Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Carlos do Carmo que canta poemas de José Saramago, recebe Grammy Latino de Carreira

Notícia do Jornal I, em 5 de Julho de 2014
Sob o título "Três ex-presidentes deram os parabéns a Carlos do Carmo. Só Cavaco não o fez", mais uma vez, Cavaco Silva, demonstra a incapacidade de homenagear cabalmente e com a solenidade que as distinções merecem e obrigam, os que seguem desalinhados no elogio à suposta figura máxima do "Estado" português.




"Não sinto falta", diz o fadista sobre o silêncio de Belém em relação à distinção que recebeu esta semana
O fadista Carlos do Carmo, galardoado com um Grammy pela sua carreira, diz ao i não ter recebido qualquer mensagem - ainda que privada - de felicitações da parte de Cavaco Silva. Ao contrário do que aconteceu com os três ex-presidentes da República: "Recebi felicitações do general Ramalho Eanes, de Mário Soares e de Jorge Sampaio."
As regras de Belém têm ditado que, quando um português é distinguido com um prémio de relevo, a Presidência emite uma nota de congratulação. Desta vez não aconteceu. Mesmo sabendo que, em 2008 - quando Carlos do Carmo recebeu o Prémio Goya para a melhor canção original -, a Presidência divulgou uma nota de felicitações pela "distinção".
Apesar da insistência do i, a Presidência voltou a não tecer qualquer comentário à atribuição do Grammy ao fadista. Também por isso, Carlos do Carmo diz, sobre a ausência de um cumprimento de Belém: "Tenho de confessar que não sinto falta. O problema não é meu", remata.
Entre o Goya e o Grammy distam seis anos e muitas críticas do fadista a Cavaco Silva. Por exemplo, em 2011, quando Carlos do Carmo o apontou como o responsável número 1 pela situação em que o país se encontrava - passavam então seis meses sobre a assinatura do Memorando.
À Renascença, o fadista disse que "toda a nossa desgraça começou com Cavaco". No ano passado, à SIC Notícias, Cavaco voltava a estar sob o foco de Carlos do Carmo. "Ter este Presidente da República como primeiro- -ministro e como Presidente foi um azar dos Távoras. Este país regrediu muito. É só analisar. Foi mau de mais para ser verdade." Mas os comentários mais negativos estavam ainda para ser feitos. E chegaram em Novembro do ano passado, na Aula Magna. O encontro promovido por Mário Soares ficou marcado por fortes críticas ao chefe de Estado, também de Carlos do Carmo. "Nunca me passou pela cabeça, depois de 40 anos de salazarismo, levar com este homem 20 anos. Um homem que é inseguro, inculto, medroso. E não interpretem isto como uma questão pessoal, não sou dado a questões pessoais", referiu o fadista.



Notícia, via Observador, aqui em 

"O fadista Carlos do Carmo recebe hoje o Grammy Latino de Carreira, no Hollywood MGM Theatre, em Las Vegas, no Nevada, antecedendo a entrega anual dos Grammy Latinos, na quinta-feira.
Além do criador de “Canoas do Tejo”, recebem igualmente um Grammy de Carreira, por “Excelência Musical”, Willy Chirino, César Costa, o Dúo Dinámico, Los Lobos, Valeria Lynch e Ney Matogrosso.
Nesta mesma cerimónia, prevista para as 10:00 locais (18:00, hora continental portuguesa), recebem o Prémio do Conselho Diretivo da Latin Academy of Recording Arts and Sciences (LARAS) os músicos André Midani e Juan Vicente Torrealba.
“O ‘Board of Trustees’ da Latin Academy of Recording Arts and Sciences decidiu, por unanimidade, atribuir a Carlos do Carmo o “‘Lifetime Achievement Award’, galardão que distingue a obra das grandes referências do panorama musical internacional”, segundo comunicado da academia.
Em declarações à Lusa o fadista afirmou: “Num momento de sofrimento como o que o meu povo está a viver, e a minha pátria está a viver, a alegria que possa dar às pessoas, apesar da simplicidade que as coisas têm – isto não lhes mata a fome, nem lhes arranja emprego -, mas que possa dar-lhes uma alegria, já fico muito contente”.
O artista, com uma carreira de 51 anos, disse que esta é uma oportunidade para dar a conhecer outros artistas portugueses que, no futuro, podem vir a ser premiados.
Fazendo uma reflexão da sua carreira, Carlos do Carmo, filho da fadista Lucília do Carmo, afirmou: “Corri sempre em pista própria e não em pista de competição, nunca competi, até porque cantar não é o mesmo que correr. Há sempre gostos. Uns gostam mais de A, outros, de B. Isso não quer dizer que A ou B cantem muito bem ou cantem mal, são os gostos das pessoas”.
A cerimónia anual de entrega dos Grammy Latinos, nas diferentes categorias, realiza-se, na quinta-feira, a partir das 20:00 locais (05:00, de sexta-feira, na hora continental portuguesa)."


Carlos do Carmo - "Aprendamos o Rito"
Poema: José Saramago
Música: Muiguel Ramos


"APRENDAMOS O RITO"

Põe na mesa a toalha adamascada
Traz as rosas mais frescas do jardim
Deita o vinho no copo, corta o pão
Com a faca de prata e de marfim

Alguém veio juntar-se à tua mesa
Alguém a quem não vês mas que pressentes
Cruza as mãos no regaço, não perguntes
Nas perguntas que fazes é que mentes

Prova depois o vinho, come o pão
Rasga a palma da mão no caule agudo
Leva as rosas à fronte, cobre os olhos
Cumpriste o ritual e sabes tudo. .

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