Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

sábado, 27 de dezembro de 2014

"Quando for crescido quero ser como Rita" José Saramago sobre Rita Levi-Montalcinia (Prémio Nobel de Medicina em 1986)

(Foto: Rita Levi Montalcini retratada junto a Marie Curie por Sofía Gandarias. 
A foto foi tirada no estúdio da pintora, em Madrid)


"Quando for crescido quero ser como Rita", afirmou José Saramago sobre Rita Levi-Montalcini. A neurologista, vencedora do Prémio Nobel de Medicina em 1986.


Em "O Caderno", dia 27 de Outubro de 2008
Caminho, 2.ª edição, páginas 90 a 92
"Quando for crescido quero ser como Rita" - José Saramago

"Esta Rita a quem quero parecer-me quando for crescido é Rita Levi-Montalcini, ganhadora do Prémio Nobel de Medicina em 1986 pelas suas investigações sobre o desenvolvimento das células neurológicas. Ora, Prémio Nobel é coisa que já tenho, logo não seria por ambição dessa grande ou pequena glória, as opiniões dos entendidos divergem, que estou disposto a deixar de ser quem tenho sido para tornar-me em Rita. De mais a mais estando eu numa idade em que qualquer mudança, mesmo quando prometedora, sempre se nos afigura um sacrifício das rotinas em que, mais ou menos, acabámos por nos acomodar.
E por que quero eu parecer-me a Rita? É simples. No acto do seu investimento como Doutora “Honoris Causa” na aula magna da Universidade Complutense, de Madrid, esta mulher, que em Abril completará cem anos, fez umas quantas declarações (pena que não tenhamos conseguido a transcrição completa do seu improvisado discurso) que me deixaram ora assombrado, ora agradecido, posto que não é fácil imaginar juntos e unidos estes dois sentimentos extremos. Disse ela: “Nunca pensei em mim mesma. Viver ou morrer é a mesma coisa. Porque, naturalmente, a vida não está neste pequeno corpo. O importante é a maneira como vivemos e a mensagem que deixamos. Isso é o que nos sobrevive. Isso é a imortalidade”. E disse mais: “É ridícula a obsessão do envelhecimento. O meu cérebro é melhor agora do que foi quando eu era jovem. É verdade que vejo mal e oiço pior, mas a minha cabeça sempre funcionou bem. O fundamental é manter activo o cérebro, tentar ajudar os outros e conservar a curiosidade pelo mundo”. E estas palavras que me fizeram sentir que havia encontrado uma alma gémea: “ Sou contra a reforma ou outro qualquer outro tipo de subsídio. Vivo sem isso. Em 2001 não cobrava nada e tive problemas económicos até que o presidente Ciampi me nomeou senadora vitalícia”.
Nem toda a gente estará de acordo com este radicalismo. Mas aposto que muitos dos que me lêem vão também querer ser como Rita quando crescerem. Que assim seja. Se o fizerem tenhamos a certeza de que o mundo mudará logo para melhor. Não é isso o que andamos a dizer que queremos? Rita é o caminho."



Mais algumas informações, via Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Rita_Levi-Montalcini

"Rita Levi-Montalcini (Turim, 22 de Abril de 1909 — Roma, 30 de Dezembro de 2012) foi uma médica neurologista italiana.
Foi agraciada com o Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1986 pela descoberta de uma substância do corpo que estimula e influencia o crescimento de células nervosas, possibilitando ampliar os conhecimentos sobre o mal de Alzheimer e a doença de Huntington. Desde 24 de Junho de 1974 era membro da Pontifícia Academia das Ciências.
Rita Levi-Montalcini foi designada em 1 de Agosto de 2001, directamente pelo presidente Carlo Azeglio Ciampi, senadora vitalícia da República Italiana , sendo a segunda mulher a ocupar este cargo, depois de Camilla Cederna.
Além do prémio Nobel, recebeu o título de doutora honoris causa de várias instituições universitárias: Universidade de Uppsala (Suécia), do Instituto Weizmann da Ciência (Israel), da McGill University do Canadá, da Universidade Complutense de Madrid, da Universidade Luigi Bocconi (Milão), da Universidade de Trieste e do Instituto Politécnico de Turim, na Itália, entre outras.
Recebeu o Prémio internacional Saint-Vincent, o prémio Feltrinelli e o prémio "Albert Lasker de Pesquisa Médica Básica". Em 22 de Janeiro de 2008 foi-lhe concedido o doutoramento "honoris causa" em biotecnologia industrial junto à Università Bicocca, de Milão.
Em 2009, ao completar 100 anos de idade, tornou-se a primeira vencedora do Prémio Nobel a alcançar um século de vida e também a mais idosa senadora vitalícia em actividade na história da República Italiana. Em 30 de Setembro de 2009, pelos seus estudos do sistema nervoso, recebeu o Wendell Krieg Lifetime Achievement Award, prémio instituído pela mais antiga associação norte-americana de neurociência - o Cajal Club."


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