Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Escola e Família, Instruir ou Educar, e, quem tem a obrigação de fazer o quê?


"Democracia e Universidade"
Conferência Universidade Complutense de Madri
2005
Edição Fundação José Saramago - páginas 25 e 26

(...) Eu próprio estou num grupo de prémios Nobel - coisas que acontecem - que se reúne anualmente em Barcelona exactamente para isso, para tomar o pulso ao ensino superior. (...)
(...) E no último encontro, já um pouco cansado de tanta conversa, disse: "vamos ver, quem chega à universidade? Chegam os estudantes que passaram pelo ensino médio e primário. Estamos a ocupar-nos do que acontece na universidade,  em matéria de instrução, não de educação, que isso está fora do debate, e já se reconheceu que tampouco está em níveis óptimos, mas como se pretende que se dê o milagre de funcionar o último nível, a última etapa de um processo de aprendizagem que começa aos quatro anos e termina aos vinte e tal, se o que antecede não está bem?
Se a escola primária está mal - e está em todo o lado, não apenas em Espanha ou Portugal, se o ensino médio está mal, como aspirar a resolver o problema do último nível? (...)
(...) A nascente do rio começa com o "a", o "e", o "i", o "o", e o "u", as vogais que o menino ou a menina aprendem, esse é o gérmen, tudo o que venha depois pode simplificar a tarefa da universidade, anos mais tarde. (...)
(...) A universidade é o último nível formativo em que o estudante se pode converter, com plena consciência, em cidadão; é o lugar de debate onde, por definição, o espírito crítico tem de florescer: um lugar de confronto, não uma ilha onde o aluno desembarca para sair com um diploma." (...)

Imagem, do professor Tertuliano Máximo Afonso, interpretado por Jake Gyllenhaal, no filme "O Homem Duplicado", baseado na obra de José Saramago, com o mesmo nome.
Para além de toda a metáfora à volta e em redor do "Eu" e do "outro Eu", este professor propõe ao director da escola, a ideia de serem invertidos os processos de ensino na cadeira que ele lecciona. 
Pretende inverter a lógica da transmissão da cronologia dos factos ou momentos da história. Alega este professor, que ao ensinar os factos mais recentes em direcção aos mais antigos, é criado um sistema mais intuitivo e linear na causa/efeito, ou na interpretação da razão para que um determinado acontecimento tenha tido lugar.




    

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