Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

"Os Poemas Possíveis" a lista de poemas inseridos na compilação

Sinopse de apresentação da obra pode ser consultada na página da Fundação José Saramago aqui em http://www.josesaramago.org/os-poemas-possiveis-1966/

"A caligrafia da capa é da autoria do escritor Almeida Faria

«Este mundo não presta, venha outro. / Já por tempo de mais aqui andamos / A fingir de razões suficientes. / Sejamos cães do cão: sabemos tudo / De morder os mais fracos se mandamos, / E de lamber as mãos, se dependentes.»

Na primeira obra poética de José Saramago descobre-se uma poesia de liberdade, de fraternidade e de luta. Uma luta disfarçada, por dentro das palavras. Pelo interior labiríntico de respiração que habitam todos estes poemas, publicados pela primeira vez em 1966. Digamos que eram os «poemas possíveis» da altura, quando a censura espiava a alma dos escritores. E no entanto, as convicções profundas de Saramago já são bem visíveis em poemas como «Criação»: «Deus não existe ainda, nem sei quando / Sequer o esboço, a cor se afirmará / No desenho confuso da passagem / De gerações inúmeras nesta esfera. / Nenhum gesto se perde, nenhum traço, / Que o sentido da vida é este só: / Fazer da Terra um Deus que nos mereça, / E dar ao Universo o Deus que espera.»

Diário de Notícias, 9 de outubro de 1998"

ATÉ AO SABUGO
Até ao sabugo
Arte poética
Processo
Programa
«Se não tenho outra voz...»
Balança
«Recorto a minha sombra...»
Acidente de viação
Taxidermia, ou poeticamente hipócrita
Signo do Escorpião
No coração, talvez
Dia não
Destino
Ritual
Epitáfio para Luís de Camões
Jogo das forças
Vertigem
Lugar-comum do quadragenário
Outro lugar-comum
Passado, presente, futuro 
Passeio
Psicanálise
Mais psicanálise
«Não diremos mortais palavras...»
Poema seco
Do como e do quando
Fábula do grifo
Meias-solas
Um zumbido, apenas
Ciclo
Circo
Obstinação
«Há-de haver...»
Sala de baile
Oceanografia
Hibernação
«As palavras são novas...»
Questão de palavras
Pequeno cosmos
«De mim à estrela...» 
Retrato do poeta quando jovem
O tanque
Science-fiction I
Science-fiction II
Carta de José a José
Aniversário
Testamento romântico
Premonição

POEMA A BOCA FECHADA
Poema a boca fechada
Os inquiridores
Mãos limpas
Salmo 136
Ouvindo Beethoven
Demissão
Fraternidade
Fala do Velho do Restelo ao Astronauta

MITOLOGIA
Mitologia
Natal
Aprendamos o rito
Criação
Quando os homens morrerem
Aos deuses sem fiéis
«Não das águas do mar...»
A um Cristo velho
Judas
Sé Velha de Coimbra
Nave
«Barro direis que sou...»
Invenção de Marte
«Não há mais horizonte...»

O AMOR DOS OUTROS
Orgulho de D. João no inferno
Lamento de D. João no inferno
Sarcasmo de D. João no inferno
Até ao fim do mundo
Dulcineia
D. Quixote
Sancho
Julieta a Romeu
Romeu a Julieta
West Side Story

NESTA ESQUINA DO TEMPO
Contracanto
Fuzil e pederneira
Enigma
Negócio
Virgindade
Regra
Outono
Adivinha
Receita
«Não me peçam razões...»
«Nesta secreta guerra...»
Craveira
«A ti regresso, mar...»
«Água que à água torna...»
Medusas
História antiga
«Não escrevas poemas de amor»
«Nesta esquina do tempo...»
«De violetas se cobre...»
Labirinto
Espaço curvo e finito
Pesadelo
Afrodite
Estudo de nu
De paz e de guerra
Em violino fado
No silêncio dos olhos
Compensação
Declaração
«Uma só prece...»
Química
Física
Intimidade
Inventário
Praia
Arte de amar
Aspa
Corpo-mundo
Balada
Jogo do lenço
Lembrança de João Roiz de Castel’Branco
Prestidigitação
Analogia
Soneto atrasado
Exercício militar
Opção
Baralho
Exílio
Cantiga de sapo
Outra vez frutos, rosas outra vez
Re-iniciação
Fim e recomeço
Metáfora
Amanhecer
Aproximação
Poente
Integral
Eloquência
«Aprendamos, amor...»
Diz tu por mim, silêncio
«Num repente, não ando...»
Corpo
Caminho
«Ergo uma rosa...»
«Pois o tempo não pára...»
Ainda que seja
Canção

"Nota da 2.ª edição
Aparece esta edição de Os Poemas Possíveis dezasseis anos depois da primeira. Não é assim tanto, comparando com os dezasseis séculos que sinto ter juntado à minha idade de então. Pode-se perguntar se estes versos (palavra hoje pouco usada, mas competente para o caso) merecem segunda oportunidade, ou se a não ficaram devendo a porventura mais cabais demonstrações do autor no território da ficção. Se, enfim, estaremos observando um simples e nada raro fenómeno de aproveitamento editorial, mera estratégia daquilo a que cos tuma chamar-se política de autores, ou se, pelo contrário, foi a constante poética do trabalho deste que legitimou a res suscitação do livro, porque nele teriam começado a definir-se nexos, temas e obsessões que viriam a ser a coluna vertebral, estruturalmente invariável, de um corpo literário em mudança. Aceitemos a última hipótese, única que poderá tornar plausível, primeiro, e justificar, depois, este regresso poético.
Poesia datada? Sem dúvida. Toda a criação cultural há-de ter logo a sua data, a que lhe é imposta pelo tempo que a produz. Mas outras datas leva sempre também, anteriores, as dos materiais herdados — quantas vezes importunamente dominantes —, e, de longe em longe, aquela impalpável data ainda pode vir, aquele sentir, aquele ver e experimentar só futuro ainda. Porém, essas entrevisões são coisa apenas para génios, e, obviamente, não é deles que se trata aqui.
Poesia do dia passado, da hora tarda, poesia não futurante. E contra isto não haveria remédio. Salvo tentar trazê-la até ao seu autor, hoje, por cima de dezasseis anos e dezasseis séculos. Assim foi feito, e esta edição aparece não só revista, mas emendada também. Quase tudo nela é dito de maneira diferente, diferente é muito do que por outra maneira se diz, e não faltaram ocasiões para contrariar radicalmente o que antes fora escrito. Mas nenhum poema foi retirado, nenhum acrescentado.
É então outro!"     


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