Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Os nomes das obras e o que elas concernem - Um exemplo




"A Estátua e a Pedra"
Fundação José Saramago
Página 28

(... ) Como já terão notado, os meus romances caracterizam-se por terem títulos que não são os mais apropriados para o género: um, já citado, chama-se "Manual de Pintura e Caligrafia", o que não é de todo título para um romance. Quando apareceu, no final dos anos setenta, um distribuidor de Angola, supondo que era um livro didáctico, comprou duzentos exemplares. Não sei o que aconteceu a esses volumes: em plena guerra civil, com uma economia depauperada, encomendar duzentos livros que não eram o que prometiam deve ter sido uma tremenda decepção.
Seguramente terão ficado por aí abandonados ou se calhar os insectos dos trópicos já os devem ter devorado todos. (...)



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