Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

"O Homem Que Queria Um Barco" de Aline Frazão, baseada em "O Conto da Ilha Desconhecida" de José Saramago

O álbum "Insular" de Aline Frazão
e a música "O Homem Que Queria Um Barco", 
baseada em "O Conto da Ilha Desconhecida" de José Saramago




Via Facebook da Fundação José Saramago, aqui
em https://www.facebook.com/fjsaramago/?fref=ts

"Sobre «Insular», o novo disco de Aline Frazão, que partiu de «O Conto da Ilha Desconhecida» para compor um destes novos temas: «Mas, como canta em O homem que queria um barco, letra sua baseada no Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago, era um passo “p’ra descobrir quem sou quando chegar”.»


Publicado a 21/11/2015 - Provided to YouTube by Universal Music Group International
"O Homem Que Queria Um Barco" de Aline Frazão, do álbum "Insular"
℗ 2015 Edições Valentim de Carvalho S.A. - Released on: 2015-11-20

Notícia via jornal Público, para leitura completa e consulta, aqui

"Aline partiu à procura do seu Norte" de Gonçalo Frota (28/11/2015)

"Para agitar a sua música, Aline Frazão rodeou-se de electricidade, de um homem dos Linda Martini e de um produtor com um estúdio numa remota ilha escocesa. Insular é o magnífico e corajoso registo de uma cantora empenhada em redescobrir-se no risco.
(...)
Ajudou que o destino fosse uma ilha selvagem, pouco paradisíaca, em que uma viagem até ao único pub de Craighouse não alterava a sensação de isolamento. E assim Aline aceitou lançar-se a “um jogo de confiança, em que tudo era muito arriscado”. Durante os meses que precederam a partida para Jura, quando lutava para terminar as composições que iria gravar, foi assaltada milhentas vezes por uma sensação de que aquilo que a esperava era “um pouco louco”. Não era certamente a cartada certinha de se juntar a um produtor de créditos inabaláveis ou sequer a estratégia de mudar sem correr o risco de uma desestabilização real. Mas, como canta em O homem que queria um barco, letra sua baseada no Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago, era um passo “p’ra descobrir quem sou quando chegar”.



Texto de Mário Cláudio no DN - "Saramago" (27/11/2015)

O texto de Mário Cláudio, pode ser consultado e lido, aqui
em http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/mario-claudio/interior/saramago-4904544.html

Os texto do autor, podem ser consultados, no DN, aqui
em http://www.dn.pt/tag/mario_claudio.html

"Saramago" por Mário Cláudio

«A notoriedade de José Saramago nas letras pátrias, e sobretudo nas europeias, dispensa-me do esforço de procurar a habitual perífrase, a servir de título a esta crónica, e capaz de tornar mais nítida, ou mais cativante, a personalidade--tema que desejo tratar aqui. "Saramago" sem mais, desligado da graça de baptismo, e de qualquer adereço que a acompanhe, bastará de facto para identificar quem com Fernando Pessoa representa a literatura portuguesa, e em termos idênticos àqueles em que Cristiano Ronaldo simboliza o futebol internacional. O ficcionista de Todos os Nomes foi de resto brindado por um apelido que regista tanto de bravio como de truculento, sublinhando dois dos traços mais genuínos do seu carácter.

Aquando da vinda a lume de Levantado do Chão, e com base nas fotografias que circulavam nos jornais, reconhecê-lo-ia eu, a almoçar num pequeno restaurante do Bairro Alto, a Primavera. O romancista encontrava-se sozinho, e ia comendo nessa civilizada lentidão dos camponeses que aproveitam a ceia para congeminar longa e serenamente sobre os trabalhos e os dias. Vestia uma camisa aos quadrados, e usava uma boina que julgo ter retirado antes de se sentar à mesa, indumentária em tudo correspondente ao período pós-revolucionário que se atravessava, e que talhava o estilo a que um amigo meu, classista e selectivo, chamava "vinho e petiscos". Achava-se distante ainda a época em que o vestuário do proletariado cederia lugar ao uniforme mais recente, impossibilitando a destrinça entre letrado, político e homem de negócios, e ao qual José Saramago, consagrado entretanto, acabaria por aderir.

Em 1985 um júri nomeado pela Associação Portuguesa de Escritores atribuir-me-ia o Grande Prémio de Romance e Novela, instituído pela mesma, e distinguindo o meu livro Amadeo, quando me apaixonara já, e perdidamente, por Memorial do Convento. Saramago era na altura o principal favorito ao galardão com O Ano da Morte de Ricardo Reis, e sem demora o caldo ficaria entornado. Não faltaria quem logo equiparasse o meu texto ao volumezinho de versos, crismado de Romaria, e de que era autor um no-name boy, que décadas antes alcançara o primeiro lugar num concurso do Secretariado de Propaganda Nacional, preterindo escandalosamente a Mensagem, de Fernando Pessoa. No calor da defesa do que não vencera principiei então a receber arreliantes telefonemas anónimos, e às três ou quatro da manhã, insultando-me de variadas coisas, e acusando-me antecipadamente de desvergonha, se acaso me atrevesse a receber o troféu, e o cheque que lhe estaria apenso. Fui porém a Tróia, empunhei a estatueta, empochei o dinheiro, e confessei publicamente que muito gostaria de poder contar com José Saramago ali, e a meu lado. Impõe--se todavia aduzir que ele próprio, o ilustre novelista, me enviaria de imediato uma generosa e magnânima carta, verberando o comportamento de quantos a horas pouco cristãs me haviam desfeiteado pelo auscultador.

Encontrava-me eu com ele mais tarde na Feira de Frankfurt, integrados numa dessas levas de lusófonos, e subsidiados pelo Estado no período das vacas gordas, quando anunciaram que o Nobel lhe fora concedido. Acorremos a abraçá-lo, e apesar do muro de colegas e leitores que o saudavam, consegui entregar--lhe uma rosa vermelha, isto porque cravos revolucionários dificilmente se compram na cidade--escritório da Europa. E nessa noite, reunindo alguns do nosso ofício num jantarzinho alemão, Agustina Bessa-Luís teve o gesto lindíssimo de mandar abrir uma garrafa de Don Perignon, homenageando assim o triunfador que porventura haverá morrido sem que esta nobre delicadeza lhe chegasse ao conhecimento.

Ao passar agora defronte da Casa dos Bicos, reparo na oliveirinha que protege as cinzas do inesquecível prosador, e felicito-o em silêncio por ter escapado tão habilmente aos monumentais esplendores do Panteão Nacional. Rezo pois para que a terra lhe seja leve, suspeitando de que o será por certo, e muito mais do que os mármores dos sarcófagos da Igreja de Santa Engrácia.»

domingo, 29 de novembro de 2015

Roteiro Literário - O Percurso Pedestre baseado na obra de José Saramago "O Ano da Morte de Ricardo Reis" - Dias do Desassossego 2015





Roteiro Literário - O Percurso Pedestre baseado na obra de José Saramago 
"O Ano da Morte de Ricardo Reis"

«"O Ano da Morte de Ricardo Reis" é um dos mais interessantes romances do Prémio Nobel, onde se cruzam personagens como Ricardo Reis, Lídia e até Fernando Pessoa. Neste passeio percorremos os locais referidos na obra e, em cada um desses locais, para alé da explicação da obra, é lido, como de costume, um excerto do romance.»

Mais informação, 
ou na página do Facebook, em https://www.facebook.com/MissLisb/?fref=ts

Contactos Directos 
Mail - geral@misslisbon.com
Morada - Praça Infante D. Duarte, n.º8, 3ºD - Infantado - 2670 - 386 Loures
Telefone - 965 458 919 / 964 601 916

Início da visita - Fundação José Saramago

 A sede da FJS - Casa dos Bicos - As janelas com a arte de José Santa-Bárbara


O Cais das Colunas
"Chove sobre a cidade pálida, as águas do rio correm turvas de barro, há cheias nas lezírias. Um barco escuro sobe o fluxo soturno, é o Higland Brigade que vem atracar ao cais de Alcântara"


Praça Duque da Terceira  - Cais do Sodré - Rua Nova do Carvalho (Hotel Bragança)













"tornou o hóspede a entrar na recepção, um pouco ofegante do esforço, pega na caneta, e escreve no livro das entradas, a respeito de si mesmo, o que é necessário para que fique a saber-se quem diz ser (...) Ricardo Reis, idade quarenta e oito anos, natural do Porto, estado civil solteiro, profissão médico, ultima residência Rio de Janeiro, Brasil, donde precede, viajou pelo Highland Brigade"







Rua do Comércio
"Ricardo Reis saiu cedo do hotel, foi ao Banco Comercial cambiam algum do seu dinheiro inglês pelo escudos da pátria, pagaram-lhe por cada libra cento e dez mil réis"


Rua do Crucifixo
"Afasta-se Ricardo Reis em direcção à Rua do Crucifixo, atura a insistência de um cauteleiro que lhe quer vender um décimo para a próxima extracção da lotaria, É o mil trezentos e quarenta e nove, amanhã é que anda à roda"

Rossio (Restaurante Irmão Unidos)
"Fez um gesto na direcção da praça de táxis, tinha fome e pressa, se ainda encontraria a esta hora restaurante ou casa de pasto que lhe desse de almoço, Leve-me ao Rossio, se faz favor"

Nota Informativa (Miss Lisbon): "Os Irmãos Unidos, no Rossio, era um restaurante que pertencia ao pai de Alfredo Guisado (detalhe da placa). Aqui se reunia a geração do Orpheu, e encomendado para ele, Almada Negreiros pintou o retrato de Fernando Pessoa, em 1954, que presentemente se encontra na Casa Fernando Pessoa. Dez anos mais tarde, pintou uma réplica para a Fundação Gulbenkian. O restaurante encerrou em 1970, tendo a sua área sido ocupada pela Camisaria Moderna."

 Rua dos Sapateiros / Rua de Santa Justa
"Vai Ricardo Reis a descer a Rua dos Sapateiros quando vê Fernando Pessoa. Está parado à esquina da Rua de Santa Justa, a olhá-lo como quem espera, mas não impaciente."

A estátua de Fernando Pessoa


Praça Luís de Camões 
"Tivesse Ricardo Reis saído nessa noite e encontraria Fernando Pessoa na Praça Luís de Camões, sentado num daqueles bancos como quem vem apanhar a brisa"


Alto de Santa Catarina
 
"Ainda não são três da tarde quando chega ao Alto de Santa Catarina. As palmeiras parecem transidas pela aragem que vem do largo, mas as rígidas lanças das palmas mal se mexem. Não consegue Ricardo Reis lembrar-se se já aqui estavam estas árvores há dezasseis anos, quando partiu para o Brasil."

Estátua do Adamastor
"Foi dar a volta à estátua, ver quem era o autor, quando foi feita, a data lá está, mil novecentos e vinte e sete, Ricardo Reis tem um espírito que sempre procura encontrar simetrias irregulares do mundo, oito anos depois da minha partida para o exílio foi aqui posto o Adamastor, oito anos depois de aqui estar Adamastor regresso eu à pátria, ó pátria, chamou-me a voz dos teus egrégios avó"












sábado, 28 de novembro de 2015

A serenidade de Saramago (Cadernos de Lanzarote Diário I) - Entrada de dia 24 de Julho de 1993



«O prazer profundo, inefável, que é andar por estes campos desertos e varridos pela ventania, subir uma encosta difícil e olhar lá de cima  a paisagem negra, escalvada, despir a camisa para sentir directamente na pela a agitação furiosa do ar, e depois compreender que não se pode fazer mais nada, as ervas secas, rente ao chão, estremecem, as nuvens roçam por um instante os cumes dos montes e afastam-se em direcção ao mar, e o espírito entra numa espécie de transe, cresce, dilata-se, não tarda que estale felicidade. Que mais resta, então, senão chorar?»

in, "Cadernos de Lanzarote - Diário I"
Caminho, 1994, página 85

"Espuma das Palavras" de Rui Santos (16/11/2014) Homenagem a Saramago

(Capa da edição, ilustrações de Diana Sbardelotto)



Pode ser acedido para consulta, leitura ou impressão, aqui
em http://www.revistasetefaces.com/2015/06/espuma-das-palavras-de-rui-santos.html

(Open publication - Free publishing)

Género: Poesia

Capa e ilustrações: Diane Sbardelotto

74 Páginas

Sobre o opúsculo
“Espuma das palavras traz a relevo o exercício da força imaginativa do escritor como produto da relação com os acontecimentos de sua própria vida, das leituras e da aproximação que mantém com os principais temas de seu tempo” (Pedro Fernandes)

Link para aceder a todo o trabalho constante nas edições anteriores, aqui
em http://www.revistasetefaces.com/

terça-feira, 24 de novembro de 2015

"A Viagem do Elefante" em BD de João Amaral - Exposição em Viseu - Momentos














«Como referi anteriormente, estive no passado dia 14 em Viseu, na inauguração de uma exposição sobre A Viagem do Elefante, a adaptação que fiz para banda desenhada do romance de José Saramago. Foi um dia inesquecível com conversa, convívio e trabalho à mistura, sinais de momentos bem passados. A todos os que por lá passaram, pude falar um pouco sobre o making-of deste trabalho que, para mim também implicou uma grande viagem, quer a nível físico, quer psicológico. A própria exposição, constituída por vários núcleos, revela algumas pranchas do livro executadas em diferentes técnicas, mas também uma pequena mostra sobre como é que elas foram elaboradas, bem como esboços, desenhos e fotografias de alguns locais por onde passei, para me documentar.
Depois deste dia que foi de muitas e intensas emoções, fica mais uma vez expresso o meu agradecimento ao GICAV que montou a mostra, bem como à autarquia de Viseu, representada nas figuras do seu presidente da câmara e da vereadora da cultura por terem apoiado a iniciativa.
A todos os que se possam deslocar ainda à biblioteca D. Miguel da Silva, na rua Aquilino Ribeiro, em Viseu fica a nota de que esta exposição estará patente até ao próximo dia 30 de Novembro. Para já, deixo aqui algumas fotos, que falarão melhor do que eu. E quem quiser ver  ainda mais pormenores sobre este acontecimento, pode sempre consultar a minha página de facebook, o by João Amaral, cujo acesso se pode fazer directamente através do selo que poderão visualizar do lado direito deste blogue.»

O trabalho de João Amaral, pode ser acompanhado em diversas plataformas.



(Fotos: Cristina Costa Amaral)






Revista Blimunda - Edição #42 Novembro 2015

(capa da edição #42 - Novembro 2015)


Pode ser descarregada gratuitamente, não só a presente edição, como as anteriores, aqui

Sinopse da edição
«Foi em Novembro de 1995, há 20 anos, que foi publicado o Ensaio sobre a Cegueira, romance que José Saramago definiu como “um livro indignado” e que inaugurou uma nova fase na sua criação literária. A Blimunda deste mês dedica várias páginas a esse livro cruel e duro, “francamente terrível”, nas palavras do seu autor, mas portador também de beleza e alguma tímida esperança. As fotos que ilustram a secção Saramaguiana, dedicada ao Ensaio, são de Alexandre Ermel e foram captadas durante a rodagem do filme Blindness, de Fernando Meirelles.

Com As Primeiras Coisas, Bruno Vieira Amaral recebeu vários prémios, entre eles o José Saramago/Fundação Círculo de Leitores – atribuído em outubro passado. Alguns dias depois do anúncio da distinção, a Blimunda apanhou o barco até ao Barreiro para uma conversa com o escritor sobre a Vila Amélia (bairro ficcional criado pelo escritor), o ofício de escrever e as expectativas e projetos para o futuro.

Na secção de Cinema o assunto é a Ficção Científica (FC) e o seu potencial para antecipar ou prever o futuro. João Monteiro analisa o género, desde as primeiras produções até ao momento atual.

Aos 73 anos, muitos deles dedicados aos livros, a colombiana Sílvia Castrillón visitou Portugal pela primeira vez. Veio para participar no Folio (Festival Literário de Óbidos) e aproveitou para passar uns dias em Lisboa, cidade que “conhecia” através do livros de António Tabucchi. Nesta passagem pela capital portuguesa, a escritora, editora e bibliotecária foi entrevistada por Andreia Brites.

Boas leituras e até Dezembro!»

Roteiros de Leitura da obra "O Homem Duplicado"

Roteiro de Leitura
"O Homem Duplicado"
Caminho, 2002

Um roteiro não nos mostra o local físico, porém, 
nos orienta pelos caminhos a percorrer até ao seu destino.
São 83 pontos de interesse, em sucessão e não antecipáveis, tal como se pode imaginar e idealizar num trajecto entre o ponto de partida e o de chegada. Pelo meio, um caminho percorrido. 
Mil vozes e imagens transporta este "O Homem Duplicado".
(9 a 23 de Novembro de 2015)


1. Tertuliano Máximo Afonso (TMA) professor de Historia do ensino secundário TMA

2. Homem divorciado, com quase 40 anos, solitário e a solidão

3. Aluga filme Quem Porfia Mata Caça, sugerido pelo colega de matemática

4. Alusão ao livro de estudo das antigas civilizações mesopotâmicas

5. O filme que é visionado e a insónia que o desperta e faz de novo percorrer o filme

6. O primeiro espanto e o choque... a descobeta de um actor em tudo igual a TMA

7. Ligeiras diferenças fisionómicas, o cabelo e o bigode, a cara mais magra

8. O filme tem 5 anos e TMA descobre através de uma fotografia que há cinco anos não tinha diferenças em relação ao actor

9. A insónia e as novas perguntas. O que é ser um erro?

Imagens do filme "Enemy" baseado na obra em análise
Aqui link para mais informações em https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Homem_Duplicado_(filme)

10. Amanhece e a consciência fala. A consciência chama-se Senso Comum. Perguntar ou não ao colega o porquê da sugestão de um filme antigo e de segunda categoria!? Teria alguma outra intenção? Dar passos, mas quais passos. Deixar tudo como está

11. O confronto com o seu eu reflectido no espelho

12. Na escola o encontro com o colega de matemática, as trocas de impressões sobre as culpas do mundo. A pergunta fulminante que atinge TMA

13. A ira dos mansos e os humores da Antiguidade e do Agora

14. Alusão de TMA em reunião de professores ao método de ensino da História. Deveria começar no presente até ao passado. A força dos gestos e subgestos

15. No vídeo clube compra a cassete que tinha alugado e traz mais 6

16. A procura do nome do actor por exclusão de repetições dos elencos dos filmes

17. A mensagem no gravador de Maria da Paz (MP) e do colega de matemática. A alusão à ex-mulher. A reflexão com o senso comum

18. A resposta para o gravador de MP

19. É identificado o dia da semana, que sendo uma sexta feira permite alugar todos os filmes disponíveis na loja. Alusão ao tipo de cidade onde a acção se desenrola

20. Um continuo que pede a presença do senhor doutor no gabinete do director da escola. A conversa no gabinete sobre a forma de ensinar a História e que continuou ao almoço. 

21. Passagem pelo vídeo clube. 36 cassetes para alugar já à sua espera. Fim de semana para apurar da lista de nomes qual o do seu igual. Filmes de fraca qualidade e o actor sempre presente em papéis secundários


22. A visita supresa de MP. O pânico de TMA por ter as cassetes à vista e dar uma justificação falsa mas credível
23. MP visita TMA na sequência das mensagens trocadas nos gravadores de mensagens. Queria ter uma resposta e uma esperança
24. TMA cedeu ao pânico e amou mais uma vez MP. Sairam de casa como casal. Chegou a casa como homem a procura da sua cópia.
Em A Deusa do Palco descobre-o, chama-se Daniel Santa-Clara (DSC)

25. Começou a procura de DSC. Os nomes pela lista telefónica. 3 nomes com o mesmo apelido. 2 telefonemas e sem avanços, ao terceiro telefonema do outro lado dizem que já alguém tinha procurado a mesma pessoa

26. Os 3 contactos feitos, TMA decide enviar uma carta à produtora dos filmes a pedir informações de DSC. Não pode enviar com seu nome e morada. Dá uma falsa desculpa a MP para enviar com os dados dela. Aceita mas fica no ar a dúvida dela. Caminhos falsos e falsificações. TMA perde o controlo na relação que queria romper

27. A carta escrita e a assinatura de MP falsificada pronta a seguir para o marco do correio. Antes uma última tentativa. Telefona para o número que nunca foi atendido sem sucesso

28. Telefona a Carolina Máximo (CM) a mãe de TMA. Uma conversa preocupada. A mãe ansiosa

29. A carta colocada no marco e os filmes entregues no clube de vídeo


30. O colega de matemática que o acha estranho desde que viu o filme. O director que lhe propõe um trabalho para as férias dando razão à forma como TMA pretende ensinar a História, da frente para trás

31. Duas semanas de marasmo. MP telefona do banco a comunicar a chegada da resposta à carta. Recolhe a carta e fica a saber o seu conteúdo. Uma fotografia autografada por DSC e uma carta informando o nome verdadeiro do actor - António Claro - e a morada da residência

32. É para lá que vai. A busca de AC o homem e não o actor é mais efectiva e sólida. O senso comum entra no carro para lhe dar os últimos avisos. Confronto entre TMA e o seu senso comum

33. Volta a casa. Tem o nome e morada falta o número de telefone que está na lista telefónica. E agora, pergunta-se

34. Telefona para AC e atende uma mulher. A mulher reconhece a voz de AC. Gera-se a confusão. TMA pergunta por DSC e não por AC. Desliga fica no ar a suspeição

35. TMA opta por procurar um disfarce para não ser reconhecido na incursão à rua de AC

36. Jantar com MP. Ela confronta-o com a carta e seu conteúdo. Conflito e suspeição. Na chegada à casa de MP,  TMA decide confessar as mentiras mas sem se pronunciar sobre a razão das mesmas. Clima de paz entre os dois. MP contenta-se em saber que a mentira existe e que a verdade chegará

37. TMA disfarçado com barba postiça visita a área onde mora AC

38. Fica a dúvida será TMA o original ou a sua cópia

39. Deu o passo seguinte. Telefonou e atendeu a mulher de AC. Com AC apresenta-se e falam da voz, das parecenças físicas e sinais que ambos têm. AC exige não voltar a ser incomodado


40. AC conversa com a mulher. Helena (H). Dúvida e inquietação. Que quererá TMA? Serão mesmo iguais? E quem será um ou o outro? Fica a pairar o temor. TMA sente-se confortável, fez o que tinha e podia fazer
41. A busca de TMA e a sua inquietação foi transferida para cada de AC e H. Pairam sombras nesta casa

42. Noite de sonhos ou pesadelos para H e que na manhã seguinte procura a morada de TMA na lista telefónica

43. AC sai de casa e vai em direcção da rua onde TMA vive. Coloca um bigode para disfarce. TMA em casa trabalha no documento sobre a forma de ensinar a disciplina de História. Não se cruzam

44. O narrador anuncia que TMA não voltará à escola e ao ensino. A saber depois

45. AC vai para casa e adensa a incerteza e incómodo do passo a tomar. Tem nova personagem para preparar, um advogado

46. AC telefona a TMA. Marcam um encontro para tirar as dúvidas. Num local fora da cidade que AC enviará os dados da localização por carta. Um irá armado sem balas o outro não

47. Encontro com MP, perde-se a chama definitivamente?
48. TMA põe a barba postiça e faz reconhecimento da casa onde se irá encontrar com AC

49. TMA telefona à mãe CM. Da promessa da visita em breve até à prometida conversa franca entre ambos

50. Chega o momento do encontro. AC incrédulo. TMA preparado. As comparações fisionómicas, os sinais, cicatrizes. A menção à forma como TMA chegou a AC. Os telefonemas aos 3 DSC e que já tinha sido contactado por outro homem que não o TMA

51. A comparação da data de nascimento e hora ou a presunção de que o primeiro a nascer será o original do seu duplicado


52. TMA nasceu 31 minutos depois de AC. Ficou em clara desvantagem. Morrerão ao mesmo tempo ou com diferença de 31 minutos. E a prova do teste de ADN recusada por ambos. Despediram-se. Terminou o momento de crise. O encontro e comprovação das semelhanças físicas

53. De volta a casa TMA tem o senso comum dentro do carro. O diálogo de TMA vem a dar por concluído este episódio. O senso comum dá-o por agora iniciado

54. Inesperadamente TMA envia a barba postiça para AC. H e AC têm um confronto verbal pelo que será o futuro. Ignorar o impossível ou manter vivo o pensamento. H mostra-se sofredora

55. TMA visita a mãe. O cão Tomarctus e a tentativa de se furtar à conversa com CM

56. AC lembra-se da conversa com TMA, a da carta a pedir a morada dele

57. H vive numa completa letargia alimentada a comprimidos. O conhecimento da existência de TMA é um foco de destruição do casal

58. A ida de AC à produtora mostrou-se frutífera, uma funcionária consegue localizar uma carta enviada não por TMA mas por MP

59. AC assume agora a posição de ataque. Deixa mensagem a TMA a exigir novo encontro, telefonará sem dizer nada a MP a quem passará a seguir os seus passos, e H não será conhecedora destes dados

60. AC tem o primeiro contacto visual com H e segue-a de autocarro até ao trabalho
61. TMA conta à mãe CM as razões do seu desassossego, o encontro com AC e a relação sôfrega com MP

62. Regressado a casa. A paz no espírito. Tem mensagens no gravador do telefone. Director e o colega de matemática. A 3a é de AC exigindo novo encontro. Da paz ao terror num ápice

63. O banho frio para acalmar e só depois as chamadas que ficaram por ouvir. A 4a foi de um silêncio de quem não quer falar, a última de MP em tom de cobrança e mágoa. TMA devolve a chamada, promete-lhe amor e vida em conjunto

64. Decorrem alguns dias em que TMA despacha o trabalho para entregar ao director para depois pensar na mudança de casa. Viverá com MP e sua mãe, deixará a sua cada

65. AC desloca-se a casa de TMA numa atitude de vingança. TMA mexeu num assunto que tomou dimensões incontroláveis. AC pretende colocar MP em jogo já que H sofreu um choque que a abalou e à relação




66. Entre TMA e AC existe um confronto verbal e quase físico de agressão. A jogada de AC sobre TMA é de vingança. Faz-se passar pelo namorado e terá combinado levar MP a passar uma noite na casa de campo. Resignação de TMA. AC prepara o disfarce levando roupa e o carro de TMA. Momento alto de crise

67. AC faz de TMA na sua casa de campo onde está vingando a ousadia inicial do seu duplicado. Não deixa de ser um encontro sexual. MP é uma mulher feliz

68. TMA em casa decide como se tratasse de uma jogada de xadrez tomar posição. Pega nas roupas e haveres que AC deixou na mudança e toma-os para se colocar na figura de AC. Segue para casa dele e leva consigo o livro dos mesopotâmicos

69. No elevador tem companhia. O senso comum a quem desvenda o seu plano. TMA dormirá com H e deixará a AC a amarga surpresa de quando retornar a sua casa ter de explicar que na noite anterior ter dormido com H sem o saber. Está na sua casa de campo com MP sem saber que TMA está nesse momento na sua casa

70. TMA passa uma noite de sexo e pesadelos. O conforto de H e o sexo de novo presente

71. A manhã é de paz. TMA com a ansiedade de sair de casa para não ser confrontado por AC. O tempo que passa e o sentimento de permanência que vai aumentando. H sai para ir às compras

72. Passa o tempo e não há sinal de AC. TMA sai do apartamento à pressa. H em choro

73. TMA ao sair do apartamento decide primeiro telefonar para casa de MP. Alguém atende e diz que MP e o seu noivo morreram num acidente de automóvel

74. TMA cai num assombro de culpa. A culpa moral e o peso da consciência

75. Para onde irá? É um noivo, professor de Historia e filho morto. Não poderá assumir a vida de AC. Procura um hotel para passar a noite e reflectir sobre os passos a dar de seguida

76. Agonia crescente. Liga para casa na esperança da mãe já ter chegado. Ninguém atende à 1a e na segunda tentativa deixa recado no gravador de chamadas. Espera que ela oiça. Deixa os dados do hotel onde está e o nome do cão Tomarctus

77. A mãe chega ao hotel e TMA revela toda a história. Fica a saber que o acidente acontece porque o carro foi atirado para debaixo de um camião

78. Na manhã seguinte compra os jornais e fica a saber que o carro é atirado para debaixo do camião e o os ocupantes MP e AC iriam a esbracejar

79. TMA leva o jornal da notícia do acidente e apresenta-o em casa de H. H surpresa porque pensa que AC saiu ontem de casa sem dar mais notícias e agora é confrontada com a sua presença e o mundo lhe desaba aos pés. AC não está e o seu duplicado se apresenta a dar a notícia da morte. Devolve o anel e a carteira e outros haveres

80. MP deitada ao lado de TMA que supunha ser o seu noivo e não AC descobre a marca da aliança retirada. O acidente é consequência desta descoberta

81. TMA e H, o desenrolar da conversa leva a que ela proponha ao duplicado que ocupe o lugar de AC. A cena termina num abraço e de aliança novamente ao dedo de TMA

82. CM chorará o filho que não morreu e H fingirá que AC não está morto

(Capa da edição actual da Porto Editora)

83. TMA agora AC sentado a ler o seu livro que o acompanha durante toda a história. Toca o telefone e do outro lado alguém pergunta por DSC, a conversa que TMA tinha originalmente efectuada e agora repetida por um terceiro duplicado. Marcam de imediato um encontro. TMA sob capa de AC sai vestido com a arma carregada. Adivinha-se mais uma morte

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Canecas com ilustração em BD de João Amaral, baseadas na obra "A Viagem do Elefante"


Se estiver interessado em algum artigo contacte geral@artedeautor.pt





20 anos do “Ensaio sobre a Cegueira” - A arquitetura de um romance (FJS e Porto Editora - 2015)

Montagem cénica 
"Ensaio sobre a Cegueira" (1995) e "A arquitectura de um romance" (2015)

Sinopse 
«Quando se assinala o 20.º aniversário da publicação de «Ensaio sobre a Cegueira», a Porto Editora e a Fundação José ‪‎Saramago‬ publicam «A arquitetura de um romance», a construção de «Ensaio sobre a Cegueira» contada dia a dia pelo autor nos seus diários e intervenções públicas.

Em Portugal, este livro será oferecido na compra de um exemplar deste romance de José Saramago e estará nas livrarias nos próximos dias.

A edição digital do livro pode ser descarregada aqui

sábado, 21 de novembro de 2015

Daniel Mordzinski "Los escritores en su intimidad bajo el lente de Daniel Mordzinski" - Revista Arcadia (México)

Via Revista Arcadia, pode ser consultado aqui, 
«Conocido como "el fotógrafo de los escritores", Daniel Mordzinski trabaja desde hace 38 años en un ambicioso ''atlas humano'' de la literatura iberoamericana.
El fotógrafo argentino, radicado entre París y Madrid, ha retratado a los protagonistas más destacados de las letras hispanoamericanas.
En el marco del festival digital organizado por BBCMundo le pidió que contara la historia íntima detrás de sus ya míticas capturas.
El Hay Festival México es un encuentro entre distintos pensadores y personalidades para debatir sobre el mundo de hoy e imaginar el de mañana.
Tiene lugar en Ciudad de México entre el 23 y el 25 de octubre.»

Aqui o link para o festival,


"José Saramago andaba tratando de huir de los ajetreos producidos por el anuncio del pemio Nobel, en 1998. Logré, sin embargo, convencerlo que me recibiera en su paso por el hotel Raphael de París, a pasos del Arco del Triunfo. Intenté hacer las cosas bien y todas me salieron mal: fui lento, saqué demasiadas fotos y me ocupé más de la técnica que del retratado, Esa misma tarde, al revelar las fotos, quedé descontento del resultado y decidí volver a la carga. 'Retratar es volver a tratar', le dije por teléfono. Y con su generosidad y humanidad habitual aceptó esa misma noche un nuevo encuentro".

terça-feira, 17 de novembro de 2015

"De Gabo para Saramago" - Jornalista Cláudia Silva (em Austin) - Público 16/11/2015

A noticia pode ser consultada, aqui na página do Público, 

Jornalista Cláudia Silva (em Austin) 16/11/2015

(O documento que está no arquivo do Harry Ransom Center)



"De Gabo para Saramago

No dia em que José Saramago faria anos, lembramos um documento, que está nos arquivos pessoais de Gabriel García Márquez, em que o colombiano defende a literatura ibero-americana como una.

O escritor, nascido na aldeia de Azinhaga, soube que lhe fora atribuído o Prémio Nobel, o único dado à língua portuguesa, a 8 de Outubro de 1998. Nesse dia, o autor de Ensaio sobre a Cegueira recebeu muitas congratulações. Uma delas foi de outro Prémio Nobel, o escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), conhecido por Gabo entre os amigos.

A mensagem de felicitações em espanhol e assinada por García Márquez à mão, foi arquivada pelo próprio autor. Não se sabe se foi lida pelo escritor ou pronunciada nalguma cerimónia oficial. A declaração, no entanto, encontra-se numa pasta chamada “Declarações e Respostas”, preservada dentro de uma caixa cinzenta de revestimento rijo, catalogada com o número 75.5, que pode ser encontrada nas quase cem caixas do arquivo de Gabriel García Márquez no Harry Ransom Center, da Universidade do Texas, que foi aberto no dia 21 de Outubro para consulta académica. O arquivo contém centenas de documentos datados de 1930 a 2014.

Nesta declaração, García Márquez não só felicita Saramago ao dizer que ele é um dos grandes escritores do século XX como também enaltece  a literatura ibero-americana, como um todo. “O seu Prémio Nobel é um dos mais justos. A alegria que isto causou nos países de língua espanhola, como se fora um triunfo nosso, confirma o que alguns de nós, escritores, temos vindo a dizer desde há muito tempo: a literatura ibero-americana é só uma. Por isso, propusemos tantas vezes que se tenha em conta tanto portugueses como brasileiros para o Prémio Cervantes”, escreve o Prémio Nobel da Literatura 1982.

“A proposta de García Márquez é certamente generosa”, diz ao PÚBLICO por email Carlos Reis, autor do livro Diálogos com José Saramago e professor de Literatura Portuguesa na Universidade de Coimbra, depois de analisar o documento. No entanto, continua o académico, a declaração de Gabriel García Márquez envolve duas problemáticas. A primeira refere-se à distinção entre a língua portuguesa e espanhola, afinal o “Prémio Cervantes, tal como o Prémio Camões, é um prémio literário que celebra também uma língua” e “por muito próxima que esteja (e está) da nossa, é ainda outra”.  

A segunda refere-se ao termo “literatura ibero-americana”, que ,de acordo com Carlos Reis, “é precário e relativo”. Apesar de haver semelhanças entre escritores portugueses, colombianos, espanhóis e brasileiros, e muitos outros do tal espaço ibero-americano, “essa aproximação não cancela singularidades de várias ordens.” Este questionamento torna-se mais intenso, para Carlos Reis, à medida que alguns escritores africanos questionam esta unificação. “Seriam esses escritores africanos participantes de tal unidade (relativa) ibero-americana?”, indaga.

Escritor-irmão
Na sexta-feira, o espanhol Fernando Gómez Aguilera, biógrafo do escritor português de quem foi amigo e comissário de uma das exposições mais importantes sobre a obra e vida de Saramago, chegou a Lisboa, onde lhe foi mostrada a mensagem de Gabo para o Nobel português. “García Márquez e Saramago reconheciam-se, mutuamente, como membros de uma mesma família literária ibero-americana, cujo emblema representa o imaginário de Cervantes”, afirma ao PÚBLICO Fernando Gómez Aguilera, depois de ler a declaração. “Na sua nota, García Márquez celebra o Nobel Saramago como um escritor-irmão de sangue e vai mais além da língua, fala mesmo numa literatura ibérica. Não pode haver elogio maior.” 

A equatoriana Gabriela Polit, professora de Literatura Latino-Americana no departamento de Português e Espanhol da Universidade do Texas em Austin, e uma das primeiras pessoas a estudar os arquivos de Gabo, acredita que García Márquez estava sintonizado com os acontecimentos históricos e políticos daquela década. “A Guerra Fria tinha acabado e olhava-se para outras partes do mundo, como a América Latina. Espanha tentava expandir-se para outros mercados. O mundo ganhava uma nova configuração. Não estou a dizer que García Márquez estivesse a pensar nestas coisas, mas isto estava no ar. Além disso, Saramago não era só mais um autor ‘europeu’. Era alguém próximo que até viveu em Espanha”, explica a académica.

 O brasileiro Odil José de Oliveira Filho, especialista na obra de Saramago e autor do livro Carnaval no Convento: intertextualidade e paródia em José Saramago, lembra ao PÚBLICO, numa conversa telefónica, que havia uma “sintonia artística” entre Gabriel García Márquez e Saramago, que se desenvolveu a vários níveis. 

É certo que havia várias semelhanças entre os dois escritores. Ambos tinham sido jornalistas, ambos deixaram a terra natal para irem viver num outro país, por questões políticas. E tanto Saramago quanto García Márquez atingiram o cume das suas carreiras literárias ao receberem o Nobel da Literatura. No entanto, foi a tal “sintonia artística”, na opinião deste autor brasileiro, que poderá ter levado García Márquez a escrever de uma forma tão afável sobre essa idealização da unidade da literatura ibero-americana.

Saramago “soube colher lições do romance latino-americano”, ao misturar política com estética literária, e ao aplicar noções do realismo mágico de García Márquez no contexto literário português. Outra razão para se falar de união ibero-americana terá sido o contexto político dos anos 1960 e 70. Portugal, Espanha, Brasil, Argentina, Chile e outros países enfrentavam ditaduras, o que facilitou a identificação cultural entre os escritores daquele período. “A primeira reacção aos regimes ditatoriais tinha sido recorrer a uma expressão literária extremamente engajada, até que os escritores latino-americanos percebessem a necessidade de revolucionar também a forma artística das suas obras”, explica o brasileiro.

Apesar de reconhecer que o tema da literatura ibero-americana é pouco discutido, este especialista em Saramago diz que esse “iberismo” está claro no livro A Jangada de Pedra, publicado em 1986, ano da entrada de Portugal na então denominada Comunidade Económica Europeia (CEE). 

Nesse livro, “Saramago cria uma alegoria em que imagina a separação geográfica da Península Ibérica do restante continente europeu. Portugal e Espanha transformam-se numa jangada de pedra que vai descendo, no Oceano Atlântico, em direcção ao Sul, até um lugar que está entre a África e a América. Aí está expressa a consciência de Saramago sobre o iberismo. Em A Jangada de Pedra, Saramago expressa claramente sua posição política contra a adesão de Portugal à União Europeia. A alegoria faz jus a uma Península Ibérica à deriva da Europa que tem laços africanos e latino-americanos muito mais profundos.” 

García Márquez termina a sua declaração associando Saramago ao filósofo Galileu Galilei (1564-1642), que foi julgado pela Inquisição. No último parágrafo escreve: “A nota pitoresca é que Saramago foi condenado pelo mesmo Papa que reivindicou Galileu após quatro séculos. Quem sabe se daqui a quatro séculos um Papa nascido na Lua ou em Saturno reivindicará também Saramago. Se Deus quiser!”

O autor de Carnaval no Convento acredita que o gracejo de Gabo diz respeito ao espírito retrógrado e lento das religiões para incorporarem as inovações conseguidas pelo pensamento humano, algo que Saramago sempre criticou. Assim, García Márquez, de uma forma analógica e bem-humorada, compara os livros de Saramago às descobertas de Galileu.

Para Carlos Reis, esta anedota de García Márquez refere-se à “noção de que os escritores são as vozes de uma lucidez às vezes provocatória, mas que com frequência antecipa a história”. Neste sentido, o professor português diz que Saramago começa já a ter razão. Basta lembrarmos, diz Carlos Reis, o que disse Saramago em alguns dos seus “discursos premonitórios”, por exemplo quando, há algumas décadas, exprimiu reservas acerca da integração de Portugal na comunidade europeia e das euforias que ela suscitou.»




(José Saramago e Gabriel García Márquez
 fotografados em 1999, em Santiago de Cuba, 
na comemoração do 40.º aniversário da Revolução Cubana. 
Adalberto Roque/AFP)


Apresentação da proposta de Declaração Universal dos Deveres Humanos - FJS - 16/11/2015

Pode ser visualizado, aqui via YouTube


Via página da Fundação José Saramago,
«Apresentação da proposta de Declaração Universal dos Deveres Humanos

“Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra e a iniciativa. Com a mesma veemência e a mesma força com que reivindicarmos os nossos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa começar a tornar-se um pouco melhor”, disse José Saramago no seu discurso de receção do Prémio Nobel de Literatura, em 1998.

A partir do apelo lançado por José Saramago, a UNAM (Universidade Autónoma do México) e a Fundação José Saramago (FJS) convocaram pensadores para discutirem, na Cidade do México, uma proposta de Declaração Universal dos Deveres Humanos – a ser futuramente encaminhada às Nações Unidas.

Um primeiro resultado desse encontro, realizado em junho de 2015 – e das posteriores reuniões – será apresentado na próxima segunda-feira, dia 16, data de nascimento do autor de Levantado do Chão (que nesse dia completa 93 anos). O acto, que tem lugar no auditório da Casa dos Bicos, pelas 11h30, integra o programa dos Dias do Desassossego, organização conjunta da FJS e da Casa Fernando Pessoa, que decorre entre os dias 16 e 30 de Novembro. Na sessão estarão presentes os redactores ibéricos do documento desenvolvido no México: Ángel Gabilondo, Francisco Louçã, António Sampaio da Nóvoa, Sami Naïr e José António Pinto Ribeiro.»

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

No dia em que se assinala a data de nascimento de José Saramago (1922)



No dia em que se assinala a data de nascimento de José Saramago, 
recupera-se uma entrada no seu "Diário III - Cadernos de Lanzarote", 
onde é feita a alusão aos afectos dos seus amigos.

Até já!

16 de Novembro de 1995
"Encontro no gravador de chamadas as vozes de Eduardo Lourenço e de Baptista-Bastos, um a falar de Providence, outro de Lisboa, e ambos dizendo coisas bonitas sobre o Ensaio. Não podia desejar melhores presentes de aniversário. E como estes são dos que se devem guardar, aqui ficam, cuidadosamente transcritos. O estilo é de facto o homem: as chamadas são, cada uma delas, o retrato psicológico de quem as fez. Eis o que disse o BB: «É o Baptista-Bastos, para o Zé. Zé Saramago, querido amigo, olha, estou a telefonar-te pelo seguinte: é que escreveste um grande romance. Acabei ontem de ler, com grande cuidado, com grande aprazimento, e escreveste um grandessíssimo romance, e o resto é conversa. É para te dizer isto e dar-te um grande abraço, que as felicitações são para mim porque li um grande romance. Outro grande abraço para ti, Zé, e um beijinho para a Pilar.» Do Eduardo Lourenço: «Bom dia, meu caro José. Devo ser o último a dar-te os parabéns pelo Prémio Camões. Já tentei telefonar, mas nunca te apanho. Um prémio mais do que merecido. Vou escrever-te a propósito do livro, do teu livro, que me deixou perplexo e que gostaria de comentar contigo, por carta ou em público. Para já, repito, é um livro de muito impacto e de muita importância. Merecia ser discutido por aquele país, e não só. Um grande abraço, Eduardo.» Obrigado, amigos, obrigado, em nome desta reconfortada alma." 

in, "Cadernos de Lanzarote - Diário III"
Caminho, páginas 199 e 200

domingo, 15 de novembro de 2015

Cátedra Alfonso Reys - "José Saramago - El nombre y la cosa"

Pode ser visualizado, aqui via YouTube 

"Conferencia impartida por José Saramago en donde hace una revisión del concepto democracia, y cuestiona la fidelidad con la que se aplica el modelo democrático en las instancias (políticas, económicas y culturales) que se denominan a sí mismas democráticas."

"José Saramago: O Amor Possível" de Juan Arias (Edição Manati - 2003)


"O que é a fé? A fé é uma renúncia, renúncia ao saber."


Mas é fato que ainda não encontramos nenhuma civilização capaz de prescindir, livre e completamente, do desejo da existência de Deus. Há quem diga que, se eliminarmos as guerras e as religiões dos livros de história, não sobrará nada, que se poderiam queimar os livros.  
É pior que isso, porque muitas das guerras foram, e continuam a ser, guerras de religião. Se começarmos a pensar nisso, veremos que as religiões dificilmente unem a humanidade, ao contrário, no mais das vezes a dividem. Há coisas imperdoáveis, como as chamadas descobertas de novos povos. Lá iam as caravelas em busca de terras onde havia outros povos, e que é o que faz o padre quando chega ao outro mundo? Diz-lhes: "Vossos deuses são falsos, eu trago comigo o verdadeiro". Isso é um pecado, e recorro agora à teologia, isso é um pecado de soberba, porque é imperdoável que alguém tenha a ousadia, o descaramento de dizer: "Trago comigo o verdadeiro Deus". Isso significa que os deuses que eles tinham deveriam ser eliminados, e a melhor forma de eliminar um deus é eliminar a pessoa que acredita nesse deus. E mais. Vamos imaginar que Deus existe: se existe Deus, não há mais que um deus; se há Deus, só pode existir um deus; então, todas as formas de adorá-lo são válidas, são todas iguais, tanto faz que se diga que é Jesus crucifica-do, o sol, a montanha, um animal ou uma flor. Para Deus, se Deus existe, dá no mesmo que a expressão física, material, se se quiser, dessa essência que seria Deus seja a montanha, o sol ou lá o que for. Por isso volto ao que dizia antes: que, para poder negar Deus, é preciso que eu o tenha aqui, na cabeça, como tenho o diabo, o mal e o bem. 

Mas você não acha que, com os mesmos argumentos com que você o nega, alguém pode dizer o contrário, quer dizer, que sente no seu interior a consciência de que ele pode existir?
A chamada fé é algo que eu não entendo. O que é a fé? A fé é uma renúncia, renúncia ao saber.

in, "José Saramago: O Amor Possível"
de Juan Arias
Manati, edição de 2003
Traduzido por Rubia Prates Goldoni
Páginas 101 e 102