Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 10 de maio de 2016

"Há-de haver..." poema de José Saramago musicado por Luis Cilia em 1969

https://www.youtube.com/watch?v=OLBSeTJrto0


"O seu segundo disco da triologia "la poesie portugaise de nos jours et de toujours" 
começa com este poema de José Saramago. Estávamos em 1969."

"Há-de haver..."
Um juntar de palavras escondido,
Há-de haver uma chave para abrir
A porta deste muro desmedido.

Há-de haver uma ilha mais ao sul.
Uma corda mais tensa e ressoante, 
Outro mar que nade noutro azul, 
Outra altura de voz que melhor cante. 

Poesia tardia que não chegas 
A dizer nem metade do que sabes: 
Não calas, quando podes, nem renegas 
Este corpo de acaso em que não cabes."

Original de José Saramago
"Os Poemas Possíveis"
Portugália Editora (1996)
Reedição Porto Editora, página 49

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