Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sábado, 12 de março de 2016

"Qual é a verdadeira História do cerco de Lisboa?" em entrevista de Clara Ferreira Alves - Expresso (22/04/1989)



"Os problemas do erro e da verdade, ou da verdade e da mentira, são uma constante de todos os meus livros. E lembro que num diálogo entre o Scarlatti e o Bartolomeu de Gusmão (em Memorial do convento), um deles - não me lembro agora qual - diz que acredita nas virtudes do erro. O terreno vago entre o sim e o não é tão largo que nele podemos andar à vontade. E neste livro (História do cerco de Lisboa) chega-se ao fim sem saber que história escreveu o revisor sobre o cerco de Lisboa.
Uma é a história do livro, esse objeto, outra a do historiador, outra a do narrador e outra a literalmente ignorada e sobre a qual o narrador supostamente terá trabalhando, a do revisor. Qual é a verdadeira História do cerco de Lisboa? Nenhuma. A do historiador tem erros, a do revisor está inquinada de um vício fundamental, um não que contradiz os fatos históricos, e a do narrador é subjetiva. Tão pouco é a História do cerco de Lisboa a que vai aparecer nas livrarias, porque essa em si mesma não é coisa nenhuma."
“O cerco a José Saramago”
Clara Ferreira Alves entrevista José Saramago 
Expresso - 22 de Abril de 1989 

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