Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sexta-feira, 18 de março de 2016

Citador #47 - Sobre a origem do "Levantado do Chão" (Extracto de entrevista realizada por Inês Pedrosa a José Saramago) - JL #227 (10/11/1986)

"Muitas vezes me interrogo sobre o que teria sido a minha vida se não tivesse havido o 25 de Novembro. É verdade que nessa altura já tinha escrito alguns livros, mas, com esses, não ocuparia qualquer espaço nos manuais de literatura. Também não sei bem que espaço irei ocupar com estes… Mas houve qualquer coisa de decisivo, que foi a situação em que de repente me achei, sem emprego nem esperança de o conseguir. O verão quente de 1975 tinha-me queimado totalmente. Então tomei a grande decisão, que não foi uma decisão dramática: “Ou escreves agora, ou decides já que nunca serás escritor”. De tal forma que, em março de 1976, estava a caminho do Alentejo, onde passei dois meses a recolher material para o Levantado do chão. Agora, finalmente, tenho o direito de ser apenas escritor, 24 horas sobre 24 horas."

Extracto de entrevista realizada por Inês Pedrosa a José Saramago 
“José Saramago: ‘A Península Ibérica nunca esteve ligada à Europa’”
in, Jornal de Letras, Artes e Ideias - Edição n.º 227 (10/16 de Novembro de 1986)

Imagem postada no blog "Cais do Olhar", que pode ser consultada, aqui 

A imagem refere-se à famosa secção "Diálogos Confidenciais", 
que Inês Pedrosa manteve no Jornal de Letras

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