Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

domingo, 16 de agosto de 2015

"Problema da homens" - a Violência Doméstica um alerta lançado (mais uma vez) relembrando as palavras de José Saramago

Recordando a campanha publicitária da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género
 "EM VOSSA DEFESA, DÊ UM MURRO NA MESA."
No vídeo e cartaz - Ódin Santos



Por estes dias, a Fundação José Saramago, deu mais uma vez voz, lutando contra o surdo silêncio que mata e destrói a sociedade, num dos pilares mais básicos que devendo ser protegido, parece encoberto e com dificuldade de ser erradicado. 
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Na sua forma mais comum, que passa pela tortura física e psicológica da mulher, tem também as suas variantes na agressão ao idoso e homens.

Aqui texto, publicado na página da Fundação José Saramago (13/08/2015)
Pode ser consultado aqui, em https://www.facebook.com/fjsaramago?fref=nf
"Ontem a Polícia de Espanha encontrou o corpo de duas jovens (de 26 e 24 anos) que estavam desaparecidas havia já seis dias. O suspeito do duplo homicídio encontra-se foragido. 
No ano passado, segundo dados oficiais, 53 mulheres foram assassinadas em Espanha vítimas de violência de género. 
O jornal El País publicou, algumas semanas atrás, um especial sobre o assunto onde, além de números, recolhe histórias. O trabalho pode ser lido em: http://elpais.com/especiales/2015/violencia-de-genero/
Em julho de 2009, José Saramago publicou no blogue que mantinha à época um artigo intitulado "Problema de homens", em que propõe uma marcha, feita apenas por homens, como tentativa de combater essa "vergonha insuportável" que é a violência contra as mulheres. Para ler o texto, aceda: http://caderno.josesaramago.org/54038.html"



O post pode ser consultado e lido, aqui
"Problema de homens"
"Vejo nas sondagens que a violência contra as mulheres é o assunto número catorze nas preocupações dos espanhóis, apesar de que todos os meses se contem pelos dedos, e desgraçadamente faltam dedos, as mulheres assassinadas por aqueles que crêem ser seus donos. Vejo também que a sociedade, na publicidade institucional e em distintas iniciativas cívicas, assume, é certo que só pouco a pouco, que esta violência é um problema dos homens e que os homens têm de resolver. De Sevilha e da Estremadura espanhola chegaram-nos, há tempos, notícias de um bom exemplo: manifestações de homens contra a violência. Até agora eram somente as mulheres quem saía à praça pública a protestar contra os contínuos maus tratos sofridos às mãos dos maridos e companheiros (companheiros, triste ironia esta), e que, a par de em muitíssimos casos tomarem aspectos de fria e deliberada tortura, não recuam perante o assassínio, o estrangulamento, a punhalada, a degolação, o ácido, o fogo. A violência desde sempre exercida sobre a mulher encontrou no cárcere em que se transformou o lugar de coabitação (neguemo-nos a chamar-lhe lar) o espaço por excelência para a humilhação diária, para o espancamento habitual, para a crueldade psicológica como instrumento de domínio. É o problema das mulheres, diz-se, e isso não é verdade. O problema é dos homens, do egoísmo dos homens, do doentio sentimento possessivo dos homens, da poltronaria dos homens, essa miserável cobardia que os autoriza a usar a força contra um ser fisicamente mais débil e a quem foi reduzida sistematicamente a capacidade de resistência psíquica. Há poucos dias, em Huelva, cumprindo as regras habituais dos mais velhos, vários adolescentes de treze e catorze anos violaram uma rapariga da mesma idade e com uma deficiência psíquica, talvez por pensarem que tinham direito ao crime e à violência. Direito a usar o que consideravam seu. Este novo acto de violência de género, mais os que se produziram neste fim-de-semana, em Madrid uma menina assassinada, em Toledo uma mulher de 33 anos morta diante da sua filha de seis, deveriam ter feito sair os homens à rua. Talvez 100 mil homens, só homens, nada mais que homens, manifestando-se nas ruas, enquanto as mulheres, nos passeios, lhes lançariam flores, este poderia ser o sinal de que a sociedade necessita para combater, desde o seu próprio interior e sem demora, esta vergonha insuportável. E para que a violência de género, com resultado de morte ou não, passe a ser uma das primeiras dores e preocupações dos cidadãos. É um sonho, é um dever. Pode não ser uma utopia."


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