Perguntam-me não raras vezes:
- "Qual o livro de José Saramago que mais gostaste de ler?"
A resposta que pode ser dada a cada momento:
- "Impossível de dizer... não sei responder, não seria justo para com outros (livros) não nomeados. Mas uma coisa sempre soube. Uma obra de Saramago, enquanto "pseudo ser vivo" ou com "gente dentro" tem que me raptar, prender-me, não me deixar sair de dentro das suas páginas. Fazer de mim um refém, e só me libertar no final da leitura... mesmo ao chegar à última página. Aí, o "Eu" leitor que se mantém refém, liberta-se da "gente que a obra transporta dentro" e segue o seu caminho.
Mas segue um caminho que se faz caminhando, conjuntamente com mais uma família"

Rui Santos

domingo, 8 de maio de 2016

"Tenho um irmão siamês" poema musicado por Manuel Freire para o seu trabalho "As Canções Possíves" - Publicado em Provavelmente Alegria, Caminho, 1987, 3.ª edição; 1.ª edição, Livros Horizonte, 1970

Pode ser recuperado e visualizado, via YouTube, aqui

"Tenho um irmão siamês"
 poema musicado por Manuel Freire para o seu trabalho "As Canções Possíves" 
Publicado em "Provavelmente Alegria" - Caminho (1987) da 1.ª edição, Livros Horizonte (1970)

Tenho um irmão siamês
(Há quem tenha, mas o meu,
Ligado à sola dos pés,
Anda espalhado no chão,
Todo mordido da raiva
De ser mais raso do que eu.)

Tenho um irmão siamês
(É a sombra, cão rafeiro,
Vai à frente ou de viés
Conforme a luz e a feição,
De modo que sempre caiba
Nos limites do ponteiro.)

Tenho um irmão siamês
(Minha morte antecipada,
Já deitada,
À espera da minha vez.)

in Provavelmente Alegria, 
Caminho, 1987, 3.ª edição - 1.ª edição, Livros Horizonte, 1970

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