Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Fernando Gómes Aguillera dá uma "pincelada" no significado da metáfora de Saramago

... que através de parábolas sustentadas pela imaginação, compaixão e ironia, nos permite apreender continuamente uma realidade ilusória ...
(Anúncio e pequena interpretação da entrega do prémio Nobel, pela academia sueca)

(imagem do filme Blindness, baseado no "Ensaio sobre a Cegueira")

(...) «A metáfora é sempre a melhor forma de explicar as coisas». Saramago oferecia assim as chaves da atitude que orientava os seus propósitos: representar situações através de analogias para torná-las mais compreensíveis. A sua vocação ilustrada encontrava assim apoio numa linha de escrita alegórica que equipou romances de projecção simbólica, carregados de ideias e valores, capazes de perfilar conflitos capitais do nosso tempo até desenhar uma espécie de amplo friso civilizacional: a crise da razão (Ensaio sobre a Cegueira, 1995), a necessidade do outro (Todos os Nomes, 2001), as agressões do mercado (A Caverna, 2000), o problema da identidade (O Homem Duplicado, 2002), a deterioração da democracia (Ensaio sobre a Lucidez, 2004), e a morte e o amor redentor (As Intermitências da Morte, 2007). Levanta um universo literário sustentado por tramas que por norma se iniciam numa situação impossível, extravagante, uma anomalia desenvolvida convincentemente através de concatenações dedutivas e desdobramentos cartesianos, em contextos abstractos, despojados de precisões temporais e locais, recorrendo, para além disso, a um marcado esquematismo, estratégias que reforçam o sentido didáctico, o seu alcance de Parábola em que se fundem a metáfora e o ensino. (...)

Por Fernando Gómes Aguillera
em, "A Estátua e a Pedra"
Fundação José Saramago
Páginas 49 e 50

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