/problema-de-homens-texto-publicado-no-blogue-a-27-de-julho-de-2009/


Capa da edição "O Caderno 2" 


"Problema de Homens" 

"Vejo nas sondagens que a violência contra as mulheres é o assunto número catorze nas preocupações dos espanhóis, apesar de que todos os meses se contem pelos dedos, e desgraçadamente faltam dedos, as mulheres assassinadas por aqueles que crêem ser seus donos.
Vejo também que a sociedade, na publicidade institucional e em distintas iniciativas cívicas, assume, é certo que só pouco a pouco, que esta violência é um problema dos homens e que os homens têm de resolver.
De Sevilha e da Estremadura espanhola chegaram-nos, há tempos, notícias de um bom exemplo: manifestações de homens contra a violência. Até agora eram somente as mulheres quem saía à praça pública a protestar contra os contínuos maus tratos sofridos às mãos dos maridos e companheiros (companheiros, triste ironia esta), e que, a par de em muitíssimos casos tomarem aspectos de fria e deliberada tortura, não recuam perante o assassínio, o estrangulamento, a punhalada, a degolação, o ácido, o fogo. A violência desde sempre exercida sobre a mulher encontrou no cárcere em que se transformou o lugar de coabitação (neguemo-nos a chamar-lhe lar) o espaço por excelência para a humilhação diária, para o espancamento habitual, para a crueldade psicológica como instrumento de domínio.
É o problema das mulheres, diz-se, e isso não é verdade. O problema é dos homens, do egoísmo dos homens, do doentio sentimento possessivo dos homens, da poltronaria dos homens, essa miserável cobardia que os autoriza a usar a força contra um ser fisicamente mais débil e a quem foi reduzida sistematicamente a capacidade de resistência psíquica. Há poucos dias, em Huelva, cumprindo as regras habituais dos mais velhos, vários adolescentes de treze e catorze anos violaram uma rapariga da mesma idade e com uma deficiência psíquica, talvez por pensarem que tinham direito ao crime e à violência. Direito a usar o que consideravam seu. Este novo acto de violência de género, mais os que se produziram neste fim-de-semana, em Madrid uma menina assassinada, em Toledo uma mulher de 33 anos morta diante da sua filha de seis, deveriam ter feito sair os homens à rua.
Talvez 100 mil homens, só homens, nada mais que homens, manifestando-se nas ruas, enquanto as mulheres, nos passeios, lhes lançariam flores, este poderia ser o sinal de que a sociedade necessita para combater, desde o seu próprio interior e sem demora, esta vergonha insuportável. E para que a violência de género, com resultado de morte ou não, passe a ser uma das primeiras dores e preocupações dos cidadãos. É um sonho, é um dever. Pode não ser uma utopia."
José Saramago
In "O Caderno 2", edição Caminho, páginas 182 a 184
(meu negrito)