Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A mitologia grega dos "Cães de Cèrbero" e o professor Ismael Gonçalves

Ismael Gonçalves, antigo padre, tornado professor de português na Escola Secundária de Mafra, foi um incansável lutador, naquilo que considerava, isto na década de 80, a obrigação do reconhecimento da vila de Mafra ao escritor José Saramago, este, que tendo publicado o "Memorial do Convento", teria colocado o nome da vila, num alto patamar de reconhecimento nacional e internacional. 
Este professor de português, que leccionava o "Memorial do Convento", aos seus alunos do 12.º ano de escolaridade, com base nos seus apontamentos e auxiliares educativos, compilados ao longo dos anos, realizou em 2005, a publicação dos seus rascunhos. Este livro, terá feito parte da exposição "A Consistência dos Sonhos".
Estes dados, que me eram, em parte conhecidos, são esplendidamente anotados e identificados por João Céu e Silva, no seu livro "Uma longa viagem com José Saramago" - (Porto Editora, páginas 184 a 189).
Aqui, é também retratada, a censura que o presidente da Câmara de Mafra, Dr. Ministro dos Santos, exerceu sobre a atribuição da Medalha de Mérito da cidade, a José Saramago. Terá ficado para a história a célebre frase, «enquanto eu for presidente Saramago nunca receberia a medalha». Fica também, a menção ao secretário de estado da Cultura, Dr. Guilherme d' Oliveira Martins, a fundamentar um despacho para a atribuição do nome do escritor à Escola Secundária.
Politiquices e caciques, sempre nortearam os desmandos deste país.
Porém, e o que aqui trago, para enquadrar a pessoa, Ismael Gonçalves, será a sua curiosidade e admiração por José Saramago, onde tem estas elogiosas palavras:
«Eu interrogo-me sempre como é que um homem que não tem formação universitária veio a ganhar a vastidão de cultura que manifesta nos seus romances, inclusive de cultura clássica! Conhece os gregos como ainda confirmei logo na primeira página de "A Jangada de Pedra", quando fala do cão Cerbero, da Eneida de Vergílio, Conhece e cita latim nas suas obras com grande rigor, nunca se encontra um erro.»

O mesmo, aqui demonstro, como é possível acumular, vasto e diverso conhecimento, para além da capacidade de o interpretar e questionar, quando assim achou necessário.
Aqui fica a menção aos Cães de Cèrbero. 


"Quando Joana Carda riscou o chão com a vara de negrilho, todos os cães de Cerbère começaram a ladrar, lançando em pânico e terror os habitantes, pois desde os tempos mais antigos se acreditava que, ladrando ali animais caninos que sempre tinham sido mudos, estaria o mundo universal próximo de extinguir-se. Como se teria formado a arreigada superstição, ou convicção firme, que é, em muitos casos, a expressão alternativa paralela, ninguém hoje o recorda, embora, por obra e fortuna daquele conhecido jogo de ouvir o conto e repeti-lo com vírgula nova, usassem distrair as avós francesas a seus netinhos com a fábula de que, naquele mesmo lugar, comuna de Cerbère, departamento dos Pirenéus Orientais, ladrara, nas gregas e mitológicas eras, um cão de três cabeças que ao dito nome de Cerbère respondia, se o chamava o barqueiro Caronte, seu tratador. Outra coisa que igualmente não se sabe é por que mutações orgânicas teria passado o famoso e altissonante canídeo até chegar à mudez histórica e comprovada dos seus descendentes de uma cabeça só, degenerados. Porém, e este ponto de doutrina só raros o desconhecem, sobretudo se pertencem à geração veterana, o cão Cérbero, que assim em nossa portuguesa língua se escreve e deve dizer, guardava terrivelmente a entrada do inferno, para que dele não ousassem sair as almas, e então, quiçá por misericórdia final de deuses já moribundos, calaram-se os cães futuros para a toda restante eternidade, a ver se com o silêncio se apagava da memória a ínfera região." (...)

em, "A Jangada de Pedra"
Caminho, 6.ª edição
Páginas 9 e 10

(O monstro tricéfalo Cérbero presidindo sobre o terceiro ciclo infernal, 
aquele dos glutãos e dos epicúrios; uma aquarela do londrino William Blake (1757-1827); 
National Gallery of Victoria, Austrália.)


(...) "Para os Estados Unidos qualquer pessoa, seja emigrante ou simples turista, indiferentemente da sua actividade profissional, é um delinquente potencial que está obrigado, como em Kafka, a provar a sua inocência sem saber de que o acusam. Honra, dignidade, reputação, são palavras hilariantes para os cães cerberos que guardam as entradas do país." (...)

em, "O Caderno"
Entrada de dia 26 de Setembro de 2008, "A Prova do Algodão"
Caminho, 2.ª edição
Página 39



Informação, recolhida via Wikipédia, em http://pt.wikipedia.org/wiki/Cérbero
"Na mitologia grega, Cérbero ou Cerberus (em grego, Κέρβερος – Kerberos = "demónio do poço") era um monstruoso cão de múltiplas cabeças e pescoço que guardava a entrada do inferno(mundo inferior), o reino subterrâneo dos mortos, deixando as almas entrarem, mas jamais saírem e despedaçando os mortais que por lá se aventurassem.
Cérbero era filho de Tífon (ou Tifão) e Equídina, irmão de Ortros e da Hidra de Lerna. Da sua união com Quimera, nasceram o Leão da Nemeia e a Esfinge.
A descrição da morfologia de Cérbero nem sempre é a mesma, havendo variações. Mas uma coisa que em todas as fontes está presente é que Cérbero era um cão que guardava as portas do Tártaro, não impedindo a entrada e sim a saída. Quando alguém chegava, Cérbero fazia festa, era uma criatura adorável. Mas quando a pessoa queria ir embora, ele a impedia; tornando-se um cão feroz e temido por todos. Os únicos que conseguiram passar por Cérbero saindo vivos do submundo foram Héracles, Orfeu, Eneias e Psiquê.
Cérbero era um cão com várias cabeças, não se têm um número certo, mas na maioria das vezes é descrito como tricéfalo (três cabeças). Sua cauda também não é sempre descrita da mesma forma, às vezes como de dragão, como de cobra ou mesmo de cão. Às vezes, junto com sua cabeça são encontradas serpentes cuspidoras de fogo saindo de seu pescoço, e até mesmo de seu tronco.
Quanto à vida depois da morte, os gregos acreditavam que a morada dos mortos era o Sub-mundo, o reino de Hades, o deus do pós-morte, ao lado de Perséfone(Deusa da primavera, filha de Zeus e Deméter). Hades era irmão de Zeus. Localizava-se nos subterrâneos, rodeado de rios, que só poderiam ser atravessados pelos mortos. Os mortos conservavam a forma humana, mas não tinham corpo, não se podia tocá-los. Os mortos vagavam pelo Hades, mas também apareciam no local do sepultamento. Havia rituais cuidadosos nos enterros, e os mortos eram cultuados, principalmente pelas famílias em suas casas. Quando os homens morriam eram transportados, na barca de Caronte para a outra margem do rio Aqueronte, onde se situava a entrada do reino de Hades. O acesso se dava por uma porta de diamantes junto a qual Cérbero montava guarda.
Para acalmar a fúria de Cérbero, os mortos que residiam no submundo jogavam-lhe um bolo de farinha e mel que os seus entes queridos haviam deixado no túmulo.
Seu nome, Cérbero, vem da palavra Kroboros, que significa comedor de carne. Cérbero comia as pessoas. Um exemplo disso na mitologia é Pirítoo, que por tentar seduzir Perséfone, a esposa de Hades e filha de Deméter, deusa da fertilidade da Terra, foi entregue ao cão. Como castigo Cérbero comia o corpo dos condenados.
Cérbero, quando a dormir, está com os olhos abertos, porém, quando o mesmo está de olhos fechados, está acordado."





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